Religião

 02/07/2011

A Umbanda.
A origem de uma religião 100% brasileira.

o se pode negar que a Religião de Umbanda nasceu da mistura de diversas crenças, vindas de outras religiões. Talvez por isso a Umbanda seja a religião que recebe a todos, sem discriminações, principalmente de credo religioso, muito ao contrário do que acontece com o umbandista quando este é recebido por outras religiões, mas não vamos falar disso aqui.

O importante mesmo é termos total consciência de que a Umbanda veio da cultura afro, somada aos costumes indígenas tupiniquins, além é claro do sincretismo católico, este último uma mistura de amor e imposição. Claro que ainda existem influências orientais, cardecistas, místicas, uma verdadeira miscelânea de culturas.

Na minha opinião, a mais forte destas influências é do Candomblé, e tenho muito orgulho de afirmar isso, pois apesar de a Umbanda ter nascido a pouco mais de 100 anos (primeiro registro oficial), sua raiz africada é milenar.

Pai Zélio Fernandino de Moraes foi quem registrou em cartório a primeira tenda Umbandista em 1908, sua casa, a Tenda de Umbanda Nossa Senhora da Piedade, não tocava atabaques, mas estes instrumentos do Candomblé foram incorporados a religião e hoje é difícil encontrar terreiro de Umbanda que não os possua em seus rituais. De onde veio isso?
Com certeza, esta influência veio de nossos queridos Pretos Velhos, entidades que se manifestam na Umbanda e que foram em vida, escravos de tempos antigos em nosso País.

Estes negros escravos, trazidos da África eram adeptos do Candomblé, de diversas nações diferentes, e a Umbanda, ainda sem um código específico e singular, administra seus templos individualmente através das orientações de seus guias patronos, ou seja, quem determina certos fundamentos em uma casa de umbanda é o guia espiritual chefe desta casa, daí a forte influencia dos rituais de nação trazidos por nossos queridos Pretos Velhos.

Giras de Umbanda - A Umbanda


Outra prova desta forte influencia e que também explica a entrada da cultura européia através da romana religião Católica, é o sincretismo dos Orixás (que vieram da África) com os santos católicos. Isso acontece simplesmente porque nossos antepassados negros, enquanto escravos, não podiam adorar Orixás e portanto adoravam santos católicos para não contrariar seus senhores, mas na verdade, quando um negro rezava para São Gerônimo por exemplo, estava em seu íntimo louvando a Xangô.

A religião de Pai Zélio, que completou 100 anos em 2008 é uma mistura de crenças, ainda em formação, e tomara que continue assim, pois a evolução humana não deve parar nunca, nunca devemos dizer que já sabemos de tudo e que isso é assim e assado. Tomara que a Umbanda continue evoluindo ainda mais e continue acima de tudo, uma religião eclética, sem preconceitos.

A caridade é o principal fundamento.

A ritualística de Umbanda é bastante vasta, vem sendo passada de pai para filho dentro da religião mas principalmente, vem sendo moldada pela orientação de nossos mentores espirituais, mas o principal objetivo é sem dúvida a caridade através dos atendimentos realizados por estes mesmos mentores.

Através da incorporação mediúnica, entidades espirituais muito mais evoluidas do que nós encarnados, vem prestar uma espécie de socorro as pessoas que recorrem aos diversos centros de Umbanda espalhados pelo País.

A forma que se realizam estes rituais difere um pouco de um templo para outro, justamente pelo fato de que cada casa possui seus fundamentos próprios, passados pelos seus mentores espirituais, mas em síntese ocorrem os mesmos preceitos.

O Terreiro é dividido em duas partes, o congá onde ficam os médiuns que irão trabalhar incorporados juntamente com os que irão auxiliar como cambonos e a assistência, onde se acomodam as pessoas que vem em busca deste atendimento.

A ritualística de abertura de uma Gira de Umbanda basicamente é composta de danças para os Orixás, cantos de melodias chamadas por nós de pontos cantados, defumações com ervas especiais e orações, inclusive as orações cristãs, como o Pai Nosso e a Ave Maria.

Ou seja, dentro da ritualística umbandista também se vê com clareza a mistura que compõem esta maravilhosa religião. Os atabaques e outros instrumentos comuns nos cultos aos Orixás se somam a práticas mais familiares aos cultos católicos, mas o culto aos Orixás sempre predomina, em muitos casos o Padê para o Orixá Exú, precede todas as giras, e isso é fundamento herdado do Candomblé que tem efeito prático no resultado das seções.

Este Padê consiste em cantar pontos para Exú e em seguida levar uma oferenda (ebó) até a canjira, que é o assentamento do Orixá na casa e fica do lado de fora do terreiro. Na prática, este ritual é um pedido para que Exú cuide da porteira e evite assim intromissões de espíritos menos evoluídos no trabalho, o chamado "descarrego".

Após estas louvações, rezas e pedidos, se chama em terra a entidade chefe do terreiro que irá incorporar no Zelador de Santo, o dirigente do terreiro, para tanto o entoadas cantigas especiais e próprias da entidade que virá trabalhar neste dia.

O guia chefe, depois de realizar os rituais de segurança da Gira, chama os médiuns já desenvolvidos que irão formar uma roda no centro do terreiro para receberem as entidades que irão prestar o atendimento a assistência.
Este atendimento é feito individualmente, os Guias de Luz passam orientações, receitas de banhos com ervas, dão o tradicional "passe mediúnico" que é o momento onde as entidades realizam as magias que resolvem os problemas daquela pessoa assistida.
o realizados diversos rituais nesta hora, mas acima de tudo estas entidades confortam as pessoas com seu modo carinhoso e humilde.

Existem, é claro, muitos fundamentos que envolvem a preparação de uma gira de Umbanda mas não é objetivo deste site apresentá-las em seus textos, que tem por finalidade apenas divulgar e difundir nossa cultura, mas fica a mensagem que encontramos em um destes pontos cantados que diz: A UMBANDA TEM FUNDAMENTO, É PRECISO PREPARAR.


Os Orixás.
Dados importantes sobre o culto na Umbanda.

A religião de Umbanda cultua os mesmos Orixás do panteão africano, os mesmos cultuados pelos povos de nação Kêtu/Nagô nos Candomblés, sendo que estes nossos irmãos fazem isso há muito mais tempo que os umbandistas.
Apesar de os Orixás serem os mesmos, é na forma de cultuá-los que está a diferença.

Desenvolvemos abaixo, uma tabela para cada Orixá, que traz diversas informações sobre o culto destas divindades na Umbanda, suas cores, velas, domínios, oferendas, datas votivas, entre outras. Ainda acrescentamos alguns Itãs, histórias mitológicas que eram passadas de pai para filho de forma oral.
Clique sobre as opções abaixo relacionadas:

 

 
Os Pontos Riscados.
Identidade e magia dos Guias de Luz.

 
Os Pontos Riscados são desenhos feitos pelas Entidades incorporadas em seus médiuns e possuem função mágica, podendo ter diversos significados diferentes. Cada Entidade porem, possui um ponto de identificação e vários outros pontos para suas magias e mirongas, o primeiro pode ser mostrado sem maiores restrições, como costumeiramente vemos nos nomes e fachadas das casas de Umbanda e em livros, já os outros são secretos e só a entidade possui seus segredos.

Abaixo relacionamso alguns destes pontos abertos, ainda assim tomamos o cuidado de divulgar apenas os pontos dos sacerdotes e com a devida autorização das entidades.
Fonte: Portal Giras da Umbanda


24/06/2011

Vamos conhecer hoje o que é o Hinduímo.

Hinduísmo


Brama, uma das principais divindades do hinduísmo.
O hinduísmo é uma tradição religiosa[1] que se originou no subcontinente indiano. Frequentemente é chamado de Sanātana Dharma (सनातन धर्म) por seus praticantes, frase em sânscrito que significa "a eterna (perpétua) dharma (lei)"[2]
Num sentido mais abrangente, o hinduísmo engloba o bramanismo, a crença na "Alma Universal", Brâman; num sentido mais específico, o termo se refere ao mundo cultural e religioso, ordenado por castas, da Índia pós-budista.[3] Entre as suas raízes está a religião védica da Idade do Ferro na Índia e, como tal, o hinduísmo é citado frequentemente como a "religião mais antiga",[4] a "mais antiga tradição viva"[5] ou a "mais antiga das principais tradições existentes".[6][7][8] É formado por diferentes tradições e composto por diversos tipos, e não possui um fundador.[9] Estes tipos, sub-tradições e denominações, quando somadas, fazem do hinduísmo a terceira maior religião, depois do cristianismo e do islamismo, com aproximadamente um bilhão de fiéis, dos quais cerca de 905 milhões vivem na Índia e no Nepal.[10] Outros países com populações significativas de hinduístas são Bangladesh, Sri Lanka, Paquistão, Malásia, Singapura, ilhas Maurício, Fiji, Suriname, Guiana, Trinidad e Tobago, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos.
O vasto corpo de escrituras do hinduísmo se divide em shruti ("revelado") e smriti ("lembrado"). Estas escrituras discutem a teologia, filosofia e a mitologia hinduísta, e fornecem informações sobre a prática do dharma (vida religiosa). Entre estes textos os Vedas e os Upanixades possuem a primazia na autoridade, importância e antiguidade. Outras escrituras importantes são os Tantras, os Ágamas, sectários, e os Puranas (AFI[Purāṇas]), além dos épicos Maabárata (AFI[Mahābhārata]) e Ramáiana (AFI[Rāmāyaṇa]). O Bagavadguitá (AFI[Bhagavad Gītā]), um tratado do Maabárata, narrado pelo deus Críxena (Krishna), costuma ser definido como um sumário dos ensinamentos espirituais dos Vedas.[11]
Os hindus acreditam num espírito supremo cósmico, que é adorado de muitas formas, representado por divindades individuais. O hinduísmo é centrado sobre uma variedade de práticas que são vistos como meios de ajudar o indivíduo a experimentar a divindade que está em todas as partes, e realizar a verdadeira natureza de seu Ser.
A teologia hinduísta se fundamenta no culto aos avatares (manifestações corporais) da divindade suprema, Brâman. Particular destaque é dado à Trimurti - uma trindade constituída por Brama (Brahma), Xiva (Shiva) e Vixnu (Vishnu). Tradicionalmente o culto direto aos membros da Trimurti é relativamente raro - em vez disso, costumam-se cultuar avatares mais específicos e mais próximos da realidade cultural e psicológica dos praticantes, como por exemplo Críxena (Krishna), avatar de Vixnu e personagem central do Bagavadguitá.
Os hindus cultuam cerca de 330 mil divindades diferentes.[12]
Fonte: Wikipédia 

Etimologia

Hindū é o nome em persa do rio Indo, encontrado pela primeira vez na palavra Hindu (həndu) do persa antigo, correspondente ao sânscrito védico Sindhu.[13] O Rigveda chama a terra dos indo-arianos como Sapta Sindhu (a terra dos sete rios no noroeste da Ásia Meridional, um deles o Indo), que corresponde ao Hapta Həndu no Avesta (Vendidad or Videvdad, 1.18), escritura sagrada do zoroastrianismo. O termo foi utilizado para designar aqueles que viviam no subcontinente indiano, ou para além do "Sindhu".[14]
O termo persa (persa médio Hindūk, persa moderno Hindū) entrou na Índia pelo Sultanato de Délhi e aparece nos textos do sul da Índia, bem como da Caxemira, a partir de 1323 d.C,[15] e a partir daí é cada vez mais utilizado, especialmente durante o Raj britânico. Desde o fim do século XVIII a palavra passou a ser usada no Ocidente como um termo que abrange a maioria das tradições religiosas, espirituais e culturais do subcontinente, com a exceção do sikhismo, budismo e jainismo, religiões distintas.[16]

Divisões

O hinduísmo pode ser subdividido em diversas correntes principais. Dos seis darshanas ou divisões históricas originais, apenas duas escolas, a vedanta e a ioga, sobrevivem. As principais divisões do hinduísmo hoje em dia são o vixnuísmo, o xivaísmo, o smartismo e shaktismo. A imensa maioria dos hindus atuais podem ser categorizados sob um destes quatro grupos, embora ainda existam outros, cujas denominações e filiações variam imensamente.
Alguns estudiosos dividem as correntes do hinduísmo moderno em seus "tipos":[17]

Definições

O hinduísmo não tem um "sistema unificado de crenças, codificado numa declaração de fé ou um credo",[18] mas sim é um termo abrangente, que engloba a pluralidade de fenômenos religiosos que se originaram e são baseados nas tradições vêdicas.[19][20][21][22]
Hindu é originalmente um termo persa, em uso desde os tempos do Sultanato Délhi, e que se referia a qualquer tradição nativa da Índia, em contraste com o islã. Hindu é usado no inglês no sentido de "pagão indiano" desde o século XVII,[23] porém a noção do hinduísmo como uma tradição religiosa identificável, qualificando uma das religiões do mundo, surgiu apenas durante o século XIX.
A característica da tolerância compreensiva às diferenças de credo e a abertura dogmática do hinduísmo o torna difícil de ser definido como uma religião de acordo com o conceito ocidental tradicional.[24] Embora o hinduísmo seja um conceito prático claro para a maior parte de seus seguidores,[carece de fontes] muitos manifestam algum tipo de problema ao tentar chegar a uma definição do termo, principalmente devido à ampla gama de tradições e ideias incorporadas ou cobertas por ele.[18] Embora seja descrito como uma religião, o hinduísmo costuma ser definido com mais frequência como uma 'tradição religiosa'.[1] É descrito como a mais antiga das religiões mundiais, e mais diversa em tradições religiosas.[5][25][26][27]
A maior parte das tradições hindus reverenciam um corpo de literatura sagrada ou religiosa, os Vedas, embora existem exceções; algumas tradições religiosas acreditam que certos rituais específicos sejam essenciais para a salvação, mas diversos pontos de vista sobre o assunto podem coexistir. Algumas filosofias hindus postulam uma ontologia teística da criação, sustento e destruição do universo, enquanto outros hindus são ateus. O hinduísmo por vezes é caracterizado pela crença na reencarnação (samsara), determinada pela lei do karma (karma), e que a salvação é a liberdade deste ciclo de sucessivos nascimentos e mortes; outras religiões da região, no entanto, como o budismo e o jainismo, também acreditam nisto, mesmo estando fora do escopo do hinduísmo.[18] O hinduísmo é visto como a mais complexa de todas as religiões históricas vivas do mundo,[28] porém a despeito desta complexidade é não apenas numericamente a maior delas, como também a mais antiga tradição em existência na Terra, com raízes que se estendem até a pré-história.[29]
Uma definição do hinduísmo dada pelo primeiro vice-presidente da Índia, o reputado teólogo Sarvepalli Radhakrishnan, diz que ele não é "apenas uma fé", mas que, por estar ele próprio relacionado à união da razão e intuição, não pode ser definido, apenas experimentado.[30] De maneira similar, alguns acadêmicos sugerem que o hinduísmo pode ser visto como uma categoria com seus limites pouco definidos, e não uma entidade rígida e bem-definida. Algumas formas de expressão religiosa são centrais ao hinduísmo, enquanto outras não são tão centrais, porém ainda enquadram-se dentro da categoria; com base nisto desenvolveram-se algumas teorias acerca da definição do hinduísmo, como a 'teoria dos protótipos'.[31]
Os problemas com uma única definição do que realmente se quer dizer pelo termo 'hinduísmo' frequentemente são atribuídas ao fato de que o hinduísmo não tem um fundador histórico único ou comum. O hinduísmo ou, como alguns dizem, 'hinduísmos', não tem um sistema único de salvação, e apresenta diferentes metas de acordo com a seita ou denominação. As formas da religião vêdica são vistos não como uma alternativa ao hinduísmo, mas como a sua forma mais antiga, e praticamente não há justificativa para as divisões estabelecidas pela maior parte dos acadêmicos ocidentais entre o vedismo, o bramanismo e o próprio hinduísmo.[32]
Uma possível definição de hinduísmo é ainda mais complicada pelo uso frequente do termo "" como sinônimo para "religião".[18] Alguns acadêmicos[33] e diversos praticantes se referem ao hinduísmo com uma definição nativa, como 'Sanātana Dharma', uma frase em sânscrito que significa "a eterna lei" ou "eterno caminho".[2][34]

Crenças


Escultura no templo de Hoysaleswara representando a Trimurti: Brahma, Shiva e Vishnu.
O hinduísmo é uma corrente religiosa que evoluiu organicamente através dum grande território marcado por uma diversidade étnica e cultural significativa. Esta corrente evoluiu tanto através da inovação interior quanto pela assimilação de tradições ou cultos externos ao próprio hinduísmo. O resultado foi uma variedade enorme de tradições religiosas, que vai de cultos pequenos e pouco sofisticados os principais movimentos da religião, que contam com milhões de aderentes espalhados por todo o subcontinente indiano e outras regiões do mundo. A identificação do hinduísmo como uma religião independente, separada do budismo e do jainismo, depende muitas vezes da afirmação dos próprios fiéis de que ela o é.[35]
Temas proeminentes nas (porém não restritos às) crenças hinduístas incluem o darma (dharma, ética hindu), samsara (samsāra, o contínuo ciclo do nascimento, morte e renascimento), carma (karma, ação e consequente reação), mocsa (moksha, libertação do samsara), e as diversas iogas (caminhos ou práticas).

Conceito de Deus

O hinduísmo é um sistema diversificado de pensamento, com crenças que abrangem o monoteísmo, politeísmo,[36] panenteísmo, panteísmo, monismo e ateísmo, e o seu conceito de Deus é complexo, e está vinculado a cada uma das suas tradições e filosofias. Por vezes é tido como uma religião henoteísta (isto é, que envolve a devoção a um único deus, embora aceite a existência de outros), porém o termo é visto, da mesma maneira que os outros, como uma generalização excessiva.[37]
A maior parte dos hindus acredita que o espírito ou a alma - o "eu" verdadeiro de cada pessoa, chamado de ātman — é eterno.[38] De acordo com as teologias monistas/panteístas do hinduísmo (tais como a escola Advaita Vedanta), este Atman não pode ser distinguido, em última instância, do Brâman, o espírito supremo; estas escolas são, portanto, chamadas de não-dualistas.[39] A meta da vida, de acordo com a escola Advaita, é chegar à conclusão que o seu ātman é idêntico ao Brâman, a alma suprema.[40] Os Upanixades afirmam que quem que tome consciência do ātman como o âmago de si próprio estabelece uma identidade com Brâman, atingindo assim o moksha ("liberação" ou "liberdade").[38][41]
Escolas dualísticas (Ver Dvaita e Bhakti) compreendem Brâman como um Ser Supremo que possui personalidade, e o/a veneram como Vishnu, Brahma, shiva ou Shakti, dependendo da seita. O ātman é dependente de Deus, enquanto o moksha depende do amor a Deus e da graça de Deus.[42] Quando Deus é visto como um ser supremo pessoal (em lugar do princípio infinito), Deus é chamado de Ishvara ("O Senhor"[43]), Bhagavan ("O Auspicioso"[43]) ou Parameshwara ("O Senhor Supremo"[43]).[39] As interpretações de Ishvara variam, no entanto, da não-crença no Ishvara dos seguidores do Mimamsakas, até a sua identificação com Brâman, pelo Advaita.[39] Na maior parte das tradições do vishnuísmo Deus é Vishnu, e o texto das escrituras desta denominação identifica este Ser como Krishna, por vezes chamado de svayam bhagavan. Também existem escolas, como o Samkhya, que têm tendências ateias.[44]

Devas e avatares

Ficheiro:RadheShyam07.jpg
Críxena (à esquerda), a oitava encarnação (avatar) de Vishnu, ou svaym bhagavan, com sua consorte, Rada - venerada como Radha Krishna em diversas tradições. Pintura tradicional do século XVII.
As escrituras hindus se referem a entidades celestiais chamadas devas (ou devī, na sua forma feminina; devatā é usado como sinônimo de Deva em hindi), "os brilhantes", que pode ser traduzido como "deuses" ou "seres celestiais".[45] Os devas são uma parte integrante da cultura hindu, e foram retratados na sua arte, arquitetura, e através de ícones, e histórias mitológicas sobre eles foram relatadas nas escrituras da religião, particularmente na poesia épica indiana e nos Puranas. Frequentemente são, no entanto, dissociados de Ishvara, um deus pessoal supremo que muitos hindus veneram de uma forma particular, como seu iṣṭa devatā, ou "ideal escolhido".[46][47] A escolha é uma questão de preferência individual[48] e tradições regionais e familiares.[48]
Os épicos hindus e os Puranas relatam diversos episódios da descida de Deus à Terra em sua forma corpórea para restaurar o dharma da sociedade e guiar os humanos ao moksha. Tal encarnação é chamada de avatar. Os avatares mais são os de Vishnu, e incluem Rama (protagonista do Ramáyana) e Krishna (figura central do épico Mahabárata).

Karma e samsara

Karma (Karma) pode ser traduzido literalmente como "ação", "obra" ou "feito"[49] e pode ser descrito como a "lei moral de causa e efeito".[50] De acordo com os Upanixades um indivíduo, conhecido como o jiva-atma, desenvolve samskaras (impressões) a partir das ações, sejam elas físicas ou mentais. O linga sharira, um corpo mais sutil que o físico, porém menos sutil que a alma, armazena as impressões, e lhes carrega à vida seguinte, estabelecendo uma trajetória única para o indivíduo.[51] Assim, o conceito de um carma infalível, neutro e universal, relaciona-se intrinsecamente à reencarnação, assim como à personalidade, característica e família de cada um. O carma une os conceitos de livre-arbítrio e destino.
O ciclo de ação, reação, nascimento, morte e renascimento é um contínuo, chamado de samsara. A noção de reencarnação e carma é uma premissa forte do pensamento hindu. O Bagavadguitá afirma que:
Assim como uma pessoa veste roupas novas e joga fora as roupas antigas e rasgadas, uma alma encarnada entra em novos corpos materiais, abandonando os antigos. (B.G. 2:22)[52]
A samsara dá prazeres efêmeros, que levam as pessoas a desejarem o renascimento para gozar dos prazeres de um corpo perecível. No entanto, acredita-se que escapar do mundo da samsara através do moksha assegura felicidade e paz duradouras.[53][54] Acredita-se que depois de diversas reencarnações um atman eventualmente procura a união com o espírito cósmico (Brâman/Paramatman).
A meta final da vida, referida como moksha, nirvana ou samādhi, é compreendida de diversas maneiras diferentes: como uma realização da união de alguém com Deus; como a realização da relação eterna de alguém com Deus; realização da unidade de toda a existência; abnegação total e conhecimento perfeito do próprio Eu; como o alcance de uma paz mental perfeita; e como o desprendimento dos desejos mundanos. Tal realização libera o indivíduo da samsara e termina com o ciclo de renascimentos.[55][56]
A conceitualização do moksha difere entre as várias escolas de pensamento hindu. O Advaita Vedanta, por exemplo, sustenta que após alcançar o moksha um atman não mais identifica a si próprio como um indivíduo, mas sim como sendo idêntico a Brâman em todos os aspectos. Os seguidores das escolas Dvaita (dualísticas) se identificam como parte de Brâman, e, após atingir o moksha, esperam passar a eternidade num loka (céu),[57] na companhia de sua forma escolhida de Ishvara. Assim, diz-se os seguidores do Dvaita desejam "provar o açúcar", enquanto os seguidores do Advaita querem "se tornar açúcar".[58]

Objetivos da vida humana

O pensamento hindu clássico aceita os seguintes objetivos da vida humana, conhecidos como os puruṣārthas ou "quatro objetivos da vida": dharma "retidão", "ethikos", artha "sustento", "riqueza", kāma "prazer sensual", mokṣa "liberação", "liberdade" [do samsara]".[59][60]
Acredita-se[quem?] que todos os homens seguem o kama e o artha, mas brevemente, com maturidade, eles aprendem a controlar estes desejos com o dharma, ou a harmonia moral presente em toda a natureza. O objetivo maior seria o infinito, cujo resultado é a absoluta felicidade, moksha, ou liberação (também conhecida como mukti, samadhi, nirvana, etc.) do samsara, o ciclo da vida, morte, e da existência dual.

Ioga


Estátua de Xiva em meditação yogue.
Qualquer que seja a maneira na qual o hindu defina a meta de sua vida, existem diversos métodos (yôgas) que os sábios ensinaram para se atingir aquela meta. Textos dedicados ao ioga incluem o Bagavadgitá (Bhagavad Gita), os Yôga Sutras, o Hatha Yôga Pradipika, a Gheranda Samhita, entre outros, e, como sua base filosófico-histórica, os Upanixades. Os caminhos que um indivíduo pode seguir para atingir a meta espiritual da vida (moksha ou samadhi) incluem:
  • Bakti-Yoga (Bhakti Yoga, o caminho do amor e da devoção)
  • Karma-Yoga (Karma Yoga, o caminho da ação correta)
  • Raja-Yoga (Rāja Yoga, o caminho da meditação)
  • Jnana-Yoga (Jñāna Yoga, o caminho da sabedoria)[61]
Um indivíduo pode preferir um ou alguns iogas sobre os outros, de acordo com a sua inclinação e entendimento. Algumas escolas devocionais ensinam que o bhakti é, para a maior parte das pessoas, a único caminho prático para se alcançar a perfeição espiritual, com base em sua crença de que o mundo atualmente estaria no Kali Yuga (uma das quatro épocas que formam o ciclo Yuga).[62] A prática de um yoga não exclui as outras, e muitos estudiosos acreditam que os diferentes yogas se misturam naturalmente e auxiliam na prática das outros yogas. Por exemplo, acredita-se que a prática da Jñana-Yoga inevitavelmente leve ao amor puro (a meta do bacti-yoga), e vice-versa.[63] Alguém que pratica a meditação profunda (como no Raja-Yoga) deve incorporar os princípios centrais do Karma-Yoga, do Jñana-Yoga e do Bakti-Yoga, seja direta ou indiretamente.[61][64]

Práticas


A cerimônia visarjan do Senhor Ganexa, durante o festival Chaturthi.
As práticas hinduístas geralmente envolvem a procura da consciência de Deus, e por vezes também a procura de bençãos dos devas. Assim, o hinduísmo desenvolveu muitas destas práticas como forma de ajudar o indivíduo a pensar na divindade em meio à vida cotidiana. Os hindus podem praticar a pūjā (culto ou veneração)[43] tanto em casa como num templo. Em seus próprios lares os hindus frequentemente costumam criar um altar, com ícones dedicados às suas formas escolhidas de Deus. Os templos costumam ser dedicados a uma divindade primária e às divindades subordinadas que lhe são associadas, embora alguns templos sejam dedicados a mais de uma divindade. A visita a templos não é obrigatória,[65] e muitos os visitam apenas durante os festivais religiosos. Os hindus realizam seu culto através dos murtis, ícones; o ícone serve como uma ligação tangível entre o fiel e Deus.[66] A imagem costuma ser considerada uma manifestação de Deus, já que Ele é imanente. O Padma Purana afirma que o mūrti não deve ser visto como apenas pedra ou madeira, mas sim como uma forma manifesta da Divindade.[67] Algumas seitas hindus, como o Ārya Samāj, não acreditam em venerar Deus através de ícones.
O hinduísmo possui um sistema desenvolvido de simbolismo e iconografia para representar o sagrado na arte, arquitetura, literatura e em seu culto. Estes símbolos ganham seu significado das escrituras, mitologia ou tradições culturais. A sílaba Om (que representa o Parabrahman) e o sinal da suástica (que simboliza auspiciosidade) acabaram passando a representar o próprio hinduísmo, enquanto outros símbolos, como a tilaka, identificam um seguidor da fé. O hinduísmo ainda apresenta diversos símbolos que são costumeiramente associados a divindades específicas, como o lótus, chakra e veena.
Os mantras são invocações, louvores e orações que, através de seu significado, som e estilo de canto, ajudam um devoto a focar a sua mente nos pensamentos sagrados ou exprimir devoção a Deus ou às divindades. Muitos devotos realizam abluções matinais às margens de um rio sagrado, enquanto cantam o Gayatri Mantra ou os mantras Mahamrityunjaya. O poema épico Maabárata exalta o japa (canto ritualístico) como o maior dever durante o Kali Yuga (que os hindus acreditam ser a era presente), e muitos adotam o japa como sua prática espiritual primordial.[carece de fontes]

Rituais


Tradicionais diyas e outros itens usados em orações durante uma cerimônia de casamento hindu.
A imensa maioria dos hindus praticam rituais religiosos diariamente,[68] porém a observância destes rituais varia enormemente de acordo com as regiões, cidades ou aldeias e indivíduos. A maior parte dos hindus segue estes rituais religiosos em seus lares.[69] Os hindus mais devotos também executam tarefas diárias, como venerar durante a alvorada, depois de se banhar (normalmente num santuário familiar, num ritual que também envolve o acendimento de uma lâmpada e a colocação de oferendas de alimentos diante de imagens das divindades), recitar os escritos religiosos, cantar hinos devocionais, meditar, cantar mantras, entre outros.[69] Um fator de destaque nos rituais religiosos é a divisão entre o puro e o impuro (ou poluído). Atos religiosos pressupõem algum grau de impureza ou poluição para o seu praticamente, que devem ser anulados ou neutralizados antes ou durante o decorrer do ritual. A purificação, feita geralmente com água, é portanto um aspecto típico da maior parte dos atos religiosos do hinduísmo.[69] Outras características incluem a crença na eficácia do sacrifício e do conceito de mérito, ganho através da realização da caridade ou de bons atos, que acumulam com o tempo e reduzem o sofrimento no próximo mundo.[69] Os ritos védicos da oblação pelo fogo (yajna) são atualmente apenas práticas ocasionais, embora sejam altamente reverenciadas na teoria. Nas cerimônias de casamentos e funerais hindus, no entanto, o yajña e o entoamento de mantras védicos ainda são a norma.[70] Os rituais, upacharas, mudam com o tempo; por exemplo, nas últimas centenas de anos alguns rituais, como as danças sagradas e as oferendas musicais nos tradicionais conjuntos de Upacharas Sodasa, recomendados pelo Agama Shastra, foram substituídos por oferendas de arroz e doces.
Ocasiões como nascimentos, casamentos e mortes envolvem o que são frequentemente conjuntos elaborados de costumes religiosos. No hinduísmo, os rituais que tratam do ciclo da vida incluem o Annaprashan (a primeira ingestão de comida sólida por um bebê), Upanayanam ("cerimônia do fio sagrado" pela qual passam as crianças de castas elevadas em sua iniciação na educação formal) e Shraadh (ritual de conceder banquetes em nome dos falecidos).[71][72] Para a maior parte das pessoas na Índia, o noivado de um jovem casal e a data e hora exatas do casamento são questões decididas pelos pais, em consultas com astrólogos.[71] Na morte, a cremação, que é considerada obrigatória para todos, com a exceção de sanyasis, hijra e crianças abaixo de cinco anos,[carece de fontes] costuma ser executada envolvendo-se o corpo em algum tecido e queimando-o sobre uma pira.

Peregrinação e festivais


Diwali, o festival das luzes, é o festival principal do hinduísmo. Aqui são mostradas as tradicionais Diyas, que frequentemente são acesas durante o Diwali.
A peregrinação não é obrigatória no hinduísmo, embora muitos de seus seguidores as realizem. Os hindus reconhecem diversas cidades sagradas na Índia, incluindo Allahabad, Haridwar, Varanasi e Vrindavan. Entre as cidades que possuem templos famosos está Puri, que abriga um dos principais templos vixnuísta de Jagannath e a comemoração de Rath Yatra; Tirumala - Tirupati, lar do Templo Tirumala Venkateswara; e Katra, onde se localiza o templo de Vaishno Devi. Os quatro locais sagrados de Puri, Rameswaram, Dwarka e Badrinath (ou, alternativamente, as cidades de Badrinath, Kedarnath, Gangotri e Yamunotri, no Himalaia) compõem o circuito de peregrinação de Char Dham (quatro moradas). O Kumbh Mela (o "festival das jarras") é uma das peregrinações hindus mais sagradas, realizada a cada quatro anos; a localização é alternada entre Allahabad, Haridwar, Nashik e Ujjain. Outro importante grupo de peregrinações são os Shakti Peethas, onde a Deusa Mãe é cultuada, da qual as duas principais são Kalighat e Kamakhya.
O hinduísmo apresenta diversos festivais ao longo do ano. O calendário hindu costuma prescrever estas datas. Estes festivais tipicamente celebram eventos da mitologia hindu, e coincidem muitas vezes com as mudanças de estação. Existem festivais que são celebrados principalmente por seitas específicas ou em certas regiões do Subcontinente Indiano. Alguns dos festivais mais importantes são o Maha Shivaratri, Holi, Ram Navami, Krishna Janmastami, Ganesh Chaturthi, Dussera e Durga Puja, além do Diwali. mlk top

Escrituras


O Rig Veda é um dos mais antigos textos religiosos. Este manuscrito do Rig Veda em particular esta no alfabeto devanágari.
O hinduísmo se baseia no "tesouro acumulado de leis espirituais descobertas por diferentes pessoas em diferentes tempos."[73][74] As escrituras foram transmitidas oralmente, na forma de versos - para auxiliar na sua memorização, muitos séculos antes de serem escritos.[75] Ao longo dos séculos diversos sábios refinaram estes ensinamentos e expandiram o cânone. Na crença hindu pós-védica e moderna a maior parte das escrituras não costuma ser interpretadas literalmente; dá-se mais importância aos significados éticos e metafóricos derivados deles.[76] A maior parte dos textos sagrados está em sânscrito, e os textos se dividem em duas classes: Shruti e Smriti.

Shruti

Shruti (lit: "aquilo que é ouvido")[77] refere-se primordialmente aos Vedas, que compõem o mais antigo registro das escrituras hindus. Enquanto muitos hindus veneram os Vedas como verdades eternas reveladas aos antigos sábios (Ṛṣis),[74] alguns devotos não associam a criação deles com qualquer divindade ou pessoa, acreditando serem leis do mundo espiritual, que existiriam mesmo se não tivessem sido reveladas aos sábios.[73][78][79] Os hindus acreditam que, como as verdades espirituais dos Vedas são eternas, eles estão sendo expressos continuamente, de diferentes maneiras.[80]
Existem quatro Vedas (chamados Ṛg-, Sāma-, Yajus- e Atharva-). O Rig Veda é o primeiro e mais importante dos Vedas.[81] Cada Veda se divide em quatro partes: a primeira, o Veda propriamente dito, é o Saṃhitā, que contém mantras sagrados. As outras três partes formam um conjunto em três camadas de comentários, costumeiramente em prosa, tidos como feitos numa data um pouco posterior ao Saṃhitā. São os Brâmanas (Brāhmaṇas), Āraṇyakas e os Upanixades. As primeiras duas partes foram chamadas posteriormente de Karmakāṇḍa (parte ritualística), enquanto as últimas duas formam a Jñānakāṇḍa (parte do conhecimento).[82] Embora os Vedas tenham como foco os rituais, os Upanixades se concentram numa abordagem espiritual e em ensinamentos filosóficos, discutindo Brâman e a reencarnação.[76][83][84]

Smritis


O Naradeya Purana descreve a mecânica do universo; neste retrato vê-se Vishnu, com sua consorte, Lakshmi, descansando em Shesha Nag. Narada e Brama também aparecem.
Textos hindus além dos shrutis são chamados coletivamente de smritis ("memória"). Os mais célebres dentre os smritis são os poemas épicos, que consistem do Maabárata (Mahābhārata) e do Ramáiana (Rāmāyaṇa). O Bagavadguitá (Bhagavad Gītā), parte integral do Maabárata, e um dos mais populares textos sacros do hinduísmo, contém ensinamentos filosóficos de Krishna, uma encarnação de Vishnu, narradas ao príncipe Arjuna às vésperas de uma grande guerra. O Bhagavad Gītā, narrado por Krishna, é descrito como a essência dos Vedas.[85] O Gītā, no entanto, por vezes também chamado de Gitopanishad ("Guitopanixade"), costuma ser categorizado com maior frequência entre os shrutis, por ter um conteúdo de natureza upanixádica.[86] Os smritis também incluem os Puranas (Purāṇas), que ilustram ideias hindus através de narrativas vívidas. Também existem textos de natureza sectária, como o Devi Mahatmya (Devī Mahātmya), os Tantras, os Yoga Sutras, Tirumantiram, Shiva Sutras e Agamas (Āgamas). Um texto mais controverso, o Manusmriti, é o livro de leis que epitomiza os códigos sociais do sistema de castas.[carece de fontes]

História


O monte Kailash, no Tibete, é tido como a morada espiritual de Shiva.
A mais antiga evidência de uma religião pré-histórica na Índia data do fim do Neolítico, no período harapano inicial (5500-2600 a.C.).[76][87] As crenças e práticas do período pré-clássico (1500-500 a.C.) são chamadas coletivamente de "religião histórica védica". O hinduísmo moderno cresceu a partir dos Vedas, dos quais o mais antigo é o Rig Veda, que data de 1700-1100 a.C..[88] Os Vedas centralizam o culto em divindades como Indra, Varuna e Agni, e no ritual do soma. Sacrifícios de fogo eram realizados, chamados de yagna (yajña), e entoavam mantras védicos, porém não construíam templos nem ícones.[carece de fontes] As tradições védicas mais antigas mostram fortes semelhanças com o zoroastrianismo e outras religiões indo-europeias.[89]
Os principais épicos em sânscrito, o Ramáiana e o Maabárata, foram compilados durante um período extenso que abrangeu os últimos séculos antes de Cristo, e os primeiros da Era Comum, e contêm histórias mitológicas sobre os governantes e as guerras da antiga Índia, intercaladas com tratados religiosos e filosóficos. Os Puranas posteriores recontam histórias sobre os devas e devis, suas interações com os humanos e suas batalhas contra demônios (rakshasas).

Origens históricas e aspectos sociais

Pouco é conhecido sobre a origem do hinduísmo, já que sua existência antecede os registros históricos. É dito que o Hinduísmo deriva das crenças dos arianos, que residiam nos continentes sub-indianos, ('nobres' seguidores dos Vedas), dravidianos, e harapanos. Alguns dizem que o hinduísmo nasceu com o budismo e o jainismo, mas Heinrich Zimmer e outros indólogos afirmam que o jainismo é muito anterior ao hinduísmo, e que o budismo deriva deste e do Sankhya que em consequência afetaram o desenvolvimento de sua religião mãe. Diversas são as ideias sobre as origens dos Vedas e a compreensão se os arianos eram ou não nativos ou estrangeiros na Índia. A existência do Hinduísmo data de 4000 a 6000 mil anos a.C..
Historicamente, a palavra hindu antecede o hinduísmo como religião; o termo é de origem persa e primeiramente referia-se ao povo que residia no outro lado (do ponto de vista persa) do Sindhu ou rio Indo. Foi utilizado para expressar não somente a etnicidade mas a religião védica desde o século XV e XVI, por personalidades como Guru Nanak (fundador do sikhismo). Durante o Império Britânico, a utilização do termo tornou-se comum, e eventualmente, a religião dos hindus védicos foi denominada "hinduísmo". Na verdade, foi meramente uma nova vestimenta para uma cultura que vinha prosperando desde a mais remota Antiguidade.

Distribuição geográfica atual

A Índia, a ilhas Maurício, e o Nepal assim como a ilha indonésia de Bali têm como religião predominante o hinduísmo; importantes minorias hindus existem em Bangladesh (11 milhões), Myanmar (7,1 milhões), Sri Lanka (2.5 milhões), Estados Unidos (2,5 milhões), Paquistão (4,3 milhões), África do Sul (1,2 milhões), Reino Unido (1,5 milhão), Malásia (1,1 milhão), Canadá (1 milhão), Ilhas Fiji (500 mil), Trinidad e Tobago (500 mil), Guiana (400 mil), Holanda (400 mil), Cingapura (300 mil) e Suriname (200 mil).

Filosofia hindu: as seis escolas védicas de pensamento

As seis escolas filosóficas ortodoxas hindu (Astika, que aceitam a autoridade dos Vedas) são Nyaya, Vaisheshika, Sankhya, Yoga, Purva Mimamsa - também denominadas Mimamsa -, Uttara Mimamsa e Vedanta. As escolas não-védicas são denominadas Nastika, ou heterodoxas, e referem-se ao budismo, jainismo e Lokayata. As escolas que continuam a influenciar o hinduísmo hoje são Purva Mimamsa, Yoga, e Vedanta.

Purva Mimamsa

O principal objetivo do Purva ("cedo") ou da escola Mimamsa era estabelecer a autoridade dos Vedas. Consequentemente a valiosa contribuição desta escola ao Hinduísmo foi a formulação das regras da interpretação Védica. Seus aderentes acreditavam que a revelação deveria ser provada através da razão, e não aceita como um dogma cego. Este método empírico e eminentemente sensível de aplicação religiosa é a chave para Sanatana Dharma e foi especialmente desenvolvido por racionalistas como Sankaracharya e Swami Vivekananda. Para aprofundar-se mais neste tema veja Purva Mimamsa.

Ioga

O sistema do Yoga (ioga, em português) é geralmente considerado como tendo surgido a partir da filosofia Sankhya. Entretanto o yoga referido aqui, é especialmente o Raja Yoga (ou união através da meditação). E é baseada em um texto (que exerceu grande influência) de Patandjali intitulado Yoga Sutras, e é essencialmente uma compilação e sistematização da filosofia do Yoga meditacional. Os Upanixades e o Bhagavad Gita também são textos indispensáveis ao estudo da ioga.
A filosofia Sámkhya é anterior ao bramanismo, filosofia que deu origem ao hinduísmo, como coloca o indólogo Heinrich Zimmer em seu clássico Filosofias da Índia. Patandjali, monge do sul da Índia, onde até hoje a tradição tamil preserva elementos das filosofias pré-védicas, tinha formação no sistema Saámkhya-yoga, indissociável. O Sámkhya foi compilado bem antes de Patandjali (que viveu no século II a.C., por Kapila, que viveu pouco tempo antes de Buda. Uma diferença importante entre o Sámkhya e o bramanismo é que o primeiro é dualista, e o segundo monista, mas ambos vêem o espírito, ou Deus, como imanente e transcendente ao mesmo tempo.
A diferença mais significante do Sámkhya é que a escola de yoga não somente incorpora o conceito do Ishvara (ou "Deus pessoal") numa visão do mundo metafísica mas também sustenta Ishvara como um ideal sobre o qual meditar. A razão é que Ishvara é o único aspecto de purusha (do infinito Terreno Divino) que não foi mesclado com prakrti (forças criativas temporárias). Também utiliza as terminologias Brahman/Atman e conceitos profundos dos Upanixades, adotando uma visão vedântica monista. A realização do objetivo do ioga é conhecido como moksha ou samadhi. E como nos Upanixades, busca o despertar ou a compreensão de Atman como sendo nada mais que o infinito brâmane, através da (mente) ética, (corpo) físico e meditação (alma), o único alvo de suas práticas é a "verdade suprema".

Uttara Mimamsa: As Três Escolas de Vedanta

A Escola Uttara ("tarde") Mimamsa é talvez a pedra angular dos movimentos do hinduísmo, e certamente foi responsável por uma nova onda de investigação filosófica e meditativa, renovação da fé, e reformas culturais. Primeiramente associada com os Upanixades e seus comentários por Badarayana, e Vedanta Sutra, o pensamento vedanta dividiu-se em três grupos, iniciados pelo pensamento e escrita de Sankaracharya. A maioria da atual filosofia hindu, está relacionada a mudanças que foram influenciadas pelo pensamento vedanta, o qual é focalizado na meditação, moralidade e centralização no Eu uno ao invés de rituais ou distinções sociais como as castas.

Puro monismo: Advaita Vedanta

Advaita literalmente significa "não dois"; isto é o que referimos como monoteístico, ou sistema não-dualístico, que enfatiza a unidade. Seu consolidador foi Shankaracharya (788-820). Shankara expôs suas teorias baseadas amplamente nos ensinamentos dos Upanixades e de seu guru Gaudapada. Através da análise da consciência experimental, ele expôs a natureza relativa do mundo e estabeleceu a realidade não dual ou Brahman no qual Atman (a alma individual) ou Brahman (a realidade última) são absolutamente identificadas. Não é meramente uma filosofia, mas um sistema consciente de éticas aplicadas e meditação, direcionadas a obténção da paz e compreensão da verdade. Sankaracharya acusou as castas e rituais como tolos, e em sua própria maneira carismática, suplicou aos verdadeiros devotos a meditarem no amor de Deus e alcançarem a verdade.

Monismo qualificado: Vishistadvaita Vedanta

Ramanuja (1040 - 1137) foi o principal proponente do conceito de Sriman Narayana como Brahman o supremo. Ele ensinou que a realidade última possui três aspectos: Ishvara (Vixnu), cit ("alma") e acit ("matéria"). Vixnu é a única realidade independente, enquanto alma e material são dependentes de Deus para sua existência. Devido a esta qualificação da realidade última, o sistema de Ramanuja é conhecido como não dualístico.

Dualismo: Dvaita Vedanta

Madhva (1199 - 1278) identificou deus com Vishnu, mas a sua visão da realidade era puramente dualista, pois ele compreendeu uma diferenciação fundamental entre o Deus supremo e a alma individual, e o sistema consequentemente foi denominado Dvaita (dualístico) Vedanta.

Culturas Alternativas de Adoração

As Escolas Bhakti

A Escola Devocional Bhakti tem seu nome derivado do termo hindu que evoca a ideia de "amor prazeroso, abnegado e estupefante de Deus como Pai, Mãe, Filho Amados", ou qualquer outra forma de relacionamento que encontre apelo no coração do devoto. A filosofia de Bhakti procura usufruto pleno da divindade universal através da forma pessoal, o que explica a proliferação de tantas divindades na Índia, frequentemente refletindo as inclinações particulares de pequenas áreas ou grupos de pessoas. Vista como uma forma de Yoga ou união, ele preconiza a necessidade de se dissolver o ego em Deus, na medida em que a consciência do corpo e a mente limitada, como individualidade, seriam fatores contrários à realização espiritual. Essencialmente, é Deus que promove toda mudança, que é a fonte de todos os trabalhos, que a idade através do amor e da luz. 'Sins' e mal - fazendo da devoto são mencionado cair embora da sua próprio acorde , o entusiasta enrugar limitedness já transcendido , através do amor de Deus. Os movimentos Bhakti rejuvenesceram o Hinduísmo ao longo da sua intensa expressão de fé e receptividade às necessidades emocionais e filosóficas da Índia. Pode-se dizer corretamente que influenciaram a maior onda de mudança em orações e rituais hindus desde tempos remotos.
A mais popular forma de expressão de amor a Deus na tradição hindu é através do puja, ou ritual de devoção, frequentemente utilizando o auxílio de murti (estátua) juntamente com canções ou recitação de orações meditacionais em forma de mantras. Canções devocionais denominadas bhajan (escritas primeiramente nos séculos XIV-XVII), kirtan (elogio), e arti (uma forma filtrada do ritual de fogo Védico) são algumas vezes cantados juntamente com a realização do puja. Este sistema orgânico de devoção tenta auxiliar o indivíduo a conectar-se com Deus através de meios simbólicos. Entretanto, é dito que bhakta, através de uma crescente conexão com Deus, é eventualmente capaz de evitar todas as formas externas e é inteiramente imerso na bênção do indiferenciado amor a Verdade.

Tantrismo

A palavra tantra significa "tratado" ou "série continua", e é aplicada a uma variedade de trabalhos místicos, ocultos, médicos e científicos bem como aqueles que agora nos consideramos como "tântricos". A maioria dos tantras foram escritos no final da Idade Média e surgiram da cosmologia hindu.

Temas e simbolismos importantes no hinduismo

Ahimsa e as vacas

É vital uma nota sobre o elemento ahimsa no hinduísmo para compreender a sociedade que se formou à volta de alguns dos seus princípios. Enquanto o jainismo, à medida que era praticado, era certamente uma grande influência sobre a sociedade indiana - que dizer da sua exortação do veganismo e da não-violência como ahimsa - o termo primeiro apareceu nos Upanixades. Assim, uma influência internamente enraizada e externamente motivada levou ao desenvolvimento de uma grande quantidade de hindus que acabaram por abraçar o vegetarianismo numa tentativa de respeitar formas superiores de vida, restringindo a sua dieta a plantas e vegetais. Cerca de 30% da população hindu actual, especialmente em comunidades ortodoxas no sul da Índia, em alguns estados do norte como o Guzerate e em vários enclaves brâmanes à volta do subcontinente, é vegetariana. Portanto, enquanto o vegetarianismo não é um dogma, é recomendado como sendo um estilo de vida sátvico (purificador).
Os hindus abstêm-se predominantemente de carne, e alguns até vão tão longe quanto evitar produtos de pele. Isto acontece provavelmente porque o largamente pastoral povo Védico e as subsequentes gerações de hindus ao longo dos séculos dependiam tanto da vaca para todo o tipo de produtos lácteos, aragem dos campos e combustível para fertilizante, que o seu estatuto de "cuidadora" espontânea da humanidade cresceu ao ponto de ser identificada como uma figura quase maternal. Assim, enquanto a maioria dos hindus não adora a vaca, e as instruções escriturais contra o consumo de carne surgiram muito depois dos Vedas terem sido escritos, esta ainda ocupa um lugar de honra na sociedade hindu. Diz-se que Krishna é tanto Govinda (pastor de vacas) como Gopala (protector de vacas), e que o assistente de Xiva é Nandi, o touro. Com a força no vegetarianismo (que é habitualmente seguido em dias religiosos ou ocasiões especiais até por hindus comedores de carne) e a natureza sagrada da vaca, não admira que a maior parte das cidades santas e áreas na Índia tenham uma proibição sobre a venda de produtos de carne e haja um movimento entre os Hindus para banir a matança de vacas não só em regiões específicas como em toda a Índia.

Formas de Adoração: murtis e mantras

Contrário a crença popular, o hinduísmo prático não é politeístico nem estritamente monoteístico. A variedade de deuses e avatares que são adorados pelos hindus são compreendidos como diferentes formas da Verdade Única, algumas vezes vistos como mais do que um mero Deus e um último terreno Divino (Brahman), relacionado mas não limitado ao monismo, ou um princípio monoteístico como Vixnu ou Xiva.
Acreditando na origem única como sem forma (nirguna brahman, sem atributos) ou como um Deus pessoal (saguna Brahman, com atributos), os Hindus compreendem que a verdade única pode ser vista de forma variada por pessoas diferentes. O Hinduísmo encoraja seus devotos a descreverem e desenvolverem um relacionamento pessoal com sua deidade pessoal escolhida (ishta devata) na forma de Deus ou Deusa.
Enquanto alguns censos sustentam que os adoradores de uma forma ou outra de Vishnu (conhecido como Vaishnavs) são 80% dos Hindus e aqueles de Shiva (chamados Shaivaites) e Shakti compõem o restante dos 20%, tais estatísticas provavelmente são enganadoras. A maioria dos Hindus adora muitos deuses como expressões variadas do mesmo prisma da Verdade. Entre os mais populares estão Vishnu (como Krishna ou Rama), Shiva, Devi (a Mãe de muitas deidades femininas, como Lakshmi, Sarasvati, Kali e Durga), Ganesha, Skanda e Hanuman.
A adoração das deidades é geralmente expressa através de fotografias ou imagens (murti) que são ditas não serem o próprio Deus mas condutos para a consciência dos devotos, marcas para a alma humana que significam a inefável e ilimitada natureza do amor e grandiosidade de Deus. Eles são símbolos do princípio maior, representado mas nunca presumido ser o conceito da própria entidade. Consequentemente, a maneira hindu de adoração de imagens as toma apenas como símbolos da divindade, opostos à idolatria, geralmente imposta (erroneamente) aos hindus.

Mantra

Recitação e mantras originaram-se no hinduismo e são técnicas fundamentais praticadas até os dias de hoje. Muito da chamada Mantra Yoga, é realizada através de japa ("repetições"). Dizem que os mantras, através de seus significados, sons e recitação melódica, auxiliam o sadhaka (aquele que prática) na obtenção de concentração durante a meditação. Eles também são utilizados como uma expressão de amor a deidade, uma outra faceta da Bhakti Yoga necessária para a compreensão de murti. Frequentemente eles oferecem coragem em momentos difíceis e são utilizados para a obtenção de auxílio ou para 'invocar' a força espiritual interior. As ultimas palavras de Mahatma Gandhi enquanto morria foi um mantra ao Senhor Rama: "Hey Ram!"
O mais representativo de todos os mantras Hindu é o famoso Gayatri Mantra:
ॐ भूर्भुवस्व: | तत् सवितूर्वरेण्यम् | भर्गो देवस्य धीमहि | धियो यो न: प्रचोदयात्
Aum bhūrbhuvasvah | tat savitūrvareṇyam | bhargo devasya dhīmahi | dhiyo yo naha pracodayāt
Significa, literalmente: "Om! Terra, Universo, Galáxias (invocação aos três mundos). Que nós alcancemos a excelente glória de Savitr, o Deus. Que ele estimule os nossos pensamentos/meditações."
O mantra Gayatri é considerado o mais universal de todos os mantras hindus, e invoca o Brâman universal como um princípio de conhecimento e iluminação do sol primordial, mas somente em seu aspecto feminino. Muitos hindus até os dias de hoje, seguindo uma tradição que permanece viva por pelo menos 5.000 anos, realizam abluções matinais às margens do rio sagrado (especialmente do rio Ganges. Conhecido como um mantra sagrado, é reverenciado como sendo a forma mais condensada do "Conhecimento Divino" (Veda). E governado pelo princípio, Ma ("Mãe") Gayatri, também conhecido como Veda Mata ("mãe dos Vedas") e intimamente associado à deusa do aprendizado e iluminação, Sarasvati.
O maior objetivo da religião védica é alcançar moksha, ou liberação, através da constante dedicação a Satya (Verdade) e uma eventual realização de Atman (Alma Universal). Não importa se atingido através de meditação ou puro amor, este objetivo universal é alcançado por todos. Deve ser observado que o Hinduísmo é uma fé prática, e é incorporado em cada aspecto da vida. Acredita igualmente no temporal e no infinito, e somente encoraja perspectivas destes principios. Os grandes rishis (sábios, considerados espécies de santos hindus) e também denominados como samsárico (aquele que vive no samsara, i.e. plano temporal ou terrestre) aquele que segue um meio de vida honesto e amável (dhármico) é um jivanmukta (alma vivente liberta). As verdades fundamentais do hinduísmo são melhores compreendidas na frase dos Upanixades, Tat Twam Asi (Assim És Tu), e na última aspiração como segue:
Aum Asato ma sad gamaya, tamaso ma jyotir gamaya, mrityor ma aamritaam gamaya
"Aum Conduza-me da ignorância para a verdade, das trevas para a luz, da morte para a imortalidade."

Vedas

Os Vedas são os textos mais antigos do hinduísmo, e também influenciaram o budismo, o jainismo e o sikhismo. Os Vedas contêm hinos, encantamentos e rituais da Índia antiga. Juntamente com o Livro dos Mortos, com o Enuma Elish, I Ching e o Avesta, eles estão entre os mais antigos textos religiosos existentes. Além de seu valor espiritual, eles também oferecem uma visão única da vida cotidiana na Índia antiga. Enquanto a maioria dos hindus provavelmente nunca leram os Vedas, a reverência por mais uma noção abstrata de conhecimento (Veda significa "conhecimento" em sânscrito) está profundamente impregnada no coração daqueles que seguem o Veda Dharma.
Existem quatro Vedas:
existe religiões dogmas cultos e doutrinas…

Upanixades

Os Upanixades são denominados Vedanta, porque eles contêm uma exposição da essência espiritual dos Vedas. Entretanto é importante observar que os Upanixades são textos e Vedanta é uma filosofia. A palavra Upanishad significa "sentar-se próximo ou perto", pois os estudantes costumavam sentar-se no solo, próximos a seus mestres.
Os Upanixades organizaram mais precisamente a doutrina védica de auto-realização, yoga, e meditação, karma e reencarnação, que eram veladas no simbolismo da antiga religião de mistérios. Os mais antigos Upanixades são geralmente associados a um Veda em particular, através da exposição de uma brâmana ou Aranyaka, enquanto os mais recentes não.
Formando o coração da Vedanta (Final dos Vedas), eles contêm a técnica de adoração aos deuses védicos e capturam a essência do dito do Rig Veda "A Verdade é Uma". Eles colocam a filosofia hindu separada e acolhendo uma única e transcendente força imanente e inata na alma de cada ser humano, identificando o microcosmo e o macrocosmo como Um. Podemos dizer que enquanto o hinduísmo primitivo é fundamentado nos quatro Vedas, o Hinduísmo Clássico, a Ioga e Vedanta, e correntes tântricas do Bhakti foram modelados com base nos Upanixades.

Puranas - Smriti

Os Puranas são considerados smriti; ensinamentos não escritos passados oralmente de uma geração a outra. Eles são distintos dos shrutis ou ensinamentos em escritos tradicionais. Existem um total de 18 Puranas maiores, todos escritos em forma de versos. E dito que estes textos foram escritos muito anteriormente ao Ramáiana e ao Maabárata.
Acredita-se que o mais antigo Purana provém de cerca de 300 a.C., e os mais recentes de 1300-1400 d.C. Apesar de terem sido compostos em diferente períodos, todos os Puranas parecem ter sido revisados. Tal fato pode ser notado no fato de que todos eles comentam que o número de Puranas é 18. Os Puranas variam muito: o Skanda Purana é o mais longo com 81.000 versos, enquanto o Brahma Purana e o Vamana Purana são os mais curtos com 10.000 versos cada. O número total de versos em todos os 18 Puranas é 400.000.

As Leis de Manu

Manu é o homem lendário, o Adão dos hindus. As leis de Manu são uma coleção de textos atribuídos a ele.

Bhagavad Gita

A Bhagavad Gita (Bagavadguitá em português) é considerado parte do Maabárata (escrito em 400 ou 300 a.C.), é um texto central do hinduísmo, um diálogo filosófico entre o deus Krishna e o guerreiro Arjuna. Este é um dos mais populares e acessíveis textos do hinduísmo, e é de essencial importância para a religião. O Gita discute altruísmo, dever, devoção, meditação, integrando diferentes partes da filosofia hindu.

O Ramayana e o Mahabarata

O Ramayana e o Mahabarata são os épicos nacionais da Índia. São provavelmente os poemas mais longos escritos em todo o mundo. O Mahabharata é atribuído ao sábio Vyasa, e foi escrito no período entre 540 e 300 a.C.. O Mahabharata conta a lenda dos báratas, uma das tribos arianas.
O Ramayana é atribuído ao poeta Valmiki, e foi escrito no primeiro século d.C., apesar de ser baseado em tradições orais que datam de seis ou sete séculos a.C..
Fonte: Wikipédia 


Introdução ao Hinduísmo
Denominação do conjunto de princípios, doutrinas e práticas religiosas que surgiram na India, a partir de 2000 a.C. O termo é ocidental e é conhecido pelos seguidores como Sanatana Dharma, do sânscrito (língua original da India), que significa "a ordem permanente". Está fundamentado nos quatro livros dos Vedas (conhecimento), um conjunto de textos sagrados compostos de hinos e ritos, no Século X, denominados de Rigveda, Samaveda, Yajurveda e Artharvaveda. Estes quatro volumes são divididos em duas partes: a porção do trabalho (rituais politeístas) e a porção do conhecimento (especulações filosóficas), também chamada de Vedanta . A tradição védica surgiu com os primeiros árias, povo de origem indo-européia (os mesmos que desenvolveram a cultura grega) que se estabeleceram nos vales dos rios Indo e Ganges, por volta de 1500 a.C.
Segundo ensina o hinduísmo, os Vedas contêm as verdades eternas reveladas pelos deuses e a ordem (dharma) que rege os seres e as coisas, organizando-os em castas. Cada casta possui seus próprios direitos e deveres espirituais e sociais. A posição do homem em determinada casta é definida pelo seu carma (conjunto de suas ações em vidas anteriores). A casta à qual pertence um indivíduo indica o seu status espiritual. O objetivo é superar o ciclo de reencarnações (samsara), atingindo assim, o nirvana, a sabedoria resultante do conhecimento de si mesmo e de todo o Universo. O caminho para o nirvana, segundo ensina o hinduísmo, passa pelo ascetismo (doutrina que desvaloriza os aspectos corpóreos e sensíveis do homem), pelas práticas religiosas, pelas orações e pela ioga. Assim a pessoa alcança a “salvação”, escapando dos ciclos da reencarnação.
Nos cultos védicos, os pedidos mais solicitados aos deuses são vida longa, bens materiais e filhos homens. São várias as divindades. Agni é o pai dos homens, deus do fogo e do lar. Indra rege a guerra. Varuna é o deus supremo, rei do universo, dos deuses e dos homens. Ushas é a deusa da aurora; Surya e Vishnu, regentes do sol; Rudra e Shiva, da tempestade. Animais como a vaca, rato, e serpentes, são adorados por serem possivelmente, a reencarnação de alguns dos familiares. Existe três vezes mais ratos que a população do país, os quais destroem um quarto de toda a colheita da nação. O rio Ganges é considerado sagrado, no qual, milhares de pessoas se banham diariamente, afim de se purificar. Muitas mães afogam seus filhos recém-nascidos, como sacrifício aos deuses.
Os brâmanes (sacerdotes) criaram o sistema de castas, que se tornou a principal instituição da sociedade indiana. Sem abandonar as divindades registradas nos Vedas, estabeleceram Brahma como o deus principal e o princípio criador. Ele faz parte da Trimurti, a tríade divina completada por Shiva e Vishnu. De acordo com a tradição, Brahma teve quatro filhos que formaram as quatro castas originais: brâmanes (saídos dos lábios de Brahma), são os sacerdotes considerados puros e privilegiados; os xátrias (originários dos braços de Brahma), são os guerreiros; os vaicias (oriundos das pernas de Brahma), são os lavradores, comerciantes e artesãos; e sudras (saídos dos pés de Brahma), são os servos e escravos. Os párias são pessoas que não pertencem a nenhuma casta, por terem desobedecido leis religiosas. Estes não podem viver nas cidades, ler os livros sagrados nem se banharem no Rio Ganges.
As características principais do hinduísmo são o politeísmo, ioga, meditação e a reencarnação. Estima-se que atualmente existam mais de 660 milhões de adeptos em todo o mundo, com um panteão de 33 milhões de deuses e 200 milhões de vacas sagradas. Todo gado existente na India, alimentaria sua população por cinco anos, entretanto, a fome é devastadora no país por causa da idolatria.
Tudo é deus, deus é tudo: o hinduísmo ensina, como no Panteísmo, que o homem está unido com a natureza e com o universo. O universo é deus, e estando unido ao universo, todos são deuses. Ensina também que este mesmo deus, é impessoal. Muitos deuses adorados pelos hindus são amorais e imorais.

O mundo físico é uma ilusão: no mundo tridimensional, designada de maya, o homem e sua personalidade não passa de um sonho. Para se ver livre dos sofrimentos (pagamento daquilo que foi feito na encarnação passada), a pessoa deve ficar livre da ilusão da existência pessoal e física. Através da ioga e meditação transcedental, a pessoa pode transceder este mundo de ilusões e atingir a iluminação, a liberação final. O hinduísmo ensina que a ioga é um processo de oito passos, os quais levam a culminação da pessoa transcender ao universo impessoal, no qual o praticante perde o senso de existência individual.

A lei do carma: o bem e o mal que a pessoa faz, determinará como ela virá na próxima reencarnação. A maior esperança de um hinduísta é chegar no estágio de se transformar no inexistente. Vir ser parte deste deus impessoal, do universo.
Verdades Bíblicas

Deus: Cremos em um só Deus, eternamente subsistente em três pessoas distintas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, Dt 6.24; Mt 28.19; Mc 12.29.

Jesus: Cremos no nascimento virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal de entre os mortos, e em sua ascensão gloriosa aos céus, Is 7.14; Lc 1.26-31; 24.4-7; At 1.9.

Espírito Santo: Cremos no Espírito Santo como terceira pessoa da Trindade, como Consolador e o que convence o homem do pecado, justiça e do juízo vindouro. Cremos no batismo no Espírito Santo, que nos é ministrado por Jesus, com a evidência de falar em outras línguas, e na atualidade dos nove dons espirituais, Jl 2.28; At 2.4; 1.8; Mt 3.11; I Co 12.1-12.
Homem: Cremos na na criação do ser humano, iguais em méritos e opostos em sexo; perfeitos na sua natureza física, psíquica e espiritual; que responde ao mundo em que vive e ao seu criador através dos seus atributos fisiológicos, naturais e morais, inerentes a sua própria pessoa; e que o pecado o destituiu da posição primática diante de Deus, tornando-o depravado moralmente, morto espiritualmente e condenado a perdição eterna, Gn 1.27; 2.20,24; 3.6; Is 59.2; Rm 5.12; Ef 2.1-3.

Bíblia: Cremos na inspiração verbal e divina da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé para a vida e o caráter do cristão, II Tm 3.14-17; II Pe 1.21.
Pecado: Cremos na pecaminosidade do homem, que o destituiu da glória de Deus, e que somente através do arrependimento dos seus pecados e a fé na obra expiatória de Jesus o pode restaurar a Deus, Rm 3.23; At 3.19; Rm 10.9.
Céu e Inferno: Cremos no juízo vindouro, que condenará os infiéis e terminará a dispensação física do ser humano. Cremos no novo céu, na nova terra, na vida eterna de gozo para os fiéis e na condenação eterna para os infiéis, Mt 25.46; II Pe 3.13; Ap 21.22; 19.20; Dn 12.2; Mc 9.43-48.
Salvação: Cremos no perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita, e na eterna justificação da alma, recebida gratutitamente, de Deus, através de Jesus, At 10.43; Rm 10.13; Hb 7.25; 5.9; Jo 3.16.

Profissão de Fé: Para uma mais ampla informação sobre a doutrina bíblica fundamental, acesse aqui a Profissão de Fé da Igreja Pentecostal Betânia e do Sepoangol World Ministries. 

O Hinduísmo
Hinduísmo não designa propriamente uma única religião. O termo Hinduísmo surgiu no século XIX a partir de duas idéias falsas: a) Acreditava-se que a palavra hindu designasse membros de uma religião e b) imaginava-se que os indianos fosse todos adeptos desta religião, quando não eram adeptos de alguma outra religião conhecida (cristão, judeu, muçulmano). A palavra hindu vem porém do grande rio Indus, que deu o nome aos habitantes do país (Índia). Esta designação “Hinduísmo” causa até hoje confusão por ser entendida como sendo uma única religião. Na verdade é um nome coletivo para indicar um grupo de religiões, aparentadas, mas diferentes entre si, que surgiram na região sul-asiática (Índia, Paquistão e Bangladesh). Estas religiões tem diferentes compreensões de Deus, diferentes escrituras e diferentes práticas rituais. Mas ao mesmo tempo não são totalmente diferentes entre si, de modo que também há pontos de identificação. Estas tradições religiosas hinduístas, são as mais antigas organizações religiosas da humanidade que sobrevivem até hoje. Já pelo ano de 1800 antes de Cristo se tem notícias destas tradições religiosas, quando a região da atual Índia e Paquistão foi invadida pelos povos indo-europeus. Estes introduziram no país uma religião baseada no culto e sacrifícios a muitos deuses. São deuses ligados muitas vezes a determinados locais, a determinadas atividades ou fenômenos naturais. O culto aos deuses garantia o bem-estar na vida, as boas colheitas, a proteção na guerra, o bom desenvolvimento dos rebanhos, as chuvas no tempo certo, etc. Estes cultos aos deuses praticados então foram escritos em livros sagrados para as tradições, os chamados Vedas, palavra que quer dizer “saber”. Ao todo são quatro conjuntos de escritos chamados de Vedas e são os escritos religiosos mais antigos da humanidade. Aos poucos os sacerdotes que dominavam a arte dos sacrifícios aos deuses e suas fórmulas passaram a ter grande influência na sociedade. Estes sacerdotes são chamados de Bramanes. Por isso a religião do período em que eles tiveram grande influencia sobre a sociedade também é chamado de Bramanismo. Aos poucos começa a surgir um movimento de oposição a esta dependência dos sacerdotes e seus rituais. Surgiram as idéias de libertação da dependência do culto aos deuses. Com esta renovação dentro das tradições religiosas, surgiram idéias que até hoje muito influenciam as tradições hinduístas. As principais idéias desta reforma religiosa de busca de libertação da dependência do culto aos deuses são: a) A crença na existência cíclica. Esta idéia, chamada de Samsara, entende que a existência de todos os seres é cíclica. Cada existência individual é eterna e sempre retorna à vida em uma nova existência. Esta volta é determinada pela chamada lei do Carma. O Carma é o que se acumula durante uma existência e vai marcar a sua existência seguinte. Cada pessoa tem o seu Carma e ao Carma de uma pessoa pertence a soma dos seus pensamentos, sentimentos, desejos e atos. Assim cada qual pode em sua vida compor um melhor ou pior Carma para uma próxima existência. O que porém reencarna? A alma? O espírito? Há nas religiões hinduístas um conceito para indicar o “eu” que se reencarna: o Atman. O Atman é a individualidade que permanece através das reencarnações. Estas idéias apareceram a partir do ano 800 antes de Cristo e há um conjunto de escritos antigos que as reuniram. Estes escritos são os chamados Upanixades. As tradições religiosas do culto e sacrifícios aos deuses não desapareceram. Elas continuam existindo ao lado das compreensões surgidas com a reforma religiosa. Assim há três deuses que muito aparecem nos cultos hinduístas: Brahma, Vixnu e Xiva. Brahma é o deus criador, iniciador das coisas; Vixnu é o deus mantenedor da existência e Xiva é o deus destruidor, o deus da morte, mas que leva ao renascimento. Outra característica das diversas tradições hinduístas é a compreensão de que a sociedade é dividida em castas. Ou seja, cada pessoa, pelo seu nascimento pertence a uma casta. Estas são quatro, na seguinte ordem de importância: os bramanes, que é a casta dos sacerdotes, dos responsáveis pelo culto, pelos sacrifícios e pela religião; os xátrias, que é a casta dos nobres e guerreiros; os vaixias, que é a casta dos produtores, dos comerciantes e os xudras, que é a casta dos servos. Pelo nascimento a pessoa pertence automaticamente a uma casta e somente numa próxima encarnação pode pertencer a uma casta melhor, dependendo do seu carma. As pessoas que não pertencem a nenhuma casta, por exemplo, os estrangeiros, são chamados de párias, que formam os sem-casta. As tradições religiosas da Índia pouco saíram de seu país e por isso pouco são conhecidas fora dele. A partir do século XIX, porém, surgiram os chamados movimentos neo-hinduístas. Estes espalharam-se por muitos outros países, de tal modo que o que às vezes conhecemos como hinduísmo em nosso país, é apenas uma pequena parcela das muitas tradições religiosas existentes na Índia. Mesmo pertencendo a diferentes cultos e tradições religiosas, praticamente todos estes grupos colocam um objetivo de vida para as pessoas: atingir o que chamam de mocsa. Este é um estado de libertação. Ele não é um estado pós morte. Ao contrário, alguém que alcançou este estágio, continua vivendo como todos os outros e ainda mais, goza de liberdade interior e tem o domínio perfeito tanto sobre seu espírito, como sobre seu corpo. Para alcançar este estado, existem três caminhos: o caminho da dedicação aos outros, da caridade; o caminho da dedicação aos deuses e à sua veneração; e o caminho da meditação, da reflexão. Este último caminho também se tornou muito conhecido em outros países com o nome de Yoga.
Fonte: Volney
7 - HINDUÍSMO
I - Introdução ao Hinduísmo
A - HINDUÍSMO (1)
Denominação do conjunto de princípios, doutrinas e práticas religiosas que surgiram na India, a partir de 2000 a.C. O termo é ocidental e é conhecido pelos seguidores como Sanatana Dharma, do sânscrito (língua original da India), que significa "a ordem permanente". Está fundamentado nos quatro livros dos Vedas (conhecimento), um conjunto de textos sagrados compostos de hinos e ritos, no Século X, denominados de Rigveda, Samaveda, Yajurveda e Artharvaveda. Estes quatro volumes são divididos em duas partes: a porção do trabalho (rituais politeístas) e a porção do conhecimento (especulações filosóficas), também chamada de Vedanta . A tradição védica surgiu com os primeiros árias, povo de origem indo-européia (os mesmos que desenvolveram a cultura grega) que se estabeleceram nos vales dos rios Indo e Ganges, por volta de 1500 a.C.
REV. ERONIDES DA SILVA
B - O Hinduísmo (2)
HINDUÍSMO é um conjunto de tradições religiosas que se originaram principalmente no subcontinente Indiano. O Hinduísmo abrange várias crenças, práticas e denominações religiosas. Os Hindus acreditam em um espírito supremo cósmico, que é adorado de muitas formas, representado por deidades individuais como Vishnu, Shiva e Shakti. O Hinduísmo é centrado sobre uma variedade de práticas que são meios de ajudar o indivíduo a experimentar a divindade que está em todas as partes e realizar a verdadeira natureza de seu Ser.
O Hinduísmo é a terceira maior religião do mundo, com aproximadamente um bilhão de adeptos (censo de 2005), dos quais aproximadamente 890 milhões vivem na Índia. Outros países com grande população hindu são o Nepal, Bangladesh, África do Sul, Sri Lanka, Ilhas Maurício, Fiji, Guiana, Indonésia, Malásia e os Estados Unidos.
O Hinduísmo é considerado a mais velha religião ainda existente do mundo. Ao contrário de outras grandes religiões do mundo, o Hinduísmo não possui apenas um único fundador e é baseado em vários textos religiosos desenvolvidos por vários séculos que contém insights espirituais e providem uma guia prática para a vida religiosa. Entre tais textos, os antigos Vedas são normalmente considerados os mais autoritários. As outras escrituras incluem os dezoito Puranas, e os épicos Mahabharata e Ramayana. O Bhagavad Gita que está contido no Mahabharata, é um ensinamento amplamente estudado que nos dá uma destilação das verdades superiores dos Vedas
"Hinduísmo" originalmente indicava uma região geográfica. Por esse motivo, alguns grupos indianos mais tradicionalistas defendem que a religião é mais adequadamente chamada de Sanatana Dharma, significando "Religião Eterna".
A teologia hinduísta se fundamenta no culto aos Avatares da divindade suprema, Brahman. Particular destaque é dado à Trimurti - um trindade constituída por Brahma, Shiva e Vishnu. Pode parecer estranho para os padrões de uma cultura cristã, mas o culto direto aos membros da Trimurti é relativamente raro - em vez disso, costumam-se cultuar avatares mais específicos e mais próximos da realidade cultural e psicológica dos praticantes, como por exemplo Krishna, Avatar de Vishnu e personagem central do Bhagavad Gita.
Embora se afirme ter sido na cultura hinduísta que tiveram origem três outras importantes religiões o budismo, o jainismo e o sikhismo, os indólogos colocam o jainismo como bem anterior ao bramanismo que originou o hinduísmo, e o budismo guarda relação com o jainismo e o Sankhya-Yoga.
Talvez o espírito hindu, que não foi inspirado por um homem ou mulher em particular, possa ser melhor compreendido nos Rig Veda, a "mais antiga escritura religiosa do mundo.":
Sânscrito: ?
Transliteração: ekam sat vipraaha bahudaa vadanti
Português: "A verdade é única, embora os sábios a conheçam como muitas." — Rig Veda (Livro I, Hino CLXIV, Verso 46)
Essencialmente, qualquer forma de prática espiritual seguida com fé, amor e persistência levará ao mesmo estado final de auto-realização. Portanto, o pensamento hindu se distingue por encorajar enfaticamente a tolerância pelas diferentes crenças, desde que sistemas temporais não podem declarar ser a única compreensão da Verdade Transcendental.
Para os hindus, essa idéia tem sido uma força ativa na definição do 'Dharma Eterno'. É para o hinduísmo o que o infinito Ser Divino de Advaita é para a existência, permanecendo eternamente imutável e auto-iluminado, central e penetrante, a despeito de todo o caos à sua volta.
WIKIPÉDIA
II - História do Hinduísmo
A - O HINDUÍSMO
Segundo ensina o hinduísmo, os Vedas contêm as verdades eternas reveladas pelos deuses e a ordem (dharma) que rege os seres e as coisas, organizando-os em castas. Cada casta possui seus próprios direitos e deveres espirituais e sociais. A posição do homem em determinada casta é definida pelo seu carma (conjunto de suas ações em vidas anteriores). A casta à qual pertence um indivíduo indica o seu status espiritual. O objetivo é superar o ciclo de reencarnações (samsara), atingindo assim, o nirvana, a sabedoria resultante do conhecimento de si mesmo e de todo o Universo. O caminho para o nirvana, segundo ensina o hinduísmo, passa pelo ascetismo (doutrina que desvaloriza os aspectos corpóreos e sensíveis do homem), pelas práticas religiosas, pelas orações e pela ioga. Assim a pessoa alcança a “salvação”, escapando dos ciclos da reencarnação. CACP
B - Hinduísmo: uma visão geral

Om (ou Aum) é o mais importante símbolo religioso do Hinduísmo, e significa o Espírito Cósmico. O hinduísmo repousa sobre o fundamento espiritual dos Vedas, sendo por isso conhecido como o Dharma Veda, e nos escritos meditativos destes, os Upanishads, bem como nos ensinamentos de muitos gurus que viveram ao longo dos tempos. Muitas correntes de pensamento partem das seis escolas védicas/hindus, das seitas Bhakti e das escolas Tantra Agâmicas para dar origem ao oceano hinduísta, a primeira das religiões dhármicas.

C - O Caminho eterno
"O caminho eterno" (em Sânscrito ?, Sanatana Dharma), ou a "Filosofia perene/Harmonia/Fé", é o nome que tem sido usado para representar o hinduísmo desde a antiguidade. De acordo com os hindus, transmite a idéia de que certos princípios espirituais são intrinsecamente verdadeiros e eternos, transcendendo as acções humanas, representando uma ciência pura da consciência. Mas essa consciência não é meramente aquela do corpo, da mente ou do intelecto, mas a de um estado de espírito supramental que existe dentro e além de nossa existência, o imaculado Ser de tudo. A religião dos hindus é a busca inata pelo divino dentro do Ser, a busca por encontrar a Verdade que nunca foi perdida de fato. Verdade buscada com fé que poderá tornar-se reconfortante luminosidade independente da raça ou do credo professado. Na verdade, toda forma de existência, dos vegetais e animais até o homem, são sujeitos e objetos do eterno Dharma. Essa fé inata, então, é também conhecida por Arya/Dharma Nobre, Veda/Dharma do Conhecimento, Yoga/Dharma da União, e Dharma Hindu ou simplesmente Dharma.
O que pode ser compreendido como uma crença comum a todos os hindus são o Dharma, a reencarnação, o karma, e a moksha (liberação) de cada alma através de variadas ações de cunho moral e da meditação yoga. Entre os princípios fundamentais incluem-se ainda o ahimsa (não-violência), com a primazia do Guru, a palavra divina Aum e o poder do mantra, amor à verdade em muitas manifestações como Deus e Deusas, e a compreensão de que a chama divina essencial (Atman/Brahman) está presente em cada ser humano e em todas as criaturas viventes, que podem chegar por diversas sendas à Verdade Una.
D - Yoga Dharma
Uma das formas práticas do hinduísmo é a Yoga que significa União, são (práticas espirituais), conhecidas como bhakti (amor, devoção), karma yoga (serviço altruísta), Raja Yoga (meditação) e Jñana Yoga (Yoga da discriminação). São descritos nos dois principais textos do Hinduismo Yoga: O Bhagavad Gita e Yoga Sutras de Patanjali. Os Upanishads são também de fundamental importância como fundamentos filosóficos para este espiritualismo racional.

E - Os quatro objetivos na vida
Outro maior aspecto do Dharma Hindu que é uma prática comum de todos os Hindus é o purushartha, ou "quatro objetivos da vida". Eles são kama, artha, dharma e moksha. É dito que todos os homens seguem o kama (prazer, físico ou emocional) e artha (poder, fama e riqueza), mas brevemente, com maturidade, eles aprendem a controlar estes desejos, com o dharma, ou a harmonia moral presente em toda a natureza. O objetivo maior é infinito, cujo resultado é a absoluta felicidade, moksha, ou liberação (também conhecida como Mukti, Samadhi, Nirvana, etc.) do Samsara, o ciclo da vida, morte, e da existência dual.

F - Os quatro estágios da vida humana
A vida humana também é vista como quatro Ashramas ("fases"ou “estágios"). Eles são Brahmacharya, Grihasthya, Vanaprastha e Sanyasa. O primeiro quarto da vida, brahmacharya (literalmente "pastar em Brahma") é passado em celibato, sobriedade e pura contemplação dos segredos da vida sob os cuidados de um Guru, solidificando o corpo e a mente para as responsabilidades da vida. Grihastya é o estágio do chefe de família, alternativamente conhecido como samsara, no qual o indivíduo se casa para satisfazer kama e artha na vida conjugal e em uma carreira profissional. Vanaprastha é o gradual desapego do mundo material, ostensivamente entregando seus deveres aos filhos e filhas, e passando mais tempo em contemplação da verdade, e em peregrinações santas. Finalmente, no sanyasa, o individuo vai para reclusão, geralmente em uma floresta, para encontrar Deus através da meditação Yogica e pacificamente libertar-se de seu corpo para uma próxima vida. WIKIPÉDIA
G - Prática de Fé do Hinduísmo
Nos cultos védicos, os pedidos mais solicitados aos deuses são vida longa, bens materiais e filhos homens. São várias as divindades. Agni é o pai dos homens, deus do fogo e do lar. Indra rege a guerra. Varuna é o deus supremo, rei do universo, dos deuses e dos homens. Ushas é a deusa da aurora; Surya e Vishnu, regentes do sol; Rudra e Shiva, da tempestade. Animais como a vaca, rato, e serpentes, são adorados por serem possivelmente, a reencarnação de alguns dos familiares. Existe três vezes mais ratos que a população do país, os quais destroem um quarto de toda a colheita da nação. O rio Ganges é considerado sagrado, no qual, milhares de pessoas se banham diariamente, afim de se purificar. Muitas mães afogam seus filhos recém-nascidos, como sacrifício aos deuses.
H - Sacerdócio do Hinduísmo
Os brâmanes (sacerdotes) criaram o sistema de castas, que se tornou a principal instituição da sociedade indiana. Sem abandonar as divindades registradas nos Vedas, estabeleceram Brahma como o deus principal e o princípio criador. Ele faz parte da Trimurti, a tríade divina completada por Shiva e Vishnu. De acordo com a tradição, Brahma teve quatro filhos que formaram as quatro castas originais: brâmanes (saídos dos lábios de Brahma), são os sacerdotes considerados puros e privilegiados; os xátrias (originários dos braços de Brahma), são os guerreiros; os vaicias (oriundos das pernas de Brahma), são os lavradores, comerciantes e artesãos; e sudras (saídos dos pés de Brahma), são os servos e escravos. Os párias são pessoas que não pertencem a nenhuma casta, por terem desobedecido leis religiosas. Estes não podem viver nas cidades, ler os livros sagrados nem se banharem no Rio Ganges.
As características principais do hinduísmo são o politeísmo, ioga, meditação e a reencarnação. Estima-se que atualmente existam mais de 660 milhões de adeptos em todo o mundo, com um panteão de 33 milhões de deuses e 200 milhões de vacas sagradas. Todo gado existente na India, alimentaria sua população por cinco anos, entretanto, a fome é devastadora no país por causa da idolatria.
I - Teologia do Hinduísmo
Tudo é deus, deus é tudo: o hinduísmo ensina, como no Panteísmo, que o homem está unido com a natureza e com o universo. O universo é deus, e estando unido ao universo, todos são deuses. Ensina também que este mesmo deus, é impessoal. Muitos deuses adorados pelos hindus são amorais e imorais.
O mundo físico é uma ilusão: no mundo tridimensional, designada de maya, o homem e sua personalidade não passa de um sonho. Para se ver livre dos sofrimentos (pagamento daquilo que foi feito na encarnação passada), a pessoa deve ficar livre da ilusão da existência pessoal e física. Através da ioga e meditação transcendental, a pessoa pode transcender este mundo de ilusões e atingir a iluminação, a liberação final. O hinduísmo ensina que a ioga é um processo de oito passos, os quais levam a culminação da pessoa transcender ao universo impessoal, no qual o praticante perde o senso de existência individual.
A lei do carma: o bem e o mal que a pessoa faz, determinará como ela virá na próxima reencarnação. A maior esperança de um hinduísta é chegar no estágio de se transformar no inexistente. Vir ser parte deste deus impessoal, do universo.
J - Verdades Bíblicas
Deus: Cremos em um só Deus, eternamente subsistente em três pessoas distintas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, Dt 6.24; Mt 28.19; Mc 12.29.
Jesus: Cremos no nascimento virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal de entre os mortos, e em sua ascensão gloriosa aos céus, Is 7.14; Lc 1.26-31; 24.4-7; At 1.9.
Espírito Santo: Cremos no Espírito Santo como terceira pessoa da Trindade, como Consolador e o que convence o homem do pecado, justiça e do juízo vindouro. Cremos no batismo no Espírito Santo, que nos é ministrado por Jesus, com a evidência de falar em outras línguas, e na atualidade dos nove dons espirituais, Jl 2.28; At 2.4; 1.8; Mt 3.11; I Co 12.1-12.
Homem: Cremos na na criação do ser humano, iguais em méritos e opostos em sexo; perfeitos na sua natureza física, psíquica e espiritual; que responde ao mundo em que vive e ao seu criador através dos seus atributos fisiológicos, naturais e morais, inerentes a sua própria pessoa; e que o pecado o destituiu da posição primática diante de Deus, tornando-o depravado moralmente, morto espiritualmente e condenado a perdição eterna, Gn 1.27; 2.20,24; 3.6; Is 59.2; Rm 5.12; Ef 2.1-3.
Bíblia: Cremos na inspiração verbal e divina da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé para a vida e o caráter do cristão, II Tm 3.14-17; II Pe 1.21.
Pecado: Cremos na pecaminosidade do homem, que o destituiu da glória de Deus, e que somente através do arrependimento dos seus pecados e a fé na obra expiatória de Jesus o pode restaurar a Deus, Rm 3.23; At 3.19; Rm 10.9.
Céu e Inferno: Cremos no juízo vindouro, que condenará os infiéis e terminará a dispensação física do ser humano. Cremos no novo céu, na nova terra, na vida eterna de gozo para os fiéis e na condenação eterna para os infiéis, Mt 25.46; II Pe 3.13; Ap 21.22; 19.20; Dn 12.2; Mc 9.43-48.
Salvação: Cremos no perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita, e na eterna justificação da alma, recebida gratuitamente, de Deus, através de Jesus, At 10.43; Rm 10.13; Hb 7.25; 5.9; Jo 3.16.

III - Origens, nomenclatura e sociedade
A - Origens históricas e aspectos sociais

Pouco é conhecido sobre a origem do hinduísmo, já que sua existência antecede os registros históricos. É dito que o hinduísmo deriva das crenças dos Arianos, que residiam nos continentes sub-indianos, ('nobres' seguidores dos Vedas), Dravidianos, e Harappanos. Alguns dizem que do hinduísmo nasceu com o budismo e o jainismo, mas Heinrich Zimmer e outros indólogos afirmam que o jainismo é muito anterior ao hinduísmo, e que o budismo deriva deste e do sankhya que em conseqüência afetaram o desenvolvimento de sua religião mãe. Diversas são as idéias sobre as origens dos Vedas e a compreensão se os Arianos eram ou não nativos ou estrangeiros na Índia. A existência do hinduísmo data de 4000 a 6000 mil anos a.C..
É preciso salientar que há, atualmente, dúvidas entre os estudiosos sobre ter ou não havido uma invasão ariana na Índia. Questiona-se sobre a miscigenação lenta, em lugar de invasão violenta, com os dravidianos e outros povos de origem autóctone e mesmo mediterrânea, existentes na região antes da chegada dos pastores-guerreiros vindos da Europa. Isto coloca em questão também a origem do hinduísmo. Como reforço a esta hipótese, a análise dos Rig Vedas mais antigos (cerca de 1500 a.C.) mostra uma série de fórmulas mágicas de propriedade de famílias no poder, sem qualquer indicação das práticas de ioga que acompanham a filosofia sankhya, e que são documentadas em selos de cerca de 2500/ a.C.
Historicamente, a palavra hindu antecede o hinduísmo como religião; o termo é de origem persa e primeiramente referia-se ao povo que residia no outro lado (do ponto de vista Persa) do Sindhu ou Rio Indus. Foi utilizado para expressar não somente a etnicidade mas a religião Védica desde o século XV e XVI, por personalidades como Guru Nanak (fundador do sikhismo). Durante o Império Britânico, a utilização do termo tornou-se comum, e eventualmente, a religião dos Hindus Védicos foi denominada 'hinduísmo.' Na verdade, foi meramente uma nova vestimenta para uma cultura que vinha prosperando desde a mais remota antiguidade.
B - Distribuição geográfica atual
A Índia, a Ilha Maurícia, e o Nepal assim como a ilha indonésia de Bali têm como religião predominante o hinduísmo; importantes minorias hindus existem em Bangladesh (11 milhões), Myanmar (7,1 milhões), Sri Lanka (2.5 milhões), Estados Unidos (2,5 milhões), Paquistão (4,3 milhões), África do Sul (1,2 milhões), Reino Unido (1,5 milhão), Malásia (1,1 milhão), Canadá (1 milhão), Ilhas Fiji (500 mil), Trinidad e Tobago (500 mil), Guiana (400 mil), Holanda (400 mil), Cingapura (300 mil) e Suriname (200 mil).
C - Filosofia Hindu: as seis escolas védicas de pensamento
As seis Astika (aceitando a autoridade dos Vedas), ou escolas filosóficas ortodoxas Hindu são Nyaya, Vaisheshika, Sankhya, Yoga, Purva Mimamsa também denominadas 'Mimamsa', Uttara Mimamsa e 'Vedanta'. As escolas não Védicas são denominadas Nastika, ou heterodoxas, e referem-se ao budismo, jainismo e Lokayata. As escolas que continuam a influênciar o hinduísmo hoje são Purva Mimamsa, Yoga, e Vedanta.
D - Purva Mimamsa

O principal objetivo do Purva ("cedo") ou da escola Mimamsa era estabelecer a autoridade dos Vedas. Consequentemente a valiosa contribuição desta escola ao hinduísmo foi a formulação das regras da interpretação Védica. Seus aderentes acreditavam que a revelação deveria ser provada através da razão, e não aceita como um dogma cego. Este método empírico e eminentemente sensível de aplicação religiosa é a chave para Sanatana/Hindu Dharma e foi especialmente desenvolvido por racionalistas como Adi Sankara e Swami Vivekananda. Para aprofundar-se mais neste tema veja Purva Mimamsa.
E - Yoga

O sistema de Yoga é geralmente considerado ter surgido da filosofia Samkhya. Entretanto a yoga referida aqui, é especialmente a Raja Yoga (ou união através da meditação). E é baseada em um texto (que exerceu grande influéncia) do santo Patanjali entitulado Yoga Sutras, e é essencialmente uma compilação e sistematização da filosofia da Yoga meditacional. Os Upanishads e o Bhagavad Gita também são textos indispensáveis ao estudo da Yoga.
A filosofia Sankhya é anterior ao bramanismo, filosofia que deu origem ao hinduísmo, como coloca o eminente indólogo Heinrich Zimmer em seu clássico Filosofias da Índia. Patanjali, monge do sul da Índia, onde até hoje a tradição tamil preserva elementos das filosofias pré-védicas, tinha formação no sistema sankhya-yoga, indissociável. O Sankhya foi compilado bem antes de Patanjali (que viveu no século II a.C., por Kapila, que viveu pouco tempo antes de Buda. Uma diferença importante entre sankhya e bramanismo é que o primeiro é dualista, e o segundo monista, mas ambos vêm o espírito, ou Deus, como imanente e transcendente ao mesmo tempo.
A diferença mais significante de Samkhya é que a escola de yoga não somente incorpora o conceito do Ishvara (ou Deus pessoal) em um uma visão do mundo metafísica mas também sustenta Ishvara como um ideal sobre o qual meditar. A razão é que Ishvara é o único aspecto de purusha (do infinito Terreno Divino) que não foi mesclado com prakrti (forças criativas temporárias). Também utiliza as terminologias Brahman/Atman e conceitos profundos dos Upanishads, Adotando uma visão vedantica monista. A realização do objetivo da Yoga é conhecido como moksha ou samadhi. E como nos Upanishads, busca, o despertar ou a compreensão de Atman como sendo nada mais que o infinito Brahman, através da (mente) ética, (corpo) físico meditação (alma) o único alvo de suas práticas é a 'verdade suprema.' Veja Yoga para aprofundar-se mais em sua história.
F - Uttara Mimamsa: As Três Escolas de Vedanta
A Escola Uttara ("tarde") Mimamsa é talvez a pedra angular dos movimentos do Hinduísmo e certamente foi responsável por uma nova onda de investigação filosófica e meditativa, renovação da fé, e reformas culturais. Primeiramente associada com os Upanishad e seus comentários por Badarayana, e Vedanta Sutra, o pensamento Vedanta dividiu-se em três grupos, iniciados pelo pensamento e escrita ou Adi Sankara. A maioria da atual filosofia Hindu, está relacionada a mudanças que foram influenciadas pelo pensamento Vedantico, o qual é focalizado na meditação, moralidade e centralização no Eu uno ao invés de rituais ou distinções sociais insignificantes como as castas. Para aprofundar-se veja Vedanta.
G - Puro Monismo: Advaita Vedanta
Advaita literalmente significa "não dois"; isto é o que referimos como monoteístico, ou sistema não dualístico, que enfatiza a unidade. Seu consolidador foi Shankara (788-820). Shankara expos suas teorias baseadas amplamente nos ensinamentos dos Upanishads e de seu guru Gaudapada. Através da analise da consciência experimental, ele expos a natureza relativa do mundo e estabeleceu a realidade não dual ou Brahman no qual Atman (a alma individual) ou Brahman (a realidade última) são absolutamente identificadas. Não é meramente uma filosofia, mas um sistema consciente de éticas aplicadas e meditação, direcionadas a obténção da paz e compreensão da verdade. Adi Shankara acusou as casta e insignificantes rituais ritual como tolos, e em sua própria maneira carismática, suplicou aos verdadeiros devotos a meditarem no amor de Deus e alcançarem a verdade. Veja Advaita para mais informações.
H - Monismo Qualificado: Vishistadvaita Vedanta
Ramanuja (1040 - 1137) foi o principal proponente do conceito de Sriman Narayana como Brahman o supremo. Ele ensinou que a realidade última possui três aspectos: Ishvara (Vishnu), cit (alma) e acit (matéria). Vishnu é a única realidade independente, enquanto alma e material são dependentes de Deus para sua existência. Devido a esta qualificação da realidade Ultima, o sistema de Ramanuja é conhecido como não dualístico.
I - Dualismo: Dvaita Vedanta
Ramanuja, Madhva (1199 - 1278) identificou deus com Vishnu, mas a sua visão da realidade era puramente dualista, pois ele compreendeu uma diferenciação fundamental entre o Deus supremo e a alma individual, e o sistema consequentemente foi denominado Dvaita (dualístico) Vedanta.
IV - Culturas Alternativas de Adoração
A - As Escolas Bhakti
A Escola Devocional Bhakti tem seu nome derivado do termo hindu que evoca a idéia de "amor prazeroso, abnegado e estupefante de Deus como Pai, Mãe, Filho Amados", ou qualquer outra forma de relacionamento que encontre apelo no coração do devoto. A filosofia de Bhakti procura usufruto pleno da divindade universal através da forma pessoal, o que explica a proliferação de tantas divindades na Índia, freqüentemente refletindo as inclinações particulares de pequenas áreas ou grupos de pessoas.
Vista como uma forma de Yoga ou união, ele preconiza a necessidade de se dissolver o ego em Deus, na medida em que a consciência do corpo e a mente limitada, como individualidade, seriam fatores contrários à realização espiritual. Essencialmente, é Deus que promove toda mudança, que é a fonte de todos os trabalhos, que age através do amor e da luz. 'Sins' and evil-doings of the devotee are said to fall away of their own accord, the devotee shriven, limitedness even transcended, through the love of God. The Bhakti movements rejuvenated Hinduism through their intense expression of faith and their responsiveness to the emotional and philosophical needs of India. They can rightly be said to have affected the greatest wave of change in Hindu prayer and ritual since ancient times.
A mais popular forma de expressão de amor a Deus na tradição Hindu é através do puja, ou ritual de devoção, frequentemente utilizando o auxílio de murti (estátua) juntamente com canções ou recitação de orações meditacionais em forma de mantras. Canções Devocionais denominadas bhajan (escritas primeiramente nos séculos XIV-XVII), kirtan (elogio), e arti (uma forma filtrada do ritual de fogo Védico) são algumas vezes cantados juntamente com a realização do puja. Este sistema orgânico de devoção tenta auxiliar o Indivíduo a conectar-se com Deus através de meios simbolicos. Entretanto, é dito que bhakta, através de uma crescente conexão com Deus, é eventualmente capaz de evitar todas as formas externas e é inteiramente imerso na benção do indiferenciado amor a Verdade.
B - Tantrismo
A palavra "tantra" significa "tratado" ou "série continua", e é aplicada a uma variedade de trabalhos místicos, ocultos, médicos e científicos bem como aqueles que agora nos consideramos como "tântricos". A maioria dos tantras foram escritos no final da Idade Média e surgiram da cosmologia Hindu e Yoga.
C - Temas e simbolismos importantes no Hinduismo
1.Ahimsa e as vacas
É vital uma nota sobre o elemento Ahimsa no hinduísmo para compreender a sociedade que se formou à volta de alguns dos seus princípios. Enquanto o jainismo, à medida que era praticado, era certamente uma grande influência sobre a sociedade indiana - que dizer da sua exortação do estrito veganismo e da não-violência como Ahimsa - o termo primeiro apareceu nos Upanishads. Assim, uma influência internamente enraizada e externamente motivada levou ao desenvolvimento de uma grande secção de Hindús que acabaram por abraçar o vegetarianismo numa tentativa de respeitar formas superiores de vida, restringindo a sua dieta a plantas e vegetais. Cerca de 30% da população Hindú atual, especialmente em comunidades ortodoxas no Sul da Índia, em alguns estados do Norte como Gujarat e em vários enclaves Brahmin à volta do subcontinente, é vegetariana. Portanto, enquanto o vegetarianismo não é um dogma, é recomendado como sendo um estilo de vida sattwic (purificador).
2.Os hindús que comem carne abstêm-se predominantemente de bife, e alguns até vão tão longe quanto evitar produtos de pele. Isto acontece provavelmente porque o largamente pastoral povo Védico e as subsequentes gerações de hindús ao longo dos séculos dependiam tanto da vaca para todo o tipo de produtos lácteos, aragem dos campos e combustível para fertilizante, que o seu estatuto de "cuidadora" espontânea da humanidade cresceu ao ponto de ser identificada como uma figura quase maternal. Assim, enquanto a maioria dos hindús não adora a vaca, e as instruções escriturais contra o consumo de bife surgiram muito depois dos Vedas terem sido escritos, esta ainda ocupa um lugar de honra na sociedade Hindú. Diz-se que Krishna é tanto Govinda (pastor de vacas) como Gopala (protector de vacas), e que o assistente de Shiva é Nandi, o touro. Com a força no vegetarianismo (que é habitualmente seguido em dias religiosos ou ocasiões especiais até por Hindús comedores de carne) e a natureza sagrada da vaca, não admira que a maior parte das cidades santas e áreas na Índia tenham uma proibição sobre a venda de produtos de carne e haja um movimento entre os Hindús para banir a matança de vacas não só em regiões específicas como em toda a Índia.
C - Formas de Adoração: murtis e mantras
Contrário a crença popular, o hinduísmo prático não é politeístico nem estritamente monoteístico. A variedade de deuses e Avatares que são adorados pelos Hindus são compreendidos como diferentes formas da Verdade Unica, algumas vezes vistos como mais do que um mero Deus e um último terreno Divino (Brahman), relacionado mas não limitado ao monismo, ou um princípio monoteístico como Vishnu ou Shiva.
Acreditando na origem única como sem forma (nirguna brahman, sem atributos) ou como um Deus pessoal (saguna Brahman, com atributos), os hindus compreendem que a verdade única pode ser vista de forma variada por pessoas diferentes. O Hinduísmo encoraja seus devotos a descreverem e desenvolverem um relacionamento pessoal com sua deidade pessoal escolhida (ishta devata) na forma de Deus ou Deusa.
Enquanto alguns censos sustentam que os adoradores de uma forma ou outra de Vishnu (conhecido como Vaishnavs) são 80% dos hindus e aqueles de Shiva (chamados Shaivaites) e Shakti compõem o restante dos 20%, tais estatísticas provavelmente são enganadoras. A Maioria dos Hindus adoram muitos deuses como expressões variadas do mesmo prisma da Verdade. Entre os mais populares estão Vishnu (como Krishna ou Rama), Shiva, Devi (a Mãe de muitas deidades femininas, como Lakshmi, Saraswati, Kali e Durga), Ganesha, Skanda e Hanuman.
A adoração das deidades é geralmente expressa através de fotografias ou imagens (murti) que são ditas não serem o próprio Deus mas condutos para a consciência dos devotos, marcas para a alma humana que significam a inefável e ilimitada natureza do amor e grandiosidade de Deus. Eles são símbolos do príncipio maior, representado mas nunca presumido ser o conceito da própria entidade. Consequentemente, a maneira Hindu de adoração de imagens é uma forma de iconolatria, na qual as imagens são venerados como supostos símbolos da divindade, opostos a idolatria, geralmente imposta (erroneamente) aos hindus.
1. Mantra
Recitação e mantras originaram-se no hinduismo e são técnicas fundamentais praticadas até os dias de hoje. Muito da chamada mantra yoga, é realizada através de japa (repetições). Dizem que os mantras, através de seus significados, sons, e chanting style, auxíliam o sadhaka (aquele que prática) na obtenção de focus durante a meditação. Eles também são utilizados como uma expressão de amor a deidade, uma outra faceta da Bhakti yoga necessária para a compreensão de murti. Frequentemente eles oferecem coragem em momentos dificeis e são utilizados para a obtenção de auxílio ou para 'invocar' a força espiritual interior. As últimas palavras de Mahatma Gandhi enquanto morria foi um mantra ao Senhor Rama: "Hey Ram!"
O mais representativo de todos os mantras Hindu é o famoso Gayatri Mantra:
Aum bhurbhuvasvah | tat saviturvare?yam | bhargo devasya dhimahi | dhiyo yo naha pracodayat

Significa, literalmente: "Om! Terra, Universo, Galáxias (invocação aos três mundos). Que nós alcançemos a excelente glória de Savitr, o Deus. Que ele estimule os nossos pensamentos/meditações."
O mantra Gayatri é considerado o mais universal de todos os mantras hindus, e invoca o universal Brahman como um princípio de conhecimento e iluminação do sol primordial, mas somente em seu aspecto feminino. Muitos Hindus até os dias de hoje, seguindo uma tradição que permanece viva por pelo menos 5,000 anos, performam matinais ablutions as margens do rio sagrado (especialmente do Ganges. Conhecido como um mantra sagrado, é reverenciado como sendo a forma mais condensada do Conhecimento Divino (Veda). E governado pelo principio, Ma (Mother) Gayatri, também conhecido como Veda Mata (Ou a mãe dos Vedas ) e intimamente associado a Deusa do aprendizado e iluminação, Saraswati.
O maior objetivo da religião Védica é alcançar moksha, ou liberação, através da constante dedicação a Satya (Verdade) e uma eventual realização de Atman (Alma Universal). Não importa se atingido através de meditação ou puro amor, este objetivo universal é alcançado por todos. Deve ser observado que o hinduísmo é uma fé prática, e é incorporado em cada aspecto da vida. Acredita igualmente no temporal e no infinito, e somente encoraja perspectivas destes principios. O grande rishi (Hindu Santo) e também denominado como o samsaric (aquele que vive no samsara, i.e. plano temporal ou terrestre) aquele que sucede em um honesto e amável meio de vidadharmic é um jivanmukta (alma vivente liberta). As verdades fundamentais do Hinduísmo são melhores compreendidas nos Upanishadic dictum, Tat Twam Asi (Thou Art That), e na última aspiração como segue:
Aum Asato ma sad gamaya, tamaso ma jyotir gamaya, mrityor ma aamritaam gamaya
:"Aum Conduza-me da ignorância para a verdade, das trevas para a luz, da morte para a imortalidade."
V - Escrituras Sagradas do Hinduísmo
Muita da morfologia e filosofia lingüística inerente ao aprendizado do sânscrito está associada ao estudo dos Vedas e outros relevantes textos Hindus. Os textos Hindus apresentam diversos níveis de leitura: físico material, sutil ou supernatural. Engloba vários níveis de interpretação e compreensão. As escrituras hindus são divididas em duas categorias:
1 - Shruti- aquela que se escuta - oral -(i.e. revelação)
2 - Smriti- aquela que se recorda -escrita - (i.e. tradição, não revelação).
Para uma mais detalhada compreensão das escrituras Hindus, veja Escrituras do hinduísmo.
A - Vedas
Os Vedas são os textos mais antigos do hinduísmo. Eles também influenciaram o budismo, jainismo e sikhismo. Os Vedas contêm hinos, encantamentos e rituais da Índia antiga. Juntamente com o Livro dos Mortos, com o Enuma Elish, I Ching e o Avesta, eles estão entre os mais antigos textos religiosos existentes. Além de seu valor espiritual, eles também oferecem uma visão única da vida cotidiana na Índia antiga. Enquanto a maioria dos hindus provavelmente nunca leram os Vedas, a reverência por mais uma noção abstrata de conhecimento (Veda significa conhecimento) está profundamente impregnada no coração daqueles que seguem Veda Dharma.
Existem quatro Vedas:
Rig Veda
Sama Veda
Yajur Veda
Atharva Veda
B - Upanishads
Os Upanishads são denominados Vedanta porque eles contêm uma exposição da essência espiritual dos Vedas. Entretanto é importante observar que Upanishads são textos e Vedanta é filosofia. A palavra Upanishads significa 'sentar próximo ou perto' pois eles explicavam aos estudantes enquanto eles sentavam-se próximos aos mestres.
Os Upanishads mais precisamente organizaram a Doutrina Védica de auto-realização, yoga e meditação, karma e reencarnação, que eram veladas no simbolismo da antiga religião de mistérios. Os mais antigos Upanishads são geralmente associados a um Veda em particular, através da exposição de um Brahmana ou Aranyaka, enquanto os mais recentes não.
Formando o coração da Vedanta (Final dos Vedas), eles contêm a excessiva aerodinâmica de adoração aos deuses Védicos e capturam a essência do Rig Vedic dictum "A Verdade é Uma." Eles colocam a filosofia Hindu separada e acolhendo uma única e transcendente força imanente e inata na alma de cada ser humano, identificando o micro - e macrocosmo como Um. Podemos dizer que enquanto o Hinduísmo primitivo é fundamentado nos quatro Veda, o Hinduísmo Clássico, Yoga e Vedanta, Tantra correntes do Bhakti foram modelados com base nos Upanishads.
C - Puranas - Smriti
Os Puranas são considerados smriti; ensinamentos não escritos passados oralmente de uma geração a outra. Eles são distintos dos srutis ou ensinamentos em escritos tradicionais. Existem um total de 18 maior Puranas, todos escritos em forma de versos. E dito que estes textos foram escritos muito anteriormente ao Ramayana e Mahabharata.
Acredita-se que o mais antigo Purana provém de 300 a. C., e os mais recentes to 1300 - 1400 d.C. . Apesar de terem sido compostos em diferente períodos, todos os Puranas parecem ter sido revisados. Tal fato pode ser notado no fato de que todos eles comentam que o número de Puranas e 18. Os Puranas variam muito: o Skanda Purana é o mais longo com 81,000 versos, enquanto o Brahma Purana e o Vamana Purana são os mais curtos com 10,000 versos cada. O número total de versos em todos os 18 Puranas e 400,000.
D - As Leis de Manu
Manu é o legendário homem, o Adão dos hindus. As leis de Manu são uma coleção de textos atribuídos a ele.
E - Bhagavad Gita
O Bhagavad Gita é considerado parte do Mahabharata (escrito em 400 ou 300 a.C.), é um texto central do Hinduísmo, um diálogo filosófico entre o deus Krishna e o guerreiro Arjuna. Este é um dos mais populares a acessíveis textos do Hinduísmo, e é de essencial importância para quem está interessado no Hinduísmo. O Gita discute altruismo, dever, devoção, meditação, integrando diferente partes da filosofia Hindu.
F - O Ramayana e o Mahabarata
O Ramayana e o Mahabarata – são épicos nacionais da Índia. Eles provavelmente são os poemas mais longos escritos em todo o mundo. O Mahabharata é atribuído ao Sábio Vyasa, e foi escrito no período 540 - 300 a.C. O Mahabharata conta a lenda dos Bharatas, uma das tribos Aryan.
O Ramayana é atribuído ao poeta Valmiki, e foi escrito no primeiro século d.C., apesar de ser baseado em tradições orais que datam de seis ou sete séculos a.C..
WIKIPÉDIA

Novo Projeto de Lei quer alterar artigo do Ensino Religioso



<br>Fonte: Câmara dos Deputados
Logo após o reinicio dos trabalhos da Câmara Federal, o Ensino Religioso já é alvo de novo projeto de Lei. A proposição é de autoria do Dep. Marco Feliciano, pastor presidente da Igreja Assembleia de Deus de Orlândia/SP.
O Projeto visa alterar caput do artigo 33 da Lei n.º 9.394/96 e propõe outro artigo que discorre sobre o exercício da docência do Ensino Religioso.
De acordo com a matéria divulgada no site oficial do Dep. Pastor Marco Feliciano (http://www.marcofeliciano2010.com.br/?p=583), o referido projeto é parte de uma “[...] campanha que pretende atingir todas as pessoas que se preocupam com a formação básica da primeira infância e dá o nome a ela de PAPAI DO CÉU NA ESCOLA”. Segundo ele, a “[...] falta do respeito para com os educadores bem como a violência dentro das escolas mostra que a moral,  a ética e o respeito ao próximo são valores ignorados, por isso precisamos resgatar o ensino religioso em nosso país, e isto de maneira sábia, simples e coerente”.
Visualize em anexo, na íntegra, o Projeto de Lei nº 309/2011.
A coordenação do FONAPER, neste momento, concentra-se no estudo da matéria, a fim de verificar se a proposição é pertinente ou não à trajetória histórica de implementação do Ensino Religioso como componente curricular, que assegure o respeito à diversidade religiosa, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
Fonte: Câmara dos Deputados

A Visão Budista sobre Outras Religiões

Trecho revisto de
Berzin, Alexander e Chodron, Thubten. Glimpse of Reality.
Singapura: Amitabha Buddhist Center, 1999.
Pergunta: Como vê o budismo a existência de outras religiões?
Resposta: Já que nem todos têm as mesmas inclinações e interesses, Buda ensinou vários métodos para diferentes pessoas. Citando este exemplo, Sua Santidade o Dalai Lama disse que é maravilhoso que no mundo existam tantas religiões diferentes. Assim como uma comida não é atrativa para todos, também uma religião ou um grupo de crenças não irá satisfazer as necessidades de todos. Deste modo, é extremamente benéfico que uma variedade de diferentes religiões estejam disponíveis para serem escolhidas. Ele as acolhe e se alegra disso.
Nos dias de hoje, há um crescente diálogo, baseado no respeito mútuo, entre os mestres budistas e os líderes de outras religiões. Dalai Lama, por exemplo, encontra-se frequentemente com o Papa. Em Assis, na Itália, em Outubro de 1986, o Papa convidou os líderes de todas as religiões do mundo para uma grande assembleia. Nela estiveram presentes cerca de cento e cinquenta representantes. Dalai Lama estava sentado próximo do Papa e teve a honra de fazer o primeiro discurso. Na conferência, os líderes espirituais discutiram tópicos comuns a todas as religiões, tais como a moralidade, o amor e a compaixão. As pessoas ficaram muito encorajadas pela cooperação, harmonia e respeito mútuo que os vários líderes religiosos sentiam uns pelos outros.
Claro que existirão diferenças se discutirmos metafísica e teologia. Não há maneira de se escapar às diferenças. Contudo, isso não significa que tenhamos necessidade de fazer o debate com a atitude de que “o meu pai é mais forte que o seu pai”. Isso seria muito infantil. É mais benéfico olhar para os aspectos que existem em comum. Todas as religiões do mundo estão procurando melhorar a situação da humanidade e tornar a vida melhor, ensinando as pessoas a seguirem um comportamento ético. Todas elas nos ensinam a não ficarmos totalmente presos pelo lado material da vida, mas pelo menos mantermos um equilíbrio entre a procura do progresso material e do progresso espiritual.
Seria muito benéfico se todas as religiões trabalhassem em conjunto para melhorarem a situação do mundo. Precisamos não apenas de progresso material, como também de progresso espiritual. Se apenas enfatizarmos o aspecto material da vida, então a construção de uma bomba mais poderosa para matar toda a gente seria um objetivo desejável. Se, por outro lado, pensarmos de uma maneira humanística ou espiritual, ficaremos conscientes do medo e de outros problemas que surgem da acumulação de armas de destruição maciça. Se apenas nos desenvolvermos espiritualmente e não tivermos em conta o lado material, então passaremos fome e isso também não será nada bom. Nós precisamos de um equilíbrio.
Um dos aspectos da interação entre as religiões mundiais é que elas estão compartilhando umas com as outras algumas das suas especialidades. Consideremos, por exemplo, a interação entre os budistas e os cristãos. Muitos cristãos contemplativos estão interessados em aprender os métodos de concentração e meditação budistas. Vários sacerdotes, abades, monges e freiras católicos têm ido a Dharamsala, na Índia, para aprenderem esses métodos, a fim de os levarem para as suas próprias tradições. Vários budistas ensinaram em seminários católicos. Eu também já fui ocasionalmente convidado para ali ensinar como meditar, como desenvolver a concentração e o amor. O cristianismo ensina-nos a amar a todos, mas não explica em pormenor como fazê-lo. O budismo é rico em métodos para desenvolver o amor. A religião cristã, nos seus níveis mais altos, está aberta a aprender estes métodos budistas. Isso não significa que os cristãos se vão todos tornar budistas – ninguém está convertendo ninguém. Esses métodos podem ser adaptados dentro das suas próprias religiões, para ajudá-los a serem melhores cristãos.
Da mesma forma, muitos budistas estão interessados em aprender serviços sociais com o cristianismo. Muitas tradições cristãs salientam que os seus monges e freiras se envolvem com o ensino, o trabalho hospitalar, o cuidado com idosos, orfãos e assim por diante. Apesar de alguns países budistas terem desenvolvido esses serviços sociais, nem todos contudo o fizeram por várias razões sociais e geográficas. Os budistas podem aprender o serviço social com os cristãos. Sua Santidade o Dalai Lama é muito aberto a isso. Isso não significa que os budistas se estejam tornando cristãos. Existem certos aspectos da experiência dos cristãos a partir dos quais os budistas podem aprender; existem também coisas da experiência dos budistas a partir das quais os cristãos podem aprender. Desta maneira, existe um fórum aberto entre as religiões do mundo, baseado no respeito mútuo.
Geralmente é ao nível mais alto das interações entre religiões que as pessoas são abertas e sem preconceitos. É nos níveis mais baixos que as pessoas se tornam inseguras e desenvolvem uma mentalidade de time de futebol: “Este é o meu time de futebol e as outras religiões são times de futebol oponentes!” Com tal postura, nós competimos e lutamos. Isso é muito triste, quer ocorra entre as diferentes religiões ou entre as várias tradições budistas. Buda ensinou muitas variedades de métodos e todas elas funcionam harmoniosamente para ajudar uma vasta gama de diferentes tipos de pessoas. Assim, é importante respeitar todas as tradições, tanto dentro do budismo como entre as religiões do mundo.

Fonte: Dr. Alexander Berzin

Artigos

A ORIGEM DAS RELIGIÕES

A ORIGEM DAS RELIGIÕES
O homem, desde a mais remota antiguidade trouxe consigo a “angustia das origens”. Esse tipo de sentimento pode ser sentido no clássico questionamento: Quem sou? De onde vim? Para onde vou?
O conceito de religião inclui três elementos: crença em níveis de existência superiores à vida material e terrestre; convicção de que nesses níveis superiores se encontram a causa e o sentido da vida; regulamentação da vida pessoal e coletiva e organização de atos específicos com o objetivo de conhecer o mundo superior e obter dele algum benefício - material espiritual ou ambos.
A religião é um fenômeno presente em todas as culturas e civilizações. As diferenças entre as várias religiões derivam da maneira como cada uma concebe o mundo superior e as relações entre ele e os homens.
Estudos arqueológicos modernos demonstram que o homem já se preocupava em atribuir forças superiores a tudo aquilo que ele não tinha como explicar. Essa “angústia típica do psiquismo (é o nome científico que resume as noções de alma, espírito, mente, pensamento, conduta, comportamento, vida pessoal, drama pessoal humano, vida intelectual, afetiva e ativa.) do homem é o resultado do reconhecimento de suas limitações diante das forças da natureza, conjugado com o surgimento da consciência que desenvolveu alguns questionamentos, tais como: “existe vida após a morte”, “qual a finalidade da vida? “quem criou a vida?”. A esse questionamento o homem nunca conseguiu obter respostas que lhe satisfizessem objetivamente seu ego.
Para amenizar as dúvidas de consciência o ser humano passou a se utilizar de um poderoso instrumento que é capaz de dirimir quaisquer dúvidas – a Fé.
Pela fé o ser humano poderia responder todas as questões que se relacionassem com o surgimento e desenvolvimento das religiões e do ocultismo, que tem um laço bastante estreito com tal inquietante questionamento.
Todavia, todo tipo de investigação sobre a origem das religiões revista-se da maior importância, duas questões são fundamentais e que prendem nossa atenção:
- aquela que diz respeito ao seu fundamento racional;
- aquela que fala sobre a sua origem na natureza humana.
De maneira feliz, a primeira das questões, que é sem dúvida a mais importante admite uma solução mais inequívoca ou pelo menos mais clara.
Naturalmente, toda estrutura da natureza nos leva a existir um autor inteligente para a criação e nenhum investigador racional pode suspender por um momento a sua crença nos princípios fundamentais do teísmo. Já a segunda dúvida, aquela que diz respeito à origem da religião na natureza humana apresenta maiores dificuldades para ser respondida.
Talvez as pessoas acreditem que sua religião passou a existir quando a verdade fundamental foi revelada por Deus a alguém que em seguida a transmitiu a outras pessoas. Ora se isso fosse realmente verossímil; como que é que existam tantas religiões?
Será que essas pessoas estão equivocadas quanto ao entendimento do que lhes foi passado de geração em geração, por que será que as suas crenças ainda não se desmoronaram como as falsas idéias sobre métodos de cultivo ou as práticas de construção obsoletas?
Com o tempo, essas falsas idéias serão absorvidas pelos fundamentos da verdadeira religião, a sua religião.
A História confirmada de algumas religiões remonta há vários milênios, mas somente se formos generosos na definição de fronteira entenderemos aqueles cujos fiéis que atingem centenas ou milhares. No entanto existe um grande número de religiões reconhecidas com número inferior de fiéis. Não existe qualquer forma de saber quantas religiões distintas se desenvolveram nos últimos tempos e cujos vestígios se perderam para sempre.
O Cristianismo tem pouco mais de dois mil anos, o Islamismo nem chega a ter o mil e quinhentos anos, o protestantismo tem menos de quinhentos anos; biologicamente estes períodos de tempo são curtos quando comparados com a idade de outras características da cultura humana. A agricultura tem mais de dez mil anos, a escrita cinco mil e a linguagem quarenta mil, ou seja, vinte vezes a mais velha delas. Será que a linguagem é muito mais antiga do que qualquer religião existente ou mesmo mais antiga de qualquer religião que tenhamos conhecimento histórico ou arqueológico. Os indícios arqueológicos de formas de religião estão evidenciados no cemitério Cro-magnon na República checa, altamente estruturados e com cerca de vinte e cinco mil anos
Embora toda investigação sobre religião seja da maior importância, existem duas questões que devem ser objeto da atenção, às que dizem respeito ao seu fundamento lógico e à sua origem na Natureza Humana. A primeira questão admite uma solução mais precisa e clara; toda estrutura da natureza nos remete a autoria da criação a uma forma de inteligência que é evidenciada na crença pelos homens primitivos nos primeiros princípios do teísmo e religião puros.
No entanto a segunda questão, aquela que diz respeito à origem das religiões torna-se mais complicado, uma vez que a crença em um poder indivisível esteve sempre difundida por roda humanidade em todas as épocas e em todos os lugares sem, entretanto nunca tenha sido universal ao ponto de não admitir exceções e de modo uniforme na idéias.
Os estudos paleontológicos e históricos da humanidade nos levam a crer que o politeísmo foi o primeiro momento de religiosidade do ser humano desde suas rudes origens até a um estado de maior perfeição, a idolatria e o politeísmo foram a primeira e mais antiga das religiões do homem; como pode ser constatado pelos registros mais antigos da raça humana.
Desde o homem primitivo, passando pelo surgimento da escrita ao que parece todos eram politeístas e sustentavam princípios do teísmo puro, ou seja, enquanto eram bárbaros e ignorantes praticavam a idolatria.
Todas as tribos selvagens da Ásia, África e América são idólatras não havendo nenhuma exceção a esta regra.
A mente humana avança gradativamente do inferior para o superior, ao abstrair-se do que é imperfeito, forma uma idéia de perfeição e passa a distinguir as partes mais nobres da sua própria constituição e aprende a transferi-las para sua divindade; Este progresso natural do pensamento só poderia ser perturbado por argumentos inconfundíveis e que levasse a mente aos princípios puros do teísmo e transpusesse, em um único salto à grande distancia que separa a natureza humana da divina.
No início, o sol, a lua, as estrelas, o vento, a tempestade e outros fenômenos naturais eram considerados divindades; ma a evolução do conhecimento se encarregou de modificar muitas crenças desta forma expressas no entendimento da filosofia.
a.          TEORIA DO MEDO: é uma teoria muito antiga, primitiva, sustenta que o medo das forças naturais levou o homem a crer em divindades, forças misteriosas, sobrenaturais, com o poder de dirigir a natureza. A gênese das crenças religiosas seria o medo do sobrenatural.
b.          TEORIA ANIMATISTA: os povos primitivos acreditavam na existência de um poder impessoal, uma espécie de um fluído denominado ''mana'', pelos Melanésios e Polinésios, capaz de penetrar nos objetos vegetais, animais e pessoas, conferindo-lhes capacidades e propriedades superiores.
c.          TEORIA ANIMISTA: crença do homem primitivo na existência de outro ''eu'', com propriedades espirituais, que seria a alma, dotadas de poderes superiores ao homem. Esta crença era baseada na experiência de formas imateriais surgidas em sonhos, ou na diferença entre um homem vivo e seu cadáver. A morte ocorre quando a alma deixa o corpo e volta ao seu lugar de origem onde residem todos os espíritos dos antepassados, estes espíritos desencarnados podiam entrar no corpo dos vivos, aumentando-lhes a força e a vitalidade ou lhes provocando males.
d.               TEORIA DO TOTEMISMO: crença na descendência comum dos grupos de um antepassado animal ou vegetal, dando origem a uma atitude de reverência para com todos os representantes dessa fauna ou flora específica. O totemismo despertou uma controvérsia em relação a seu significado, designado por alguns autores como fenômeno social e por outro como fenômeno religioso.
e.          TEORIA DO ELEMENTO ALEATÓRIO: tribos primitivas acreditavam ser os poderes sobrenaturais intimamente ligados ao elemento sorte, devendo o homem atuar no sentido de obter a atenção favorável desses poderes e evitar assim, a má sorte e propiciar a boa sina.
f.           CRENÇA E RITUAL: a crença religiosa é o aspecto cognitivo da religião que procura explicar a natureza e a origem das coisas sagradas. A crença baseia-se em atitudes habituais, na fé, e as noções dela derivadas. O ritual é o lado ativo da religião, apresentando as seguintes formas: manipulação de objetos sagrados, ação instrumental carregada de conteúdo simbólico, tipos de conduta, como o uso de roupas especiais, cantos, danças e lamentações. O ritual tem por finalidade despertar uma disposição de espírito favorável em relação ao sagrado.
g.          MITO: do grego ''mutheo'', é uma tentativa de explicação de acontecimentos naturais ou sobrenaturais que fogem ao entendimento humano em seus diferentes estágios, por isso adquire forma lendária, poética ou fabulosa.
h.         RELIGIÃO E MAGIA: a religião acentua a atitude subjetiva dos participantes, despertando sentimentos de temor respeitoso, reverência ao que é santo; na magia, a atitude é mais casual e prosaica, espera-se que as forças da natureza obedeçam às forças do mágico. Através da religião procura-se a atuação do mundo sobrenatural, habitado por seres sensíveis aos desejos e sofrimentos humanos; na magia a ação sobrenatural muitas vezes nada mais é que uma força ou princípio atribuído a certos objetos.
Existe uma grande diferença entre os fatos históricos e as opiniões especulativas; o conhecimento dos fatos não se propaga da mesma maneira que as opiniões.
Um fato ao ser transmitido de geração em geração pela tradição oral pelas testemunhas oculares e pelos contemporâneos adultera-se em cada uma das narrações e, por fim, pode preservar apenas uma semelhança muito pequena, ou nem mesmo isso, à verdade original em que se baseou a narrativa. Esse fenômeno acontece devido à frágil memória dos homens, seu amor pelo exagero e pelo seu indolente descuido com a transmissão das verdades históricas. Se tais princípios não forem corrigidos pelos livros e pela escrita, rapidamente se pervertem; na descrição dos acontecimentos a argumentação e o raciocínio tem pouca ou nenhuma importância, e nunca podem repor a verdade que acaba por desaparecer das narrações. É por isso que se supõe que as fábulas de Hércules, Teseu, Baco e outras da mitologia, têm sua origem na história verdadeira que foi corrompida pela tradição.
Por outro lado, quando nos referimos às opiniões especulativas a situação é bem diferente; quando tais opiniões estão baseadas em argumentos claros e óbvios, produzem a convicção da maior parte dos seres humanos, esses argumentos, que difundiram as opiniões serão preservadas na sua pureza original. Se, no entanto, os argumentos não forem convincentes e estiverem mais distantes da compreensão vulgar, as opiniões ficarão sempre confinadas a algumas pessoas e logo que os homens se afastem da contemplação dos argumentos, estas se perderão imediatamente e cairão no esquecimento.
As disputas quase sempre violentas entre as diferentes religiões foram muito bem analisadas pelo importante filósofo por David Hume (1711-1776). ... “cada seita está convencida de que sua própria fé e seu próprio culto são totalmente agradáveis à divindade, e como ninguém pode conceber que o mesmo ser deva comprazer-se com ritos e preceitos diferentes e opostos, as diversas seitas acabam naturalmente em animosidade e descarregam umas contra as outras aquele zelo e rancor sagrados, que constituem as mais furiosas e implacáveis de todas as paixões humanas”. Como exemplos, Hume cita “o espírito estreito e implacável dos judeus”, os princípios ainda mais sangrentos dos seguidores de Maomé, e não poupa os cristãos, que teriam abraçado os princípios da tolerância por causa da “firme determinação dos magistrados civis, que se opuseram aos esforços contínuos dos padres e dos fanáticos”. Além disso, Hume considera que “os sacrifícios humanos dos cartagineses, dos mexicanos e de muitas nações bárbaras raramente superaram a Inquisição e as perseguições de Roma e de Madri”.
Religião instituída pela imaginação do homem ou devido a alguma experiência religiosa, o que nos interessa veemente salientar é a contribuição que ela proporcionou no desenvolvimento social, intelectual e filosófico ao mundo em que vivemos.
Fonte: Armando Filippi Cravo 

18/06/2011
Veremos hoje alguns artigos sobre o Kardecismo, para que tomemos conhecimento desta, que também é religião.  Ainda, dentro do assunto religião, veremos outras.
Vivemos em um País Laico, ou seja, que não é regido por religiões, e além do mais, um País onde impera a Democracia.
Desta forma temos diversas religiões e crenças,  respeitando o direito de credo de cada cidadão. 
Escrito: Elizabeth 
 

Afinal, o que é Espiritismo?


"E, se alguém julga saber alguma cousa, com efeito não aprendeu ainda como convém saber" - (I Coríntios 8.2).
"Julgai todas as cousas, retendo o que é bom" - (I Tessalonicenses 5.21).

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Ainda é muito comum, nos dias atuais, encontrar pessoas constrangidas ou mesmo aterrorizadas quando ouvem falar de Espiritismo, pois elas imaginam a ação do Espírito do mal.
Se você pensa assim e acredita que Espiritismo não é uma doutrina cristã, nós o convidamos a abrir estas páginas.
O objetivo desta obra é dar-lhe uma breve idéia do que é a Doutrina Espírita. Queremos despertar a sua curiosidade de forma que lhe permita formar um juízo pessoal, independente de todas as crendices e tolices oriundas do pensamento dos que nada entendem do assunto.
Não temos a pretensão de ser donos da verdade, pois , acreditamos que nenhum grupo, religião ou seita detém o privilégio de monopolizá-la.
Com a finalidade de levar um esclarecimento simples e objetivo sobre o assunto, esta pequena obra foi elaborada na forma de perguntas e respostas que foram escolhidas visando dissipar dúvidas e preconceitos existentes entre os que não conhecem a Doutrina Espírita, contribuindo, assim, para o esclarecimento. Procuraremos fundamentar as idéias em citações bíblicas e de estudiosos do assunto para melhor entendimento do que pretendemos expor.
"A ignorância dos princípios fundamentais é causa das falsas apreciações da maior parte dos que julgam o que não compreendem, ou que o fazem com base em idéias preconcebidas" - (Allan Kardec)

A BÍBLIA CONDENA A COMUNICAÇÃO COM OS ESPÍRITOS?

Os textos das Sagradas Escrituras são ricos em elementos necessários para o nosso entendimento das coisas divinas. Como é do conhecimento de todos, enquanto o Velho Testamento expõe a tradição dos hebreus, seus mestres, reis e profetas, o Novo Testamento retrata a vida, obra e ensinamentos do Mestre Jesus. Ele afasta a opressão contida nas leis civis feitas pelo próprio Moisés e clarifica as leis morais, que são os Dez Mandamentos, ditados por Deus. Há, no Novo Testamento, a nítida substituição do olho por olho, dente por dente, pelas mensagens de perdão e de amor a Deus e ao próximo. Além disso, Jesus veio mostrar que a morte não existe e que a alma sobrevive ao corpo carnal.
A imortalidade da alma é fato incontestável e definitivamente demonstrado pelo Mestre quando de Sua passagem pelo planeta.
"Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra viverá" - (João 11:25).
Infelizmente em pleno alvorecer de uma nova era, muitos homens ainda permanecem atrelados às velhas concepções, com medo da verdade, receosos de rever conceitos e reestruturar posturas.
Permanecem na superficialidade das coisas, sem compreenderem as verdades que a Bíblia verdadeiramente ensina, a racionalidade confirma e a própria ciência já começa a aceitar.
Na Bíblia, a condenação da comunicação com os Espíritos aparece no Velho Testamento, em citações tais como estas:
"Não vos virareis para os adivinhadores e encantadores; não os busqueis, contaminando-vos com eles: Eu sou o Senhor vosso Deus" - (Levíticos 19.31).
Contudo, no próprio Velho Testamento, a prática da comunicação com os mortos é citada como tendo a aprovação de Moisés.
"Porém no arraial ficaram dois homens; o nome de um era Eldade, e o nome do outro Medade; E repousou sobre eles o Espírito (porquanto estavam entre os inscritos, ainda que não saíram à tenda), e profetizavam no arraial.
Então correu um moço, e o anunciou a Moisés, e disse: Eldade e Medade profetizam no arraial. E Josué, filho de Num, servidor de Moisés, um dos seus mancebos escolhidos, respondeu, e disse: Senhor meu, Moisés, proíbe-lho.
Porém Moisés lhe disse: Tens tu ciúmes de mim? Oxalá todo o Povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu Espírito!
Depois Moisés se recolheu ao arraial, ele e os anciãos de Israel" - (Números 11.26-30).
Jesus, no Novo Testamento, não só não condena a comunicação com os mortos, como a pratica e confirma.
"Seis dias depois, toma Jesus consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e os conduziu em particular a um alto monte,
E transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandesceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz.
E eis que lhes aparecerem Moisés e Elias, falando com ele" - (Mateus 17.1-3).
Um dos pontos em que se fundamentam os que condenam tais práticas é a palavra de Moisés no Velho Testamento. Necessário analisarmos a questão à luz da razão.
Se as leis civis de Moisés utilizadas para o controle do povo judeu, como a condenação da comunicação com os Espíritos, devem ser obedecidas na atualidade, então por que não devemos também apedrejar adúlteras ou cortar as mãos dos ladrões como tais leis também exigem? Evidente que seria um contra-senso para os dias atuais.
Além do mais, há que se considerar as razões pelas quais o legislador hebreu determinou tal lei. Ele necessitava de mais rigor para disciplinar um povo naturalmente rebelde e distante das coisas divinas.
Moisés precisou coibir tal coisa, porque a prática da consulta aos mortos tinha se tornado uma constante entre o povo e naturalmente o abuso deu vazão a toda sorte de problemas decorrentes dos aproveitadores da ignorância humana. E depois, convenhamos: se ele proibiu a evocação dos mortos, certamente era porque eles poderiam vir até nós.
Por outro lado, há no Velho como no Novo Testamento, inúmeras citações de claras situações onde se praticava com muita naturalidade a evocação dos Espíritos. E isto é completamente desconsiderado pelos que condenam a Doutrina Espírita. Se as Escrituras funcionam como autoridade nesse campo, porque não o é em outros?
O que não pode ser aceito pelo homem da atualidade é que seja feito um julgamento (e condenação) de uma religião ou crença, baseado na parcialidade da Lei com propósitos de conveniência. A verdade não tem diferentes faces e o verdadeiro cristão deve seguir o modelo de Jesus e se espelhar nos seus ensinamentos, vivenciando o amor e respeito aos seus semelhantes.

A REENCARNAÇÃO ESTÁ NA BÍBLIA?

Diversas passagens de maneira clara ou indireta, contidas nos ensinamentos de Jesus e dos profetas, mostram que a reencarnação está na Bíblia:
"Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Por ventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?
Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.
O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.
Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.
O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso?
Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de Israel, e não sabes isto?
Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que vimos: e não aceitais o nosso testemunho.
Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?" - (João 3.3-12).
"Eis que eu vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor;
E converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição" - (Malaquias 4.5-6).
"E, descendo eles do monte, Jesus lhes ordenou, dizendo: A ninguém conteis a visão, até que o Filho do homem seja ressuscitado dos mortos.
E os discípulos o interrogaram, dizendo: porque dizem então os escribas que é mister que Elias venha primeiro?
E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro e restaurará todas as coisas;
Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o filho do homem.
Então entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista" - (Mateus 17.9-13).
"Porque, eu te peço, pergunta agora às gerações passadas, e prepara-te para a inquirição de seus pais. Porque nós somos de ontem, e nada sabemos, porquanto nossos dias sobre a terra são como a sombra" - (Jó 8.8-9).
"Mas alguém dirá: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão? Insensato! O que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer" - (I Corintios 15.35-36).
A reencarnação não foi inventada pelo Espiritismo. Ela consta nos princípios de diversas religiões orientais desde a mais remota antiguidade. E como mostra as citações acima, ela está explícita ou implicitamente contida na Bíblia, sendo necessárias as mais fantasiosas explicações para colocar ali outro sentido que não as múltiplas experiências na carne.
Racionalmente não há como negar a reencarnação. Se tivéssemos apenas uma oportunidade de vida terrena, a justiça de Deus seria incompreensível. O Pai, em sua imensa sabedoria, criou seus filhos em igualdade de condições e deu a eles igualmente as mesmas oportunidades de crescimento. Não fosse assim teríamos que admitir um Deus parcial, intolerante, injusto e severo, que permitiria todas as misérias e desigualdades sempre existentes no mundo, aquinhoando uns e castigando outros a seu bel prazer.
A pluralidade das existências é, pois, necessária ao aprimoramento das qualidades do ser imortal e para bem entender a justiça de Deus. Só pelas múltiplas oportunidades de vida poderemos compreender o amor do Criador por suas criaturas. Ele permite o aprendizado na carne para a conquista da verdadeira morada , a vida espiritual, através do esforço de cada um em vencer suas más tendências para atingir a plenitude, a perfeição.
Somos todos seres atrelados às leis divinas que regem o universo, quer acreditemos ou não. Uma delas é a lei de evolução dos seres. Seria insensatez supor que em apenas uma existência terrena, atingiremos a tão sonhada perfeição de que nos fala o Mestre em Mateus, capítulo V, versículos 44-48:
"Sede vós logo perfeitos, assim como vosso Pai Celestial é perfeito".
"Somente a reencarnação pode dizer ao homem de onde ele vem, para onde vai, por que se encontra na Terra e justificar todas as anomalias e todas as injustiças aparentes da vida" - (Allan Kardec).
"Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens" - (I Corintios 15.19).

O QUE É ESPIRITISMO E QUAIS SÃO SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS?

O termo "Espiritismo" é sinônimo de Doutrina Espírita, porém, frequentemente, é utilizado erroneamente para designar qualquer prática do mediunismo (comunicação com os Espíritos), ou confundido com cultos afro-brasileiros (Umbanda, Candomblé, entre outros).
O Espiritismo é uma doutrina que trata da natureza, da origem e do destino dos Espíritos e de suas relações com a vida material. Foi revelada por Espíritos Superiores e codificada (organizada) em 1857 por um professor francês conhecido como Allan Kardec.
Surgiu, pois, na França, há mais de um século. Traz em si três faces: filosofia, ciência e religião (moral).
Os adeptos da Doutrina Espírita são os espíritas e suas práticas se baseiam no estudo das obras básicas da Codificação e na assistência material e espiritual aos necessitados.
O Espiritismo possui cinco princípios básicos, de onde procedem todas as suas práticas:
1 - A existência do Espírito e sua sobrevivência após a morte.
"Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e os conduziu em particular ao alto monte,
E transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o sol, e os seus vestidos se tornaram brancos como a luz.
E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele" - (Mateus 17.1-3).
Veja também: I Pedro 3.19-20 - I Pedro 4.6 - Marcos 12.26-27 e Romanos 11.15.
2 - A reencarnação.
"Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João.
E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir.
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça" - (Mateus 11.13-15).
Veja também Mateus 17.9-13 e João 3.3-13
3 - A lei de causa e efeito.
"Então Jesus disse-lhe: Enfia no seu lugar a tua espada; porque todos que lançarem mão da espada à espada morrerão" - (Mateus 26.52).
"Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo que o homem semear, isso também ceifará" - (Gálatas 6.7).
Veja também: Mateus 18.7
4 - A comunicação entre o mundo material e espiritual.
"E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos mancebos terão visão, e os vossos velhos sonharão sonhos;
E também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e minhas servas naqueles dias, e profetizarão;" - (Atos 2.17-18).
"E disse-me o Espírito que fosse com eles, nada duvidando; e também estes seis irmãos foram comigo, e entramos em casa daquele varão;" - (Atos 11.12).
Veja também: Mateus 17.1-3 - I Samuel 28.11-20 e Números 11.26-30
5 - A evolução progressiva dos Espíritos.
"Um semeador saiu a semear a sua semente, e, quando semeava, caiu alguma junto do caminho, e foi pisada, e as aves do céu a comeram;
E outra caiu sobre pedra, e, nascida, secou-se, pois que não tinha umidade;
E outra caiu entre espinhos, e crescendo com ela os espinhos, a sufocaram;
E outra caiu em boa terra, e, nascida, produziu fruto, cento por um. Dizendo ele estas coisas, clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
E os seus discípulos o interrogavam, dizendo: Que parábola é esta?
E ele disse: A vós vos é dado conhecer os mistérios de Deus, mas aos outros por parábolas, para que, vendo, não vejam, e, ouvindo, não entendam.
Esta é pois a parábola. A semente é a palavra de Deus;
E os que estão junto do caminho, estes são os que ouvem; depois vem o diabo e tira-lhes do coração a palavra, para que se não salve, crendo;
E os que estão sobre pedra, estes são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria, mas, como não têm raiz, apenas crêem por algum tempo, e no tempo da tentação se desviam;
E a que caiu entre os espinhos, esses são os que ouviram, e, indo por diante, são sufocados com os cuidados, e riquezas e deleites da vida, e não dão fruto com perfeição;
E a que caiu em boa terra, esses são os que, ouvindo a palavra, a conservam num coração honesto e bom, e dão fruto com perseverança" - (Lucas 8.5-15).
Veja também: Gênesis 28.12
Tais princípios estão contidos na Bíblia e nas cinco obras básicas da Codificação, que os analisa de maneira racional e interessante. São elas:
- O LIVRO DOS ESPÍRITOS (1857). Obra de caráter filosófico. É considerado a espinha dorsal do Espiritismo, já que todas as outras obras partem de seus princípios.
- O LIVRO DOS MÉDIUNS (1861). Demonstra as conseqüências morais e filosóficas decorrentes das relações entre o mundo material e espiritual.
- O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO (1864). Parte religiosa e moral da Doutrina Espírita. Ensina a moral cristã através de comentários sobre as principais passagens da vida de Jesus Cristo.
- O CÉU E O INFERNO (1865). Allan Kardec apresenta a verdadeira face do desejado Céu, do temido Inferno, como também do chamado Purgatório. Põe fim às penas eternas, demonstrando que tudo no universo evolui.
- A GÊNESE (1868). Mostra como foi criado o mundo, como apareceram as criaturas e como é o Universo. É a parte científica da Doutrina. Explica a Criação, colocando a Ciência e a Religião face a face.

ESPIRITISMO E ESPIRITUALISMO SÃO A MESMA COISA?

Espiritualismo é o oposto do materialismo. Este, como se sabe, é o grande móvel da derrocada do homem, com sua doutrina imediatista, egoísta e exclusivista. Todas as religiões que acreditam existir no homem uma individualidade (alma ou Espírito) que sobrevive à morte do corpo carnal são espiritualistas. Entretanto, nem todo espiritualista é espírita.
O Espiritismo, como já citamos, também acredita na sobrevivência do Espírito e sua comunicação com o mundo material, contudo, tem sua base científica, filosófica e religiosa (moral) pautada na Codificação de Allan Kardec e no Evangelho de Jesus Cristo. Portanto tem um corpo doutrinário-filosófico organizado, utilizado por seus adeptos em suas vidas cotidianas e nas sociedades espíritas.

COMO O ESPIRITISMO EXPLICA O CÉU, O INFERNO E PURGATÓRIO?

Segundo o Espiritismo, as virtudes são eternas e os defeitos temporários. O objetivo da criatura é trabalhar incessantemente pela abolição das imperfeições e aquisição dos valores morais que eleva progressivamente o Espírito ao bem, ou à conquista do chamado "céu". Por acreditar que o mundo espiritual é a verdadeira morada, só aqueles que se elevam ao bem habitam as regiões celestiais ditas paraíso onde, diferente de outras religiões, o Espiritismo acredita habitarem Espíritos que trabalham na edificação do mundo novo. Na verdade, o céu não se trata de um lugar demarcado, mas de um estado de perfeição espiritual conquistado individualmente pelo Espírito, através de seu constante esforço. O que vale dizer que uns apressam e outros retardam seu próprio progresso.
"Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras" - (Mateus 16.27).
"A felicidade suprema é prêmio exclusivo dos Espíritos perfeitos ou puros. Eles a atingem só depois de haver progredido em inteligência e moralidade" - (Allan Kardec).
Deus em sua perfeição suprema, sendo a concepção da bondade e da caridade, só pode ter criado os Espíritos para um dia usufruírem da sua glória, e não para condená-los a sofrimentos eternos. É lógico concluir que as penas eternas são incompatíveis com a justiça do Pai.
A criação do inferno cristão se origina das concepções pagãs das penas e gozos eternos, com uma grande dose de exagêro. Deus condenaria sem piedade seus filhos maus a expiarem para sempre em regiões de dores e sofrimentos terríveis. Entretanto, em sua doutrina, Jesus nos trouxe um ensinamento contrário a esse pensamento :
"...Ou qual de vós, porventura, é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, porventura, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Pois se vós outros, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos Céus, dará boas dádivas aos que lhas pedirem" (Mateus - 7.11).
Portanto Deus, em sua infinita bondade e justiça, jamais condenaria seus filhos às penas eternas. Ao contrário, dá tantas oportunidades quantas precisamos para nosso crescimento espiritual.
O inferno, ou trevas segundo a Doutrina Espírita, é um estado de consciência compartilhado por aqueles cujos defeitos e sentimentos ruins predominam em suas personalidades, que se inclinam ao mau e nele se comprazem. São apenas irmãos imperfeitos e ignorantes, que têm o inferno dentro de suas próprias consciências e que, através de novas oportunidades dadas pelo Pai Celestial, através de sucessivas experiências encarnatórias também alcançarão a perfeição.
"E Ele lhes propôs esta parábola, dizendo: Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e não vai após a perdida até que venha a achá-la?
E, achando-a, a põe sobre seus ombros, gostoso;
E, chegando a casa convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida.
Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento" - (Lucas 15.3-7).
"Assim também não é vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca" - (Mateus 18.14).
O chamado purgatório, por sua vez, é uma condição de sofrimento temporário para as almas que necessitam da conscientização de seus erros e ali permanecem até o arrependimento destes. Esta idéia é defendida por várias religiões, inclusive o Espiritismo, com alusão ao fato de que a permanência neste estado espiritual é mais ou menos longa, de acordo com a necessidade individual de cada Espírito sofredor. Conhecido como umbral na Doutrina Espírita, o purgatório é também um estado de espírito e não um local definido ou circunscrito onde habitam eternamente os Espíritos sofredores.
Analisando a questão por outro aspecto e levando-se em consideração que somos seres imortais trabalhando constantemente pela depuração do Espírito, pode-se compreender que cada reencarnação em mundos de provas e expiações, como a Terra por exemplo, funciona como uma "purgação" para o Espírito que almeja sempre sua felicidade em condições melhores.
"O purgatório não é, portanto, uma idéia vaga e incerta: é uma realidade material que vemos, tocamos e sofremos. Ele se encontra nos mundos de expiação e a Terra é um deles. Os homens expiam nela o seu passado e o seu presente em benefício do seu futuro" (Allan Kardec).
"Mas, amados, não ignoreis uma coisa: que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia.
O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a tem por tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, se não que todos venham a arrepender-se" - (II Pedro 3.8-9).

O ESPIRITISMO COLOCA O HOMEM SOB A INFLUÊNCIA DOS DEMÔNIOS?

Só o preconceito pode justificar essa afirmativa. Afinal, como uma doutrina embasada no Evangelho de Jesus pode ligar alguém a demônios?
O Espiritismo não veio criar uma nova moral, mas sim facilitar aos homens a compreensão e a prática da moral do Cristo, ao dar uma fé sólida, racional e esclarecida aos que buscam a verdade. Prega que o homem de bem, o verdadeiro cristão, é aquele que pratica a lei de justiça, amor e caridade em sua plenitude. Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz em dominar suas más inclinações.
O Espiritismo nos ensina que Deus, na sua bondade e sabedoria infinitas, não criou seres voltados ao mal por toda a eternidade. Há Espíritos ignorantes e imperfeitos que nos inflamam más paixões e nos induzem ao mal, assim como os bons podem nos influenciar para o bem.
O diabo é a representação alegórica do mal, que resume em si todas as mazelas dos Espíritos imperfeitos. São os chamados demônios, que nada mais são que Espíritos ignorantes e imperfeitos, ainda distantes do bem, que diante de corações impuros e preconceituosos, se comprazem com eles e lhes induzem ao erro, promovendo-lhes más idéias e julgamentos. Esses Espíritos não são patrimônio do Espiritismo e, como os bons, também podem estar em todo lugar, podendo ser atraídos por todos os que se afinizam com seus propósitos.
Lembramos que o próprio Jesus foi citado por seus inimigos de ser possuído por demônios, por falar de uma doutrina contrária aos valores vigentes. Contudo suas obras evidenciaram sua grandeza. É dele mesmo a afirmação de que cada árvore é conhecida pelo seu fruto e o fruto da Doutrina Espírita é evidenciado pelas suas boas obras. A maior e mais importante obra do Espiritismo é transformação da criatura através do estímulo ao autoconhecimento, retirando o homem do estado de ignorância em que se encontra, instruindo-o ao nível da luz.
"Mas alguns deles diziam: Ele expulsa os demônios por Belzebu, príncipe dos demônios.
E outros, tentando-o, pediam-lhes um sinal do céu.
Mas, conhecendo Ele os seus pensamentos, disse-lhes: Todo o reino, dividido contra si mesmo, será assolado; e a casa, dividida contra si mesma, cairá.
E se também Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Pois dizeis que eu expulso os demônios por Belzebu.
E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Eles pois serão os vossos juizes.
Mas, se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente a vós é chegado o reino de Deus" - (Lucas 11.15-20).
Veja também: Mateus 9.34 - Mateus 11.18 - Mateus 12.33 - Marcos 3.22.

POR QUÊ CONFUNDEM ESPIRITISMO COM UMBANDA?

A Umbanda é um culto religioso respeitado pelos espíritas como todos os outros o são, até mesmo porque está amparado no princípio geral da liberdade de crença contido na Constituição do Brasil. Contudo, ela não é Espiritismo. Seu acervo de símbolos, objetos, instrumentos, práticas, etc, não se ajustam de maneira alguma à Doutrina Espírita. Aqueles que confundem Umbanda com Espiritismo se apegam às seguintes afirmações: a Umbanda é espiritualista, rende culto a Deus, fundamenta-se em fenômenos produzidos por Espíritos desencarnados, aceita a reencarnação e faz caridade. Todavia, a Umbanda tem culto material, rituais, vestimentas específicas, imagens, altares, pontos riscados e denominações totalmente especiais para médiuns (cavalos) e Espíritos (exús, pretos-velhos, caboclos, ibegis), que não existem no Espiritismo. Além dessas abismais diferenças, a Umbanda não se rege pela Codificação de Allan Kardec. Portanto, está claro que embora espiritualista e ter características mediúnicas, a Umbanda não constitui variante nem modalidade do Espiritismo. Essa confusão se dá pelo desconhecimento do que seja a Doutrina Espírita e consequente interpretação errônea dos fenômenos da mediunidade.

O ESPIRITISMO FAZ MACUMBA, DESPACHO OU QUALQUER OUTRO RITUAL?

O Espiritismo não tem culto material e nem tem rituais, não prescreve qualquer vestimenta, nem função sacerdotal, não usa imagens, nem faz sacrifícios de animais ou seres humanos, não tem símbolos ou sinais cabalísticos, não faz cerimônias matrimoniais, ou de batismo, nem exorcismo. Resumindo, a Doutrina Espírita tendo como principal objetivo o cultivo dos valores do Espírito é totalmente isenta de atos exteriores. Sua nomenclatura se baseia nas obras da Codificação e suas práticas mediúnicas são executadas dentro de um ambiente evangélico de harmonia e oração, sem qualquer culto exterior ou movimentos e palavreado estereotipados. Suas reuniões mediúnicas são fechadas ao público e conduzidas com rigor, onde não existem velas, cantos, danças, cigarro bebida ou cobrança de taxas.
Compreende-se, portanto, que qualquer culto que contenha tais práticas, não pode e não deve receber a designação de espírita.
"Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade" - (João 4.24).
"Amados não deis crédito a qualquer Espírito. Antes, provai os Espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora" - (I João 4.1).
"E não consentia que alguém levasse algum vaso pelo templo.
E os ensinava, dizendo: Não está escrito - A minha casa será chamada por todas as nações casa de oração? Mas vós a tendes feito covil de ladrões.
E os Escribas e príncipes dos sacerdotes, tendo ouvido isto, buscavam ocasião para o matar; pois eles o temiam, porque toda multidão estava admirada acerca da sua doutrina" - (Marcos 11.16-18).
"Porque eu quero misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que o holocausto" - (Oséias 6.6).

O ESPIRITISMO FAZ USO DE BOLA DE CRISTAL, PRATICA QUIROMANCIA, ASTROLOGIA, HIPNOTISMO, MAGIA OU PARAPSICOLOGIA?

Dentre uma série de práticas rotuladas erroneamente como espíritas, estão estas e também outras como a terapia regressivas a vidas passadas (TRVP), a transcomunicação instrumental (TCI), a cristalterapia , a cromoterapia, ufologia etc. A maioria delas não possue fundamentação doutrinária lógica, e não encontram respaldo nas obras de Allan Kardec, portanto, não são práticas espíritas.
Qualquer Centro Espírita que se utilize de tais práticas está se desviando dos seus verdadeiros e nobres objetivos.
As notícias frequentemente veiculadas pela mídia em geral, de que os espíritas previram o futuro, fizeram oferendas a Iemanjá, estão ligados a culto demoníaco, dentre outras, comprovam o desconhecimento que existe sobre a Doutrina Espírita, apesar da sua atual expansão e crescente número de adeptos. O Espiritismo não é responsável pelos que abusam do seu nome e o exploram.
Assim como a ciência médica não o é pelos charlatões que vendem suas drogas ou como a religião também não o é pelos sacerdotes que abusam do seu ministério.
"Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores.
Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?" - (Mateus7.15-16).
"Se alguém ensina alguma doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, É soberbo, e nada sabe mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas" - (I Timóteo 6.3-4).
"Não vos deixeis levar em redor por doutrinas várias e estranhas, por que bom é que o coração se fortifique com graça, e não com manjares, que de nada aproveitaram aos que a eles se entregaram" - (Hebreus 13.9).

POR QUÊ ALGUMAS RELIGIÕES COMBATEM TANTO O ESPIRITISMO?

Não há razões sensatas para o combate a uma doutrina que segue o Evangelho de Jesus Cristo, baseada no bem e no amor a Deus e ao próximo, discordante apenas das convicções filosóficas de algumas outras. A intolerância religiosa é marca dos falsos profetas, ignorantes na carne e no espírito, fruto das idéias preconcebidas e da presunção de serem donos da verdade. O combate ao Espiritismo se deve ao desconhecimento das suas idéias e à confusão que é semeada no meio, por aqueles que não se dispõem a examiná-las com racionalidade. Contudo, a Doutrina do Cristo frutificou apesar da falsa interpretação e oposição daqueles que não a compreendiam.
Se as pessoas que detratam o Espiritismo seguissem o ensinamento do Apóstolo Paulo, quando nos exorta a examinar tudo e reter o que é bom, certamente teriam outro posicionamento diante de determinadas idéias que repudiam sem conhecimento de causa. Se Jesus e seus discípulos recuassem diante dos inimigos de sua doutrina, o mundo hoje estaria órfão desse código de conduta que norteia a humanidade.
"Há verdadeiramente duas coisas diferentes: saber e crer que se sabe. A ciência consiste em saber; em crer que se sabe reside a ignorância" - (Hipócrates).
"E agora digo-vos: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará.
Mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus" - (Atos 5.38-39).
"Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos Céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem, todo o mal contra vós, por minha causa.
Exultai e alegrai-vos, porque é grande o nosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós" - (Mateus 5.10-12).

EXISTE ESPIRITISMO DE MESA BRANCA?

A Doutrina Espírita não comporta nenhuma ramificação. Como já explicado, por suas convicções dispensa qualquer ritual ou aparato. A designação popular de mesa branca pode ter advindo do fato de que as reuniões mediúnicas espíritas ocorrem, para simples acomodação, com os participantes dispostos ao redor de uma mesa, algumas vezes, com uma toalha branca recoberta sobre ela, o que é absolutamente dispensável. Como tais reuniões tem caráter íntimo e privado, disciplinado e beneficente, o termo mesa branca surgiu para diferenciar o Espiritismo de outros cultos, sendo este termo utilizado popularmente também como sinônimo de Kardecista. Trata-se de um equívoco generalizado, uma vez que só há um Espiritismo (termo criado pelo próprio Allan Kardec) e este não adota práticas exteriores para ser diferenciado. Assim , nem mesa branca, alto ou baixo Espiritismo, Espiritismo elevado etc, são sinônimos de Doutrina Espírita.

OS ESPÍRITOS PODEM INTERFERIR EM NOSSAS VIDAS?

Allan Kardec perguntou aos Espíritos Superiores (pergunta 459 do L.E.) sobre esta questão e a resposta é clara e precisa: "Nesse sentido a sua influência é maior do que supondes, porque muito frequentemente são eles que vos dirigem".
Os Espíritos atuam frequentemente sobre o nosso pensamento, dando-nos sugestões mais ou menos sensatas, boas ou más segundo sua natureza. Quando desencarnados, os Espíritos continuam com seus vícios ou virtudes e são bons ou maus, sérios ou brincalhões, trabalhadores ou preguiçosos, cultos ou medíocres, verdadeiros ou mentirosos, e estão por toda parte. Sendo assim, facilmente nos influenciam o pensamento e ações, e dependendo de nossa condição moral, recebemos boas ou más influências, pela sintonia que se estabelece entre os dois planos da vida. Aqueles providos de virtudes facilmente poderão ser auxiliados pelos bons Espíritos, ao contrário dos indivíduos voltados às paixões vulgares.
Nos textos bíblicos encontramos uma série de citações que nos falam dessa realidade. Eis alguns:
"E, pensando Pedro naquela visão, disse-lhe o Espírito: Eis que três varões te buscam. Levanta-te pois, e desce, e vai com eles, não duvidando, porque eu os enviei" - (I Atos 10.19-20).
"Quando o Espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares secos, buscando repouso; e, não o achando, diz: Tornarei para minha casa donde saí.
E, chegando, acha-a varrida e adornada.
Então vai, e leva consigo outros sete Espíritos piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado desse homem é pior do que o primeiro" - (Lucas 11.24-26).

COMO NOS LIVRAMOS DAS INFLUÊNCIAS NEGATIVAS?

Toda moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, sentimentos contrários ao egoísmo e ao orgulho, fontes das más inclinações. Em todos os ensinamentos do Mestre, as virtudes são apontadas como o caminho para a paz espiritual e a felicidade eterna. Sabendo-se que os Espíritos aliam-se a nós pela afinidade de pensamentos e sentimentos, o cultivo dos bons pensamentos, o esforço para melhoria íntima e a prática da caridade aliados à oração, dificultam muito ou até mesmo impossibilitam o acesso dos maus Espíritos ao nosso pensamento.
A doutrina de Jesus tem como objetivo levar o ser ao entendimento de sua condição de Espírito imortal, fadado à perfeição. Através do autoconhecimento, trabalhando incessantemente para exterminar vícios e adquirir virtudes, poderemos nos livrar com mais facilidade das más companhias espirituais.
"Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o Espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca" - (Marcos 14.38).
"Por isso vos digo que tudo que pedirdes, orando, crede que o recebereis, e te-lo-eis;
E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos Céus vos perdoe as vossas ofensas;
Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai que está nos Céus, vos não perdoará vossas ofensas" - (Marcos 11.24-26).

O QUE É MEDIUNIDADE?

É uma faculdade natural de toda criatura viva. Podemos dizer que é um canal psíquico que todos possuem e que liga o Espírito encarnado ao mundo invisível. É, portanto, através da mediunidade que os encarnados recebem a influência dos desencarnados, funcionando como uma ponte entre os dois planos.
Embora seja faculdade comum a todos as criaturas, em alguns indivíduos ela se encontra mais exacerbada, sendo capaz de produzir fenômenos ostensivos como a profetização, a psicografia e os efeitos físicos.
Sendo uma faculdade orgânica, não depende da qualidade moral de quem a possui. Isso faz com que haja uma grande diversidade no uso que se faz dela, existindo tanto aqueles que a utilizam para o bem, como para fins ilícitos, inclusive os comerciais.
"Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes" - (I Corintios 12.1).
"Todas as nossas faculdades são favores que devemos agradecer a Deus, pois há criaturas que não as possuem. Podias perguntar porque Deus concede boa visão a malfeitores, destreza aos larápios, eloquência aos que só a utilizam para o mal. Acontece o mesmo com a mediunidade. Criaturas indignas a possuem porque dela necessitam mais do que as outras, para se melhorarem" - (Livro dos Médiuns - Questão 226).

O QUE É MÉDIUM?

Se todos são dotados desse canal psíquico por onde recebem influência espiritual, logo todas as pessoas são médiuns. Há aqueles, contudo, com uma capacidade ostensiva de receber e transmitir comunicações de Espíritos, atuando como intermediários ou como agentes das manifestações dos Espíritos. Estes são dotados de mediunato, uma faculdade especial, suscetível de desenvolvimento, e que, quando bem direcionada, pode ser utilizada como um importante meio que os Espíritos superiores utilizam para edificar o ser ao nível do entendimento.
Segundo sua aptidão, o médium pode exercer sua tarefa em uma das muitas variedades de mediunidade, como por exemplo escreventes ou psicógrafos, falantes, de efeito físico, videntes, curadores, entre outros.
A pessoa dotada deste dom divino, tem a obrigação de se instruir sobre ele a fim de colocá-lo a serviço da obra do Senhor. A mediunidade só tem sentido quando praticada com essa finalidade.
"Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil.
Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência;
E a outro, pelo mesmo Espírito a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar;
E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os Espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas" - (I Corintios 12.7-10).

A MEDIUNIDADE FOI INVENTADA PELO ESPIRITISMO?

A mediunidade, tampouco os médiuns, são privilégios do Espiritismo ou foram inventados por ele. A mediunidade sempre existiu, uma vez que sempre existiram os planos material e espiritual. A própria Bíblia refere-se às suas manifestações em diversas de suas passagens, assim como é identificada nas práticas de muitas religiões da atualidade, embora com outros nomes.
O Espiritismo simplesmente trouxe os ensinamentos capazes de nos orientar a tirar melhor proveito da mediunidade, no sentido de fazer dela um instrumento moralizador e de libertação dos Espíritos. É uma fonte material que prova a sobrevivência da alma após a morte, ampliando nossos conhecimentos acerca dos ilimitados horizontes espirituais. Sua prática não tem como meta apenas a produção de fenômenos destinados a despertar os incrédulos ou curar suas enfermidades espirituais ou carnais; serve para alertar o ser humano de sua necessidade de despertar para o sentido verdadeiro da vida. Quando bem utilizada é uma importante alavanca para a evolução espiritual.
"Então disse Saul aos seus criados: Buscai-me uma mulher que tenha o Espírito de adivinha, para que vá a ela e a consulte. E os seus criados lhe disseram: Eis que em Endor há uma mulher que tem o Espírito de adivinhar.
E Saul se disfarçou e vestiu outros vestidos, e foi ele, e com ele dois homens, e de noite vieram à mulher; e disse: Peço-te que me adivinhes pelo Espírito de adivinha, e me faças subir a quem eu te disser.
Então a mulher lhe disse: Eis aqui tu sabes o que Saul fez, como tem destruído da terra os adivinhos e os encantadores; porque, pois, me armas um laço a minha vida, para me fazer matar?
Então Saul lhe jurou pelo Senhor, dizendo: Vive o Senhor, que nenhum mal te sobreviverá por isso. A mulher então lhe disse: A quem te farei subir? E disse ele: Faz-me subir a Samuel.
Vendo, pois, a mulher a Samuel, gritou em alta voz; e a mulher falou a Saul, dizendo: Por que me tens enganado? Pois tu mesmo és Saul.
E o rei lhe disse: Não temas; porém que é o que vês? Então a mulher disse Saul: Vejo deuses que sobem da terra.
E lhe disse: Como é a sua figura? E disse ela: Vem subindo um homem ancião, e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra, e se prostrou" - (I Samuel 28.7-14).

O QUE É REUNIÃO MEDIÚNICA OU SESSÃO ESPÍRITA?

O Espiritismo nos ensina que as comunicações inteligentes ocorrem por uma ação do Espírito sobre o médium, devido a uma afinidade ou sintonia entre o pensamento de ambos. Tais comunicações podem ser realizadas espontaneamente ou por meio das evocações dos Espíritos e, como já citado, tem caráter privado e moralizador. Através da comunicabilidade estabelecem-se as condições para se consolar os Espíritos sofredores, desvendar os laços entre aqueles que se odeiam e se acham perturbados e ainda receber orientações dos bons Espíritos. Estas práticas são realizadas nas chamadas reuniões mediúnicas, ou sessões espíritas, conduzidas de acordo com a disciplina da Codificação Kardequiana e com o Evangelho de Jesus, com o máximo de simplicidade, seriedade e preferencialmente, nos Centros Espíritas. Dela participam médiuns e orientadores, estes últimos denominados dirigentes da reunião, que são incumbidos da interpretação das comunicações e orientação dos médiuns e Espíritos.
Uma reunião mediúnica séria e confiável é aquela onde prevalecem os bons sentimentos, a harmonia e homogeneidade de pensamentos entre a equipe de trabalho. É prudente ter cautela com aquelas que não obedecem certos critérios de disciplina, que não valorizam o estudo, tampouco se preocupam com a moralização dos médiuns.
"Se o médium é de baixa moral, os Espíritos inferiores se agrupam em torno dele e estão sempre prontos a tomar o lugar dos bons Espíritos a que ele apelou. As qualidades que atraem de preferência os Espíritos bons são: a bondade, a benevolência, a simplicidade de coração, o amor ao próximo, o desprendimento das coisas materiais" - ( Allan Kardec).
"Que fareis, pois irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.
E, se alguém falar língua estranha, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete.
Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, fale consigo mesmo e com Deus.
E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.
Mas se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cala-se o primeiro.
Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados" - (I Corintios 14.26-31).

TODOS OS QUE LIDAM COM ESPÍRITOS SÃO ESPÍRITAS?

Sabendo-se que os Espíritos estão por toda parte e que a mediunidade é uma faculdade inerente a qualquer pessoa, é evidente que nem todos os que lidam com Espíritos são espíritas. As pessoas que assim pensam têm total desconhecimento do que é o Espiritismo.
Esse falso julgamento faz com que as pessoas tenham uma idéia errônea do que seja a Doutrina Espírita e dela se afastem sem buscar conhecê-la.

PARA SER ESPÍRITA TEM QUE RECEBER ESPÍRITOS?

Espírita é aquele que crê, estuda e segue a Doutrina Espírita. É reconhecido pelo esforço que faz em aprimorar-se dentro dos princípios cristãos, não tendo necessariamente que trabalhar com a mediunidade.
A faculdade mediúnica como missão, ou mediunato, como todas as demais faculdades, não deve ser imposta. Uma vez detectada e em acordo com o desejo do médium, deve ser desenvolvida em sessões espíritas apropriadas, com dedicação sincera e humildade, para ser verdadeiramente produtiva. O espírita pode servir em muitas outras frentes de trabalho que nada tem a ver com a mediunidade, buscando, contudo, em todas as oportunidades fazer o melhor possível.

OS ESPÍRITOS PODEM REALIZAR CIRURGIAS OU TRATAMENTOS DE CURA ATRAVÉS DE MÉDIUNS?

O funcionamento do organismo humano está subordinado a uma direção espiritual, uma vez que a saúde ou a enfermidade reflete o panorama interior do Espírito. Disso se conclui que a alma retém todos os recursos curadores definitivos.
Todos somos dotados de uma energia, um magnetismo ou fluido natural, específico, denominado fluido vital. É o princípio da vida material e pode ser de melhor ou pior qualidade dependendo da ação de nosso pensamento sobre ele. Tal fluido tem a capacidade de atuar na intimidade celular, alterando as estruturas moleculares. Fazendo parte da estrutura orgânica do ser, pode ser doado ou recebido por intermédio da nossa vontade. Algumas pessoas não têm a capacidade de secar uma planta ou adoecer uma criança através de um simples olhar mal intencionado? Outros não nos dão a sensação de bem estar apenas nos tocando ou olhando? São fenômenos naturais da emanação do fluido vital e fonte de muito conhecimento ainda obscuro no campo da ciência oficial.
Tal fluido, vindo do médium, pode ter sua capacidade voltada para a cura, quando auxiliado por um bom Espírito. Ambos podem dar-lhe um determinado fim que o faz adquirir propriedades novas, facultando-lhe a possibilidade de substituir moléculas doentes por sadias, proporcionando assim a cura das enfermidades físicas. Desta forma é que ocorrem as cirurgias ou tratamentos espirituais, que se utilizam destes fluidos com capacidade curadora através das qualidades morais que lhe são impostas.
Tais procedimentos podem ser realizados pela simples imposição das mãos, ou simplesmente do pensamento dirigido ao enfermo.
As práticas de cura mediúnica em que são utilizados instrumentos de corte e ou receitas não são recomendados, inclusive pela ilegitimidade legal das mesmas em nossa sociedade. Estas, muitas vezes legítimas, têm apenas a finalidade de promover ou despertar a atenção dos incrédulos acerca dos fenômenos espirituais.
Assim, uma grande força fluídica, aliada à soma das qualidades morais de quem a utiliza, pode operar verdadeiros prodígios sobre as enfermidades, ressaltando que a ocorrência destes está ligada ao merecimento e a fé dos enfermos.
"E ele lhe disse: Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou; vai em paz" - (Lucas 8.48).
"E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres extraordinários, a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais do seu uso pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam das suas vítimas, e os Espíritos malignos se retiravam" - (Atos, 19 - 11, 12).

O QUE É O PASSE?

O passe é uma transmissão de fluidos benéficos, com caráter assistencial e regenerador, que é aplicado pela simples imposição de mãos, dispensando qualquer contato físico entre o passista e o receptor. O passe permite a regeneração dos enfraquecidos, física ou espiritualmente. O passista detém uma grande responsabilidade, pois cabe a ele impor as mãos sobre as pessoas carentes e abençoá-las em nome do Criador. Ele não é nenhuma pessoa especial, necessita apenas ter o desejo sincero de servir e viver uma vida sadia, sem vícios e cultivando bons pensamentos.
"E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta e anda" - (Atos 3.6).
"E rogava-lhe muito dizendo: Minha filha está moribunda; rogo-te que venhas e lhe imponhas as mãos para que sare e viva. E foi com ele, e seguia-o uma grande multidão que o apertava" - (Marcos 5.23-24).
"Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios: De graça recebestes, de graça dai" - (Mateus 10.8).
"Pegarão nas serpentes, e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão" -(Marcos 16.18).
"E os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos" - (Atos 6.6).

O QUE É CENTRO ESPÍRITA E QUAIS SÃO SUAS ATIVIDADES?

Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" - (Mateus 18.20).
O Centro Espírita é uma casa religiosa onde se ensina, pratica, estuda e divulga a Doutrina Espírita. Em suas atividades estão incluídas palestras públicas, nas quais são comentados ensinamentos da Codificação Kardequiana e do Evangelho de Jesus, além de assistência espiritual e material aos necessitados.
O socorro espiritual é obtido através do atendimento individual àqueles que se encontram em aflição e desequilíbrio, com orientações e passes como fonte de regeneração e amparo. Também inclui sessões espíritas reservadas onde se lida com a mediunidade na área da desobsessão (perturbações espirituais), sem a participação dos necessitados, onde são esclarecidos e afastados Espíritos sofredores ou de corações endurecidos que porventura sejam a causa de seus problemas.
O Centro Espírita tem como objetivo primeiro, orientar as pessoas no sentido de melhorar sua qualidade de vida através da ação reeducadora da moral do Cristo. Endereçando o homem a esse entendimento, ele de forma mais ou menos rápida, poderá livrar-se das más influências e atrair as boas, que o ajudarão a seguir adiante de forma equilibrada e sadia.
Ao procurar um Centro Espírita, todos poderão receber orientação individual através de entrevistas particulares, participar de palestras públicas e receber passes. O contato com o estudo da Doutrina e com os Espíritos depende de normas rígidas e particulares de cada Centro, mas o bom senso nos diz que a disciplina e o estudo são metas que devem ser observadas com rigor para o sucesso das atividades.
O socorro material, por sua vez, considerado como uma atividade paralela, mas de grande importância, é dado através da assistência a necessitados em forma de alimentos, vestuário, abrigo, remédios, etc. Os recursos são obtidos através de uma variedade de promoções realizadas em cada Centro Espírita, como almoços, jantares, bazares beneficentes, campanhas de arrecadação de alimentos etc, evitando-se rifas, bingos e outras atividades pouco éticas.
O comportamento dos servidores e frequentadores dos Centros Espíritas se pauta na harmonia, cordialidade, desejo de servir ao próximo em nome de Jesus e dos bons Espíritos, de maneira que qualquer casa que cobrar taxa pelas orientações ou assistência não são espíritas, mesmo que mantenham uma placa na porta com essa designação.

COMO RECONHECER UM BOM CENTRO ESPÍRITA?

Nunca é demais repetir que um bom Centro Espírita é aquele que segue os preceitos da Doutrina Espírita, com orientação pautada nas obras da Codificação Kardequiana. Todo aquele que adota práticas contrárias às contidas em tais obras, que pratica atos exteriores e desprovidos de racionalidade, deve ser evitado.
O Centro Espírita, como porta-voz do Espiritismo, no seu aspecto tríplice: religioso, científico e filosófico, desenvolve suas atividades baseado no "dai de graça o que de graça recebestes", proporcionando um entendimento mais completo das leis de Deus e suas aplicações. Logo, o Centro Espírita é um local de paz, harmonia, consolo, onde ao adentrar suas portas, o homem que sofre com tantas tragédias e desequilíbrios que o atingem e à toda humanidade, inicia a formação do alicerce para uma mudança interior que o amparará racionalmente por toda a sua vida.

O QUE A DOUTRINA RECOMENDA PARA AS PESSOAS COM FÍSICOS E ESPIRITUAIS?

Recomenda que devemos nos interessar sempre por ideais nobres, ocupar nosso tempo com estudo e trabalho, praticar a caridade especialmente para com terceiros e manter a vigilância sobre nossos atos e pensamentos. A maneira segura de afastar as influências más é atrair as boas, uma vez que onde há luz não permanecem as sombras.
O próprio Codificador nos esclarece que fechar portas e janelas ou fazer uso de defumadores e velas não afasta Espíritos perturbadores. Contudo, pensamentos elevados não são alvo destes irmãos ignorantes e desocupados, que não se aproximam por faltar-lhes afinidade.
Uma postura elevada alivia os sofrimentos morais e físicos que, associada ao passe, um recurso energético de renovação, pode operar verdadeiros prodígios. As enfermidades físicas , muitas vezes, têm também causa espiritual e podem ser atenuadas ou até sanadas pela prática citada acima, porém tem seu componente orgânico que não dispensa, em hipótese alguma, um tratamento médico especializado.
Portanto, a Doutrina Espírita prima por simplicidade, conforme exorta Jesus a seus seguidores. Ao invés de fórmulas mirabolantes, amuletos, talismãs ou outra coisa qualquer, prescreve única e exclusivamente a reforma íntima como remédio. Tendo Evangelho de Jesus como código de conduta, o homem descobrirá o segredo da felicidade, vivenciando o amor a Deus e ao próximo. Levar o homem a essa descoberta é o maior bem e o maior objetivo da Doutrina Espírita.
A tratamento das enfermidades físicas e psicológicas pelos métodos espíritas não dispensam, em nenhuma circunstância, a consulta ou o tratamento médico.

QUEM FOI ALLAN KARDEC?

Allan Kardec foi o pseudônimo do homem que codificou a Doutrina Espírita. Seu nome verdadeiro era Hippolyte Léon Denizard Rivail. Usava tal pseudônimo para evitar que seu nome, já bastante conhecido nos meios literários, ficasse em evidência. Nasceu em Lion, na França, em 03 de outubro de 1804 e desencarnou subitamente em consequência de um aneurisma, em 1869 aos 65 anos de idade. Era casado, falava quatro idiomas, estudava astronomia e fenômenos ligados ao magnetismo. Estudou na escola de Pestalozzi, o pai da pedagogia moderna. Escreveu diversos livros didáticos e lecionava para alunos sem recursos financeiros.
Em certa ocasião foi convidado por um amigo de nome Fortier, para assistir a uma brincadeira de salão em evidência na época: as mesas girantes que se comunicavam através de batidas com seus pés.
Pensando tratar-se de algum fenômeno ligado ao magnetismo aceitou o convite. Após algumas sessões foi se intrigando, uma vez que, descartadas as causas conhecidas ou truques, convencia-se de que, por detrás das mensagens, havia alguma causa inteligente responsável pelos movimentos.
A causa inteligente que se manifestava dizia que os fenômenos eram provocados por Espíritos de homens que já haviam vivido no mundo. Passou a estudar o fenômeno e numa das reuniões, agora promovidas pelo próprio Kardec, um Espírito que usou o nome de Verdade, dizia que caberia ao professor desenvolver, dar corpo, codificar uma nova doutrina filosófica e religiosa.
Allan Kardec desempenhou com sucesso as obrigações de que fora incumbido, explicando todos os fenômenos de maneira racional, revivendo e reforçando os ensinamentos de Jesus e da Espiritualidade Superior.
Utilizou-se de vários médiuns diferentes, que foram cuidadosamente escolhidos, uma vez que o próprio Kardec não era médium. Fazia perguntas aos Espíritos, revisando e comparando repetidamente as respostas.
Todos os ensinamentos da Doutrina Espírita, foram reunidos em cinco obras básicas: O Livro dos Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865) e A Gênese (1868).

QUEM É CHICO XAVIER?

Trata-se de um expoente dentro do Movimento Espírita no Brasil. Nascido em 1910 e doente dos pulmões desde os doze anos de idade, dedica-se, há mais de sessenta anos, ao Espiritismo. É médium psicógrafo, recebe as mensagens de desencarnados transcrevendo-as para o papel. Já escreveu mais de 290 livros com mais de 10 milhões de exemplares vendidos, sendo os direitos autorais totalmente doados à causa Espírita.
Órfão desde os cinco anos, este Espírito missionário sofreu todos os tipos de privações, foi perseguido, caluniado, ironizado, traído, mas sempre perseverou na sua tarefa, com paciência e serenidade, que são suas marcas.
Sua obra já foi comprovada cientificamente, tanto pelo teor fidedigno das informações fornecidas por pessoas já desencarnadas que se comunicaram por seu intermédio, quanto à autenticidade das assinaturas de alguns autores das mensagens.
Sendo o escritor que mais vende no Brasil até hoje em atividade, apesar de estar muito enfermo, é um dos grandes responsáveis pela propagação do Espiritismo e tem levado o conforto e o esclarecimento a muitos que se encontram em sofrimento.

PORQUE A MAIORIA DAS PESSOAS SÓ SE TORNAM ESPÍRITAS DEPOIS DE GRANDES SOFRIMENTOS?

Os sofrimentos fragilizam as pessoas que, diante deles, buscam o consolo e o esclarecimento para seus males. Esgotados os recursos terrenos e a fé em doutrinas materialistas ilusórias e irracionais, chegam a total descrença, revoltando-se com Deus por seus próprios males.
O Espiritismo vem trazer as provas àqueles que negam ou duvidam que a alma existe, é eterna e que sobrevive ao corpo. Explica que sobre ela recaem as consequências de seus atos, que a reencarnação é a prova da justiça divina ante às aflições, entre tantos outros fundamentos esclarecedores. Assim abranda as amarguras e os desgostos da vida, acalma os desesperados e as agitações da alma, dissipa as incertezas e os temores do futuro. Por isso consola e torna felizes aqueles que nele ingressam. Aí está o grande segredo da fácil aceitação ante os sofrimentos.
Fornecendo uma explicação racional para as causas de tudo, o homem que sofre descobre que depende de si não sofrer mais, e que de acordo com sua semeadura terá boa ou má colheita. Trabalha, portanto, para sua felicidade, entendendo quem é, de onde vei e para onde vai.

POR QUE ESTÁ AUMENTANDO O NÚMERO DE ADEPTOS DO ESPIRITISMO?

O crescimento exagerado do materialismo, um sistema que ao mesmo tempo que impulsiona o desenvolvimento científico e tecnológico da humanidade, gera a competitividade selvagem e a opressão, fez com que os valores morais que equilibram o bem estar social fossem perdendo suas forças. Os povos, devido às variadas revoluções internas e externas em todos os sentidos, sofrem com a degradação da essência da vida coletiva: as leis do Evangelho. Na tentativa de conquistar adeptos entre os frágeis e carentes, as religiões e cultos se multiplicam, caminhando para um colapso dos pensamentos e crenças. As novidades acerca do que é a vida e os seus mistérios se avolumam, muitas desprovidas de qualquer base científica, lógica ou racional exacerbando a crise que precede a um esperado terceiro milênio de regeneração.
Entre as religiões, o caráter racional e consolador do Espiritismo faz com que ele se sobressaia e exerça forte influência sobre aqueles que o procuram, pois fornece-lhes o equilíbrio tão almejado, a fé provida de lógica e a esperança compreendida. Esta é a causa da sua propagação.

MAS AFINAL, O QUE É ESPIRITISMO?

O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, consiste nas relações que se pode estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações.
Segundo Allan Kardec, o Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, da origem e da destinação dos Espíritos, e das suas relações com o mundo corporal. No Brasil, organizou-se como um movimento religioso, com aproximadamente 7 mil centros espíritas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao fim desta pequena obra, esclarecemos que o seu principal objetivo foi posicionar a Doutrina Espírita no lugar que lhe é de direito, face a tantas controvérsias, confusões e preconceitos que envolve seu nome, por desconhecimento de seus fundamentos.
Não tivemos a intenção de contrariar qualquer outra crença, mesmo porque, como espíritas, acreditamos que todas têm sua utilidade e buscam a Deus. O Mestre Jesus nunca nos ensinou que devêssemos ser desta ou daquela religião, mas que conduzíssemos nossas vidas de acordo com os ensinamentos do Pai, filosofias à parte.
Eis que estamos diante do fato inegável de que o Espiritismo joga por terra o materialismo e as idéias preconceituosas que fazem dele os que se julgam donos da verdade. Ele é o Consolador Prometido por Jesus, que afugenta as dúvidas e soluciona racionalmente os dramas da existência. É uma Doutrina absolutamente séria e despojada de culto exterior. Talvez por estas e outras tantas razões vem sofrendo os ataques da intolerância que assombra todas as revoluções de idéias.
Temos consciência de que entre os que não são espíritas poucos chegarão às últimas linhas deste escrito, como são poucos os que se dispõem a analisar seriamente as idéias novas, desprovidos de preconceitos. Contudo, se entre estes poucos encontram-se alguns que queiram clarear seus Espíritos, fugindo da falsa ortodoxia dominante nos nossos tempos, estes irmãos nos serão muito caros.
Seguidores ou não do Espiritismo, ao menos comporão o rol daqueles que detém a grande responsabilidade e o prazer de respeitar seu próximo e ser chamado de verdadeiro cristão. Infelizmente, ainda restarão dúvidas a serem dissipadas. Nem mesmo tentamos esclarecer todas elas, mas deixamos, no final, uma relação de obras às quais poderão ser consultadas e examinadas cuidadosamente pelo leitor interessado em conhecê-las mais profundamente. Nos perdoem a repetitividade de algumas idéias, o que julgamos em certas ocasiões ser necessário, e que os Espíritos Superiores possam abençoar a todo homem de bem, independente de sua religião ou raça.
Sem mais, ficamos com as palavras do espírito Erasto: (Paris, 1863), quando indagado sobre como reconhecer os verdadeiros espíritas:
"Vós os reconhecereis pelos princípios, de verdadeira caridade que eles professarão; vós os reconhecereis pelo número de aflições às quais eles terão levado consolações; vós os reconhecereis pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; vós os reconhecereis enfim pelo triunfo dos seus princípios, porque Deus quer o triunfo da sua lei; aqueles que seguirem sua lei são seus eleitos e Ele lhes dará a vitória, mas esmagará aqueles que falseiam o espírito dessa lei e fazem dela um meio para satisfazer sua vaidade e sua ambição".
Fonte: Portal do Esperíto

 

Capítulo I

Pequena Conferência Espírita


Primeiro Diálogo - O Crítico

Visitante – Eu vos direi, senhor, que minha razão se recusa a admitir a realidade dos fenômenos estranhos atribuídos aos Espíritos e que, disso estou persuadido, não existem senão na imaginação. Todavia, diante da evidência, seria preciso se inclinar, e é o que farei se eu puder ter provas incontestáveis. Venho, pois, solicitar de vossa bondade a permissão para assistir somente a uma ou duas experiências, para não ser indiscreto, a fim de me convencer, se for possível.
Allan Kardec – Desde o instante, senhor, que vossa razão se recusa a admitir o que nós consideramos fatos comprovados, é que vós a credes superior à de todas as pessoas que não compartilham de vossa opinião. Eu não duvido do vosso mérito e não teria a pretensão de colocar a minha inteligência acima da vossa. Admiti, pois, que eu me engano, uma vez que é a razão que vos fala, e que esteja dito tudo.
Visitante – Todavia, se vós chegásseis a me convencer, eu que sou conhecido como um antagonista das vossas idéias, isso seria um milagre eminentemente favorável à vossa causa.
A.K. – Eu o lamento, senhor, mas não tenho o dom dos milagres. Pensais que uma ou duas sessões bastarão para vos convencer? Isso seria, com efeito, um verdadeiro prodígio. Foi-me necessário mais de um ano de trabalho para eu mesmo estar convencido, o que vos prova que, se o sou, não o foi por leviandade. Aliás, senhor, eu não dou sessões e parece que vos enganastes sobre o objetivo de nossas reuniões, já que nós não fazemos experiências para satisfazer à curiosidade de quem quer que seja.
Visitante – Não desejais, pois, fazer prosélitos?
A.K. – Por que eu desejaria fazer de vós um prosélito se vós mesmo isso não o desejais? Eu não forço nenhuma convicção. Quando encontro pessoas sinceramente desejosas de se instruírem e que me dão a honra de solicitar-me esclarecimentos, é para mim um prazer, e um dever, responder-lhes no limite dos meus conhecimentos. Quanto aos antagonistas que, como vós, têm convicções firmadas, eu não faço uma tentativa para os desviar, já que encontro bastante pessoas bem dispostas, sem perder meu tempo com as que não o são. A convicção virá, cedo ou tarde, pela força das coisas, e os mais incrédulos serão arrastados pela torrente. Alguns partidários a mais, ou a menos, no momento, não pesam na balança. Por isso, não vereis jamais zangar-me para conduzir às nossas idéias aqueles que têm tão boas razões como vós para delas se distanciarem.
Visitante – Haveria, entretanto, no meu convencimento mais interesse do que vós o credes. Quereis me permitir explicar-me com franqueza e me prometer não vos ofender com minhas palavras? São minhas idéias sobre o assunto e não sobre a pessoa à qual me dirijo; posso respeitar a pessoa sem partilhar sua opinião.
A.K. – O Espiritismo me ensinou a dar pouco valor às mesquinhas suscetibilidades do amor próprio, e a não me ofender com palavras. Se vossas palavras saírem dos limites da urbanidade e das conveniências, concluirei, com isso, que sois um homem mal educado, eis tudo. Quanto a mim, prefiro deixar aos outros os erros, ao invés de os partilhar. Vedes, só por isso, que o Espiritismo serve para alguma coisa.
Eu vos disse, senhor, não me empenho de nenhum modo em vos fazer partilhar minha opinião; respeito a vossa, se ela é sincera, como desejo que se respeite a minha. Uma vez que tratais o Espiritismo como um sonho quimérico, vindo para mim, dizíeis a vós mesmo: eu vou ver um louco. Confessai-o, francamente, isso não me melindrará. Todos os espíritas são loucos, é coisa convencionada. Pois bem, senhor, uma vez que olhais isso como uma doença mental, sentiria escrúpulo em vô-la comunicar, e eu me espanto que com um tal pensamento vós procureis adquirir uma convicção que vos colocará entre os loucos. Se estais antecipadamente persuadido de não poder ser convencido, vossa tentativa é inútil, porque não tem por objetivo senão a curiosidade. Abreviemos, pois, eu vos rogo, porque eu não teria tempo a perder em conversas sem objetivo.
Visitante – Podemos nos enganar, iludir-nos, sem por isso ser louco.
A.K. – Falai claramente: dizeis, como tantos outros, que é um capricho que tem seu tempo; mas convireis que um capricho que em alguns anos ganhou milhões de partidários em todos os países, que conta com sábios de todas as ordens, que se propaga de preferência nas classes esclarecidas, é uma singular mania que merece algum exame.
Visitante – Eu tenho minhas idéias sobre esse assunto, é verdade. Elas, porém, não são tão absolutas que eu não consinta sacrificá-las à evidência. Eu vos disse, pois, senhor, que tendes um certo interesse em me convencer. Eu vos confessarei que devo publicar um livro onde me proponho demonstrar ex-professo (sic) o que eu vejo como um erro, e como esse livro deve ter um grande alcance e atacar vivamente os Espíritos, se eu chegar a ser convencido, não o publicarei.
A.K. – Eu ficaria desolado, senhor, por vos privar do benefício de um livro que deve ter um grande alcance. Eu não tenho, de resto, nenhum interesse em vos impedir de fazê-lo, mas lhe desejo, ao contrário, uma grande popularidade, já que isso nos servirá de prospectos e de anúncios. Quando uma coisa é atacada, isso desperta a atenção; há muitas pessoas que querem ver os prós e os contras, e a crítica a faz conhecida daqueles mesmos que dela não sonhavam. É assim que a publicidade, freqüentemente, sem o querer, aproveita àqueles aos quais se quer prejudicar. A questão dos Espíritos, aliás, é tão palpitante de interesse e ela espicaça a curiosidade a um tal ponto, que basta mencioná-la à atenção para dar o desejo de aprofundá-la. (1)
(1) Depois deste diálogo, escrito em 1859, a experiência veio demonstrar largamente a justeza desta proposição.
Visitante – Então, segundo vós, a crítica não serve para nada, a opinião pública não conta para nada?
A. K. – Eu não considero a crítica como a expressão da opinião pública, mas como uma opinião individual que pode se enganar. Lede a História e vereis quantas obras-primas foram criticadas quando apareceram, o que não as impediu de permanecerem obras-primas. Quando uma coisa é má, todos os elogios possíveis não a tornarão boa. Se o Espiritismo é um erro, ele cairá por si mesmo; se é uma verdade, todas as diatribes não farão dele uma mentira. Vosso livro será uma apreciação pessoal sob o vosso ponto de vista; a verdadeira opinião pública julgará se é correta. Por isso, quererão ver e se, mais tarde, for reconhecido que vos enganastes, vosso livro será ridículo como aquele que se publicou recentemente contra a teoria da circulação do sangue, da vacina, etc.
Mas esqueci que vós deveis tratar a questão ex-professo, o que quer dizer que a haveis estudado sob todas as faces, que haveis visto tudo o que se poder ver, tudo o que se escreveu sobre a matéria, analisado e comparado as diversas opiniões; que vos encontrastes nas melhores condições para observar por vós mesmo; que vós lhe consagrastes vossas vigílias, durante anos; em uma palavra, que não negligenciastes em nada para atingir a constatação da verdade. Eu devo crer que assim o é, se sois um homem sério, porque só aquele que fez tudo isso, tem o direito de dizer que fala com conhecimento de causa.
Que pensaríeis de um homem que se erigisse em censor de uma obra literária sem conhecer literatura? De um quadro sem ter estudado pintura? É de uma lógica elementar que o crítico deva conhecer, não superficialmente, mas a fundo, aquilo de que fala, sem o que sua opinião não tem valor. Para combater um cálculo, é preciso opor-lhe outro cálculo mas, para isso, é preciso saber calcular. O crítico não deve se limitar a dizer que tal coisa é boa ou má; é preciso que ele justifique sua opinião por uma demonstração clara e categórica, baseada sobre os próprios princípios da arte ou da ciência. Como poderá fazê-lo se ignora esses princípios? Poderíeis apreciar as qualidades ou os defeitos de uma máquina se vós não conheceis a mecânica? Não, pois bem! vosso julgamento sobre o Espiritismo, que não conheceis, não teria mais valor do que o que faríeis sobre essa máquina. Seríeis a cada instante preso em flagrante delito de ignorância, porque aqueles que o estudaram, verão, conseqüentemente, que estais fora da questão; de onde se concluirá ou que não sois um homem sério ou que não sois de boa fé; em um e outro caso vos exporeis a receber desmentidos pouco lisonjeiros para vosso amor-próprio.
Visitante – É precisamente para evitar esse escolho que vim vos pedir permissão para assistir a algumas experiências.
A.K. – E pensais que isso vos bastaria para falar do Espiritismo ex-professo? Mas como poderíeis compreender essas experiências, e com mais forte razão julgá-las, se não haveis estudado os princípios que lhes servem de base? Como poderíeis apreciar o resultado, satisfatório ou não, de experiências metalúrgicas, por exemplo, se não conheceis a fundo a metalurgia? Permiti-me dizer-vos, senhor, que vosso projeto é absolutamente como se, não sabendo nem matemática, nem astronomia, fosseis dizer a um desses senhores do Observatório: Senhor, eu quero escrever um livro sobre astronomia, e além disso provar que vosso sistema é falso; mas como disso eu não sei nem a primeira palavra, deixai-me olhar uma ou duas vezes através de vossas lunetas. Isso me bastará para conhecê-la tanto quanto vós.
Não é senão por extensão que a palavra criticar é sinônimo de censurar. Em seu significado próprio, e segundo sua etmologia, ela significa julgar, apreciar. A crítica pode, pois, ser aproveitada ou desaproveitada. Fazer crítica de um livro não é necessariamente condená-lo. Aquele que empreende essa tarefa deve fazê-la sem idéias preconcebidas. Mas, se antes de abrir o livro já o condenou em seu pensamento, seu exame não pode ser imparcial.
Tal é o caso da maioria daqueles que têm falado do Espiritismo. Apenas sobre o nome formaram uma opinião e fizeram como um juiz que pronunciou uma sentença sem se dar ao trabalho de examinar o processo. Disso resultou que seu julgamento ficou sem razão e, ao invés de persuadir, provocou riso. Quanto àqueles que estudaram seriamente a questão, a maioria mudou de opinião e mais de um adversário dela tornou-se partidário, quando viu que se tratava de coisa diversa daquela em que ele acreditava.
Visitante – Falais do exame dos livros em geral. Credes que seja materialmente possível a um jornalista, ler e estudar todos os que lhe passam pelas mãos, sobretudo quando se trata de teorias novas que lhe seria preciso aprofundar e verificar? Igualmente exigirias de um impressor que lesse todas as obras que saem das suas impressoras.
A.K. – A um raciocínio tão judicioso eu não tenho nada a responder, senão que, quando não se tem tempo de fazer conscientemente uma coisa, não se deve envolver-se com ela, e que é melhor não fazer senão uma coisa bem, do que fazer dez mal.
Visitante – Não creais, senhor, que minha opinião esteja formada levianamente. Eu vi mesas girarem e baterem; pessoas que estavam supostamente escrevendo sob a influência de Espíritos; mas eu estou convencido de que havia charlatanismo.
A.K. – Quanto pagastes para ver isso?
Visitante – Nada, seguramente.
A.K. – Então eis charlatães de uma espécie singular, e que vão reabilitar a palavra. Até o presente não se viu ainda charlatães desinteressados. Se algum brincalhão maldoso quis se divertir uma vez por acaso, segue-se que as outras pessoas sejam cúmplices da fraude? Aliás, com que objetivo se tornariam cúmplices de uma mistificação? Para divertir a sociedade, direis. Eu aceito que uma vez alguém se preste a um gracejo; mas quando um gracejo dura meses e anos, é, eu creio, o mistificador que está mistificado. É provável que, pelo único prazer de fazer crer em uma coisa que se sabe ser falsa, espera-se aborrecidamente horas inteiras sobre uma mesa? O prazer não valeria o trabalho.
Antes de concluir pela fraude é preciso primeiro se perguntar qual interesse se pode ter em enganar; ora, concordareis que há posições que excluem toda suspeita de fraude; pessoas das quais só o caráter é uma garantia de probidade.
Outra coisa seria se se tratasse de uma especulação, porque a atração do lucro é uma péssima conselheira. Mas, admitindo-se mesmo que, neste último caso, um fato de manobra fraudulenta seja positivamente constatado, isso não provaria nada contra a realidade do princípio, já que se pode abusar de tudo. Do fato de que há pessoas que vendem vinhos adulterados, não se segue daí que não haveria vinho puro. O Espiritismo não é mais responsável pelos que abusam desse nome e o exploram, do que a ciência médica não o é pelos charlatães que vendem suas drogas, nem a religião pelos sacerdotes que abusam do seu ministério.
O Espiritismo, pela sua novidade e pela sua própria natureza, devia prestar-se a abuso; mas ele dá os meios de os reconhecer, definindo claramente seu verdadeiro caráter e recusando qualquer solidariedade com aqueles que o exploram ou o desviam de seu objetivo exclusivamente moral para fazer dele um ofício, um instrumento de adivinhação ou de procuras fúteis.
Desde que o próprio Espiritismo traça os limites nos quais ele se contém, precisa o que ele diz e o que não diz, o que ele pode e o que não pode, o que está ou não está em suas atribuições, o que ele aceita e o que repudia, o erro está naqueles que, não se dando ao trabalho de o estudar, julgam-no sobre as aparências; que, porque encontram saltimbancos usando o nome de Espíritas, para atrair os que passam, dirão gravemente: Eis o que é o Espiritismo. Sobre o que, em definitivo, recai o ridículo? Não é sobre o saltimbanco que faz o seu trabalho, nem sobre o Espiritismo cuja doutrina escrita desmente semelhantes assertivas, mas sobre os críticos convictos de falarem daquilo que não sabem, ou de alterarem conscientemente a verdade. Aqueles que atribuem ao Espiritismo o que está contra sua própria essência, o fazem, ou por ignorância ou deliberadamente. No primeiro caso é por leviandade, no segundo é por má fé. Neste último caso, eles se assemelham a certos historiadores que alteram os fatos históricos no interesse de um partido ou de uma opinião. Um partido se desacredita sempre pelo emprego de semelhantes meios, e falta ao seu objetivo.
Notai bem, senhor, que eu não pretendo que a crítica deva necessariamente aprovar nossas idéias, mesmo depois de as ter estudado; não censuramos de modo algum aqueles que não pensam como nós. O que é evidente para nós, pode não o ser para todo o mundo. Cada um julga as coisas pelo seu ponto de vista, e do fato mais positivo todo o mundo não tira as mesmas conseqüências. Se um pintor, por exemplo, coloca em seu quadro um cavalo branco, qualquer um poderá dizer que esse cavalo faz um mau efeito e que um preto conviria melhor: mas seu erro será dizer que o cavalo é branco se ele é preto. É o que faz a maioria dos nossos adversários.
Em resumo, senhor, cada um é perfeitamente livre para aprovar ou criticar os princípios do Espiritismo, para deduzir deles tais conseqüências boas ou más, como lhe agrade, mas a consciência impõe um dever a todo crítico sério de não dizer ao contrário do que é; ora, por isso, a primeira condição é de não falar daquilo que não se sabe.
Visitante – Retornemos, eu vos peço, às mesas moventes e falantes. Não poderia ocorrer que elas estivessem preparadas?
A.K. – É sempre a questão da boa fé à qual já respondi. Quando a fraude estiver provada eu vô-la entrego; se vós assinalardes fatos confirmados de fraude, de charlatanismo, de exploração, ou de abuso de confiança, eu os entrego à vossa fustigação, vos declarando de antemão que não lhes tomarei a defesa, porque, o Espiritismo sério é o primeiro a repudiá-los, e mencionar os abusos é ajudar a preveni-los e prestar-lhe serviço. Mas generalizar essas acusações, derramar sobre uma massa de pessoas honradas a reprovação que merecem alguns indivíduos isolados, é um abuso de um outro gênero: o da calúnia.
Admitindo, como vós o dizeis, que as mesas estivessem preparadas, seria preciso um mecanismo bem engenhoso para fazer executar movimentos e ruídos tão variados. Como não se conhece, ainda, o nome do hábil fabricante que as confecciona? No entanto, ele deveria ter uma enorme celebridade, uma vez que seus aparelhos estão espalhados nas cinco partes do mundo. É preciso convir, também, que seu procedimento é bem sutil, uma vez que se pode adaptar à primeira mesa encontrada, sem nenhum sinal exterior. Por que desde Tertuliano que, ele também, falou das mesas girantes e falantes, até o presente ninguém pôde ver o mecanismo, nem descrevê-lo?
Visitante – Eis o que vos engana. Um célebre cirurgião reconheceu que certas pessoas podem, pela contração de um músculo da perna, produzir um ruído parecido com o que vós atribuís à mesa, de onde ele concluiu que vossos médiuns se divertem às custas da credulidade.
A.K. – Então, se é um estalido do músculo, não é a mesa que está preparada. Uma vez que cada um explica essa pretendida fraude à sua maneira, isso é prova, a mais evidente, de que nem uns nem outros conhecem a verdadeira causa.
Eu respeito a ciência desse sábio cirurgião, somente que surgem algumas dificuldades na aplicação dos fatos que ele assinala às mesas falantes. A primeira, que é singular que essa faculdade, até o presente excepcional, e olhada como um caso patológico, tenha de repente se tornado tão comum. A segunda, que é preciso ter uma bem robusta vontade de mistificar para fazer estalar seu músculo durante duas ou três horas seguidas, quando isso não produz nada além da fadiga e da dor. A terceira é que não entendo como esse músculo se corresponde com as portas e paredes nas quais as pancadas se fazem ouvir. A quarta, enfim, que é preciso a esse músculo estalante uma propriedade bem maravilhosa, para fazer mover uma pesada mesa, levantá-la, abri-la, fechá-la, mantê-la suspensa sem ponto de apoio e, finalmente, quebrá-la na queda. Não se desconfiava que esse músculo tivesse tanta virtude. (Revista Espírita, junho de 1859, página 141: O músculo estalador).
O célebre cirurgião do qual falastes, estudou o fenômeno da tiptologia naqueles que o produzem? Não; ele constatou um efeito fisiológico anormal entre alguns indivíduos que jamais se ocuparam com as mesas batedoras, tendo uma certa analogia com aquele que se produz nas mesas, e, sem um exame mais amplo, concluiu, com toda a autoridade da sua ciência, que todos aqueles que fazem as mesas falarem devem ter a propriedade de fazer estalar seu músculo curto peroneiro, e que não são senão enganadores, sejam eles príncipes ou operários, façam-se pagar ou não. Ao menos estudou o fenômeno da tiptologia em todas as suas fases?
Verificou se, com a ajuda desse estalido muscular, poder-se-ia produzir todos os efeitos tiptológicos? Nada mais, sem isso estaria convencido da insuficiência do seu processo; o que não impediu de proclamar sua descoberta em pleno Instituto. Não há aqui, para um sábio, um julgamento bem sério? O que restou dele hoje? Eu vos confesso que, se tivesse que sofrer uma intervenção cirúrgica, hesitaria muito em me confiar a esse profissional, porque temeria que ele não julgasse meu mal com mais perspicácia.
Uma vez que esse julgamento é de umas das autoridades sobre as quais pareceis dever vos apoiar para abrir uma brecha no Espiritismo, isso me tranqüiliza completamente sobre a força dos outros argumentos que apresentareis, se vós não os tomardes de fontes mais autênticas.
Visitante – Todavia, vedes que a moda das mesas girantes já passou; durante um tempo foi um furor, hoje, dela não se ocupam mais. Por que isso, se é uma coisa séria?
A.K. – Porque das mesas girantes saiu uma coisa mais séria ainda; delas saiu toda uma ciência, toda uma doutrina filosófica, muito mais interessante para os homens que refletem. Quando estes não tinham mais nada para aprender vendo rodar uma mesa, dela não se ocuparam mais. Para as pessoas fúteis que não se aprofundam em nada, era um passatempo, um brinquedo e o tiveram bastante; essas pessoas não são consideradas em ciência. O período de curiosidade teve seu tempo: o da observação lhe sucedeu. O Espiritismo, então, entrou para o domínio das pessoas sérias, que não se divertem com ele, mas que se instruem. Também as pessoas que fazem dele uma coisa séria não se prestam para nenhuma experiência de curiosidade, e menos ainda para aqueles que nela viriam com pensamentos hostis. Como elas próprias não se divertem, não procuram divertir os outros; e eu sou desse número.
Visitante – Não há, todavia, senão a experiência para convencer, mesmo não tendo, no início, senão um objetivo de curiosidade. Se vós não operais senão em presença de pessoas convencidas, permiti-me dizer-vos que pregais aos convertidos.
A.K. – Uma coisa é estar convencido, outra é estar disposto a se convencer. É a estes últimos que eu me dirijo, e não àqueles que crêem humilhar sua razão vindo escutar aquilo que chamam de fantasia. Com estes eu me preocupo o menos possível. Quanto àqueles que dizem ter o desejo sincero de se esclarecer, a melhor maneira de o provar é mostrando perseverança. Se os conhece por outros sinais além do desejo de ver uma ou duas experiências: estes querem trabalhar seriamente.
A convicção não se forma senão com o tempo, por uma contínua observação feita com um cuidado particular. Os fenômenos espíritas diferem essencialmente daqueles que se apresentam nas ciências exatas: eles não se produzem à vontade. É preciso compreendê-los quando ocorrem. É vendo-os muito e por longo tempo, que se descobre uma multidão de provas que escapam ao primeiro olhar, sobretudo, quando não se está familiarizado com as condições nas quais eles podem se produzir, e ainda mais quando se leva um espírito de prevenção. Para o observador assíduo e refletido, as provas são bastante: para ele uma palavra, um fato aparentemente insignificante, pode ser um sinal de luz, uma confirmação. Para o observador superficial e de passagem, para o simples curioso, elas nada são. Eis porque eu não me presto para experiências sem resultado provável.
Visitante – Mas, enfim, é preciso um começo para tudo. O iniciante, que é uma tábula rasa, que não viu nada, mas que quer se esclarecer, como pode fazê-lo se vós, para isso, não lhe dais os meios?
A.K. – Eu faço uma grande diferença entre o incrédulo por ignorância e o incrédulo sistemático. Quando vejo em alguém disposições favoráveis, nada me custa esclarecê-lo. Mas há pessoas em que o desejo de se instruir não é senão uma aparência: com estes perde-se tempo, porque se eles não encontram imediatamente o que têm o ar de procurar, e que talvez os descontentariam encontrar, o pouco que vêem é insuficiente para destruir suas prevenções. É inútil lhes fornecer oportunidade porque elas a julgam mal e a fazem objeto de zombaria.
Àquele que deseja se instruir, direi: "Não se pode fazer um curso de Espiritismo experimental como se faz um curso de física ou de química, já que não se é jamais senhor para produzir os fenômenos à vontade, e que as inteligências que lhes são agentes, frustram freqüentemente todas as nossas previsões. O que vós poderíeis ver acidentalmente, não apresentando nenhuma continuidade, nenhuma ligação necessária, seria pouco inteligível para vós. Instruí-vos, primeiro, pela teoria; lede e meditai os livros que tratam dessa ciência; ali aprendereis seus princípios, encontrareis a descrição de todos os fenômenos, compreendereis sua possibilidade pela explicação que é dada, e pela narração de uma multidão de fatos espontâneos, dos quais podeis ter sido testemunhas sem o saber e que vos tornarão à memória. Vós vos edificareis sobre todas as dificuldades que podem se apresentar e formareis, assim, uma primeira convicção moral. Então, quando se apresentarem as circunstâncias de ver e de operar por vós mesmos, compreendereis, qualquer que seja a ordem pela qual os fatos se apresentem, porque nada vos será estranho."
Eis, senhor, o que aconselho a quem diz querer se instruir, e, pela sua resposta, é fácil de se ver se tem outra coisa além da curiosidade.



Segundo Diálogo - O Céptico

Visitante - Eu compreendo, senhor, a utilidade do estudo prévio do qual acabais de falar. Como predisposição pessoal, não sou nem pró nem contra o Espiritismo, mas o assunto, por si mesmo, excita ao mais alto grau meu interesse. No círculo dos meus conhecimentos se encontram partidários, mas, também, adversários; ouvi a esse respeito argumentos muito contraditórios. Eu me proporia submeter-vos algumas das objeções que foram feitas em minha presença, e que me parecem ter um certo valor, pelo menos para mim, que confesso minha ignorância.
Allan Kardec – Ser-me-á um prazer, senhor, responder às questões que se queira me endereçar, quando elas são feitas com sinceridade e sem prevenção, sem me iludir, entretanto, de poder resolvê-las todas. O Espiritismo é uma ciência que acaba de nascer e na qual há, ainda, muito a aprender. Seria, pois, muito presunçoso pretendendo tirar todas as dificuldades: eu não posso dizer senão daquilo que sei.
O Espiritismo toca em todos os ramos da filosofia, da metafísica, da psicologia e da moral. É um campo imenso que não se pode percorrer em algumas horas. Ora, compreendeis, senhor, que me seria materialmente impossível repetir de viva voz, e a cada um em particular, tudo o que escrevi sobre esse assunto para uso geral. Em uma séria leitura prévia, encontrar-se-á, aliás, a resposta à maioria das perguntas que vêm, naturalmente, ao pensamento. Ela tem a dupla vantagem de evitar as repetições inúteis, e de provar um desejo sério de se instruir. Se depois disso, ainda restarem dúvida ou pontos obscuros, a sua explicação torna-se mais fácil, porque se apóia sobre alguma coisa e não se perde tempo em retornar sobre os princípios mais elementares. Se o permitirdes, nós nos limitaremos, pois, até nova ordem, a algumas questões gerais.
Visitante – Seja. Eu vos peço me chamar à ordem se delas me afastar.



Espiritismo e Espiritualismo

Eu vos perguntaria, primeiro, que necessidade haveria de criar as palavras novas de espírita, Espiritismo para substituir as de Espiritualismo, espiritualista, que estão na linguagem popular e compreendidas por todo o mundo? Já ouvi alguém tratar essas palavras de barbarismos.
A.K. – A palavra espiritualista, desde muito tempo, tem uma significação bem definida; é a Academia que no-la dá: ESPIRITUALISTA é aquele ou aquela cuja doutrina é oposta ao materialismo. Todas as religiões, necessariamente, estão baseadas no Espiritualismo. Quem crê haver em nós outra coisa além da matéria, é espiritualista, o que não implica na crença nos Espíritos e nas suas manifestações. Como vós o distinguiríeis daquele que o crê? Precisar-se-ia, pois, empregar uma perífrase e dizer: é um espiritualista que crê, ou não crê, nos Espíritos. Para as coisas novas, é preciso palavras novas, se se quer evitar equívocos. Se eu tivesse dado à minha REVISTA a qualificação de Espiritualista, não lhe teria de, modo algum, especificado o objeto, porque, sem faltar ao meu título, poderia não dizer uma palavra sobre os Espíritos e mesmo combatê-los. Eu li, há algum tempo em um jornal, a propósito de uma obra filosófica, um artigo onde se dizia que o autor o havia escrito sob o ponto de vista espiritualista. Ora, os partidários dos Espíritos ficariam singularmente desapontados se, na confiança dessa indicação, tivessem acreditado nela encontrar a menor concordância com suas idéias. Portanto, se adotei as palavras Espírita e Espiritualismo, é porque elas exprimem, sem equívoco, as idéias relativas aos Espíritos. Todo espírita é, necessariamente, espiritualista, sem que todos os espiritualistas sejam espíritas. Fossem os Espíritos uma quimera e seria ainda útil existirem termos especiais para aquilo que lhes concerne, porque são necessárias palavras para as idéias falsas como para as idéias verdadeiras.
Essas palavras não são, aliás, mais bárbaras que todas aquelas que as ciências, as artes e a indústria criam cada dia. Elas não o são, seguramente, mais que as que Gall imaginou para sua nomenclatura das faculdades, tais como: secrétivité, amativité, combativité, alimentivité, affectionivité, etc. Há pessoas que, por espírito de contradição, criticam tudo que não provém delas e desejam aparentar oposição; aqueles que levantam tão miseráveis contestações capciosas, não provam senão uma coisa: a pequenez de suas idéias. Prender-se a semelhantes bagatelas é provar que se tem pouco de boas razões.
Espiritualismo, espiritualista, são as palavras inglesas empregadas nos Estados Unidos desde o início das manifestações: delas se serviu, primeiro, por algum tempo, na França. Mas, desde que apareceram as palavras espírita e Espiritismo, compreendeu-se tão bem sua utilidade, que foram imediatamente aceitas pelo público. Hoje o uso delas é de tal modo consagrado, que os próprios adversários, os que primeiro as apregoaram de barbarismo, não empregam outras. Os sermões e as pastorais que fulminam contra o Espiritismo e os espíritas, não poderiam, sem confundir as idéias, lançar anátema sobre o Espiritualismo e os espiritualistas.
Bárbaras ou não, essas palavras doravante passaram para a linguagem popular e em todas as línguas da Europa. Só elas são empregadas em todas as publicações, pró ou contra, feitas em todos os países. Elas formaram o sustentáculo da nomenclatura da nova ciência; para exprimir os fenômenos especiais dessa ciência, foram precisos termos especiais. O Espiritismo tem, de hoje em diante, sua nomenclatura, como a química tem a sua (1)
(1) Essas palavras, aliás, hoje têm direito de burguesia, pois estão no suplemento do Petit Dictionnaire des Dictionnaires Français, extraído de Napoleón Landais, obra que se tira em vinte mil exemplares. Nela se encontra a definição e a etimologia das palavras: erraticidade, medianímico, médium, mediunidade, perispírito, pneumatografia, pneumatofonia, psicográfico, psicografia, psicofonia, reencarnação, sematologia, espírita, Espiritismo, estereorito, tiptologia. Elas se encontram igualmente, com todo o desenvolvimento que comportam, na nova edição do Dictionnaire Universel de Maurice Lachâtre.
As palavras Espiritualismo e espiritualista, aplicadas às manifestações dos Espíritos, não são mais empregadas hoje, senão pelos adeptos da escola dita americana.



Dissidências

Visitante – Essa diversidade na crença do que chamais uma ciência, me parece ser a sua condenação. Se essa ciência repousasse sobre fatos positivos, não deveria ser a mesma na América como na Europa?
A.K. – A isso eu responderei primeiro que essa diferença está mais na forma que no fundo. Ela não consiste, na realidade, senão na maneira de encarar alguns pontos da doutrina, mas não constitui um antagonismo radical nos princípios, como afetam em dizer nossos adversários, sem haverem estudado a questão.
Mas, dizei-me qual é a ciência que, em seu início, não suscitou dissidências até que seus princípios estivessem claramente estabelecidos? Não existem dissidências, ainda hoje, nas ciências melhor constituídas? Todos os sábios estão de acordo sobre o mesmo princípio? Não têm eles seus sistemas particulares? As sessões do Instituto apresentam sempre o quadro de um entendimento perfeito e cordial? Em medicina não há a Escola de Paris e a de Montpellier? Cada descoberta, em uma ciência, não é ocasião de um cisma entre os que querem avançar e os que querem manter-se atrás?
No que concerne ao Espiritismo, não é natural que, na aparição dos primeiros fenômenos, quando se ignoravam as leis que os regiam, cada um tenha dado seu sistema particular e os examinado à sua maneira? Em que se tornaram todos esses sistemas primitivos isolados? Eles ruíram diante de uma observação mais completa dos fatos. Alguns anos bastaram para estabelecer a unidade grandiosa que prevalece hoje na doutrina e que reúne a imensa maioria dos adeptos, salvo algumas individualidades que, aqui como em todas as coisas, se agarram às idéias primitivas e morrem com elas. Qual a ciência, qual a doutrina filosófica ou religiosa que oferece um semelhante exemplo? O Espiritismo jamais apresentou a centésima parte das divisões que afligiram a Igreja durante vários séculos, e que a dividem ainda hoje.
É verdadeiramente curioso ver as puerilidades às quais se fixam os adversários do Espiritismo; isso não indica a falta de razões sérias? Se as tivessem, eles não deixariam de as apresentar. Que lhe opõem? Zombarias, negações, calúnias, mas, argumentos peremptórios, nenhum. A prova de que não encontraram um lado vulnerável é que nada detém sua marcha ascendente, e que depois de dez anos ele conta mais adeptos do que jamais o contou nenhuma seita depois de um século. Esse é um fato tirado da experiência e reconhecido pelos próprios adversários. Para o arruinar, não basta dizer: isto não existe, isso é um absurdo. Precisar-se-ia provar categoricamente que os fenômenos não existem e não podem existir. E é isso o que ninguém fez.



Fenômenos espíritas simulados

Visitante – Não se provou que fora do Espiritismo poder-se-ia produzir esses mesmos fenômenos? Pode-se concluir, daí, que eles não têm a origem que lhe atribuem os espíritas.
A.K. – Do fato de se poder imitar uma coisa, não se segue que ela não existe. Que diríeis da lógica daquele que pretendesse que, porque se faz vinho da Champagne com água de Seltz, todo o vinho de Champagne não é senão de água de Seltz? É privilégio de todas as coisas que têm ressonâncias, produzir falsificações. Os prestidigitadores pensaram que o nome do Espiritismo, devido à sua popularidade e as controvérsias das quais era objeto, poderia ser bom para explorar, e, para atrair a multidão, simularam mais ou menos grosseiramente, alguns fenômenos mediúnicos, como recentemente simularam a clarividência sonambúlica, e todos os escarnecedores, aplaudindo, exclamaram: eis o que é o Espiritismo! Quando a engenhosa produção dos espectros apareceu em cena, não proclamaram por toda parte que era seu golpe de misericórdia? Antes de pronunciarem uma sentença tão positiva, deveriam refletir que as assertivas de um escamoteador não são palavras do Evangelho, e se assegurarem de que haveria identidade real entre a imitação e a coisa imitada. Ninguém compra um brilhante sem antes se assegurar de que não é uma imitação. Um estudo não muito sério os teria convencido de que os fenômenos espíritas se apresentam em outras condições e teriam sabido, além disso, que os espíritas não se ocupam nem em fazer aparecer espectros, nem em adivinhações.
Só a malevolência e uma notável má fé puderam assemelhar o Espiritismo à magia e à feitiçaria, uma vez que ele repudia o objetivo, as práticas, fórmulas e as palavras místicas. Há mesmo os que não temem comparar as reuniões espíritas às assembléias do sabbat, onde se espera a hora fatal de meia-noite para fazer aparecerem os fantasmas.
Um espírita, meu amigo, encontrava-se um dia em uma representação de Macbeth, ao lado de um jornalista que não conhecia. Quando chegou a cena das feiticeiras, ele ouviu este último dizer ao seu vizinho: "Olha! vamos assistir a uma sessão de Espiritismo. É justamente isso o que preciso para meu próximo artigo. Eu vou saber como as coisas se passam. Se houvesse aqui um desses loucos eu lhe perguntaria se ele se reconhece nesse quadro." - "Eu sou um desses loucos, disse-lhe o espírita, e posso vos certificar que não me reconheço inteiramente, porque embora já tenha assistido a centenas de reuniões espíritas, jamais vi nelas nada semelhante. Se é aqui onde vindes haurir informações para vosso artigo, ele não se distinguirá pela verdade."
Muitos críticos não têm base mais séria. Sobre quem cai o ridículo senão sobre aqueles que se adiantam estouvadamente? Quanto ao Espiritismo, seu crédito, longe de sofrer com isso, tem aumentado pela ressonância que todas essas manobras lhe deram, chamando a atenção de uma multidão de pessoas que dele não haviam ouvido falar, provocando seu exame e aumentando o número de adeptos, porque se reconheceu que ao invés de uma brincadeira, ele era uma coisa séria.

Fonte: Portal do Espírito

Impotência dos detratores

Visitante – Eu concordo que entre os detratores do Espiritismo há pessoas inconseqüentes, como esta de que acabais de falar; mas, ao lado destas, não há homens de um valor real e cuja opinião é de um certo peso?
A.K. – Eu não o contesto de modo algum. A isso respondo que o Espiritismo conta também em suas fileiras com um bom número de homens de um valor não menos real. Eu digo mais: que a imensa maioria dos espíritas se compõem de homens inteligentes e estudiosos. Só a má fé poder dizer que eles são recrutados entre os incautos e os ignorantes.
Um fato peremptório responde, aliás, a esta objeção: é que malgrado seu saber ou sua posição oficial, ninguém conseguiu deter a marcha do Espiritismo. Todavia, não há entre eles um só, desde o mais medíocre folhetinista, que não esteja se vangloriando de lhe vibrar o golpe mortal. Todos, sem exceção, ajudaram, sem o querer, a vulgarizá-lo. Uma idéia que resiste a tantos esforços, que avança sem tropeço através da fúria dos golpes que lhe dão, não prova sua força e a profundidade de suas raízes? Esse fenômeno não merece atenção dos pensadores sérios? Outros também se dizem hoje que ele deve ter alguma coisa, que pode ser um desses grandes e irresistíveis movimentos, que, de tempos em tempos, comovem as sociedades para transformá-las.
Assim o foi sempre com todas as idéias novas chamadas a revolucionarem o mundo. Elas encontram obstáculos, porque têm que lutar contra os interesses, os preconceitos, os abusos que elas vêm derrubar. Mas como estão nos desígnios de Deus, para cumprir a lei do progresso da Humanidade, quando a hora é chegada, nada saberia detê-las. É a prova de que elas são a expressão da verdade.
Essa impotência dos adversários do Espiritismo prova, primeiro, como eu o disse, a ausência de boas razões, uma vez que aqueles que se lhe opõem não convencem; ela, porém, se prende a uma outra causa que frustra todas as suas combinações. Espantam-se com o seu progresso, malgrado tudo o que fazem para detê-lo; ninguém lhe encontra a causa, porque a procuram onde ela não está. Uns a vêem na força do diabo, que se mostraria assim mais forte que eles, e mesmo que Deus, outros, no desenvolvimento da loucura humana. O erro de todos é crer que a fonte do Espiritismo é única, e que repousa sobre a opinião de um homem; daí a idéia de que arruinando a opinião desse homem, arruinarão o Espiritismo. Eles procuram essa fonte sobre a Terra, enquanto ela está no espaço; ela não está num lugar determinado, está por toda parte, porque os Espíritos se manifestam por toda parte, em todos os países, no palácio como na choupana. A verdadeira causa está, pois, na própria natureza do Espiritismo que não recebe seu impulso de uma pessoa só, mas que permite a cada um receber diretamente comunicações dos Espíritos e se assegurar assim da realidade dos fatos. Como persuadir a milhões de indivíduos que tudo isso não é senão malabarismo, charlatanismo, destreza, quando são eles mesmos que obtêm esses resultados sem o concurso de ninguém? Se lhes fará crer que são seus próprios companheiros que fazem charlatanismo e escamoteação só para eles?
Essa universalidade das manifestações dos Espíritos que vêm a todos os pontos do globo, vem dar um desmentido aos detratores e confirmar os princípios da doutrina; é uma força que não pode ser compreendida por aqueles que não conhecem o mundo invisível, da mesma forma que aqueles que não conhecem a lei da eletricidade não podem compreender a rapidez da transmissão de um telegrama. É contra essa força que vêm se quebrar todas as negações, porque é como se se dissesse às pessoas que recebem os raios do sol, que o sol não existe.
Abstração feita das qualidades da doutrina, que satisfaz mais do que aquelas que se lhe opõem, aí está a causa dos fracassos daqueles que tentam deter-lhe a marcha. Para terem sucesso seria preciso que encontrassem um meio de impedir os Espíritos de se manifestarem. Eis porque os espíritas tomam tão pouco cuidado com as suas manobras; eles têm a experiência e a autoridade dos fatos.



O maravilhoso e o sobrenatural

Visitante – O Espiritismo, evidentemente, tende a reviver as crenças fundadas sobre o maravilhoso e o sobrenatural. Ora, no nosso século de positivismo, isso me parece difícil, porque é recomendar superstições e erros populares já julgados pela razão.
A.K. – Uma idéia não é supersticiosa senão porque ela é falsa; ela cessa de sê-lo desde o momento em que é reconhecida verdadeira. A questão, pois, é saber se há, ou não, manifestações de Espíritos. Ora, vós não podeis taxar a coisa de supersticiosa visto que não haveis provado que ela não existe. Direis: minha razão as recusa; mas todos aqueles que nelas crêem, e que não são tolos, invocam também sua razão, e mais, invocam os fatos. Qual das duas razões deve prevalecer? O grande juiz, aqui, é o futuro, como o foi em todas as questões científicas e industriais taxadas de absurdas e impossíveis em sua origem. Vós julgais a priori segundo vossa opinião. Nós não julgamos senão depois de ter visto e observado durante muito tempo. Acrescentamos que o Espiritismo esclarecido, como o é hoje, tende, ao contrário, a destruir as idéias supersticiosas porque ele mostra aquilo que há de verdadeiro e de falso nas crenças populares, e tudo aquilo que a ignorância e os preconceitos nela introduziram de absurdo.
Eu vou mais longe e digo que é precisamente o positivismo do século que faz aceitar o Espiritismo e a ele é que deve sua rápida propagação, e não, como alguns o pretendem, a uma recrudescência do amor ao maravilhoso e ao sobrenatural. O sobrenatural desaparece diante da luz da ciência, da filosofia e da razão, como os deuses do paganismo desapareceram diante da luz do Cristianismo.
O sobrenatural é o que está fora das leis da Natureza. O positivismo não admite nada fora dessas leis; mas as conhece todas? Em todos os tempos, os fenômenos cuja causa era desconhecida foram reputados sobrenaturais; cada nova lei descoberta pela Ciência recuou os limites do sobrenatural. Pois bem! o Espiritismo vem revelar uma lei segundo a qual a conversação com o Espírito de um morto repousa sobre uma lei tão natural como aquela que permite à eletricidade estabelecer contacto entre dois indivíduos a quinhentas léguas de distância; e assim todos os outros fenômenos espíritas. O Espiritismo repudia, no que lhe concerne, todo efeito maravilhoso, quer dizer, fora das leis da Natureza. Ele não faz nem milagres, nem prodígios, mas explica, em virtude de uma lei, certos efeitos reputados até hoje como milagres e prodígios, e por isso mesmo demonstra sua possibilidade. Amplia assim o domínio da Ciência, e é nisso que ele próprio é uma ciência. Mas a descoberta dessa nova lei, ocasionando conseqüências morais, a codificação dessas conseqüências fez dele uma doutrina filosófica.
Neste último ponto de vista ele responde às aspirações do homem, no que diz respeito ao futuro, sobre bases positivas e racionais e é por isso que ele convém ao Espírito positivista do século. É o que vós compreendereis quando vos derdes ao trabalho de estudá-lo. (O Livro dos Médiuns, cap. II - Revista Espírita, dezembro de 1861, página 393, e janeiro de 1862, página 21 – Veja-se também, adiante, o cap. II).



Oposição da Ciência

Visitante – Vós dizeis que vos apoiais sobre fatos; mas se vos opõe a opinião dos sábios que os contestam ou que os explicam de maneira diversa da vossa. Por que eles não encamparam o fenômeno das mesas girantes? Se eles tivessem visto nelas alguma coisa de sério, não teriam, me parece, negligenciado de fatos tão extraordinários, e ainda menos de os repelir com desdém, ao passo que eles estão todos contra vós. Os sábios não são o farol das nações e seu dever não é de espalhar a luz? Por que quereríeis que eles a tivessem abafado, quando se lhes apresentava uma tão bela ocasião de revelar ao mundo uma força nova?
A.K. – Acabais de traçar o dever dos sábios de um modo admirável; pena que o tenham olvidado em mais de uma circunstância. Mas antes de responder a esta judiciosa observação, eu devo revelar um erro grave que vós haveis cometido, dizendo que todos os sábios estão contra nós. Como já disse, é precisamente na classe esclarecida que o Espiritismo faz mais prosélitos, e isso em todos os países do mundo. Eles se contam, em grande número, entre os médicos de todas as nações, e são homens de Ciência. Os magistrados, os professores, os artistas, os homens de letras, os oficiais, os altos funcionários, os grandes dignitários, os eclesiásticos, etc., que se alinham sob sua bandeira, todos são pessoas às quais não se pode recusar uma certa dose de luz. Não há sábios senão na ciência oficial e nos corpos constituídos?
Do fato de o Espiritismo não ter ainda direito de cidadania na ciência oficial é motivo para condená-lo? Se a Ciência não tivesse jamais se enganado, aqui sua opinião poderia pesar na balança; infelizmente, a experiência prova o contrário. Não foram rejeitadas como quimeras uma multidão de descobertas que, mais tarde, ilustraram a memória de seus autores? Não foi a um relatório de nosso primeiro corpo de sábios que deve a França ter sido privada da iniciativa do vapor? Quando Fulton veio ao campo de Bolonha apresentar seu sistema a Napoleão I, que o recomendou ao exame imediato do Instituto, este não concluiu que esse sistema era um sonho impraticável e não tinham tempo para com ele se ocupar? É preciso concluir que os membros do Instituto são ignorantes? Isso justifica os epítetos triviais, e de mau gosto, que certas pessoas se comprazem em lhes prodigalizar? Seguramente que não; não há pessoa sensata que não renda justiça ao seu eminente saber, embora reconhecendo que eles não são infalíveis e que, assim, seu julgamento não é o de última instância, sobretudo em fatos de idéias novas.
Visitante – Eu admito perfeitamente que eles não são infalíveis; mas não é menos verdadeiro que, em razão do seu saber, sua opinião tem algum valor, e se os tivésseis convosco isso daria um grande peso ao vosso sistema.
A.K. – Vós admitis também que cada um não é bom juiz senão naquilo que é da sua competência. Se quereis construir uma casa, procurais um músico? Se estivésseis doente, vos faríeis cuidar por um arquiteto? Se tivésseis um processo, procuraríeis a opinião de um dançarino? Enfim, se se trata de uma questão de teologia, a fareis resolver por um químico ou um astrônomo? Não; cada um em seu trabalho. As ciências vulgares repousam sobre as propriedades da matéria que se pode manipular à vontade, e os fenômenos que ela produz têm por agentes as forças materiais. Os do Espiritismo têm por agentes inteligências independentes, que têm seu livre arbítrio e não estão submetidas aos nossos caprichos. Eles escapam, assim, aos nossos procedimentos de laboratório e aos nossos cálculos e, desde então, não são mais da alçada da Ciência propriamente dita.
A ciência, pois, enganou-se quando quis experimentar os Espíritos como uma pilha voltaica; ela fracassou, e assim deveria sê-lo porque usou uma analogia que não existe. Depois, sem ir mais longe, ela concluiu pela negativa. Julgamento temerário que o tempo se encarrega, todos os dias, de reformar, como reformou muitos outros, e aqueles que o tiverem pronunciado, passarão pela vergonha de se inscreverem, muito levianamente, por falsearem contra o poder infinito do Criador.
As corporações científicas não têm, e não terão jamais, que se pronunciar sobre a questão; ela não é mais da sua alçada que a de decretar se Deus existe, ou não. Portanto, é um erro fazer delas juízes. O Espiritismo é uma questão de crença pessoal que não pode depender do voto de uma assembléia, porque esse voto, mesmo favorável, não pode forçar as convicções. Quando a opinião pública estiver formada a esse respeito, os sábios, como indivíduos, a aceitarão, e suportarão a força das coisas. Deixai passar uma geração e, com ela, os preconceitos do amor-próprio em que se obstina, e vereis que ocorrerá com o Espiritismo como ocorreu com tantas outras verdades antes combatidas, e que agora seria ridículo pô-las em dúvidas. Hoje são aos crentes que se chama de loucos; amanhã serão todos os que não creiam; da mesma forma como se chamou de loucos outrora, aqueles que criam que a Terra girava.
Mas todos os sábios não julgaram da mesma forma, e por sábios eu entendo os homens de estudo e de ciência, com ou sem título oficial. Muitos fizeram o seguinte raciocínio:
"Não há efeito sem causa, e os mais vulgares efeitos podem conduzir ao caminho dos maiores problemas. Se Newton tivesse desprezado a queda de uma maçã; se Galvani tivesse menosprezado sua criada, tratando-a de louca e visionária quando ela lhe falou das rãs que dançavam no prato, talvez estivessem ainda por serem descobertas a admirável lei da gravitação universal e as fecundas propriedades da pilha. O fenômeno que se designa sob o nome burlesco de dança das mesas, não é mais ridículo que o da dança das rãs, e talvez encerre, também, um desses segredos que revolucionam a Humanidade quando se tem sua chave".
Disseram ainda, por outro lado: "Uma vez que tantas pessoas deles se ocupam, uma vez que homens sérios deles fizeram um estudo, é preciso que haja aí alguma coisa. Uma ilusão, se se quer, não pode ter caráter de generalidade. Ela pode seduzir um círculo, uma comunidade, mas não o mundo todo. Guardemo-nos, pois, de negar a possibilidade do que não compreendemos sob pena de receber, cedo ou tarde, um desmentido que não fará o elogio da nossa perspicácia."
Visitante – Muito bem, eis um sábio que raciocina com sabedoria e prudência e, sem ser sábio, penso como ele. Mas anotai que não afirma nada: ele duvida. Ora, sobre o que basear a crença na existência dos Espíritos e, sobretudo, na possibilidade de comunicação com eles?
A.K. – Essa crença se apóia sobre o raciocínio e sobre os fatos. Eu mesmo não a adotei senão depois de um maduro exame. Tendo adquirido, nos estudos das ciências exatas, o hábito das coisas positivas, eu sondei, perscrutei essa nova ciência em seus detalhes mais ocultos. Eu quis conhecer tudo, porque não aceito uma idéia senão quando lhe conheço o porquê e o como. Eis o raciocínio que me fez um sábio médico, outrora incrédulo, e hoje adepto fervoroso:
"Diz-se que os seres invisíveis se comunicam; e por que não? Antes da invenção do microscópio, supunha-se a existência desses bilhões de animálculos que causam tantos prejuízos na economia? Onde está a impossibilidade material de que haja no espaço seres que escapam aos nossos sentidos? Teríamos por acaso a ridícula pretensão de tudo saber e de dizer a Deus que ele nada mais nos pode ensinar? Se esses seres invisíveis que nos cercam são inteligentes, por que não se comunicariam conosco? Se eles estão em relação com os homens, devem desempenhar um papel na vida, nos acontecimentos. Quem sabe? pode ser uma das forças da Natureza, uma dessas forças ocultas que não supúnhamos existir. Que novo horizonte isso abriria ao pensamento! Que vasto campo de observação! A descoberta do mundo dos seres invisíveis seria diversa da dos infinitamente pequenos; isso seria mais que uma descoberta, seria uma revolução nas idéias. Que luz pode dela jorrar! quantas coisas misteriosas seriam explicadas! Aqueles que crêem nisso, são ridicularizados; mas o que isso prova? Não ocorreu o mesmo com todas as grandes descobertas? Cristóvão Colombo não foi repelido, coberto de desgostos e tratado como insensato? Essas idéias, diz-se, são tão estranhas que nelas não se pode crer. Mas, àquele que tivesse dito, há somente meio século, que em alguns minutos poder-se-ia corresponder de uma parte à outra do mundo; que em algumas horas, atravessar-se-ia a França; que com o vapor de um pouco de água fervente um navio avançaria contra o vento; que se tiraria da água os meios de se iluminar e aquecer; que tivesse proposto iluminar toda Paris em um instante com um só reservatório de uma substância invisível, teria sido caçoado. É, pois, uma coisa mais prodigiosa que o espaço seja povoado por seres pensantes que, depois de terem vivido sobre a Terra, deixaram seus envoltórios materiais? Não se encontra nesse fato a explicação de uma multidão de crenças que remontam à mais alta antigüidade? Semelhantes coisas bem que valem a pena serem aprofundadas."
Eis as reflexões de um sábio, mas de um sábio sem pretensão, e que também o são de uma multidão de homens esclarecidos que viram, não superficialmente e com prevenção, e estudaram seriamente sem tomarem partido, mas que tiveram a modéstia de não dizer: eu não compreendo, portanto, isso não é verdade. Sua convicção formou-se pela observação e pelo raciocínio. Se essas idéias fossem quiméricas, pensais que todos esses homens de elite as teriam adotado? que tivessem estado muito tempo vítima de uma ilusão?
Não há, pois, impossibilidade material à existência de seres invisíveis para nós e povoando o espaço, e só essa consideração deveria levar a uma maior circunspecção. Há pouco tempo, quem poderia pensar que uma gota de água límpida poderia encerrar milhares de seres de uma pequenez que confunde nossa imaginação? Ora, eu digo que era mais difícil à razão conceber seres de uma tal pequenez, providos de todos os nossos órgãos e funcionando como nós, que admitir aqueles que nós nomeamos Espíritos.
Visitante – Sem dúvida; mas do fato de uma coisa ser possível, não se segue que ela exista.
A.K. – De acordo; mas convireis que já é uma grande coisa desde que ela não é impossível, porque não tem nada que repugne à razão. Resta, pois, constatá-la pela observação dos fatos. Essa observação não é nova: a História, tanto sacra como profana, prova a antigüidade e a universalidade dessa crença, que se perpetuou através de todas as vicissitudes do mundo, e se encontra entre os povos mais selvagens, no estado de idéias inatas e intuitivas, gravadas no pensamento, como a do Ser Supremo e da existência futura. O Espiritismo, portanto, não é criação moderna, muito longe disso; tudo prova que os antigos o conheciam tão bem e talvez melhor que nós. Somente ele não foi ensinado senão com precauções misteriosas que o tornaram inacessível ao vulgo, deixado propositadamente na difícil situação supersticiosa.
Quanto aos fatos, eles são de duas naturezas: espontâneos e provocados. Entre os primeiros, é preciso situar as visões e aparições, que são muito freqüentes; os ruídos, barulhos e movimentação de objetos sem causa material, e uma multidão de efeitos insólitos que se considerava como sobrenaturais, e que, hoje, nos parecem muito simples, porque, para nós, não há nada de sobrenatural uma vez que tudo se esconde nas leis imutáveis da Natureza. Os fatos provocados são aqueles que se obtêm por intermédio dos médiuns.



Falsas explicações dos fenômenos


Alucinação – Fluido magnético – Reflexo do pensamento – Superexcitação cerebral – Estado sonambúlico dos médiuns.
Visitante – É contra os fenômenos provocados que se exerce, sobretudo, a crítica. Coloquemos de lado toda suposição de charlatanismo, e admitamos uma inteira boa-fé; não se poderia pensar que eles próprios são joguetes de uma alucinação?
A.K. – Não é do meu conhecimento que se tenha, ainda, explicado claramente o mecanismo da alucinação. Tal como é entendida, é, todavia, um efeito muito singular e digno de estudo. Como, pois, aqueles que, através dela, pretendem explicar os fenômenos espíritas não podem explicitar sua explicação? Aliás, há fatos que escapam a essa hipótese: quando uma mesa, ou um outro objeto, se move, se eleva ou bate; quando ela passeia à vontade num quarto sem o contacto de alguém; quando ela se desprende do solo e se sustém no espaço, sem ponto de apoio; enfim, quando ela se quebra caindo, certamente isso não é uma alucinação. Supondo-se que o médium, por um efeito de sua imaginação, creia ver o que não existe, é provável que todo um grupo esteja tomado da mesma vertigem? que se repita por todos os lados, em todos os países? A alucinação, nesse caso, seria mais prodigiosa que o fato.
Visitante – Admitindo-se a realidade do fenômeno das mesas girantes e batedoras, não é mais racional atribuí-lo à ação de um fluido qualquer, o fluido magnético por exemplo?
A.K. – Tal foi o primeiro pensamento e eu o tive como tantos outros. Se os efeitos tivessem se limitado aos efeitos materiais, ninguém duvida que poder-se-ia explicar assim. Mas quando esses movimentos e golpes deram provas de inteligência, quando se reconheceu que respondiam ao pensamento com inteira liberdade, tirou-se esta conseqüência: se todo efeito tem causa, todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. É isso o efeito de um fluido, a menos que se diga que esse fluido é inteligente? Quando vedes o manipulador do telégrafo fazer os sinais que transmitem o pensamento, sabeis bem que não são esses braços de madeira ou de ferro que são inteligentes, mas dizeis que uma inteligência os faz mover. Ocorre o mesmo com a mesa. Há, sim ou não, efeitos inteligentes? Esta é a questão. Aqueles que a contestam, são pessoas que não puderam ver tudo e se apressam em concluir segundo suas próprias idéias e sobre uma observação superficial.
Visitante – A isso responde-se que se há um efeito inteligente ele não é outra coisa senão a própria inteligência, seja do médium, seja do interrogante, seja dos assistentes; porque, diz-se, a resposta está sempre no pensamento de alguém.
A.K. – Isso é ainda um erro, conseqüente de uma falsa observação. Se aqueles que assim pensam tivessem se dado ao trabalho de estudar o fenômeno em todas as suas fases, teriam, a cada passo, reconhecido a independência absoluta da inteligência que se manifesta. Como essa tese poderia se conciliar com respostas que estão fora da capacidade intelectual e de instrução do médium? que contradizem suas idéias, seus desejos, suas opiniões, ou que confundem completamente as previsões dos assistentes? de médiuns que escrevem em um idioma que não conhecem, ou em seu próprio idioma, quando eles não sabem nem ler nem escrever? Essa opinião, à primeira vista, não tem nada de irracional, eu convenho, porém, ela é desmentida pelos fatos de tal modo numerosos e concludentes, dos quais não é mais possível duvidar.
De resto, admitindo-se mesmo essa teoria, o fenômeno, longe de ser simplificado, seria bem mais prodigioso. Ora, o pensamento se refletiria sobre uma superfície como a luz, o som e o calor? Na verdade, haveria nisso motivo para exercer a sagacidade da ciência. Aliás, o que se adicionaria ainda ao maravilhoso, é que, sobre vinte pessoas reunidas, seria precisamente o pensamento de tal ou tal que seria refletido, e não o pensamento de tal outra. Um semelhante sistema é insustentável. É verdadeiramente curioso ver os contraditores se esforçarem em procurar causas cem vezes mais extraordinárias e difíceis de compreender do que as que se lhes fornece.
Visitante – Não se poderia admitir, segundo a opinião de alguns, que o médium está em um estado de crise e goze de uma lucidez que lhe dá uma percepção sonambúlica, uma espécie de dupla vista, o que explicaria a extensão momentânea das faculdades intelectuais? Por que, diz-se, as comunicações obtidas pelo médium não ultrapassam a importância daqueles que se obtêm pelos sonâmbulos?
A.K. – É isso, ainda, um desses sistemas que não suporta um exame aprofundado. O médium não está em crise, nem em sono, mas perfeitamente desperto, agindo e pensando como todo o mundo, sem nada ter de extraordinário. Certos efeitos particulares puderam dar lugar a esse equívoco. Mas, qualquer um que não se limite a julgar as coisas por um único aspecto, reconhecerá, sem esforço, que o médium é dotado de uma faculdade particular que não permite confundi-lo com o sonâmbulo, e a completa independência do seu pensamento é provada por fatos da máxima evidência. Abstração feita das comunicações escritas, qual é o sonâmbulo que fez brotar um pensamento de um corpo inerte? que produziu aparições visíveis e mesmo tangíveis? que pode manter um corpo pesado no espaço sem ponto de apoio? Foi por um efeito sonambúlico que um médium desenhou, um dia, para mim, em presença de vinte testemunhas, o retrato de uma jovem que morreu dezoito meses antes e que jamais havia conhecido, retrato reconhecido pelo pai presente à sessão? É por um efeito sonambúlico que uma mesa responde com precisão às questões propostas, mesmo mentalmente? Seguramente, se se admite que o médium esteja em um estado magnético, me parece difícil crer-se que a mesa seja sonâmbula.
Diz-se, ainda, que os médiuns não falam claramente senão de coisas conhecidas. Como explicar o fato seguinte e cem outros do mesmo gênero? Um de meus amigos, muito bom médium escrevente, perguntou a um Espírito se uma pessoa, que ele havia perdido de vista há quinze anos, estava ainda neste mundo. "Sim, ela vive ainda, respondeu-lhe; ela mora em Paris, à rua tal, número tal." Ele vai e encontra a pessoa no endereço indicado. É isso ilusão? Seu pensamento poderia tanto menos sugerir-lhe essa resposta pois, em razão da idade da pessoa, havia toda possibilidade de que ela não existisse mais. Se, em certos casos, viram-se respostas concordarem com o pensamento, é racional concluir daí que isso seja uma lei geral? Nisso, como em todas as coisas, os julgamentos precipitados são sempre perigosos, porque podem estar enfraquecidos pela não observação dos fatos.



Os incrédulos não podem ver para se convencerem

Visitante – São os fatos positivos que os incrédulos querem ver, que eles pedem e, na maioria das vezes, não se pode lhes fornecer. Se todo mundo pudesse testemunhar esses fatos, a dúvida não seria mais permitida. Como ocorre, pois, que tanta gente nada tenha podido ver, malgrado sua boa vontade? Se os contesta dizendo faltar-lhes fé, a isso respondem, com razão, que não podem ter uma fé antecipada, e que se quer que eles creiam é preciso dar-lhes os meios de crerem.
A.K. – A razão é bem simples. Eles querem os fatos sob seu comando e os Espíritos não obedecem a ele; é preciso esperar sua boa vontade. Não basta, pois, dizer: mostre-me tal fato e eu crerei; é preciso ter vontade e perseverança, deixar os fatos se produzirem espontaneamente, sem pretender forçá-los ou dirigi-los. Aquele que desejais, talvez seja precisamente o que não obtereis; mas se apresentarão outros, e aquele que quereis virá no momento em que menos esperais. Aos olhos do observador atento e assíduo, os fatos se somam e se corroboram uns aos outros, mas aquele que crê bastar virar uma manivela para mover a máquina, se engana extraordinariamente. Que faz o naturalista que quer estudar os costumes de um animal? Leva-o a fazer tal ou tal coisa para ter todo o tempo de observação à sua vontade? Não, porque sabe bem que não será obedecido; ele espreita as manifestações espontâneas do seu instinto; espera-as e as apreende quando ocorrem. O simples bom-senso mostra que, por mais forte razão, deve ocorrer o mesmo com os Espíritos, que são inteligências com independência bem diversa da dos animais.
É um erro crer que a fé seja necessária; mas a boa fé é outra coisa. Ora, há cépticos que negam até a evidência, e que os prodígios não poderiam convencer. Quantos há que, depois de terem visto, não persistem menos em explicar os fatos à sua maneira, dizendo que isso não prova nada! Essas pessoas não servem senão para levar a perturbação às reuniões, sem proveito para elas mesmas; é por isso que as repelimos e não queremos perder tempo com elas. Ocorre mesmo que ficariam bem irritadas de serem forçadas a crer, porque seu amor próprio sofreria em concordar que estavam enganadas. Que responder a essas pessoas que não vêem por toda parte senão a ilusão e o charlatanismo? Nada; é preciso deixá-las tranqüilas e dizer, tanto como querem, que elas nada viram, e mesmo que não se pôde ou não se quis fazê-las ver.
Ao lado desses cépticos endurecidos, há aqueles que querem ver à sua maneira; que tendo formado uma opinião, querem com ela tudo relacionar: eles não compreendem que os fenômenos não possam obedecer à sua vontade; eles não sabem, ou não querem, se colocar nas condições necessárias. Aquele que quer observar de boa-fé deve – não digo crer sob palavra, mas se despojar de toda idéia preconcebida – não querer comparar coisas incompatíveis. Deve esperar, continuar, observar com uma paciência infatigável; esta condição mesma está a favor dos adeptos, uma vez que ela prova que sua convicção não se formou levianamente. Tendes essa paciência? Não, dizeis, eu não tenho tempo. Então não vos ocupeis com os fenômenos, nem deles faleis; ninguém a isso vos obriga.



Boa ou má vontade dos Espíritos para convencerem

Visitante – Os Espíritos devem ter interesse em fazer prosélitos. Por que não consentem, mais do que o fazem, nos meios para convencer certas pessoas, cuja opinião seria de uma grande influência?
A.K. – É que, aparentemente, no momento, eles não têm interesse em convencer certas pessoas, cuja importância não medem como elas mesmas o fazem. É pouco lisonjeiro, eu convenho, mas nós não comandamos suas opiniões, pois os Espíritos têm um modo de julgar as coisas que não é sempre o nosso. Eles vêem, pensam e agem segundo outros elementos; enquanto nossa visão está circunscrita pela matéria, limitada pelo círculo estreito no meio do qual nos encontramos, eles abarcam o conjunto. O tempo, que nos parece tão longo, para eles é um instante, assim como a distância, que não é senão um passo; certos detalhes, que nos parecem de uma importância extrema, para eles são pueris; em compensação, acham importantes, coisas das quais não compreendemos a importância. Para compreendê-los, é preciso se elevar pelo pensamento acima do nosso horizonte material e moral, e nos colocar em sua posição; não cabe a eles descerem até nós, mas cabe a nós nos elevarmos até eles, e é a isso que nos conduz o estudo e a observação.
Os Espíritos apreciam os observadores assíduos e conscienciosos, para os quais multiplicam as fontes de luz; o que os afasta não é a dúvida que nasce da ignorância, mas a fatuidade desses pretensos observadores que, nada tendo observado, pretendem colocá-los na berlinda e manobrá-los como a marionetes; é sobretudo o sentimento de hostilidade e de difamação que carregam consigo e que está em seu pensamento, se não está em suas palavras. Para estes, os Espíritos nada fazem e se inquietam muito pouco com aquilo que eles possam falar ou pensar, porque sua vez chegará. Por isso eu disse que o necessário não é a fé, mas a boa-fé.



Origem das idéias Espíritas modernas

Visitante – Uma coisa que eu desejaria saber, senhor, é o ponto de partida das idéias espíritas modernas; elas são o resultado de uma revelação espontânea dos Espíritos ou o resultado de uma crença anterior à sua existência? Compreendeis a importância da minha pergunta, porque, neste último caso, poder-se-ia crer que a imaginação não pode ser posta de lado.
A.K. – Esta questão, senhor, como o dissestes, é importante nesse ponto de vista, embora seja difícil admitir-se, supondo-se que essas idéias tenham nascido de uma crença antecipada, que a imaginação tenha podido produzir todos os resultados materiais observados. Com efeito, se o Espiritismo estivesse baseado sobre o pensamento preconcebido da existência dos Espíritos, poder-se-ia, com alguma aparência de razão, duvidar da sua realidade, porque se a causa é uma quimera, as próprias conseqüências devem ser quiméricas. Mas as coisas não se passam assim.
Anotai primeiro que essa seqüência seria completamente ilógica. Os Espíritos são causa e não efeito; quando se vê um efeito, pode-se procurar a sua causa, mas não é natural imaginar uma causa antes de ter visto os efeitos. Não se poderia, pois, conceber o pensamento dos Espíritos se não estivessem presentes os efeitos que encontrassem sua explicação provável na existência de seres invisíveis. Pois bem, não foi assim que esse pensamento surgiu, quer dizer, não foi uma hipótese imaginada para explicar certos fenômenos; a primeira suposição que se fez deles foi de uma causa inteiramente material. Assim, longe de os Espíritos terem sido uma idéia preconcebida, partiu-se do ponto de vista materialista, o qual sendo incapaz de tudo explicar, a própria observação conduziu à causa espiritual. Eu falo das idéias espíritas modernas, uma vez que nós sabemos ser essa crença tão velha quanto o mundo. Eis aqui a seqüência das coisas.
Fenômenos espontâneos se produziram, tais os ruídos estranhos, pancadas, movimento de objetos, etc., sem causa ostensiva conhecida, e esses fenômenos puderam ser reproduzidos sob a influência de certas pessoas. Até aí nada autorizava a procurar a causa além da ação de um fluido magnético ou outro cujas propriedades eram ainda desconhecidas. Mas não se tardou em reconhecer, nesses ruídos e nesses movimentos, um caráter intencional e inteligente, do que se concluiu, como já disse, que: se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. Essa inteligência não poderia estar no próprio objeto, porque a matéria não é inteligente. Era o reflexo da inteligência da pessoa ou das pessoas presentes? Assim se pensou primeiro, como eu disse igualmente. Só a experiência poderia se pronunciar, e a experiência demonstrou, por provas irrecusáveis, em muitas circunstâncias, a completa independência dessa inteligência. Ela estava, pois, fora do objeto e fora da pessoa. Quem era ela? Foi ela mesma quem respondeu, declarando pertencer à ordem de seres incorpóreos, designados sob o nome de Espíritos. A idéia dos Espíritos, pois, não preexistiu nem foi mesmo consecutiva; em uma palavra, ela não saiu do cérebro, mas foi dada pelos próprios Espíritos, e tudo o que soubemos depois a seu respeito, foram eles que nos ensinaram.
Uma vez revelada a existência dos Espíritos e estabelecidos os meios de comunicação, pôde-se ter conversações seguidas e obter esclarecimentos sobre a natureza desses seres, as condições da sua existência, seu papel no mundo visível. Se se pudesse interrogar assim os seres do mundo dos infinitamente pequenos, que coisas curiosas não se aprenderia sobre eles!
Supondo-se que, antes do descobrimento da América, existisse um fio elétrico através do Atlântico, e que na sua extremidade européia fossem notados sinais inteligentes, se poderia concluir que, na outra extremidade, havia seres inteligentes procurando se comunicar; ter-se-ia podido questioná-los, e eles teriam respondido. Adquirir-se-ia assim, a certeza da sua existência, o conhecimento dos seus costumes, dos seus hábitos, da sua maneira de ser, sem jamais tê-los visto. Ocorre o mesmo nas relações com o mundo invisível; as manifestações materiais foram como sinais, meios de advertências, que nos colocaram na trilha de comunicações mais regulares e mais continuadas. E, coisa notável, à medida que os meios mais fáceis de comunicação estão à nossa disposição, os Espíritos abandonam os meios primitivos, insuficientes e incômodos, como o mudo que recupera a palavra renuncia à linguagem dos sinais.
Que eram os habitantes desse mundo? Eram seres à parte, fora da Humanidade? Eram bons ou maus? Foi ainda a experiência que se encarregou de resolver essas questões. Mas, até que numerosas observações deitaram luz sobre esse assunto, o campo das conjecturas e dos sistemas estava aberto, e Deus sabe quantas surgiram! Alguns acreditaram serem os Espíritos superiores a tudo, outros não viam neles senão demônios. Foi por suas palavras e seus atos que se pôde julgá-los. Suponhamos que entre os habitantes transatlânticos desconhecidos, dos quais falamos, uns tivessem dito coisas boas, enquanto outros fossem notados pelo cinismo de sua linguagem, ter-se-ia concluído que haveria bons e maus. Foi a isso que se chegou com os Espíritos, reconhecendo-se entre eles todos os graus de bondade e de maldade, de ignorância e de saber. Uma vez sabedores dos seus defeitos e qualidades, cabe à nossa prudência distinguir o bom do mau, o verdadeiro do falso em suas relações conosco, absolutamente como nós fazemos com respeito aos homens.
A observação não só nos esclareceu sobre as qualidades morais dos Espíritos, mas também sobre sua natureza e sobre o que poderíamos chamar seu estado fisiológico. Soube-se, pelos próprios Espíritos, que uns são muito felizes e outros muito infelizes; que eles não são seres à parte, de uma natureza excepcional, mas que são as almas daqueles que viveram sobre a Terra, onde deixaram seu envoltório corporal, que povoam os espaços, nos cercam e nos acotovelam sem cessar, e, entre eles, cada um pôde reconhecer, por sinais incontestáveis, seus parentes, seus amigos e aqueles que conheceu neste mundo. Pôde-se segui-los em todas as fases de sua existência de além-túmulo, desde o instante em que deixaram seus corpos, e observar sua situação segundo o gênero de morte e a maneira pela qual viveram sobre a Terra. Soube-se, enfim, que não são seres abstratos, imateriais, no sentido absoluto da palavra, eles têm um envoltório, ao qual demos o nome de perispírito, espécie de corpo fluídico, vaporoso, diáfano, invisível em seu estado normal, mas que, em certos casos, e por uma espécie de condensação ou de disposição molecular pode tornar-se momentaneamente visível e mesmo tangível e, desde então, foi explicado o fenômeno das aparições e dos toques sobre elas. Esse envoltório existe durante a vida do corpo e é o laço entre o Espírito e a matéria; na morte do corpo, a alma ou o Espírito, o que são a mesma coisa, não se despoja senão do envoltório grosseiro, conservando o segundo, como quando nós tiramos uma roupa de cima para conservar apenas a de baixo, como o germe de um fruto se despoja do envoltório cortical e não conserva senão o perisperma. É esse envoltório semi-material do Espírito o agente dos diferentes fenômenos por meio do qual ele manifesta sua presença.
Tal é, em poucas palavras, senhor, a história do Espiritismo; vedes e o reconhecereis ainda melhor, quando o tiverdes estudado a fundo, que tudo nele é o resultado da observação e não de um sistema preconcebido.

Fonte: Portal do Espírito

Meios de comunicação

Visitante – Falastes de meios de comunicação; poderíeis dar-me uma idéia deles, porque é difícil compreender como esses seres invisíveis podem conversar conosco?
A.K. – De bom grado; todavia, o farei ligeiramente porque isso exigiria um desenvolvimento muito grande, que encontrareis notadamente em O Livro dos Médiuns. Mas o pouco que vos direi bastará para vos colocar a par do mecanismo e servirá, sobretudo, para compreenderdes melhor algumas experiências às quais poderíeis assistir até vossa iniciação completa.
A existência desse envoltório semi-material, ou perispírito, é já uma chave que explica muitas coisas e mostra a possibilidade de certos fenômenos. Quanto aos meios, eles são muito variados e dependem, seja da natureza mais ou menos depurada dos Espíritos, seja das disposições particulares às pessoas que lhes ser vem de intermediárias. O mais vulgar, aquele que se pode dizer universal, consiste na intuição, quer dizer, nas idéias e pensamentos que eles nos sugerem; mas esse meio é muito pouco apreciável na generalidade dos casos. Há outros mais materiais.
Certos Espíritos se comunicam por pancadas, respondendo por sim ou por não, ou designando as letras que devem formar as palavras. As pancadas podem ser obtidas pelo movimento basculante de um objeto, uma mesa, por exemplo, que bate o pé. Freqüentemente, eles se fazem ouvir na própria substância dos corpos, sem movimento destes. Esse modo primitivo é demorado e dificilmente se presta ao desenvolvimento de idéias de uma certa extensão. A escrita a substituiu, obtendo-se esta de diferentes maneiras. Primeiro serviu-se, e algumas vezes se usa ainda, de um objeto móvel, como uma pequena prancheta, uma cesta, uma caixa, à qual se adapta um lápis cuja ponta repousa sobre o papel. A natureza e a substância do objeto são indiferentes. O médium coloca as mãos sobre esse objeto, transmitindo-lhe a influência que recebe do Espírito, e o lápis traça os caracteres. Mas esse objeto não é, propriamente falando, senão um apêndice da mão, uma espécie de porta-lápis. Reconheceu-se depois a inutilidade desse intermediário, que é apenas uma complicação do processo, cujo único mérito é de constatar, de uma maneira material, a independência do médium, que pode escrever tomando ele próprio o lápis.
Os Espíritos se manifestam ainda, e podem transmitir seus pensamentos, por sons articulados que repercutem, seja no vago do ar, seja no ouvido, pela voz do médium, pela vista, por desenhos, pela música e por outros meios que um estudo completo faz conhecer. Os médiuns têm, para esses diferentes meios, aptidões especiais que se prendem ao seu organismo. Temos, assim, os médiuns de efeitos físicos, quer dizer, os que estão aptos a produzir fenômenos materiais como as pancadas, o movimento dos corpos, etc; os médiuns audientes, falantes, videntes, desenhistas, musicistas, escreventes. Esta última faculdade é a mais comum e se desenvolve pelo exercício; é também a mais preciosa, pois é a que permite comunicações mais freqüentes e mais rápidas.
O médium escrevente apresenta numerosas variedades, das quais duas muito distintas. Para entendê-las é preciso inteirar-se da maneira pela qual se opera o fenômeno. O Espírito, algumas vezes, age diretamente sobre a mão do médium à qual imprime um impulso, independentemente da sua vontade, e sem que este tenha consciência do que escreve: é o médium escrevente mecânico. Outras vezes o Espírito age sobre o cérebro; seu pensamento atravessa o do médium que, então, embora escrevendo de uma maneira involuntária, tem uma consciência mais ou menos nítida do que obtém; é o médium intuitivo. Seu papel é exatamente o de um intérprete que transmite um pensamento que não é o seu e que, todavia, deve compreender. Ainda que, neste caso, o pensamento do Espírito e o do médium se confundam algumas vezes, a experiência ensina a distingui-los facilmente. Obtêm-se, igualmente, boas comunicações por esses dois gêneros de médiuns; a vantagem dos que são mecânicos é, sobretudo, para as pessoas que ainda não estão convencidas. De resto, a qualidade essencial de um médium está na natureza dos Espíritos que o assistem e nas comunicações que ele recebe, bem mais que nos meios de execução.
Visitante – O procedimento me parece dos mais simples. Ser-me-ia possível experimentá-lo eu mesmo?
A.K. Perfeitamente; eu digo mesmo que se estiverdes dotado da faculdade medianímica, esse seria o melhor meio de vos convencer, porque não poderíeis duvidar de vossa boa-fé. Só que vos exorto vivamente a não tentar nenhum ensaio antes de ter estudado com atenção. As comunicações de além-túmulo estão cercadas de mais dificuldades do que se pensa; elas não estão isentas de inconvenientes, e mesmo de perigo, para aqueles a quem falta a experiência necessária. Ocorre aqui como ao que quisesse fazer manipulações químicas sem saber química: correria o risco de queimar os dedos.
Visitante – Há algum indício pelo qual se possa reconhecer essa aptidão?
A.K. – Até o presente não se conhece nenhum diagnóstico para a mediunidade; todos os que se acreditou reconhecer, não têm nenhum valor. Ensaiar é o único meio de saber se se é dotado. De resto, os médiuns são muito numerosos e é muito raro que, quando não o sejamos, que não encontremos entre os membros da família e das pessoas que nos cercam. O sexo, a idade e o temperamento são indiferentes; são encontrados entre os homens e entre as mulheres, as crianças e os velhos, as pessoas que se portam bem e as que estão doentes.
Se a mediunidade se traduzisse por um sinal exterior qualquer, isso implicaria na permanência da faculdade, ao passo que ela é essencialmente móvel e fugidia. Sua causa física está na assimilação, mais ou menos fácil, dos fluidos perispirituais do encarnado e do Espírito desencarnado. Sua causa moral está na vontade do Espírito que se comunica quando isso lhe apraz, e não na nossa vontade, do que resulta, em primeiro lugar, que todos os Espíritos não podem se comunicar indiferentemente por todos os médiuns e, em segundo lugar, que todo médium pode perder ou ter suspensa sua faculdade no momento em que menos o espera. Essas poucas palavras bastam para vos mostrar que há todo um estudo a fazer para poder se inteirar das variações que esse fenômeno apresenta.
Seria, pois, um erro crer-se que todo Espírito pode atender ao apelo que lhe é feito e se comunicar pelo primeiro médium que encontra. Para que um Espírito se comunique, é preciso primeiro que lhe convenha fazê-lo; em segundo lugar, que sua posição ou suas ocupações lhe permitam; em terceiro lugar, que ele encontre no médium um instrumento propício, apropriado à sua natureza.
Em princípio, pode-se comunicar com os Espíritos de todas as ordens, com seus parentes e seus amigos, com os Espíritos mais elevados, como com os mais vulgares. Mas, independentemente das condições individuais de possibilidade, eles vêm mais ou menos voluntariamente segundo as circunstâncias e, sobretudo, em razão de sua simpatia pelas pessoas que os chamam, e não pela requisição da primeira pessoa que tenha a fantasia de os evocar por um sentimento de curiosidade; em caso semelhante eles não se importariam quando vivos e não o fazem mais depois da sua morte.
Os Espíritos sérios não vêm senão nas reuniões sérias, onde são chamados com recolhimento e por motivos sérios. Eles não se prestam a nenhuma questão de curiosidade, de prova, ou tendo um objetivo fútil, nem a nenhuma experiência.
Os Espíritos levianos vão por toda parte; mas nas reuniões sérias se calam e se afastam para escutar, como o faria um escolar em uma douta assembléia. Nas reuniões frívolas eles se divertem, distraem-se com tudo e, freqüentemente, zombam dos assistentes, e respondem a todos sem se inquietarem com a verdade.
Os Espíritos ditos batedores, e geralmente todos aqueles que produzem manifestações físicas, são de uma ordem inferior, sem, por isso, serem essencialmente maus; eles têm uma aptidão de alguma sorte especial para os efeitos materiais. Os Espíritos superiores não se ocupam mais dessas coisas que nossos sábios de fazerem exibição de força; se disso têm necessidade, servem-se desses Espíritos de ordem inferior, como nós nos servimos de serviçais para o trabalho pesado.



Os médiuns interesseiros

Visitante – Antes de se entregarem a um estudo de fôlego, certas pessoas gostariam de ter a certeza de não perderem seu tempo, certeza que lhes daria um fato concludente, mesmo obtido ao preço do dinheiro.
A.K. – Naquele que não quer se dar ao trabalho de estudar, há mais de curiosidade que desejo real de se instruir. Ora, os Espíritos não gostam mais de curiosos que eu próprio. Aliás, a cupidez lhes é, sobretudo, antipática, e eles não se prestam a nada que possa satisfazê-la. Seria preciso ter deles uma idéia bem errada para crer que os Espíritos superiores, como Fénelon, Bossuet, Pascal, Santo Agostinho, por exemplo, se colocassem às ordens do primeiro que os solicitasse, a tanto por hora. Não, senhor, as comunicações de além-túmulo são uma coisa muito grave, e exigem muito respeito, para servirem de exibição.
Aliás, sabemos que os fenômenos espíritas não se desenrolam como as engrenagens de um mecanismo, uma vez que dependem da vontade dos Espíritos. Mesmo admitindo-se a aptidão medianímica, ninguém pode responsabilizar-se de os obter em tal momento dado.
Se os incrédulos são levados a suspeitarem da boa-fé dos médiuns em geral, seria bem pior se estes tivessem um estimulante interesse; poder-se-ia suspeitar, com todo direito, que o médium retribuiria com simulação, porque ele precisaria, antes de tudo, ganhar seu dinheiro.
Não somente o desinteresse absoluto é a melhor garantia de sinceridade, como repugnaria à razão evocar a peso de ouro os Espíritos de pessoas que nos são caras, supondo que eles a isso consentissem, o que é mais que duvidoso. Não haveria, em todos os casos, senão Espíritos inferiores, pouco escrupulosos quanto aos meios, e que não mereceriam nenhuma confiança. Estes mesmos, ainda, freqüentemente, agem com um prazer maldoso, frustrando as combinações e os cálculos dos seus evocadores.
A natureza da faculdade mediúnica se opõe, pois, a que ela se torne uma profissão, uma vez que depende de uma vontade estranha ao médium, e ela poderia faltar-lhe no momento que dela tivesse necessidade, a menos que ele a supra pela agilidade. Mas, em se admitindo mesmo uma inteira boa-fé, desde que os fenômenos não se obtêm à vontade, seria um efeito do acaso se, na sessão que se tivesse pago, se produzisse precisamente aquilo que se desejaria para se convencer. Daríeis cem mil francos a um médium e não o faríeis obter dos Espíritos o que estes não quisessem fazer. Essa paga, que desnaturaria a intenção e a transformaria em um violento desejo de lucro, seria mesmo, ao contrário, um motivo para que ele não tivesse sucesso. Se se está bem compenetrado dessa verdade, que a afeição e a simpatia são as mais poderosas motivações de atração dos Espíritos, compreender-se-ia que eles não podem ser solicitados com o pensamento de os usarem para ganhar dinheiro.
Aquele, pois, que tem necessidade de fatos para se convencer, deve provar aos Espíritos sua boa vontade por uma observação séria e paciente, se quer por eles ser secundado. Mas, se é verdadeiro que a fé não se impõe, não o é menos dizer-se que ela não se compra.
Visitante – Eu compreendo esse raciocínio sob o ponto de vista moral; entretanto, não é justo que aquele que dá seu tempo no interesse de seu ideal, dele seja indenizado, se isso o impede de trabalhar para viver?
A.K. – Em primeiro lugar, é no interesse da causa que ele o faz ou é no seu próprio interesse? Se mudou sua posição, é que não estava satisfeito e que esperava ganhar mais ou ter menos trabalho nesse novo ofício. Não há nenhum devotamento em dar seu tempo quando é para dele tirar proveito. É como se se dissesse que o padeiro fabrica o pão no interesse da Humanidade. A mediunidade não é o único recurso; sem ela eles seriam obrigados a ganharem a vida de outra maneira. Os médiuns verdadeiramente sérios e devotados, quando não têm uma existência independente, procuram os meios de vida em seu trabalho normal, e não mudam sua posição. Eles não consagram à mediunidade senão o tempo que podem dar-lhe sem prejuízo e se o tomam do seu lazer ou do seu repouso, espontaneamente, então são devotados e se os estima e respeita mais por isso.
A multiplicidade de médiuns nas famílias, aliás, torna os médiuns profissionais inúteis, mesmo supondo-se que eles oferecem todas as garantias desejáveis, o que é muito raro. Sem o descrédito que se atribui a esse gênero de exploração, do qual me felicito de ter contribuído grandemente, ver-se-ia pulularem os médiuns mercenários e os jornais se cobrirem dos seus anúncios. Ora, para um que tivesse podido ser leal, haveria cem charlatães que, abusando de uma faculdade real ou simulada, teriam feito o maior mal ao Espiritismo. É, pois, como princípio que todos aqueles que vêem no Espiritismo alguma coisa além de exibição de fenômenos curiosos, que compreendem e estimam a dignidade, a consideração e os verdadeiros interesses da doutrina, reprovam toda espécie de especulação, sob qualquer forma ou disfarce que ela se apresente. Os médiuns sérios e sinceros, e eu dou esse nome àqueles que compreendem a santidade do mandato que Deus lhes confiou, evitam até na aparência o que poderia fazer pairar sobre eles a menor suspeita de cupidez. A acusação de tirar um proveito qualquer de sua faculdade, seria para eles uma injúria.
Concordai, senhor, inteiramente incrédulo que sois, que um médium nessas condições faria sobre vós uma outra impressão se tivésseis pago vosso lugar para vê-lo operar, ou mesmo que tivésseis obtido uma entrada de favor, se sabíeis que havia em tudo isso uma questão de dinheiro. Concordai que, vendo o médium animado de um verdadeiro sentimento religioso, estimulado só pela fé e não pelo desejo de ganho, involuntariamente ele se imporia ao vosso respeito, fosse ele o mais humilde proletário, e vos inspiraria mais confiança, porque não teríeis nenhum motivo para suspeitar de sua lealdade. Pois bem, senhor, encontrareis nestas condições mil por um, e é isso uma das causas que contribuíram poderosamente para o crédito e a propagação da doutrina, enquanto que se ela não tivesse tido senão intérpretes interesseiros, ela não contaria hoje a quarta parte dos adeptos que tem.
Compreende-se muito bem que os médiuns profissionais são raríssimos, pelo menos na França; que são desconhecidos na maioria dos centros espíritas do país, onde a reputação dos mercenários bastaria para os excluir de todos os grupos sérios, e onde, para eles, o ofício não seria lucrativo, em razão do descrédito de que seriam objeto e da concorrência de médiuns desinteressados que se encontram por toda parte. Para suprir, seja a faculdade que lhe falta, seja a insuficiência da clientela, há supostos médiuns que usam o jogo de cartas, a clara de ovo, a borra de café, etc., a fim de satisfazer todos os gostos, esperando por esses meios, na falta dos Espíritos, atrair aqueles que ainda crêem nessas tolices. Se eles não fizessem mal senão a si mesmos, o mal seria insignificante; contudo, há pessoas que, sem ir mais longe, confundem o abuso com a realidade e depois os mal intencionados delas se aproveitam para dizer que nisso consiste o Espiritismo. Vede, pois, senhor, que a exploração da mediunidade conduzindo aos abusos prejudiciais à doutrina, o Espiritismo sério tem razão de a condenar e de a repudiar como auxiliar.
Visitante – Tudo isso é muito lógico, eu convenho, mas os médiuns desinteressados não estão à disposição dos que os buscam, e não é justo desviá-los do seu trabalho, enquanto que não se teria escrúpulos de procurar aqueles que se fazem pagar, porque se sabe não fazê-los perder seu tempo. Se houvesse médiuns públicos, seria mais fácil para as pessoas que querem se convencer.
A.K. – Mas se os médiuns públicos, como os chamais, não oferecem as garantias desejadas, que utilidade podem ter para a convicção? O inconveniente que assinalais não destrói aqueles bem mais graves a que me referi. Ir-se-ia até eles mais por divertimento ou para tirar a sorte, que para se instruir. Aquele que quer, seriamente, se convencer encontra, cedo ou tarde, os meios para isso, se tem perseverança e boa vontade. Mas não é porque assistiu a uma sessão que se convencerá, se para isso não está preparado. Se ela lhe dá uma impressão desfavorável, ficará pior que antes e talvez desanimado de continuar um estudo no qual nada viu de sério; isso é o que prova a experiência.
Mas ao lado das considerações morais, os progressos da ciência espírita nos mostram hoje uma dificuldade material, que não supusemos no início, fazendo-nos conhecer melhor as condições sob as quais se produzem as manifestações. Essa dificuldade diz respeito às afinidades fluídicas que devem existir entre o Espírito evocado e o médium.
Coloco de lado todo pensamento de fraude e de mistificação e suponho a mais completa lealdade. Para que um médium profissional pudesse oferecer toda segurança às pessoas que viessem a consultá-lo, seria preciso que ele possuísse uma faculdade permanente e universal, quer dizer, que pudesse se comunicar facilmente com todos os Espíritos e a qualquer momento, para estar constantemente à disposição do público, como um médico, e satisfazer a todas as evocações que lhe fossem pedidas. Ora, isso não ocorre com nenhum médium, não mais nos desinteressados que nos outros, e isso por causas independentes da vontade do Espírito, mas que não posso desenvolver aqui porque não vos estou dando um curso de Espiritismo. Eu me limitarei a dizer que as afinidades fluídicas, que são o próprio princípio das faculdades mediúnicas, são individuais e não gerais, e que podem existir do médium para tal Espírito e não a tal outro; que sem essas afinidades, cujas nuances são muito diversificadas, as comunicações são incompletas, falsas ou impossíveis; que, o mais freqüentemente, a assimilação fluídica entre o Espírito e o médium não se estabelece senão com o tempo, é que não ocorre, uma vez em dez, que ela seja completa desde a primeira vez. Como vedes, senhor, a mediunidade está subordinada a leis, de alguma sorte orgânicas, às quais todo médium está sujeito. Ora, não se pode negar que isso não seja um escolho para a mediunidade profissional, uma vez que a possibilidade e a exatidão das comunicações prendem-se a causas independentes do médium e do Espírito (ver adiante cap. II, parágrafo Dos Médiuns).
Se, pois, repelimos a exploração da mediunidade, não é nem por capricho nem por espírito de sistema, mas porque os próprios princípios que regem as comunicações com o mundo invisível se opõem à regularidade e à precisão necessárias para aquele que se coloca à disposição do público, e que o desejo de satisfazer a uma clientela pagante conduz ao abuso. Disso não concluo que todos os médiuns interesseiros são charlatães, mas digo que o interesse de ganho conduz ao charlatanismo e autoriza a suposição de fraude se não a justifica. Aquele que quer se convencer deve, antes de tudo, procurar os elementos de sinceridade.



Os médiuns e os feiticeiros

Visitante – Desde o instante em que a mediunidade consiste em se colocar em comunicação com as forças ocultas, parece-me que médiuns e feiticeiros são mais ou menos sinônimos.
A.K. – Houve em todas as épocas médiuns naturais e inconscientes que, só porque produziam fenômenos insólitos e incompreendidos, foram qualificados de feiticeiros e acusados de pactuarem com o diabo. Ocorreu o mesmo com a maioria dos sábios que possuíam conhecimentos acima do vulgar. A ignorância exagerou seu poder e, eles mesmos, freqüentemente, abusaram da credulidade pública, explorando-a; daí a justa reprovação de que foram objeto. Basta comparar o poder atribuído aos feiticeiros e a faculdade dos verdadeiros médiuns, para estabelecer-lhes a diferença, mas a maioria dos críticos não se dão a esse trabalho. O Espiritismo, longe de ressuscitar a feitiçaria, a destruiu para sempre, despojando-a do seu pretenso poder sobrenatural, de suas fórmulas, de seus livros de magia, amuletos e talismãs, reduzindo os fenômenos possíveis ao seu justo valor, sem sair das leis naturais.
A semelhança que certas pessoas pretendem estabelecer, provém do erro em que se encontram, de que os Espíritos estão às ordens dos médiuns; repugna à sua razão crer que possa depender de alguém, fazer vir à sua vontade e chamado, o Espírito de tal ou tal personagem mais ou menos ilustre; nisso estão perfeitamente com a verdade, e se, antes de atirar pedra ao Espiritismo, tivessem se dado ao trabalho de dele se inteirar, saberiam que ele diz positivamente que os Espíritos não estão ao capricho de ninguém, e que ninguém pode, à vontade, fazê-los vir a contragosto; do que se segue que os médiuns não são feiticeiros.
Visitante – Desse modo, todos os efeitos que certos médiuns acreditados obtêm, à vontade e em público, não seriam, segundo vós, senão hipocrisia?
A.K. – Eu não o digo de um modo absoluto. Tais fenômenos não são impossíveis porque há Espíritos inferiores que podem se prestar a essas espécies de coisas, e que nelas se divertem, talvez tendo já feito, em suas vidas, o trabalho dos prestidigitadores, e também médiuns especialmente propensos a esse gênero de manifestações. Mas, o mais vulgar bom senso repele a idéia de que os Espíritos, embora pouco elevados, venham fazer exibições para divertir os curiosos.
A obtenção desses fenômenos à vontade e, sobretudo, em público, é sempre suspeita; nesse caso, a mediunidade e a prestidigitação se tocam tão de perto que, freqüentemente, é bem difícil distingui-las. Antes de ver nisso a ação dos Espíritos, é preciso minuciosas observações, e levar em conta seja o caráter e os antecedentes do médium, seja de uma multidão de circunstâncias, que só um estudo aprofundado da teoria dos fenômenos espíritas pode levar a apreciar. Anote-se que esse gênero de mediunidade, quando mediunidade há, é limitado à produção do mesmo fenômeno, com algumas variantes, o que não é de natureza a dissipar as dúvidas. Um desinteresse absoluto seria aí a melhor garantia de sinceridade.
Qualquer que seja a realidade desses fenômenos, como efeitos medianímicos, eles têm como bom resultado dar notoriedade à idéia espírita. A controvérsia que se estabelece a esse propósito provoca, em muitas, pessoas, um estudo mais aprofundado. Não é certo que é necessário ir buscar aí instruções sérias de Espiritismo, nem a filosofia da doutrina, mas é um meio de forçar a atenção dos indiferentes e obrigar os mais recalcitrantes a falarem deles.



Diversidade nos Espíritos

Visitante – Falais de Espíritos bons ou maus, sérios ou levianos; eu não me explico, confesso, essa diferença. Parece-me que, deixando seu envoltório corporal, eles devem se despojar das imperfeições inerentes à matéria; que a luz deve se fazer para eles sobre todas as verdades que nos são ocultas e que eles devem estar isentos dos preconceitos terrestres.
A.K. – Sem dúvida, eles estão livres das imperfeições físicas, quer dizer, das doenças e enfermidades do corpo; mas as imperfeições morais são do Espírito e não do corpo. Entre eles há os que estão mais ou menos avançados intelectual e moralmente. Seria um erro crer-se que os Espíritos, deixando seu corpo material, são subitamente atingidos pela luz da verdade. Credes, por exemplo, que quando morrerdes não haverá nenhuma diferença entre vosso Espírito e o de um selvagem ou o de um malfeitor? Se fora assim, de que vos serviria ter trabalhado pela vossa instrução e aprimoramento, uma vez que um vadio seria tanto quanto vós depois da morte? O progresso dos Espíritos não se realiza senão gradualmente e, algumas vezes, bem lentamente. Entre eles, e isso depende da sua depuração, há os que vêem as coisas sob um ponto de vista mais justo que em sua vida física; outros, ao contrário, têm as mesmas paixões, os mesmos preconceitos e os mesmos erros, até que o tempo e novas provas lhes tenham permitido se esclarecerem. Notai bem que isto é um resultado da experiência, porque é assim que eles se apresentam a nós em suas comunicações. É, pois, um princípio elementar do Espiritismo que, entre os Espíritos, há os de todos os graus de inteligência e de moralidade.
Visitante – Mas, então, por que os Espíritos não são todos perfeitos? Deus, pois, os criou de todas as categorias.
A.K. – Igualmente gostaria de perguntar por que todos os alunos de um colégio não estão em filosofia. Os Espíritos têm, todos, a mesma origem e a mesma destinação. As diferenças que existem entre eles não constituem espécie distinta, mas diversos graus de adiantamento. Os Espíritos não são perfeitos porque são as almas dos homens e os homens não são perfeitos; pela mesma razão os homens não são perfeitos porque são a encarnação de Espíritos mais ou menos avançados. O mundo corporal e o mundo espiritual se derramam incessantemente um sobre o outro; pela morte do corpo, o mundo corporal fornece seu contingente ao mundo espiritual e, pelo nascimento, o mundo espiritual alimenta a Humanidade. A cada nova existência, o Espírito realiza um progresso mais ou menos grande, e quando adquire sobre a Terra a soma de conhecimentos e elevação moral que comporta nosso globo, ele o troca para passar a um mundo mais elevado, onde aprende coisas novas.
Os Espíritos que formam a população invisível da Terra são, de alguma sorte, o reflexo do mundo corporal; encontram-se aí os mesmos vícios e as mesmas virtudes. Há entre eles sábios, ignorantes e falsos sábios, prudentes e estouvados, filósofos, raciocinadores e sistemáticos. Não se tendo desfeito de todos os seus
preconceitos, todas as opiniões políticas e religiosas têm aí seus representantes. Cada um fala segundo as suas idéias e o que dizem, freqüentemente, não é senão sua opinião pessoal. Eis porque não é preciso acreditar cegamente em tudo o que dizem os Espíritos.
Visitante – Se assim é, eu percebo uma grande dificuldade. Nesse conflito de opiniões diversas, como distinguir o erro da verdade? Eu não vejo que os Espíritos nos sirvam para grande coisa e tenhamos a ganhar com sua conversação.
A.K. – Não servissem os Espíritos senão para nos ensinar que há Espíritos e que esses Espíritos são as almas dos homens, não seriam de uma grande importância para todos aqueles que duvidam que têm uma alma e que não sabem em que se tornarão depois da morte?
Como todas as ciências filosóficas, esta exige longos estudos e minuciosas observações; é então que se aprende a distinguir a verdade da impostura, e os meios de afastar os Espíritos mentirosos. Acima dessa turba de Espíritos inferiores, há os Espíritos superiores que não têm em vista senão o bem e que têm por missão conduzir os homens ao bom caminho. Cabe a nós saber apreciá-los e compreendê-los. Estes nos ensinam grandes coisas, mas, não credes que o estudo dos outros seja inútil; para conhecer um povo é preciso examiná-lo sob todas as suas faces. Disso vós mesmos sois a prova; pensáveis que bastaria aos Espíritos deixarem seu envoltório corporal para se despojarem de suas imperfeições. Ora, foram as comunicações com eles que nos ensinaram o contrário, e nos fizeram conhecer o verdadeiro estado do mundo espiritual, que nos interessa a todos no mais alto grau, uma vez que para lá devemos ir. Quanto aos erros que podem nascer da divergência de opinião entre os Espíritos, por si mesmos desaparecem, à medida que se aprende a distinguir os bons dos maus, os sábios dos ignorantes, os sinceros dos hipócritas, da mesma forma como entre nós; então o bom senso faz justiça às falsas doutrinas.
Visitante – Minha observação subsiste sempre no ponto de vista das questões científicas e outras a que se pode submeter os Espíritos. A divergência de suas opiniões sobre as teorias que dividem os sábios, nos deixam na incerteza. Eu compreendo que, não tendo todos o mesmo grau de instrução, não podem tudo saber. Então, qual o peso que pode ter para nós a opinião daqueles que sabem, se não podemos verificar se têm, ou não têm, razão? Tem igual valor dirigir-se aos homens ou aos Espíritos.
A.K. – Essa reflexão é ainda uma conseqüência da ignorância do verdadeiro caráter do Espiritismo. Aquele que crê nele encontrar um meio fácil de tudo saber, de tudo descobrir, incorre em um grande erro. Os Espíritos não estão encarregados de nos trazerem a ciência pronta. Seria, com efeito, muito cômodo se nos bastasse perguntar para sermos esclarecidos, poupando-nos assim o trabalho de pesquisa. Deus quer que trabalhemos, que nosso pensamento se exercite, e será a esse preço que adquiriremos a ciência. Os Espíritos não vêm nos livrar dessa necessidade; eles são o que são e o Espiritismo tem por objeto estudá-los, a fim de saber, por analogia, o que seremos um dia e não de nos fazer conhecer o que nos deve estar oculto, ou nos revelar as coisas antes do tempo.
Os Espíritos já não podem ser tidos como ledores de sorte, e quem quer que se iluda de obter deles certos segredos, que se prepare para estranhas decepções por parte dos Espíritos zombeteiros. Em uma palavra, o Espiritismo é uma ciência de observação e não uma ciência de adivinhação ou de especulação. Estudamo-lo para conhecer o estado das individualidades do mundo invisível, as relações que existem entre elas e nós, sua ação oculta sobre o mundo visível, e não pela utilidade material que dele possamos tirar. Sob esse ponto de vista, não há nenhum Espírito cujo estudo nos seja inútil, pois aprendemos alguma coisa com todos eles; suas imperfeições, seus defeitos, sua incapacidade, e mesmo sua ignorância, são igualmente objetos de observação que nos iniciam no estudo da natureza íntima desse mundo. Quando não são eles que nos instruem pelos seus ensinamentos, somos nós que nos instruímos estudando-os, como o fazemos quando estudamos os costumes de um povo que desconhecemos. Quanto aos Espíritos esclarecidos, eles nos ensinam muito, mas no limites das coisas possíveis, não precisando perguntar-lhes o que eles não podem, ou não devem, nos revelar. É preciso contentar-se com aquilo que nos dizem, pois, ir além é expor-se às mistificações dos Espíritos levianos, sempre prontos para responderem a tudo. A experiência nos ensina a discernir o grau de confiança que lhes podemos dar.



Utilidade prática das manifestações

Visitante – Partindo da suposição de que a coisa seja constatada e o Espiritismo reconhecido como realidade, que utilidade prática isso pode ter? Se, até o presente, se passou sem ele, parece-me que se poderia, ainda, passar sem ele e viver mais tranqüilamente.
A.K. – O mesmo se poderia dizer das estradas de ferro e do vapor, sem as quais viveu-se muito bem.
Se entendeis por utilidade prática, os meios de viver bem, de fazer fortuna, de conhecer o futuro, de descobrir minas de carvão ou tesouros ocultos, de recuperar heranças, de se poupar do trabalho das pesquisas, ele não serve para nada; ele não pode fazer subir nem abaixar a cotação da Bolsa, nem ser transformado em ações, nem mesmo fornecer invenções prontas, aptas a serem exploradas. Sob esse ponto de vista, quantas ciências seriam inúteis! Quantas há que não trazem vantagem, comercialmente falando! Os homens se portavam muito bem antes da descoberta de todos os novos planetas, antes que se soubesse que é a Terra que gira e não o Sol, antes que fossem calculados os eclipses, antes que se conhecesse o mundo miscroscópico e uma centena de outras coisas. O camponês, para viver e produzir seu trigo, não tinha necessidade de saber o que é um cometa. Por que, pois, os sábios se entregam a essas pesquisas, e quem ousaria dizer que perdem seu tempo? Tudo o que serve para erguer um canto do véu, ajuda o desenvolvimento da inteligência, alarga o círculo das idéias fazendo-nos penetrar mais além nas leis da Natureza. Ora, o mundo dos Espíritos existe em virtude de uma dessas leis da Natureza e o Espiritismo nos faz conhecê-la. Ele nos ensina a influência que o mundo invisível exerce sobre o mundo visível, e as relações que existem entre eles, da mesma forma que a Astronomia nos ensina as relações dos astros com a Terra; ele nô-lo mostra como uma das forças que regem o Universo e contribuem para a manutenção da harmonia geral. Suponhamos que a isso se limite sua utilidade; já não seria muito útil a revelação de semelhante força, abstração feita de toda doutrina moral? Não é nada, pois, que todo um mundo novo se nos revele, se, sobretudo, o conhecimento desse mundo nos coloca na trilha de uma multidão de problemas, até então, insolúveis? se nos inicia nos mistérios de além-túmulo, que nos interessa um pouco, uma vez que todos, pelo que somos, devemos cedo ou tarde transpor o passo fatal? Mas há uma outra utilidade mais positiva do Espiritismo, que é a influência moral que ele exerce pela própria força das coisas. O Espiritismo é a prova patente da existência da alma, da sua individualidade depois da morte, da sua imortalidade e do seu futuro. É, pois, a destruição do materialismo, não pelo raciocínio, mas pelos fatos.
Não é preciso perguntar ao Espiritismo o que ele pode dar, e nem nele procurar além do seu objetivo providencial. Antes dos progressos sérios da Astronomia, acreditava-se na Astrologia. Seria razoável pretender que a Astronomia de nada serve porque não se pode mais encontrar na influência dos astros o prognóstico do futuro? Da mesma forma que a Astronomia destronou os
astrólogos, o Espiritismo destronou os adivinhos, os feiticeiros e os ledores de sorte. Ele é para a magia o que a Astronomia é para a Astrologia, a Química para a Alquimia.

Fonte: Portal do Espírito


Loucura - Suicídio - Obsessão

Visitante – Certas pessoas consideram as idéias espíritas como de natureza a perturbarem as faculdades mentais, e, por esse motivo, acham prudente deter-lhes a divulgação.
A.K. – Conheceis o provérbio: quando se quer matar um cão, diz-se que ele está raivoso. Não é, pois, de espantar, que os inimigos do Espiritismo procurem se apoiar sobre todos os pretextos; este lhes pareceu apropriado para despertar os temores e as suscetibilidades, tomando-o zelosamente, embora ele caia diante do mais superficial exame. Ouvi, pois, sobre esta loucura, o raciocínio de um louco.
Todas as grandes preocupações do espírito podem ocasionar a loucura; as ciências, as artes, e a própria religião fornecem seus contingentes. A loucura tem por princípio um estado patológico do cérebro, instrumento do pensamento: estando o instrumento danificado, o pensamento é alterado. A loucura, pois, é um efeito consecutivo, cuja causa primeira é uma predisposição orgânica que torna o cérebro mais, ou menos, acessível a certas impressões; isso é tão verdadeiro que tendes as pessoas que pensam demais e não se tornam loucas, enquanto que outras se tornam sob o domínio da menor superexcitação. Havendo uma predisposição à loucura, esta toma o caráter da preocupação principal, que se torna, então, uma idéia fixa. Essa idéia fixa poderá ser a dos Espíritos, naqueles que deles se ocupam, como poderá ser a de Deus, dos anjos, do diabo, da fortuna, do poder, de uma arte, de uma ciência, da maternidade, de um sistema político ou social. É provável que o louco religioso se tornasse um louco espírita, se o Espiritismo tivesse sido sua preocupação dominante. Um jornal disse, é verdade, que em uma única localidade da América, cujo nome não me recordo, contaram-se quatro mil casos de loucura espírita; mas sabe-se que, entre nossos adversários, é uma idéia fixa crerem-se os únicos dotados de razão, e isso é uma mania como as outras. Aos seus olhos nós somos todos dignos de um manicômio e, por conseguinte, os quatro mil espíritas da localidade em questão, deviam ser igualmente loucos. Nesse aspecto, os Estados Unidos têm centenas de milhares deles, e todos os outros países do mundo, um número bem maior. Esse mau gracejo começou a ser usado depois que se viu esta loucura ganhar as classes mais elevadas da sociedade. Fez-se grande alarde de um exemplo conhecido, de Victor Hennequin, esquecendo-se que, antes de se ocupar com o Espiritismo, ele tinha já dado provas de excentricidade das idéias. Se as mesas girantes não tivessem acontecido, o que, segundo um jogo de palavras bem espirituoso de nossos adversários, fizeram lhe girar a cabeça, sua loucura teria tomado outro curso.
Eu digo, pois, que o Espiritismo não tem nenhum privilégio a esse respeito; e vou mais longe: digo que, bem compreendido, é um preservativo contra a loucura e o suicídio.
Entre as causas mais freqüentes de superexcitação cerebral, é preciso contar as decepções, os desgostos, as afeições contrariadas, que são, ao mesmo tempo, as causas mais freqüentes de suicídios. Ora, o verdadeiro espírita vê as coisas deste mundo de um ponto de vista tão elevado, que as tribulações não são para ele senão os incidentes desagradáveis de uma viagem. O que, em outro, produziria uma emoção violenta, o afeta levemente. Ele sabe, aliás, que os sofrimentos da vida são provas que servem para o seu adiantamento, se as suporta sem reclamar, porque será recompensado de acordo com a coragem com a qual as tiver suportado. Suas convicções lhe dão, pois, uma resignação que o preserva do desespero, e, por conseguinte, de uma causa permanente de loucura e de suicídio. Por outro lado, ele sabe, pelo que vê nas comunicações com os Espíritos, da sorte deplorável daqueles que abreviam voluntariamente seus dias, e esse quadro basta para fazê-lo refletir; por isso é considerável o número daqueles que se detiveram sobre essa inclinação funesta. Eis aí um dos resultados do Espiritismo.
Ao número das causas de loucura, é preciso ainda acrescentar o medo, e o medo do diabo desarranjou mais de um cérebro. Sabe-se, acaso, o número de vítimas que se fez amedrontando-se imaginações fracas com esse quadro que se esforça em tornar mais assustador por detalhes hediondos? O diabo, diz-se, não assusta senão as crianças e é um freio para torná-las sábias; sim, como o bicho papão e o lobisomem, e quando elas não têm mais medo, tornam-se piores que antes. E, para esse belo resultado, não se conta o número de epilepsias causadas pela comoção de um cérebro delicado.
É preciso não confundir a loucura patológica com a obsessão. Esta não se origina de nenhuma lesão cerebral, mas da subjugação que Espíritos malfazejos exercem sobre certos indivíduos, e tem por vezes as aparências da loucura propriamente dita. Essa doença, que é muito freqüente e independente de qualquer crença no Espiritismo, existiu em todos os tempos. Nesse caso, a medicação ordinária é ineficaz e mesmo nociva. O Espiritismo, fazendo conhecer esta nova causa de perturbação da saúde, dá ao mesmo tempo o único meio de triunfar sobre ela, agindo não sobre a doença, mas sobre o Espírito obsessor. Ele é o remédio e não a causa do mal.



Esquecimento do passado

Visitante – Eu não entendo como o homem pode aproveitar a experiência adquirida em suas existências anteriores, se delas não se lembra, porque, desde o momento em que delas não se recorda, cada existência é para ele como se fosse a primeira e, assim, tem sempre que recomeçar. Suponhamos que, cada dia, ao despertarmos, percamos a memória do que fizemos na véspera, nós não seríamos mais avançados aos setenta anos que aos dez anos; enquanto que lembrando nossas faltas, nossas imperfeições e as punições em que incorremos, diligenciaríamos para não recomeçarmos. Para me servir da comparação que haveis feito do homem sobre a Terra com o aluno do colégio, eu não compreenderia que esse aluno pudesse aproveitar as lições da quarta série se ele não lembrasse do que aprendeu na anterior. (1) Essas soluções de continuidade na vida do Espírito interrompem todas as relações e fazem dele, de alguma sorte, um novo ser; de onde se pode dizer que nossos pensamentos morrem a cada existência, para se renascer sem consciência do que se foi. É uma espécie de nada.
(1) No original: en Cinquième, a criação do curso escolar devia obedecer a uma ordem numérica decrescente. (NOTA DO TRADUTOR.)
A.K. – De questão em questão me conduzireis a vos ministrar um curso completo de Espiritismo. Todas as objeções que fizestes são naturais naquele que nada sabe, ao passo que ele encontra, em um estudo sério, uma solução bem mais explícita que a que eu possa dar numa explicação sumária que, por si mesma, deve provocar, incessantemente, novas questões. Tudo se encadeia no Espiritismo, e quando se segue o conjunto, vê-se que os princípios decorrem uns dos outros, apoiando-se mutuamente. Então, o que parecia uma anomalia contrária à justiça e à sabedoria de Deus, parece muito natural e vem confirmar essa justiça e essa sabedoria.
Tal é o problema do esquecimento do passado que se liga a outras questões de igual importância e que, por isso, não farei mais que aflorar aqui.
Se, a cada existência, um véu é lançado sobre o passado, o Espírito não perde nada daquilo que adquiriu no passado: ele não esquece senão a maneira pela qual adquiriu a experiência. Para me servir da comparação do escolar, eu diria que: pouco importa para ele saber onde, como, e sob a orientação de que professores ele fez o ano anterior se, alcançando a quarta série ele sabe o que se aprende na anterior. Que lhe importa saber quem o castigou pela sua preguiça e sua insubordinação, se esses castigos o tornaram laborioso e dócil? É assim que, em se reencarnando, o homem traz, por intuição e como idéias inatas, o que adquiriu em ciência e moralidade. Eu digo em moralidade porque se, durante uma existência, ele se melhorou, se aproveitou as lições das experiências, quando retornar, será instintivamente melhor; seu Espírito amadurece na escola do sofrimento e, pelo trabalho, terá mais firmeza; longe de dever a tudo recomeçar, ele possui um fundo cada vez mais rico, sobre o qual se apóia para progredir mais.
A segunda parte da vossa objeção, referente ao aniquilamento do pensamento, não está melhor alicerçada, porque esse esquecimento não ocorre senão durante a vida corporal; deixando-a, o Espírito recobra a lembrança do seu passado e pode julgar quanto à sua caminhada e do que lhe resta ainda a realizar, de sorte que não há solução de continuidade na vida espiritual, que é a vida normal do Espírito.
O esquecimento temporário é um benefício da Providência. A experiência, freqüentemente, é adquirida em rudes provas e terríveis expiações, cuja lembrança seria muito penosa e viria aumentar as angústias das tribulações da vida presente. Se os sofrimentos da vida parecem longos, que seriam, pois, se sua duração fosse aumentada com as lembranças dos sofrimentos do passado? Vós, por exemplo, senhor, sois hoje um homem honesto, mas o deveis, talvez, aos rudes castigos que haveis suportado por faltas que, atualmente, repugnariam a vossa consciência; ser-vos-ia agradável lembrar de ter sido enforcado por isso? A vergonha não vos perseguiria imaginando que o mundo sabe do mal que haveis feito? Que importa o que haveis podido fazer, e o que haveis podido suportar para expiar, se agora sois um homem estimável? Aos olhos do mundo sois um homem novo, e aos olhos de Deus um Espírito reabilitado. Livre da lembrança de um passado importuno, agireis com mais liberdade; é para vós um novo ponto de partida; vossas dívidas anteriores estão pagas, cabendo-vos não contrair novas dívidas.
Assim, quantos homens gostariam de poder, durante a vida, lançar um véu sobre seus primeiros anos! Quantos disseram, ao fim de sua caminhada: "Se devesse recomeçar, eu não faria o que fiz"! Pois bem!, o que eles não podem refazer nesta vida, refarão em outra; em uma nova existência seu Espírito trará, no estado de intuição, as boas resoluções que eles terão tomado. É assim que se cumpre, gradualmente, o progresso da Humanidade.
Suponhamos, ainda, – o que é um caso muito comum – que em vossas relações, em vosso lar mesmo, se encontre um ser do qual tendes muitas queixas, que talvez vos arruinou ou desonrou em uma outra existência e que, Espírito arrependido, vem se encarnar em vosso meio, unir-se a vós pelos laços de família, para reparar o mal que vos fez pelo seu devotamento e sua afeição: ambos não estaríeis na mais falsa posição se, todos os dois, vos lembrásseis de vossas inimizades? Ao invés de se apaziguarem, os ódios se eternizariam.
Concluí com isso que a lembrança do passado perturbaria as relações sociais e seria um entrave ao progresso. Quereis disso uma prova atual? Que um homem condenado às galeras tome a firme resolução de se tornar honesto; que ocorrerá em sua saída? Será repelido pela sociedade e essa repulsa, quase sempre o recoloca no vício. Suponhamos, ao contrário, que todo o mundo ignore seus antecedentes: ele será bem acolhido; se ele próprio pudesse esquecê-los, não seria por isso menos honesto e poderia andar de cabeça erguida ao invés de curvá-la sob a vergonha da recordação.
Isso concorda perfeitamente com a doutrina dos Espíritos sobre os mundos superiores ao nosso. Nesses mundos, onde não reina senão o bem, a lembrança do passado nada tem de penosa; eis porque aí lembram-se de sua existência precedente como nos lembramos do que fizemos na véspera. Quanto à sua estada em mundos inferiores, ela não é mais que um sonho mau.



Elementos de convicção

Visitante – Eu convenho, senhor, que, do ponto de vista filosófico, a Doutrina Espírita é perfeitamente racional. Mas, resta sempre a questão das manifestações que não pode ser resolvida senão pelos fatos; ora, é a realidade desses fatos que muitas pessoas contestam e não deveis achar espantoso o desejo que se exprime de testemunhá-los.
A.K. – Acho isso muito natural; somente, como procuro que sejam proveitosos, explico em que condições convém se colocar para melhor observá-los e, sobretudo, para compreendê-los. Ora, aquele que não quer se colocar nessas condições é porque não tem desejo sério de se esclarecer e, então, é inútil perder-se tempo com ele.
Compreendereis também, senhor, que seria estranho que uma filosofia racional tivesse saído de fatos ilusórios e controvertidos. Em boa lógica, a realidade do efeito implica na realidade da causa; se um é verdadeiro, o outro não pode ser falso, porque onde não houvesse árvore não se recolheriam frutos.
Todo o mundo, é verdade, não pôde constatar os fatos, porque todo o mundo não se colocou nas condições desejadas para os observar e, para isso, não se armou da paciência e perseverança necessárias. Mas, ocorre aqui como em todas as ciências: o que uns não fazem, outros o fazem: todos os dias, aceita-se o resultado de cálculos astronômicos sem os ter feito. Qualquer que ela seja, se achais uma filosofia boa, podereis aceitá-la como aceitaríeis uma outra, reservando, porém, vossa opinião sobre os caminhos e meios que a ela conduziram, ou, pelos menos, não admitindo-a senão como hipótese até mais ampla constatação.
Os elementos de convicção não são os mesmos para todo o mundo; o que convence a alguns, não causa nenhuma impressão sobre outros: por isso é preciso um pouco de tudo. Mas, é um erro crer-se que as experiências físicas sejam o único meio de convencer. Vi pessoas que os fenômenos mais notáveis não puderam sacudir e para as quais uma simples resposta escrita triunfou. Quando se vê um fato que não se compreende, quanto mais ele é extraordinário, mais parece suspeito, e o pensamento nele procura sempre uma causa vulgar. Se se o compreende, mais facilmente é admitido porque tem uma razão de ser: o maravilhoso e o sobrenatural desaparecem. Certamente, as explicações que vos acabo de dar nesta entrevista estão longe de serem completas; mas, por mais sumárias que sejam, estou persuadido de que vos levarão a refletir e, se as circunstâncias vos testemunharem quaisquer fatos de manifestações, os vereis com menos prevenção, porque podereis raciocinar com base.
Há duas coisas no Espiritismo: a parte experimental das manifestações e a doutrina filosófica. Ora, todos os dias sou visitado por pessoas que nada viram e crêem tão firmemente como eu apenas pelo estudo que fizeram da parte filosófica; para elas o fenômeno das manifestações é acessório e o fundo é a doutrina, a ciência. Elas a vêem grande, tão racional, que nela encontram tudo o que pode satisfazer suas aspirações íntimas, sem o fato das manifestações, de onde concluem que, supondo-se que as manifestações não existissem, a doutrina não seria menos aquela que resolve melhor uma multidão de problemas reputados insolúveis. Quantos não disseram que essas idéias tinham germinado no seu cérebro, mas que elas aí estavam confusas! O Espiritismo veio formulá-las, dar-lhes um corpo, e foi para eles como um rasgo de luz. Isso explica o número de adeptos que apenas a leitura de O Livro dos Espíritos fez. Acreditais que ela estaria assim se não tivesse passado das mesas girantes e falantes?
Visitante – Tendes razão em dizer, senhor, que das mesas girantes saiu uma doutrina filosófica; e eu estava longe de supor as conseqüências que poderiam surgir de uma coisa que se olhava como simples objeto de curiosidade. Vejo agora quanto é vasto o campo aberto pelo vosso sistema.
A.K. – Aqui eu vos detenho, senhor; me fazeis muita honra atribuindo-me esse sistema, porque não me pertence. Ele foi inteiramente deduzido do ensinamento dos Espíritos. Eu vi, observei, coordenei, e procuro fazer os outros compreenderem o que eu próprio compreendo; eis toda a parte que nele me cabe. Há entre o Espiritismo e os outros sistemas filosóficos esta diferença capital: os últimos são obra de homens mais ou menos esclarecidos, enquanto que naquele que vós me atribuís não tenho o mérito de invenção de um único princípio. Diz-se: a filosofia de Platão, de Descartes, de Leibnitz; não se dirá: a doutrina de Allan Kardec, e isso é bom, pois que importância teria um nome em uma tão grave questão? O Espiritismo tem auxiliares bem mais preponderantes, perto dos quais não somos senão átomos.


Sociedade Espírita de Paris


Sociedade para a continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec - Rua de Lille, 7
Visitante – Tendes uma sociedade que se ocupa desses estudos; ser-me-ia possível fazer parte dela?
A.K. – Seguramente não, para o momento. Se para ser recebido não é necessário ser doutor em Espiritismo, é preciso, ao menos, ter sobre esse assunto idéias mais sólidas que as vossas. Como ela não quer ser perturbada em seus estudos, não pode admitir aqueles que lhe viriam fazer perder seu tempo com questões elementares, nem aqueles que, não simpatizando com seus princípios e suas convicções, nela lançariam a desordem com discussões intempestivas ou um espírito de contradição. É uma sociedade científica, como tantas outras, que se ocupa em aprofundar os diferentes princípios da ciência espírita, e que busca se esclarecer. É o centro para onde convergem as informações de todas as partes do mundo, e onde se elaboram e se coordenam as questões relacionadas com o progresso da ciência; mas não é uma escola, nem um curso de ensinamentos elementares. Mais tarde, quando vossas convicções estiverem formadas pelo estudo, ela verá se poderá vos admitir. Até lá, podereis assistir, quando muito, a uma ou duas sessões como ouvinte, com a condição de nela não fazer nenhuma reflexão de natureza a magoar ninguém, sem o que, eu, que aí vos terei introduzido, me exporei à censura da parte dos meus colegas, e a porta da sociedade lhe será fechada para sempre. Vereis aí uma reunião de homens graves e de boa companhia, cuja maioria se recomenda pela superioridade do seu saber e sua posição social, e que não permitiria que aqueles que ela quer admitir se afastem, no que quer que seja, das conveniências; porque não creiais que ela convida o público e que chama a qualquer um para as suas sessões. Como não faz demonstrações, tendo em vista satisfazer a curiosidade, ela afasta com cuidado os curiosos. Portanto, aqueles que crêem aí encontrar uma distração, e uma espécie de espetáculo, ficariam desapontados e melhor fariam se a ela não se apresentassem. Eis porque ela recusa admitir, mesmo como simples ouvintes, aqueles que lhes são desconhecidos, ou cujas disposições hostis são notórias.



Interdição ao Espiritismo

Visitante – Eu vos peço uma última questão. O Espiritismo tem inimigos poderosos; eles não poderiam interditar-lhe a atividade e as sociedades, e por esse meio deter a sua propagação?
A.K. – Isso seria um meio de perder a disputa um pouco mais depressa, porque a violência é o argumento daqueles que nada de bom têm a dizer. Se o Espiritismo é uma quimera, ele cairá por si mesmo, sem que se dê a esse trabalho; se o perseguem é porque o temem, e não se teme senão aquilo que é sério. Se é uma realidade, ele está, como eu o disse, na Natureza, e não se revoga uma lei da Natureza com uma penada.
Se as manifestações espíritas fossem o privilégio de um homem, ninguém duvida que colocando esse homem de lado, põe-se fim às manifestações. Infelizmente para os adversários, elas não são um mistério para ninguém; nada há de secreto, nada de oculto, tudo se passa em pleno dia; elas estão à disposição de todo o mundo, e a usam desde o palácio à mansarda. Pode-se interditar-lhe o exercício público; mas sabe-se precisamente que não é em público que elas se produzem melhor, mas na intimidade. Ora, cada um podendo ser médium, quem pode impedir uma família em seu lar, um indivíduo no silêncio do gabinete, o prisioneiro sob os ferrolhos, de ter comunicações com os Espíritos, com o desconhecimento e mesmo sob as barbas dos esbirros? Todavia, admitamos que um governante fosse bastante forte para impedi-los, impediria seus vizinhos, o mundo inteiro, uma vez que não há um só país, nos dois continentes, onde não haja médiuns?
O Espiritismo, aliás, não tem sua origem entre os homens, pois é obra dos Espíritos, aos quais não se os pode nem queimar, nem prender. Ele repousa na crença individual e não nas sociedades, que de nenhum modo são necessárias.
Se viessem a destruir todos os livros espíritas, os Espíritos os ditariam de novo.
Em resumo, o Espiritismo é hoje um fato consumado; ele conquistou seu lugar na opinião pública e entre as doutrinas filosóficas. É preciso, pois, que aqueles aos quais não convém, disponham-se a vê-lo ao seu lado, ficando perfeitamente livres para não aceitá-lo.

Fonte: Portal do Espírito

Terceiro Diálogo - O Padre

Um abade – Permiti-me, senhor, dirigir-vos, a meu turno, algumas questões?
A.K. – De bom grado, senhor, mas, antes de responder-vos, creio ser útil fazer-vos conhecer o terreno sobre o qual tenciono me colocar convosco.
Primeiramente, devo declarar-vos que não procurarei, de nenhum modo, converter-vos à nossas idéias. Se desejais conhecê-las detalhadamente, as encontrareis nos livros onde elas estão expostas. Lá podereis estudá-las com vagar e estareis livre para aceitá-las ou rejeitá-las.
O Espiritismo tem por objetivo combater a incredulidade e suas funestas conseqüências, dando provas patentes da existência da alma e da vida futura. Ele se dirige, pois, àqueles que não crêem em nada, ou que duvidam, e o número deles é grande, como o sabeis. Aqueles que têm um fé religiosa, e aos quais essa fé basta, dele não têm necessidade; àquele que diz: "eu creio na autoridade da Igreja, e me atenho ao que ela ensina, sem nada procurar além dela", o Espiritismo responde que ele não se impõe a ninguém e não vem forçar nenhuma convicção.
A liberdade de consciência é uma conseqüência da liberdade de pensar, que é um dos atributos do homem; o Espiritismo estaria em contradição com seus princípios de caridade e de tolerância, se ele não a respeitasse. Aos seus olhos, toda crença, quando sincera e não conduz o seu próximo ao erro, é respeitável, mesmo que ela fosse errônea. Se alguém tiver sua consciência empenhada em crer, por exemplo, que é o Sol que gira, nós lhe diremos: crede se isso vos satisfaz, porque não impedirá a Terra de girar; mas, da mesma forma que não procuramos violentar vossa consciência, não procurai violentar a dos outros. Se de uma crença, inocente em si mesma, fazeis um instrumento de perseguição, ela torna-se nociva e pode ser combatida.
Tal é, senhor abade, a linha de conduta que tive com os ministros de diversos cultos que a mim se dirigiram. Quando me questionaram sobre alguns pontos da doutrina, lhes dei as explicações necessárias, abstendo-me de discutir certos dogmas com os quais o Espiritismo não tem preocupações, cada um estando livre em sua apreciação; mas jamais fui procurá-los no desejo de abalar sua fé mediante uma pressão qualquer. Aquele que vem a nós como um irmão, como tal o acolhemos; aquele que nos recusa, nós o deixamos em paz. É o conselho que não cesso de dar aos espíritas, porque nunca aprovei aqueles que se atribuem a missão de converter o clero. Sempre lhes disse: semeai no campo dos incrédulos, porque lá está uma ampla colheita a fazer.
O Espiritismo não se impõe porque, como eu o disse, ele respeita a liberdade de consciência e sabe que toda crença imposta é superficial e não dá senão as aparências da fé, mas não a fé sincera. Ele expõe seus princípios aos olhos de todos, de maneira a que cada um possa formar sua opinião com conhecimento de causa. Aqueles que o aceitam, padres ou laicos, o fazem livremente e porque os acham racionais; mas não nos zangamos de nenhum modo com aqueles que não são da nossa opinião. Se hoje há luta entre a Igreja e o Espiritismo, temos a consciência tranqüila de não tê-la provocado.
O padre – Se a Igreja, vendo surgir uma nova doutrina, nela encontra princípios que, no seu entender, crê dever condenar, contestai-lhe o direito de discuti-los e de combatê-los, de precaver seus fiéis contra aquilo que ela considera um erro?
A.K. – De forma alguma contestamos um direito que reclamamos para nós mesmos. Se ela tivesse se contido nos limites da discussão, nada de melhor; mas, lede a maioria dos escritos emanados dos seus membros ou publicados em nome da religião, os sermões que pregaram e aí vereis a injúria e a calúnia extravasar de todas as partes, e os princípios da doutrina sempre indigna e maldosamente deturpados. Não se tem ouvido, do alto do púlpito, seus partidários serem qualificados de inimigos da sociedade e da ordem pública? aqueles que ela reconduziu para a fé, anatematizados e rejeitados pela Igreja, pela razão que ela entende melhor ser incrédulo que crer em Deus e na alma através do Espiritismo? não se afligiram por não haver para os espíritas as fogueiras da Inquisição? Em certas localidades, não os apontaram à repreensão dos seus concidadãos, chegando a fazê-los perseguir e injuriar nas ruas? Não se impôs, a todos os fiéis, fugirem deles como de pestilentos, desviando os serviçais de entrarem ao seu serviço? As mulheres não foram solicitadas a separarem-se de seus maridos, e os maridos de suas mulheres, por causa do Espiritismo? Não se fez perder seus lugares nos empregos, retirando aos operários o pão do trabalho e aos necessitados o pão da caridade porque eram espíritas? Não foram despedidos de certos asilos até os cegos, porque não quiseram abjurar sua crença? Dizei-me, senhor abade, está aí a discussão real? Os espíritas opuseram a injúria pela injúria, o mal pelo mal? Não. A tudo opuseram a calma e a moderação. A consciência pública já lhes rendeu a justiça de que eles não foram os agressores.
O padre – Todo homem sensato deplora esses excessos; mas a Igreja não poderia ser responsável pelo abuso cometido por alguns de seus membros pouco esclarecidos.
A.K. – Concordo com isso; mas esses membros pouco esclarecidos são os príncipes da Igreja? Vede a pastoral do bispo de Argel e de alguns outros. Não foi um bispo que ordenou o auto-de-fé de Barcelona? A superior autoridade eclesiástica não tem todo o poder sobre os seus subordinados? Se, pois, ela tolera sermões indignos no púlpito evangélico, se favorece a publicação de escritos injuriosos e difamatórios contra uma classe de cidadãos, se não se opõe às perseguições exercidas em nome da religião, é porque ela os aprova.
Em resumo, a Igreja, repelindo sistematicamente os espíritas que voltavam para ela, forçou-os a retrocederem; pela natureza e violência de seus ataques, ela alargou a discussão e a conduziu para um terreno novo. O Espiritismo não era senão uma simples doutrina filosófica e foi ela mesma que o engrandeceu apresentando-o como um inimigo terrível; enfim, foi ela que o proclamou como uma nova religião. Foi uma imperícia, mas a paixão não raciocina.
Um livre pensador – Tendes proclamado, a toda hora, a liberdade de pensamento e de consciência, e declarado que toda crença sincera é respeitável. O materialismo é uma crença como qualquer outra; por que não gozaria ele da liberdade que concedeis a todas as outras?
A.K. – Cada um é, seguramente, livre para crer no que lhe agrada, ou para não crer em nada, e não desculparíamos mais uma perseguição contra aquele que crê no nada depois da morte, que contra um cismático de uma religião qualquer. Combatendo o materialismo, nós atacamos, não os indivíduos, mas uma doutrina que, se é inofensiva para a sociedade quando se encerra no foro íntimo da consciência de pessoas esclarecidas, é uma calamidade social, se ela se generaliza.
A crença de que tudo termina para o homem depois da morte, que toda solidariedade cessa com a vida, o conduz a considerar o sacrifício do bem-estar presente em proveito de outro como uma intrujice; daí a máxima: cada um por si durante a vida, uma vez que nada há além dela. A caridade, a fraternidade, a moral, em uma palavra, não têm nenhuma base, nenhuma razão de ser. Por que se mortificar, se reprimir, se privar hoje quando, amanhã talvez, não existiremos mais? A negação do futuro, a simples dúvida sobre a vida futura, são os maiores estimulantes do egoísmo, fonte da maioria dos males da Humanidade. É preciso uma virtude bem grande para se deter sobre a inclinação do vício e do crime, sem outro freio além da força da vontade. O respeito humano pode conter o homem do mundo, mas não aquele para o qual o temor da opinião pública é nulo.
A crença na vida futura, mostrando a perpetuidade das relações entre os homens, estabelece entre eles uma solidariedade que não termina no túmulo; ela muda, assim, o curso das idéias. Se essa crença fosse apenas um espantalho, seria temporária; mas como sua realidade é um fato adquirido pela experiência, ela está no dever de a propagar e de combater a crença contrária, no interesse mesmo da ordem social. É isso o que faz o Espiritismo, e com sucesso, porque dá as provas, e porque, em definitivo, o homem prefere ter a certeza de viver feliz em um mundo melhor, como compensação às misérias deste mundo, do que crer estar morto para sempre. O pensamento de se ver aniquilado para sempre, de crer os filhos e os seres que nos são caros, perdidos sem retorno, sorri a um bem pequeno número, crede-me; por isso os ataques dirigidos contra o Espiritismo em nome da incredulidade têm tão pouco sucesso, e não o abalaram um instante.
O padre – A religião ensina tudo isso e bastou até o momento; qual é, pois, a necessidade de uma nova doutrina?
A.K. – Se a religião basta, por que há tantos incrédulos, religiosamente falando? A religião nos ensina, é verdade, e nos diz para crer; mas há muitas pessoas que não crêem apenas em palavras. O Espiritismo prova, e faz ver o que a religião ensina por teoria. Aliás, de onde vêm essas provas? Da manifestação dos Espíritos. Ora, é provável que os Espíritos não se manifestem senão com a permissão de Deus; se, pois, Deus, em sua misericórdia, envia aos homens esse socorro para tirá-los da incredulidade, é uma impiedade recusá-lo.
O padre – Não discordais, entretanto, que o Espiritismo não está, sobre todos os pontos, de acordo com a religião.
A.K. – Meu Deus, senhor abade, todas as religiões dirão a mesma coisa: os protestantes, os judeus, os muçulmanos, assim como os católicos.
Se o Espiritismo negasse a existência de Deus, da alma, da sua individualidade e da imortalidade, das penas e das recompensas futuras, do livre arbítrio do homem; se ele ensinasse que cada um, neste mundo, não está senão para si e não deve pensar senão em si, ele seria não somente contrário à religião católica, mas a todas as religiões do mundo; isso seria a negação de todas as leis morais, bases das sociedades humanas. Longe disso, os Espíritos proclamam um Deus único, soberanamente justo e bom; eles dizem que o homem é livre e responsável por seus atos, recompensado e punido segundo o bem ou o mal que fez; eles colocam acima de todas as virtudes a caridade evangélica e esta regra sublime ensinada pelo Cristo: agir para com os outros como gostaríamos que os outros agissem para conosco. Não estão aí os fundamentos da religião? Eles fazem mais: nos iniciam nos mistérios da vida futura, que para nós não é mais uma abstração, mas uma realidade, porque são aqueles mesmos que conhecemos que vêm nos descrever suas situações, nos dizer como e porque eles sofrem ou são felizes. Que há nisso de anti-religioso? Essa certeza do futuro, de reencontro com aqueles que amamos, não é uma consolação? Essa grandiosidade da vida espiritual que é nossa essência, comparada às mesquinhas preocupações da vida terrestre, não é própria para elevar nossa alma e a nos encorajar ao bem?
O padre – Eu concordo que para as questões gerais, o Espiritismo está conforme as grandes verdades do Cristianismo; mas ocorre o mesmo do ponto de vista dos dogmas? Ele não contradiz certos princípios que a Igreja nos ensina?
A.K. – O Espiritismo é, antes de tudo, uma ciência e não se ocupa com questões dogmáticas. Essa ciência tem conseqüências morais como todas as ciências filosóficas; são essas conseqüências boas ou más? Pode-se julgá-las pelos princípios gerais que acabo de lembrar. Algumas pessoas estão equivocadas sobre o verdadeiro caráter do Espiritismo. A questão é bastante grave e merece algum desenvolvimento.
Citemos primeiro uma comparação: a eletricidade, estando na Natureza, existiu de todos os tempos e de todos os tempos também produziu os efeitos que nós conhecemos e muitos outros efeitos que não conhecemos ainda. Os homens, na ignorância da causa verdadeira, explicaram esses efeitos de uma maneira mais ou menos bizarra. A descoberta da eletricidade e das suas propriedades veio desmoronar uma multidão de teorias absurdas, lançando luz sobre mais de um mistério da Natureza. O que a eletricidade e as ciências físicas em geral fizeram por certos fenômenos, o Espiritismo fez por fenômenos de uma outra ordem.
O Espiritismo está fundado sobre a existência de um mundo invisível, formado de seres incorpóreos que povoam o espaço, e que não são outros senão as almas daqueles que viveram sobre a Terra, ou em outros globos, onde deixaram seu envoltório material. São a esses seres que damos o nome de Espíritos. Eles nos rodeiam permanentemente, exercendo sobre os homens, com o seu desconhecimento, uma grande influência; eles desempenham um papel muito ativo no mundo moral, e, até um certo ponto, no mundo físico. O Espiritismo, pois, está na Natureza e pode-se dizer que, em uma certa ordem de idéias, é uma potência, como a eletricidade o é em outro ponto de vista, como a gravitação o é em outro. Os fenômenos, dos quais o mundo invisível é a fonte, são efeitos produzidos em todos os tempos; eis porque a história de todos os povos deles faz menção. Somente que, em sua ignorância, como para a eletricidade, os homens atribuíram esses fenômenos a causas mais ou menos racionais, e deram a esse respeito livre curso à imaginação.
O Espiritismo, melhor observado depois que se vulgarizou, veio lançar luz sobre uma multidão de questões até aqui insolúveis ou mal compreendidas. Seu verdadeiro caráter, pois, é o de uma ciência, e não de uma religião; e a prova disso é que conta entre seus adeptos homens de todas as crenças, que não renunciaram por isso às suas convicções: católicos fervorosos que não praticam menos todos os deveres de seu culto, quando não são repelidos pela Igreja, protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos, e até budistas e brâmanes. Ele repousa, pois, sobre princípios independentes de toda questão dogmática. Suas conseqüências morais estão no sentido do Cristianismo, porque o Cristianismo é, de todas as doutrinas, a mais esclarecida e a mais pura, e é por essa razão que, de todas as seitas religiosas do mundo, os cristãos estão mais aptos a compreendê-lo em sua verdadeira essência. Pode-se, por isso, fazer-lhe uma censura? Cada um, sem dúvida, pode fazer uma religião de suas opiniões, interpretar à vontade as religiões conhecidas, mas daí à constituição de uma nova Igreja, há distância.
O padre – Não fazeis, entretanto, as evocações depois de uma fórmula religiosa?
A.K. – Seguramente colocamos um sentimento de religiosidade nas evocações e nas nossas reuniões, mas não há fórmula sacramental; para os Espíritos o pensamento é tudo e a forma nada. Nós os chamamos em nome de Deus porque cremos em Deus, e sabemos que nada se faz neste mundo sem sua permissão, e que se Deus não lhes permitir vir, eles não virão. Procedemos em nossos trabalhos com calma e recolhimento, porque é uma condição necessária para as observações, e, em segundo lugar, porque conhecemos o respeito que se deve àqueles que não vivem mais sobre a Terra, qualquer que seja sua condição, feliz ou infeliz, no mundo dos Espíritos. Fazemos um apelo aos bons Espíritos porque, sabendo que há bons e maus, resulta que estes últimos não vêem se misturar fraudulentamente nas comunicações que recebemos. O que tudo isso prova? Que nós não somos ateus, mas isso não implica, de nenhum modo, que sejamos religiosos.
O padre – Pois bem! que dizem os Espíritos superiores com respeito à religião? Os bons devem nos aconselhar, nos guiar. Suponho que eu não tenha nenhuma religião e queira uma. Se eu lhes perguntar: me aconselhais que me torne católico, protestante, anglicano, quaker, judeu, maometano ou mórmon, que responderão eles?
A.K. – Há dois pontos a considerar nas religiões: os princípios gerais, comuns a todos, e os princípios particulares a cada uma. Os primeiros são aqueles de que falamos a toda hora, e que todos os Espíritos proclamam qualquer que seja sua posição. Quanto aos segundos, os Espíritos vulgares, sem serem maus, podem ter preferências e opiniões; eles podem preconizar tal ou tal forma. Eles podem, pois, encorajar em certas práticas, seja por convicção pessoal, seja porque conservam as idéias da vida terrestre, seja por prudência, para não assustar consciências tímidas. Credes, por exemplo, que um Espírito esclarecido, fosse mesmo Fénelon, dirigindo-se a um muçulmano, irá desastradamente dizer-lhe que Maomé era um impostor, e que estará perdido se não se tornar cristão? Ele se guardará disso, porque será repelido.
Os Espíritos superiores, e quando não são solicitados por nenhuma consideração especial, não se preocupam com questões de detalhes. Eles se limitam a dizer: "Deus é bom e justo; ele não quer senão o bem; a melhor de todas as religiões, pois, é aquela que não ensina senão conforme a bondade e a justiça de Deus; que dá de Deus uma idéia mais ampla, mais sublime, e não o rebaixa emprestando-lhe a pequenez e as paixões da Humanidade; que torna os homens bons e virtuosos e lhes ensina a se amarem todos como irmãos; que condena todo mal feito ao próximo; que não autoriza a injustiça sob qualquer forma ou pretexto que seja; que não prescreve nada de contrário às leis imutáveis da Natureza, porque Deus não pode se contradizer; aquela cujos ministros dão o melhor exemplo de bondade, de caridade e de moralidade; aquela que tende a combater melhor o egoísmo e a lisonjear menos o orgulho e a vaidade dos homens; aquela, enfim, em nome da qual se comete menos mal, porque uma boa religião não pode ser o pretexto de um mal qualquer; ela não deve lhe deixar nenhuma porta aberta, nem diretamente, nem pela interpretação.
Vede, julgai e escolhei.
O padre – Suponho que certos pontos da doutrina católica sejam contestados pelos Espíritos, que considerais como superiores. Suponho mesmo que esses pontos sejam errados; aquele para quem eles são artigos de fé, errados ou certos, que os pratica em conseqüência, pode essa crença, segundo esses mesmos Espíritos, ser prejudicial à sua salvação?
A.K. – Seguramente não, se essa crença não o afasta da prática do bem, se, ao contrário, ela o incita a isso; enquanto que, a crença mais bem fundada, o prejudicará, evidentemente, se ela lhe é ocasião para a prática do mal, de falta de caridade para com seu próximo, se o torna duro e egoísta, porque, então, ele não age conforme a lei de Deus, e Deus considera o pensamento antes dos atos. Quem ousaria sustentar o contrário?
Pensais, por exemplo, que um homem que cresse perfeitamente em Deus, e que, em nome de Deus, cometesse atos desumanos ou contrários à caridade, sua fé lhe seja muito proveitosa? Não é tanto mais culpado quanto maiores os meios de esclarecimentos?
O padre – Assim, o católico fervoroso que cumpre escrupulosamente os deveres do seu culto não é censurado pelos Espíritos?
A.K. – Não, se é para ele uma questão de consciência, se o faz com sinceridade; sim, mil vezes sim, se é por hipocrisia, e se não há nele senão uma piedade aparente.
Os Espíritos superiores, aqueles que têm por missão o progresso da Humanidade, se erguem contra todos os abusos que podem retardar esse progresso, qualquer que seja a sua natureza, e quaisquer que sejam os indivíduos ou as classes sociais que deles se aproveitam. Ora, não negareis que a religião disso não esteve sempre isenta; se, entre seus ministros, há os que cumprem sua missão com um devotamento todo cristão, que a fazem grande, bela e respeitável, concordareis que nem todos cumpriram sempre a santidade do seu ministério. Os Espíritos eliminam o mal por toda parte onde ele se encontre; assinalar os abusos da religião é atacá-la? Ela não tem maiores inimigos que aqueles que os defendem, porque são esses abusos que fazem nascer o pensamento de que alguma coisa de melhor pode substituí-la. Se a religião corresse um perigo qualquer, seria necessário atribuí-lo àqueles que dela dão uma falsa idéia, transformando-a numa arena das paixões humanas, e que a exploram em proveito da sua ambição.
O padre – Dizeis que o Espiritismo não discute os dogmas, e, todavia, admite certos pontos combatidos pela Igreja, tais como, por exemplo, a reencarnação, a presença do homem sobre a Terra antes de Adão; ele nega a eternidade das penas, a existência dos demônios, o purgatório, o fogo do inferno.
A.K. – Esses pontos foram discutidos durante muito tempo, e não foi o Espiritismo que os questionou; são opiniões das quais algumas mesmo são contestadas pela teologia e que o futuro julgará. Um grande princípio os domina a todos: a prática do bem, que é a lei superior, a condição sine qua non do nosso futuro, como nos prova o estado dos Espíritos que se comunicam conosco. A espera de que a luz seja feita para vós sobre essas questões, crede, se quiserdes, nas chamas e nas torturas materiais, se isso pode vos impedir de fazer o mal: isso não as tornará mais reais se não existem. Acreditai que temos uma só existência corporal, se vos agrada: isso não impedirá de renascer aqui ou alhures, se assim deve ser, malgrado vós. Acreditai que o mundo foi criado, em todas as suas partes, em seis vezes vinte e quatro horas, se é essa vossa opinião: isso não impedirá a Terra de trazer escrito em suas camadas geológicas a prova contrária. Se quiserdes, acreditai que Josué deteve o sol: isso não impedirá a Terra de girar. Acreditai que o homem não está sobre a Terra senão há seis mil anos: isso não impedirá aos fatos de mostrarem sua impossibilidade. E que direis se, um belo dia, essa inexorável geologia venha demonstrar por marcas patentes a anterioridade do homem, como demonstrou tantas outras coisas? Acreditai, pois, em tudo o que quereis, mesmo no diabo, se essa crença pode vos tornar bom, humano e caridoso para com os vossos semelhantes. O Espiritismo, como doutrina moral, não impõe senão uma coisa: a necessidade da prática do bem e de não fazer o mal. É uma ciência de observação que, repito-o, tem conseqüências morais, e essas conseqüências são a confirmação e a prova dos grandes princípios da religião; quanto às questões secundárias, ele as deixa à consciência de cada um.
Anotai bem, senhor, que alguns dos pontos divergentes, dos quais acabais de falar, o Espiritismo não os contesta, em princípio. Se tivésseis lido tudo o que escrevi sobre esse assunto, teríeis visto que ele se limita a lhes dar uma explicação mais lógica e mais racional que aquela que lhes dão vulgarmente.
É assim, por exemplo, que ele não nega o purgatório, mas lhe demonstra, ao contrário, a necessidade e a justiça, indo mais além ao defini-lo. O inferno foi descrito como uma imensa fornalha; mas é assim que o entende a alta teologia? Evidentemente não; ela diz muito bem que é uma figura e que o fogo no qual se queima é um fogo moral, símbolo das dores maiores. Quanto à eternidade das penas, se fosse possível pôr a questão em votação para conhecer a opinião íntima de todos os homens em estado de raciocinar ou de compreender, mesmo entre os mais religiosos, ver-se-ia de que lado está a maioria, porque a idéia de uma eternidade de suplícios é a negação da infinita misericórdia de Deus.
Eis, de resto, o que diz a Doutrina Espírita a esse respeito:
A duração do castigo está subordinada ao aprimoramento do Espírito culpado. Nenhuma condenação por tempo determinado é pronunciada contra ele. O que Deus exige para pôr termo ao sofrimento, é o arrependimento, a expiação e a reparação, em uma palavra, um aprimoramento sério, efetivo, e um retorno sincero ao bem. O Espírito tem, assim, o arbítrio de sua própria sorte; ele pode prolongar seus sofrimentos pela sua obstinação no mal, abrandá-los ou abreviá-los pelos seus esforços em fazer o bem.
A duração do castigo estando subordinada ao arrependimento, disso resulta que o Espírito culpado que não se arrependesse e não se melhorasse jamais, sofreria sempre, e que, para ele, a pena seria eterna. A eternidade das penas, pois, deve-se entender no sentido relativo e não no sentido absoluto.
Uma condição inerente à inferioridade dos Espíritos é de, não podendo ver o termo da sua situação, crer que sofrerão sempre; é para eles um castigo. Mas, desde que sua alma se abra ao arrependimento, Deus lhes faz entrever um raio de esperança.
Esta doutrina, evidentemente, está mais conforme a justiça de Deus, que pune enquanto se persiste no mal e perdoa quando se entra no bom caminho. Quem a imaginou? Nós? Não; são os Espíritos que a ensinam e a provam pelos exemplos que colocam diariamente sob nossos olhos.
Os Espíritos não negam, pois, as penas futuras, uma vez que descrevem seus próprios sofrimentos; e esse quadro nos toca mais que os das chamas perpétuas, porque tudo nele é perfeitamente lógico. Compreende-se que isso é impossível, que deve sê-lo assim, que essa situação é uma conseqüência toda natural das coisas; pode ser aceita pelo pensador filósofo, porque nada nisso repugna a razão. Eis porque as crenças espíritas conduziram ao bem uma multidão de pessoas, mesmo materialistas, que o medo do inferno, tal como nos é pintado, não tinha podido deter.
O padre – Admitindo vosso raciocínio, pensais que falta ao vulgo imagens mais apavorantes do que uma filosofia que ele não pode compreender?
A.K. – Está aí um erro que fez mais de um materialista ou, pelo menos, desviou mais de um homem da religião. Chega um momento em que essas imagens não assustam mais e, então, as pessoas que não se aprofundam, rejeitando uma parte, rejeitam o todo, porque dizem: se me ensinaram como uma verdade incontestável um princípio que é falso, se me deram uma imagem, uma figura pela realidade, quem me diz que o resto é mais verdadeiro? Se, ao contrário, a razão, num crescente, não repele nada, a fé se fortifica. A religião ganhará sempre seguindo o progresso das idéias; se nunca ela devesse periclitar, seria porque os homens não teriam avançado e ela permanecido estacionária. É equivocar-se com a época crer que se pode, hoje, conduzir os homens pelo temor do demônio e das torturas eternas.
O padre – A Igreja, com efeito, reconhece hoje que o inferno material é uma figura; mas isso não exclui a existência dos demônios; sem eles, como explicar a influência do mal que não pode vir de Deus?
A.K. – O Espiritismo não admite os demônios no sentido vulgar da palavra, mas admite os maus Espíritos que não valem melhor e que fazem igualmente o mal, suscitando maus pensamentos; somente ele diz que esses não são seres à parte, criados para o mal e perpetuamente devotados ao mal, espécie de párias da criação e carrascos do gênero humano; são seres atrasados, ainda imperfeitos, mas aos quais Deus reserva o futuro. Isso está de acordo com a Igreja Católica grega que admite a conversão de Satã, alusão ao melhoramento dos maus Espíritos. Anotai ainda que a palavra demônio não implica a idéia de maus Espíritos senão pela acepção moderna que lhe foi dada, porque a palavra grega daímôn significa gênio, inteligência. Ora, admitir a comunicação dos maus Espíritos é reconhecer, em princípio, a realidade das manifestações. É preciso saber se só eles se comunicam, como o afirma a Igreja para motivar a proibição que faz de comunicar-se com os Espíritos. Invocamos aqui o raciocínio e os fatos. Se Espíritos, quaisquer que sejam, se comunicam, não é senão com a permissão de Deus: compreender-se-ia que ele permitisse apenas aos maus? Como? enquanto que deixaria a estes toda a liberdade de vir enganar os homens, interditaria aos bons de virem contrabalançar, neutralizar suas perniciosas doutrinas? Crer que seja assim não seria colocar em dúvida seu poder e sua bondade e fazer de Satã um rival da Divindade? A Bíblia, o Evangelho, os Pais da Igreja, reconhecem perfeitamente a possibilidade de comunicação com o mundo invisível, e desse mundo os bons não estão excluídos; por que, pois, o seriam hoje? Aliás, a Igreja admitindo a autenticidade de certas aparições e comunicações de santos, exclui por isso mesmo a idéia de que não se pode ter relações senão com os maus Espíritos. Seguramente, quando as comunicações não encerram senão coisas boas, como a pregação da moral evangélica mais pura e mais sublime, a abnegação, o desinteresse e o amor ao próximo; quando aí se combate o mal, com qualquer coloração que ele se apresente, é racional crer-se que o Espírito maligno vem assim realizar seu trabalho?
O padre – O Evangelho nos ensina que o anjo das trevas, ou Satã, se transforma em anjo de luz para seduzir os homens.
A.K. – Satã, segundo o Espiritismo e a opinião de muitos filósofos cristãos, não é um ser real; é a personificação do mal, como outrora Saturno era a personificação do tempo. A Igreja prende à letra essa figura alegórica; é um negócio de opinião que eu não discutirei. Admitamos, por um instante, que Satã seja um ser real; a Igreja, à força de exagerar seu poder para amedrontar, chega a um resultado todo contrário, quer dizer, à destruição, não só de todo medo mas também de toda crença em sua pessoa, segundo o provérbio: "quem quer muito provar não prova nada". Ela o representa como eminentemente fino, sagaz e astuto, e na questão do Espiritismo o faz representar o papel de um tolo e de um inábil.
Uma vez que o objetivo de Satã é alimentar o inferno com suas vítimas e arrebatar almas de Deus, compreende-se que ele se dirija àqueles que estão no caminho do bem para os induzir ao mal, e que por isso ele se transforme, segundo uma muito bela alegoria, em anjo da luz, quer dizer, simule hipocritamente a virtude; mas que ele deixe escapar aqueles que já tem em suas garras é o que não se compreende. Aqueles que não crêem nem em Deus, nem em sua alma, que desprezaram a prece e estão mergulhados no vício, estão para ele tanto quanto é possível estar; nada mais há a fazer para os afundar mais na lama; ora, incitá-los a retornar a Deus, a lhe pedir, a submeter-se à sua vontade, encorajá-los a renunciar ao mal mostrando-lhe a felicidade dos eleitos, e a triste sorte que espera os maus, seria ato de um tolo, mais estúpido que se desse a liberdade a pássaros engaiolados com o pensamento de os recuperar em seguida.
Há, pois, na doutrina da comunicação exclusiva dos demônios uma contradição que fere o homem sensato; por isso não se persuadirá jamais que os Espíritos que reconduzem a Deus aqueles que o negavam, ao bem, aqueles que faziam o mal, que consolam os aflitos, dão força e coragem aos fracos; que, pela sublimidade dos seus ensinamentos elevam a alma acima da vida material, sejam os subordinados de Satã, e que, por esse motivo, deve-se interditar toda relação com o mundo invisível.
O padre – Se a Igreja proíbe as comunicações com os Espíritos dos mortos é porque são contrárias à religião, como estão formalmente condenadas pelo Evangelho e por Moisés. Este último, pronunciando a pena de morte contra essas práticas, prova quanto elas são repreensíveis aos olhos de Deus.
A.K. – Eu vos peço perdão, mas essa proibição não está em nenhuma parte no Evangelho; ela está somente na lei mosaica. Trata-se, pois, de saber se a Igreja coloca a lei mosaica acima da lei evangélica, quer dizer, se ela é mais judaica que cristã. Observe-se mesmo que de todas as religiões, a que faz menos oposição ao Espiritismo é a Judaica, e que ela não tem invocado a lei de Moisés, sobre as quais se apóiam as seitas cristãs, contra as evocações. Se as prescrições bíblicas são o código da fé cristã, por que interditar a leitura da Bíblia? Que se diria se se proibisse a um cidadão estudar o código das leis de seu país?
A proibição feita por Moisés tinha então sua razão de ser, porque o legislador hebreu queria que seu povo rompesse com todos os costumes adquiridos entre os Egípcios, e que este, do qual se trata aqui, era um motivo de abusos. Não se evocavam os mortos por respeito e afeição por eles, nem com um sentimento de piedade; era um meio de adivinhação, objeto de um tráfico vergonhoso explorado pelo charlatanismo e a superstição; portanto, Moisés teve razão em proibi-la. Se ele pronunciou contra esse abuso uma penalidade severa, é que precisava de meios rigorosos para governar seu povo indisciplinado; também a pena de morte está prodigalizada na sua legislação. Apóia-se erradamente sobre a severidade do castigo para provar o grau de culpabilidade da evocação dos mortos.
Se a proibição de evocar os mortos veio do próprio Deus, como pretende a Igreja, deve ter sido Deus quem editou a pena de morte contra os infratores. A pena tem, pois, uma origem tão sacra quanto a proibição; por que não a conservaram? Moisés promulgou todas as suas leis em nome de Deus, e por sua ordem. Se se crê que Deus seja seu autor, por que não são elas mais observadas? Se a lei de Moisés é para a Igreja um artigo de fé sobre algum ponto, por que não o é sobre todos? Por que a ela recorrer naquilo que tem necessidade e repeli-la no que não convém? Por que não segui-la em todas as suas prescrições, a circuncisão, entre outras, que Jesus suportou e não aboliu?
Havia na lei mosaica duas partes: primeiro, a lei de Deus, resumida nas tábuas do Sinai, e que permaneceu porque era divina e o Cristo não fez senão desenvolvê-la; segundo, a lei civil ou disciplinar, apropriada aos costumes da época e que o Cristo aboliu.
Hoje, as circunstâncias não são as mesmas e a proibição de Moisés não tem mais cabimento. Aliás, se a Igreja proíbe evocar os mortos, pode ela impedir que eles venham sem que sejam chamados? Não se vê todos os dias pessoas que jamais se ocuparam com o Espiritismo, como se via antes que ele fosse discutido, ter manifestações de todos os gêneros?
Outra contradição: se Moisés proibiu a evocação dos Espíritos dos mortos, é porque esses Espíritos poderiam vir, de outro modo a proibição teria sido inútil. Se eles podiam vir naquele tempo, podem ainda hoje; se eles são os Espíritos dos mortos, não são, pois, exclusivamente demônios. É preciso ser lógico antes de tudo.
O padre – A Igreja não nega que os bons Espíritos possam se comunicar, uma vez que reconhece que os santos se manifestaram; ela, porém, não pode considerar como bons os que vêm contradizer seus princípios imutáveis. Os Espíritos ensinam as penas e as recompensas futuras, mas não ensinam como ela; só ela pode julgar seus ensinamentos e discernir os bons dos maus.
A.K. – Eis a grande questão. Galileu foi acusado de heresia e de ser inspirado pelo demônio, porque revelou uma lei da Natureza provando o erro de uma crença que se acreditava inatacável; fossem considerados como bons aqueles que vêm contradizer todos os pontos arraigados na opinião exclusiva da Igreja, ou não tivessem proclamado a liberdade de consciência e condenado certos abusos, eles teriam sido os bem-vindos e não seriam qualificados de demônio.
Tal é também a razão pela qual todas as religiões, os muçulmanos tanto quanto os católicos, se crêem na posse exclusiva da verdade absoluta, considerando como obra do demônio toda doutrina que não coincide inteiramente com seu ponto de vista. Ora, os Espíritos não vêm destruir a religião mas, como Galileu, revelar novas leis da Natureza. Se alguns pontos de fé passam por isso, é que, da mesma forma que a crença no movimento do Sol, eles estão em contradição com essas leis. A questão é de saber se um artigo de fé pode anular uma lei da Natureza, que é obra de Deus; e se, essa lei reconhecida, não é mais sábio interpretar o dogma no sentido da lei ao invés de atribuir esta ao demônio.
O padre – Passemos sobre a questão dos demônios, pois eu sei que ela é diversamente interpretada pelos teólogos. Mas o sistema da reencarnação me parece mais difícil conciliar com os dogmas, porque ele não é uma outra coisa senão a metempsicose renovada de Pitágoras.
A.K. – Este não é o momento de discutir uma questão que exigiria um longo desenvolvimento; encontrá-la-eis tratada em O Livro dos Espíritos e em A Moral do Evangelho Segundo o Espiritismo (1). Eu não direi sobre isso, pois, senão duas palavras.
(1) Ver O Livro dos Espíritos, nº 166 e seguintes, idem 222 e 1010. A Moral do Evangelho, cap. IV e V.
A metempsicose dos antigos consistia na transmigração da alma do homem nos animais, o que implicava uma degradação. De resto, essa doutrina não era o que se acredita vulgarmente. A transmigração nos animais não era considerada como uma condição inerente à natureza da alma humana, mas como um castigo temporário; é assim que as almas dos assassinos passariam no corpo de animais ferozes para aí receberem sua punição; a dos impudicos nos porcos e nos javalis; as dos inconstantes e dos avoados, nos pássaros; as dos preguiçosos e dos ignorantes nos animais aquáticos. Depois de alguns milhares de anos, mais ou menos segundo a culpabilidade dessa espécie de prisão, a alma reentraria na Humanidade. A encarnação animal não era, pois, uma condição absoluta, e ela se aliava, como se vê, à reencarnação humana, e a prova disso é que a punição dos homens tímidos consistia em passar no corpo de mulheres expostas ao desprezo e às injúrias. (1) Era uma espécie de espantalho para os simples, bem mais que um artigo de fé entre os filósofos. Da mesma forma que se diz à crianças: "se sois maus o lobo vos comerá", os antigos diziam aos criminosos: "tornar-vos-eis lobos". Hoje se lhes diz: "o diabo vos tomará e vos carregará para o inferno".
(1) Ver A pluralidade das existências da alma, por Pezzani.
A pluralidade das existências, segundo o Espiritismo, difere essencialmente da metempsicose, no sentido de que não admite a encarnação da alma nos animais, mesmo como punição. Os Espíritos ensinam que a alma não retrograda, mas que progride sem cessar. Suas diferentes existências corporais se realizam na Humanidade; cada existência é para ela um passo adiante na senda do progresso intelectual e moral, o que é bem diferente. Não podendo adquirir um desenvolvimento completo em uma única existência, freqüentemente abreviada por causas acidentais, Deus lhe permite continuar em uma nova encarnação a tarefa que ela não pôde acabar, ou de recomeçar a que fez mal. A expiação na vida corporal consiste nas tribulações que aí se suporta.
Quanto à questão de saber se a pluralidade das existências é, ou não, contrária a certos dogmas da Igreja, eu me limitarei a dizer isto:
De duas coisas uma, ou a reencarnação existe ou não existe; se ela existe é porque está nas leis da Natureza. Para provar que ela não existe seria preciso provar que ela é contrária, não aos dogmas, mas a essas leis, e que se pode encontrar uma outra que explique mais claramente e mais logicamente, as questões que só ela pode resolver.
De resto, é fácil demonstrar que certos dogmas aí encontram uma sanção racional que os faz aceitos por aqueles que os repeliam por não compreendê-los. Não se trata, pois, de destruir, mas de interpretar, o que acontecerá mais tarde pela força das coisas. Aqueles que não quiserem aceitar a interpretação estarão perfeitamente livres, como estão, hoje, de crer que é o Sol que gira ao redor da Terra. A idéia da pluralidade das existências se vulgariza com uma espantosa rapidez em razão de sua extrema lógica e da sua conformidade com a justiça de Deus. Quando ela for reconhecida como verdade natural e for aceita por todo o mundo, que fará a Igreja?
Em resumo, a reencarnação não é um sistema imaginado pelas necessidades de uma causa, nem uma opinião pessoal; é, ou não é, um fato. Se está demonstrado que certas coisas que existem são materialmente impossíveis sem a reencarnação, é preciso admitir que elas são o fato da reencarnação, pois se ela está na Natureza, não poderia ser anulada por uma opinião contrária.
O padre – Aqueles que não crêem nos Espíritos e em suas manifestações, são, no dizer dos Espíritos, menos dotados na vida futura?
A.K. – Se essa crença fosse indispensável à salvação dos homens, em que se tornariam aqueles que, desde que o mundo existe, não a puderam ter, e aqueles que, por muito tempo ainda, morrerão sem a ter? Deus pode lhes fechar a porta do futuro? Não; os Espíritos que nos instruem são mais lógicos que isso e nos dizem: Deus é soberanamente justo e bom, e não faz depender a sorte futura do homem, de condições independentes da sua vontade; eles não dizem: fora do Espiritismo não há salvação, mas como o Cristo: fora da caridade não há salvação.
O padre – Então, permiti-me dizer-vos que, desde o momento em que os Espíritos não ensinam senão os princípios da moral que encontramos no Evangelho, eu não vejo que utilidade pode ter o Espiritismo, uma vez que podíamos nos salvar antes e que ainda podemos fazê-lo sem ele. Não seria o mesmo se os Espíritos viessem ensinar algumas grandes verdades novas, alguns princípios que mudassem a face do mundo, como fez o Cristo. Pelo menos era só o Cristo, sua doutrina era única, enquanto que os Espíritos são milhares que se contradizem; uns dizem branco, outros preto; de onde seguiu-se que, desde o princípio, seus partidários formam já várias seitas. Não seria melhor deixar os Espíritos tranqüilos e nos atermos ao que temos?
A.K. – Errais, senhor, em não sair do vosso ponto de vista e de tomar a Igreja como único critério dos conhecimentos humanos. Se Cristo disse a verdade, o Espiritismo não podia dizer outra coisa e, em lugar de lhe lançar pedras, se deveria acolhê-lo como um poderoso auxiliar que veio confirmar, por todas as vozes de além-túmulo, as verdades fundamentais da religião, combatidas pela incredulidade. Que o materialismo o combata, isso se compreende; mas que a Igreja se ligue contra ele com o materialismo, é menos concebível. O que é de todo inconseqüente é que ela qualifica de demoníaco um ensinamento que se apóia sobre a mesma autoridade, e proclama a missão divina do fundador do Cristianismo.
Mas Cristo disse tudo? podia tudo revelar? Não, porque ele mesmo disse: "teria ainda muitas coisas a vos dizer, mas não as compreenderíeis, por isso vos falo por parábolas". O Espiritismo vem, hoje que o homem está maduro para o compreender, completar e explicar o que Cristo não fez senão esflorar, ou não disse senão sob a forma alegórica. Direis, sem dúvida, que o mérito dessa explicação pertence à Igreja. Mas a qual? à Igreja romana, grega ou protestante? Uma vez que elas não estão de acordo, cada uma explicou no seu sentido e reivindicou esse privilégio. Qual aquela que religou todos os cultos dissidentes? Deus, que é sábio, prevendo que os homens aí misturariam suas paixões e seus preconceitos, não quis lhes confiar os cuidados dessa nova revelação: disso encarregou os Espíritos, seus mensageiros, que a proclamam sobre todos os pontos do globo, e isso fora de todo culto particular, a fim de que ela possa se aplicar a todos, e que ninguém a desvie em proveito próprio.
Por outro lado, os diversos cultos cristãos não estão em nada afastados do caminho traçado pelo Cristo? Seus preceitos de moral são escrupulosamente observados? Não se tem desvirtuado suas palavras para fazê-las um apoio da ambição e das paixões humanas, que são por elas condenadas? Ora, o Espiritismo, pela voz dos Espíritos enviados de Deus, vem chamar à estrita observação de seus preceitos aqueles que deles se afastam; não seria esse último motivo que o faz qualificar de obra satânica?
Erradamente, dais o nome de seitas a algumas divergências de opiniões relacionadas com os fenômenos espíritas. Não é de espantar que, no início de uma ciência, quando para muitos as observações eram ainda incompletas, tenham surgido teorias contraditórias, mas essas teorias repousam sobre detalhes e não sobre o princípio fundamental. Elas podem constituir escolas que explicam certos fatos à sua maneira, mas não têm mais de seitas que os diferentes sistemas que dividem os nossos sábios sobre as ciências exatas: em medicina, física, etc. Suprimi, pois, a palavra seita que é de todo imprópria no caso presente. Aliás, desde sua origem, o próprio Cristianismo não deu nascimento a uma multidão de seitas? Por que a palavra de Cristo não foi bastante poderosa para impor silêncio a todas as controvérsias? Por que ela é suscetível de interpretações que dividem, ainda hoje, os Cristãos em diferentes Igrejas, que pretendem ser as únicas detentoras da verdade necessária à salvação, se detestam cordialmente e se anatematizam em nome do seu Divino Mestre, que não pregou senão o amor e a caridade? A fraqueza dos homens, direis? seja; por que quereis que o Espiritismo triunfe subitamente dessa fraqueza e transforme a Humanidade como por encantamento?
Eu me encaminho para a questão de utilidade. Dissestes que o Espiritismo não ensina nada de novo; é um erro. Ele ensina muito àqueles que não se detêm em superficialidades. Tivesse apenas substituído a máxima: fora da caridade não há salvação, em lugar de fora da Igreja não há salvação que os divide, e já teria marcado uma nova era da Humanidade.
Dissestes que se poderia passar sem ele; de acordo; como se poderia passar sem uma multidão de descobertas científicas. Os homens também se comportavam bem antes da descoberta de todos os novos planetas; antes que se tivessem calculado os eclipses; antes que se conhecesse o mundo microscópico e cem outras coisas. O camponês, para viver e produzir seu trigo, não tem necessidade de saber o que é um cometa. Todavia, ninguém nega que todas essas coisas alargam o círculo de idéias e nos fazem penetrar mais além nas leis da Natureza. Ora, o mundo dos Espíritos é uma dessas leis, que o Espiritismo nos faz conhecer ensinando-nos a influência que exerce sobre o mundo corporal; supondo-se que a isso se limite sua utilidade, já não seria bastante a revelação de semelhante força?
Vejamos, agora, sua influência moral. Admitamos que ele não ensine absolutamente nada de novo a esse respeito; qual é o maior inimigo da religião? O materialismo, porque o materialismo não crê em nada; ora, o Espiritismo é a negação do materialismo que não tem mais razão de ser. Não é mais pelo raciocínio, pela fé cega, que se diz ao materialista que tudo não termina com seu corpo, mas pelos fatos, que lhe mostra, permite-lhe tocar com os dedos e com o olhar. Não está aí um pequeno serviço que ele presta à Humanidade, à religião? Mas não é tudo: a certeza da vida futura, o quadro vivo daqueles que nela nos antecederam, mostram a necessidade do bem, e as conseqüências inevitáveis do mal. Eis porque sem ser, em si mesmo, uma religião, ele leva essencialmente às idéias religiosas, as desenvolve naqueles que não as têm e as fortifica naqueles em que elas são hesitantes. A religião, pois, encontra nele um apoio, não para essas pessoas de vista estreita que a vêem inteiramente na doutrina do fogo eterno, na letra mais que no espírito, mas para aqueles que a vêem segundo a grandeza e a majestade de Deus.
Em uma palavra, o Espiritismo engrandece e eleva as idéias; ele combate os abusos engendrados pelo egoísmo, a cupidez, a ambição; mas quem ousaria proibi-los e deles declarar-se vencedor? Se ele não é indispensável à salvação, facilita-a consolidando-nos no caminho do bem. Qual é, aliás, o homem sensato que ousaria adiantar que um defeito do ortodoxo é mais repreensível aos olhos de Deus do que do ateu e do materialista? Eu coloco honestamente as questões seguintes a todos aqueles que combatem o Espiritismo relativamente às suas conseqüências religiosas:
1. – Qual é o pior dotado na vida futura, aquele que não crê em nada ou aquele que, crendo nas verdades gerais, não admite certas partes do dogma?
2. – O protestante e o cismático estão confundidos na mesma reprovação do ateu e do materialista?
3. – Aquele que não é ortodoxo, no rigor da palavra, mas que faz todo o bem que pode, que é bom e indulgente para com o seu próximo, leal em suas relações sociais, está menos garantido de sua salvação que aquele que crê em tudo, mas que é duro, egoísta e descaridoso?
4. – Qual vale mais aos olhos de Deus: a prática das virtudes cristãs sem as do dever da ortodoxia, ou a prática destes últimos sem as da moral?
Eu respondi, senhor abade, às questões e às objeções que me haveis dirigido, mas, como vos disse inicialmente, sem nenhuma intenção preconcebida de vos conduzir às nossas idéias e mudar vossas convicções, limitando-me a vos fazer examinar o Espiritismo sob seu verdadeiro ponto de vista. Se não tivésseis vindo eu não vos teria procurado. Isso não quer dizer que desprezemos vossa adesão aos nossos princípios se ela deva ter lugar; bem longe disso; somos felizes, ao contrário, com todas as aquisições que fazemos e que têm para nós tanto maior valor quanto sejam livres e voluntárias. Não temos nenhum direito para constranger quem quer que seja e teríamos escrúpulo em perturbar a consciência daqueles que, tendo crenças que os satisfazem, não vêm espontaneamente a nós.
Nós dissemos que o melhor meio de se esclarecer sobre o Espiritismo é estudando previamente sua teoria; os fatos virão naturalmente em seguida, e serão compreendidos, qualquer que seja a ordem na qual os conduzam as circunstâncias. Nossas publicações são feitas com o objetivo de favorecer esse estudo; eis, a esse respeito, o roteiro que aconselhamos.
A primeira leitura a fazer-se é a deste resumo que apresenta o conjunto dos pontos mais destacados da ciência; com isso, já se pode fazer dela uma idéia e se convencer de que, no fundo, há alguma coisa séria. Nesta rápida exposição fomos levados a indicar os pontos que devem, particularmente, fixar a atenção do observador. A ignorância dos princípios fundamentais é a causa das falsas apreciações da maioria daqueles que julgam o que não compreendem ou segundo suas idéias preconcebidas.
Se este primeiro contato dá o desejo de sobre ele se saber mais, ler-se-á O Livro dos Espíritos, onde os princípios da doutrina estão completamente desenvolvidos; depois, O Livro dos Médiuns para a parte experimental, destinado a servir de guia para aqueles que querem operar por si mesmos, como para aqueles que querem se inteirar dos fenômenos. Vêm, em seguida, as diversas obras onde estão desenvolvidas as aplicações e as conseqüências da doutrina, tais como: A Moral do Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno Segundo o Espiritismo, etc.
A Revista Espírita é, de alguma sorte, um curso de aplicação, pelos numerosos exemplos e os desenvolvimentos que ela encerra, sobre a parte teórica e sobre a parte experimental.
Às pessoas sérias, que tenham feito um estudo prévio, teremos prazer em dar, verbalmente, as explicações necessárias sobre os pontos que não tenham compreendido inteiramente.

Os médiuns interesseiros

Visitante – Antes de se entregarem a um estudo de fôlego, certas pessoas gostariam de ter a certeza de não perderem seu tempo, certeza que lhes daria um fato concludente, mesmo obtido ao preço do dinheiro.
A.K. – Naquele que não quer se dar ao trabalho de estudar, há mais de curiosidade que desejo real de se instruir. Ora, os Espíritos não gostam mais de curiosos que eu próprio. Aliás, a cupidez lhes é, sobretudo, antipática, e eles não se prestam a nada que possa satisfazê-la. Seria preciso ter deles uma idéia bem errada para crer que os Espíritos superiores, como Fénelon, Bossuet, Pascal, Santo Agostinho, por exemplo, se colocassem às ordens do primeiro que os solicitasse, a tanto por hora. Não, senhor, as comunicações de além-túmulo são uma coisa muito grave, e exigem muito respeito, para servirem de exibição.
Aliás, sabemos que os fenômenos espíritas não se desenrolam como as engrenagens de um mecanismo, uma vez que dependem da vontade dos Espíritos. Mesmo admitindo-se a aptidão medianímica, ninguém pode responsabilizar-se de os obter em tal momento dado.
Se os incrédulos são levados a suspeitarem da boa-fé dos médiuns em geral, seria bem pior se estes tivessem um estimulante interesse; poder-se-ia suspeitar, com todo direito, que o médium retribuiria com simulação, porque ele precisaria, antes de tudo, ganhar seu dinheiro.
Não somente o desinteresse absoluto é a melhor garantia de sinceridade, como repugnaria à razão evocar a peso de ouro os Espíritos de pessoas que nos são caras, supondo que eles a isso consentissem, o que é mais que duvidoso. Não haveria, em todos os casos, senão Espíritos inferiores, pouco escrupulosos quanto aos meios, e que não mereceriam nenhuma confiança. Estes mesmos, ainda, freqüentemente, agem com um prazer maldoso, frustrando as combinações e os cálculos dos seus evocadores.
A natureza da faculdade mediúnica se opõe, pois, a que ela se torne uma profissão, uma vez que depende de uma vontade estranha ao médium, e ela poderia faltar-lhe no momento que dela tivesse necessidade, a menos que ele a supra pela agilidade. Mas, em se admitindo mesmo uma inteira boa-fé, desde que os fenômenos não se obtêm à vontade, seria um efeito do acaso se, na sessão que se tivesse pago, se produzisse precisamente aquilo que se desejaria para se convencer. Daríeis cem mil francos a um médium e não o faríeis obter dos Espíritos o que estes não quisessem fazer. Essa paga, que desnaturaria a intenção e a transformaria em um violento desejo de lucro, seria mesmo, ao contrário, um motivo para que ele não tivesse sucesso. Se se está bem compenetrado dessa verdade, que a afeição e a simpatia são as mais poderosas motivações de atração dos Espíritos, compreender-se-ia que eles não podem ser solicitados com o pensamento de os usarem para ganhar dinheiro.
Aquele, pois, que tem necessidade de fatos para se convencer, deve provar aos Espíritos sua boa vontade por uma observação séria e paciente, se quer por eles ser secundado. Mas, se é verdadeiro que a fé não se impõe, não o é menos dizer-se que ela não se compra.
Visitante – Eu compreendo esse raciocínio sob o ponto de vista moral; entretanto, não é justo que aquele que dá seu tempo no interesse de seu ideal, dele seja indenizado, se isso o impede de trabalhar para viver?
A.K. – Em primeiro lugar, é no interesse da causa que ele o faz ou é no seu próprio interesse? Se mudou sua posição, é que não estava satisfeito e que esperava ganhar mais ou ter menos trabalho nesse novo ofício. Não há nenhum devotamento em dar seu tempo quando é para dele tirar proveito. É como se se dissesse que o padeiro fabrica o pão no interesse da Humanidade. A mediunidade não é o único recurso; sem ela eles seriam obrigados a ganharem a vida de outra maneira. Os médiuns verdadeiramente sérios e devotados, quando não têm uma existência independente, procuram os meios de vida em seu trabalho normal, e não mudam sua posição. Eles não consagram à mediunidade senão o tempo que podem dar-lhe sem prejuízo e se o tomam do seu lazer ou do seu repouso, espontaneamente, então são devotados e se os estima e respeita mais por isso.
A multiplicidade de médiuns nas famílias, aliás, torna os médiuns profissionais inúteis, mesmo supondo-se que eles oferecem todas as garantias desejáveis, o que é muito raro. Sem o descrédito que se atribui a esse gênero de exploração, do qual me felicito de ter contribuído grandemente, ver-se-ia pulularem os médiuns mercenários e os jornais se cobrirem dos seus anúncios. Ora, para um que tivesse podido ser leal, haveria cem charlatães que, abusando de uma faculdade real ou simulada, teriam feito o maior mal ao Espiritismo. É, pois, como princípio que todos aqueles que vêem no Espiritismo alguma coisa além de exibição de fenômenos curiosos, que compreendem e estimam a dignidade, a consideração e os verdadeiros interesses da doutrina, reprovam toda espécie de especulação, sob qualquer forma ou disfarce que ela se apresente. Os médiuns sérios e sinceros, e eu dou esse nome àqueles que compreendem a santidade do mandato que Deus lhes confiou, evitam até na aparência o que poderia fazer pairar sobre eles a menor suspeita de cupidez. A acusação de tirar um proveito qualquer de sua faculdade, seria para eles uma injúria.
Concordai, senhor, inteiramente incrédulo que sois, que um médium nessas condições faria sobre vós uma outra impressão se tivésseis pago vosso lugar para vê-lo operar, ou mesmo que tivésseis obtido uma entrada de favor, se sabíeis que havia em tudo isso uma questão de dinheiro. Concordai que, vendo o médium animado de um verdadeiro sentimento religioso, estimulado só pela fé e não pelo desejo de ganho, involuntariamente ele se imporia ao vosso respeito, fosse ele o mais humilde proletário, e vos inspiraria mais confiança, porque não teríeis nenhum motivo para suspeitar de sua lealdade. Pois bem, senhor, encontrareis nestas condições mil por um, e é isso uma das causas que contribuíram poderosamente para o crédito e a propagação da doutrina, enquanto que se ela não tivesse tido senão intérpretes interesseiros, ela não contaria hoje a quarta parte dos adeptos que tem.
Compreende-se muito bem que os médiuns profissionais são raríssimos, pelo menos na França; que são desconhecidos na maioria dos centros espíritas do país, onde a reputação dos mercenários bastaria para os excluir de todos os grupos sérios, e onde, para eles, o ofício não seria lucrativo, em razão do descrédito de que seriam objeto e da concorrência de médiuns desinteressados que se encontram por toda parte. Para suprir, seja a faculdade que lhe falta, seja a insuficiência da clientela, há supostos médiuns que usam o jogo de cartas, a clara de ovo, a borra de café, etc., a fim de satisfazer todos os gostos, esperando por esses meios, na falta dos Espíritos, atrair aqueles que ainda crêem nessas tolices. Se eles não fizessem mal senão a si mesmos, o mal seria insignificante; contudo, há pessoas que, sem ir mais longe, confundem o abuso com a realidade e depois os mal intencionados delas se aproveitam para dizer que nisso consiste o Espiritismo. Vede, pois, senhor, que a exploração da mediunidade conduzindo aos abusos prejudiciais à doutrina, o Espiritismo sério tem razão de a condenar e de a repudiar como auxiliar.
Visitante – Tudo isso é muito lógico, eu convenho, mas os médiuns desinteressados não estão à disposição dos que os buscam, e não é justo desviá-los do seu trabalho, enquanto que não se teria escrúpulos de procurar aqueles que se fazem pagar, porque se sabe não fazê-los perder seu tempo. Se houvesse médiuns públicos, seria mais fácil para as pessoas que querem se convencer.
A.K. – Mas se os médiuns públicos, como os chamais, não oferecem as garantias desejadas, que utilidade podem ter para a convicção? O inconveniente que assinalais não destrói aqueles bem mais graves a que me referi. Ir-se-ia até eles mais por divertimento ou para tirar a sorte, que para se instruir. Aquele que quer, seriamente, se convencer encontra, cedo ou tarde, os meios para isso, se tem perseverança e boa vontade. Mas não é porque assistiu a uma sessão que se convencerá, se para isso não está preparado. Se ela lhe dá uma impressão desfavorável, ficará pior que antes e talvez desanimado de continuar um estudo no qual nada viu de sério; isso é o que prova a experiência.
Mas ao lado das considerações morais, os progressos da ciência espírita nos mostram hoje uma dificuldade material, que não supusemos no início, fazendo-nos conhecer melhor as condições sob as quais se produzem as manifestações. Essa dificuldade diz respeito às afinidades fluídicas que devem existir entre o Espírito evocado e o médium.
Coloco de lado todo pensamento de fraude e de mistificação e suponho a mais completa lealdade. Para que um médium profissional pudesse oferecer toda segurança às pessoas que viessem a consultá-lo, seria preciso que ele possuísse uma faculdade permanente e universal, quer dizer, que pudesse se comunicar facilmente com todos os Espíritos e a qualquer momento, para estar constantemente à disposição do público, como um médico, e satisfazer a todas as evocações que lhe fossem pedidas. Ora, isso não ocorre com nenhum médium, não mais nos desinteressados que nos outros, e isso por causas independentes da vontade do Espírito, mas que não posso desenvolver aqui porque não vos estou dando um curso de Espiritismo. Eu me limitarei a dizer que as afinidades fluídicas, que são o próprio princípio das faculdades mediúnicas, são individuais e não gerais, e que podem existir do médium para tal Espírito e não a tal outro; que sem essas afinidades, cujas nuances são muito diversificadas, as comunicações são incompletas, falsas ou impossíveis; que, o mais freqüentemente, a assimilação fluídica entre o Espírito e o médium não se estabelece senão com o tempo, é que não ocorre, uma vez em dez, que ela seja completa desde a primeira vez. Como vedes, senhor, a mediunidade está subordinada a leis, de alguma sorte orgânicas, às quais todo médium está sujeito. Ora, não se pode negar que isso não seja um escolho para a mediunidade profissional, uma vez que a possibilidade e a exatidão das comunicações prendem-se a causas independentes do médium e do Espírito (ver adiante cap. II, parágrafo Dos Médiuns).
Se, pois, repelimos a exploração da mediunidade, não é nem por capricho nem por espírito de sistema, mas porque os próprios princípios que regem as comunicações com o mundo invisível se opõem à regularidade e à precisão necessárias para aquele que se coloca à disposição do público, e que o desejo de satisfazer a uma clientela pagante conduz ao abuso. Disso não concluo que todos os médiuns interesseiros são charlatães, mas digo que o interesse de ganho conduz ao charlatanismo e autoriza a suposição de fraude se não a justifica. Aquele que quer se convencer deve, antes de tudo, procurar os elementos de sinceridade.



Os médiuns e os feiticeiros

Visitante – Desde o instante em que a mediunidade consiste em se colocar em comunicação com as forças ocultas, parece-me que médiuns e feiticeiros são mais ou menos sinônimos.
A.K. – Houve em todas as épocas médiuns naturais e inconscientes que, só porque produziam fenômenos insólitos e incompreendidos, foram qualificados de feiticeiros e acusados de pactuarem com o diabo. Ocorreu o mesmo com a maioria dos sábios que possuíam conhecimentos acima do vulgar. A ignorância exagerou seu poder e, eles mesmos, freqüentemente, abusaram da credulidade pública, explorando-a; daí a justa reprovação de que foram objeto. Basta comparar o poder atribuído aos feiticeiros e a faculdade dos verdadeiros médiuns, para estabelecer-lhes a diferença, mas a maioria dos críticos não se dão a esse trabalho. O Espiritismo, longe de ressuscitar a feitiçaria, a destruiu para sempre, despojando-a do seu pretenso poder sobrenatural, de suas fórmulas, de seus livros de magia, amuletos e talismãs, reduzindo os fenômenos possíveis ao seu justo valor, sem sair das leis naturais.
A semelhança que certas pessoas pretendem estabelecer, provém do erro em que se encontram, de que os Espíritos estão às ordens dos médiuns; repugna à sua razão crer que possa depender de alguém, fazer vir à sua vontade e chamado, o Espírito de tal ou tal personagem mais ou menos ilustre; nisso estão perfeitamente com a verdade, e se, antes de atirar pedra ao Espiritismo, tivessem se dado ao trabalho de dele se inteirar, saberiam que ele diz positivamente que os Espíritos não estão ao capricho de ninguém, e que ninguém pode, à vontade, fazê-los vir a contragosto; do que se segue que os médiuns não são feiticeiros.
Visitante – Desse modo, todos os efeitos que certos médiuns acreditados obtêm, à vontade e em público, não seriam, segundo vós, senão hipocrisia?
A.K. – Eu não o digo de um modo absoluto. Tais fenômenos não são impossíveis porque há Espíritos inferiores que podem se prestar a essas espécies de coisas, e que nelas se divertem, talvez tendo já feito, em suas vidas, o trabalho dos prestidigitadores, e também médiuns especialmente propensos a esse gênero de manifestações. Mas, o mais vulgar bom senso repele a idéia de que os Espíritos, embora pouco elevados, venham fazer exibições para divertir os curiosos.
A obtenção desses fenômenos à vontade e, sobretudo, em público, é sempre suspeita; nesse caso, a mediunidade e a prestidigitação se tocam tão de perto que, freqüentemente, é bem difícil distingui-las. Antes de ver nisso a ação dos Espíritos, é preciso minuciosas observações, e levar em conta seja o caráter e os antecedentes do médium, seja de uma multidão de circunstâncias, que só um estudo aprofundado da teoria dos fenômenos espíritas pode levar a apreciar. Anote-se que esse gênero de mediunidade, quando mediunidade há, é limitado à produção do mesmo fenômeno, com algumas variantes, o que não é de natureza a dissipar as dúvidas. Um desinteresse absoluto seria aí a melhor garantia de sinceridade.
Qualquer que seja a realidade desses fenômenos, como efeitos medianímicos, eles têm como bom resultado dar notoriedade à idéia espírita. A controvérsia que se estabelece a esse propósito provoca, em muitas, pessoas, um estudo mais aprofundado. Não é certo que é necessário ir buscar aí instruções sérias de Espiritismo, nem a filosofia da doutrina, mas é um meio de forçar a atenção dos indiferentes e obrigar os mais recalcitrantes a falarem deles.



Diversidade nos Espíritos

Visitante – Falais de Espíritos bons ou maus, sérios ou levianos; eu não me explico, confesso, essa diferença. Parece-me que, deixando seu envoltório corporal, eles devem se despojar das imperfeições inerentes à matéria; que a luz deve se fazer para eles sobre todas as verdades que nos são ocultas e que eles devem estar isentos dos preconceitos terrestres.
A.K. – Sem dúvida, eles estão livres das imperfeições físicas, quer dizer, das doenças e enfermidades do corpo; mas as imperfeições morais são do Espírito e não do corpo. Entre eles há os que estão mais ou menos avançados intelectual e moralmente. Seria um erro crer-se que os Espíritos, deixando seu corpo material, são subitamente atingidos pela luz da verdade. Credes, por exemplo, que quando morrerdes não haverá nenhuma diferença entre vosso Espírito e o de um selvagem ou o de um malfeitor? Se fora assim, de que vos serviria ter trabalhado pela vossa instrução e aprimoramento, uma vez que um vadio seria tanto quanto vós depois da morte? O progresso dos Espíritos não se realiza senão gradualmente e, algumas vezes, bem lentamente. Entre eles, e isso depende da sua depuração, há os que vêem as coisas sob um ponto de vista mais justo que em sua vida física; outros, ao contrário, têm as mesmas paixões, os mesmos preconceitos e os mesmos erros, até que o tempo e novas provas lhes tenham permitido se esclarecerem. Notai bem que isto é um resultado da experiência, porque é assim que eles se apresentam a nós em suas comunicações. É, pois, um princípio elementar do Espiritismo que, entre os Espíritos, há os de todos os graus de inteligência e de moralidade.
Visitante – Mas, então, por que os Espíritos não são todos perfeitos? Deus, pois, os criou de todas as categorias.
A.K. – Igualmente gostaria de perguntar por que todos os alunos de um colégio não estão em filosofia. Os Espíritos têm, todos, a mesma origem e a mesma destinação. As diferenças que existem entre eles não constituem espécie distinta, mas diversos graus de adiantamento. Os Espíritos não são perfeitos porque são as almas dos homens e os homens não são perfeitos; pela mesma razão os homens não são perfeitos porque são a encarnação de Espíritos mais ou menos avançados. O mundo corporal e o mundo espiritual se derramam incessantemente um sobre o outro; pela morte do corpo, o mundo corporal fornece seu contingente ao mundo espiritual e, pelo nascimento, o mundo espiritual alimenta a Humanidade. A cada nova existência, o Espírito realiza um progresso mais ou menos grande, e quando adquire sobre a Terra a soma de conhecimentos e elevação moral que comporta nosso globo, ele o troca para passar a um mundo mais elevado, onde aprende coisas novas.
Os Espíritos que formam a população invisível da Terra são, de alguma sorte, o reflexo do mundo corporal; encontram-se aí os mesmos vícios e as mesmas virtudes. Há entre eles sábios, ignorantes e falsos sábios, prudentes e estouvados, filósofos, raciocinadores e sistemáticos. Não se tendo desfeito de todos os seus
preconceitos, todas as opiniões políticas e religiosas têm aí seus representantes. Cada um fala segundo as suas idéias e o que dizem, freqüentemente, não é senão sua opinião pessoal. Eis porque não é preciso acreditar cegamente em tudo o que dizem os Espíritos.
Visitante – Se assim é, eu percebo uma grande dificuldade. Nesse conflito de opiniões diversas, como distinguir o erro da verdade? Eu não vejo que os Espíritos nos sirvam para grande coisa e tenhamos a ganhar com sua conversação.
A.K. – Não servissem os Espíritos senão para nos ensinar que há Espíritos e que esses Espíritos são as almas dos homens, não seriam de uma grande importância para todos aqueles que duvidam que têm uma alma e que não sabem em que se tornarão depois da morte?
Como todas as ciências filosóficas, esta exige longos estudos e minuciosas observações; é então que se aprende a distinguir a verdade da impostura, e os meios de afastar os Espíritos mentirosos. Acima dessa turba de Espíritos inferiores, há os Espíritos superiores que não têm em vista senão o bem e que têm por missão conduzir os homens ao bom caminho. Cabe a nós saber apreciá-los e compreendê-los. Estes nos ensinam grandes coisas, mas, não credes que o estudo dos outros seja inútil; para conhecer um povo é preciso examiná-lo sob todas as suas faces. Disso vós mesmos sois a prova; pensáveis que bastaria aos Espíritos deixarem seu envoltório corporal para se despojarem de suas imperfeições. Ora, foram as comunicações com eles que nos ensinaram o contrário, e nos fizeram conhecer o verdadeiro estado do mundo espiritual, que nos interessa a todos no mais alto grau, uma vez que para lá devemos ir. Quanto aos erros que podem nascer da divergência de opinião entre os Espíritos, por si mesmos desaparecem, à medida que se aprende a distinguir os bons dos maus, os sábios dos ignorantes, os sinceros dos hipócritas, da mesma forma como entre nós; então o bom senso faz justiça às falsas doutrinas.
Visitante – Minha observação subsiste sempre no ponto de vista das questões científicas e outras a que se pode submeter os Espíritos. A divergência de suas opiniões sobre as teorias que dividem os sábios, nos deixam na incerteza. Eu compreendo que, não tendo todos o mesmo grau de instrução, não podem tudo saber. Então, qual o peso que pode ter para nós a opinião daqueles que sabem, se não podemos verificar se têm, ou não têm, razão? Tem igual valor dirigir-se aos homens ou aos Espíritos.
A.K. – Essa reflexão é ainda uma conseqüência da ignorância do verdadeiro caráter do Espiritismo. Aquele que crê nele encontrar um meio fácil de tudo saber, de tudo descobrir, incorre em um grande erro. Os Espíritos não estão encarregados de nos trazerem a ciência pronta. Seria, com efeito, muito cômodo se nos bastasse perguntar para sermos esclarecidos, poupando-nos assim o trabalho de pesquisa. Deus quer que trabalhemos, que nosso pensamento se exercite, e será a esse preço que adquiriremos a ciência. Os Espíritos não vêm nos livrar dessa necessidade; eles são o que são e o Espiritismo tem por objeto estudá-los, a fim de saber, por analogia, o que seremos um dia e não de nos fazer conhecer o que nos deve estar oculto, ou nos revelar as coisas antes do tempo.
Os Espíritos já não podem ser tidos como ledores de sorte, e quem quer que se iluda de obter deles certos segredos, que se prepare para estranhas decepções por parte dos Espíritos zombeteiros. Em uma palavra, o Espiritismo é uma ciência de observação e não uma ciência de adivinhação ou de especulação. Estudamo-lo para conhecer o estado das individualidades do mundo invisível, as relações que existem entre elas e nós, sua ação oculta sobre o mundo visível, e não pela utilidade material que dele possamos tirar. Sob esse ponto de vista, não há nenhum Espírito cujo estudo nos seja inútil, pois aprendemos alguma coisa com todos eles; suas imperfeições, seus defeitos, sua incapacidade, e mesmo sua ignorância, são igualmente objetos de observação que nos iniciam no estudo da natureza íntima desse mundo. Quando não são eles que nos instruem pelos seus ensinamentos, somos nós que nos instruímos estudando-os, como o fazemos quando estudamos os costumes de um povo que desconhecemos. Quanto aos Espíritos esclarecidos, eles nos ensinam muito, mas no limites das coisas possíveis, não precisando perguntar-lhes o que eles não podem, ou não devem, nos revelar. É preciso contentar-se com aquilo que nos dizem, pois, ir além é expor-se às mistificações dos Espíritos levianos, sempre prontos para responderem a tudo. A experiência nos ensina a discernir o grau de confiança que lhes podemos dar.



Utilidade prática das manifestações

Visitante – Partindo da suposição de que a coisa seja constatada e o Espiritismo reconhecido como realidade, que utilidade prática isso pode ter? Se, até o presente, se passou sem ele, parece-me que se poderia, ainda, passar sem ele e viver mais tranqüilamente.
A.K. – O mesmo se poderia dizer das estradas de ferro e do vapor, sem as quais viveu-se muito bem.
Se entendeis por utilidade prática, os meios de viver bem, de fazer fortuna, de conhecer o futuro, de descobrir minas de carvão ou tesouros ocultos, de recuperar heranças, de se poupar do trabalho das pesquisas, ele não serve para nada; ele não pode fazer subir nem abaixar a cotação da Bolsa, nem ser transformado em ações, nem mesmo fornecer invenções prontas, aptas a serem exploradas. Sob esse ponto de vista, quantas ciências seriam inúteis! Quantas há que não trazem vantagem, comercialmente falando! Os homens se portavam muito bem antes da descoberta de todos os novos planetas, antes que se soubesse que é a Terra que gira e não o Sol, antes que fossem calculados os eclipses, antes que se conhecesse o mundo miscroscópico e uma centena de outras coisas. O camponês, para viver e produzir seu trigo, não tinha necessidade de saber o que é um cometa. Por que, pois, os sábios se entregam a essas pesquisas, e quem ousaria dizer que perdem seu tempo? Tudo o que serve para erguer um canto do véu, ajuda o desenvolvimento da inteligência, alarga o círculo das idéias fazendo-nos penetrar mais além nas leis da Natureza. Ora, o mundo dos Espíritos existe em virtude de uma dessas leis da Natureza e o Espiritismo nos faz conhecê-la. Ele nos ensina a influência que o mundo invisível exerce sobre o mundo visível, e as relações que existem entre eles, da mesma forma que a Astronomia nos ensina as relações dos astros com a Terra; ele nô-lo mostra como uma das forças que regem o Universo e contribuem para a manutenção da harmonia geral. Suponhamos que a isso se limite sua utilidade; já não seria muito útil a revelação de semelhante força, abstração feita de toda doutrina moral? Não é nada, pois, que todo um mundo novo se nos revele, se, sobretudo, o conhecimento desse mundo nos coloca na trilha de uma multidão de problemas, até então, insolúveis? se nos inicia nos mistérios de além-túmulo, que nos interessa um pouco, uma vez que todos, pelo que somos, devemos cedo ou tarde transpor o passo fatal? Mas há uma outra utilidade mais positiva do Espiritismo, que é a influência moral que ele exerce pela própria força das coisas. O Espiritismo é a prova patente da existência da alma, da sua individualidade depois da morte, da sua imortalidade e do seu futuro. É, pois, a destruição do materialismo, não pelo raciocínio, mas pelos fatos.
Não é preciso perguntar ao Espiritismo o que ele pode dar, e nem nele procurar além do seu objetivo providencial. Antes dos progressos sérios da Astronomia, acreditava-se na Astrologia. Seria razoável pretender que a Astronomia de nada serve porque não se pode mais encontrar na influência dos astros o prognóstico do futuro? Da mesma forma que a Astronomia destronou os
astrólogos, o Espiritismo destronou os adivinhos, os feiticeiros e os ledores de sorte. Ele é para a magia o que a Astronomia é para a Astrologia, a Química para a Alquimia.

Fonte: Portal do Espírito


Vamos falar mais um pouco à respeito do Budismo


O que é Budismo e em que os budistas acreditam?



Pergunta: "O que é Budismo e em que os budistas acreditam?"

Resposta:
O Budismo é uma das religiões mundiais principais em termos de seguidores, distribuição geográfica e influência sócio-cultural. Enquanto é grandemente considerado uma religião "Oriental", está se tornando cada vez mais popular e de grande influência no mundo Ocidental também. O budismo é uma religião bastante peculiar, pois é uma religião bastante semelhante ao hinduísmo no fato de que ambos são chamados de religiões "orientais", ambos acreditam em Carma (ética de causa e efeito), Maya (natureza criativa e mágica da ilusão), Samsara (o ciclo de reencarnação), entre outras coisas. Os budistas acreditam que o objetivo principal da vida é o de alcançar a “iluminação”, como eles acham que ela existe.

O seu fundador foi Siddhartha Guatama. Ele nasceu à realeza na Índia mais ou menos 600 anos antes de Cristo. Como a história conta, ele viveu e cresceu de forma bastante luxuosa; chegou até mesmo a casar e ter filhos com pouca exposição ao mundo externo. Seus pais queriam que ele fosse poupado da influência à religião ou exposição a dor e sofrimento. No entanto, não demorou muito para o seu abrigo ser “invadido” e ele viu rapidamente um homem idoso, um homem doente e um cadáver. Sua quarta visão foi a de um monge sereno e asceta (um que nega qualquer tipo de luxo e conforto). Ao ver sua serenidade, Buda decidiu se tornar asceta também. Ele abandonou sua vida de riquezas e afluência para ir atrás da iluminação através de austeridade. Ele era muito talentoso nesse tipo de auto-mortificação e meditação intensa. Ele era um líder entre seus companheiros. Eventualmente ele deixou com que seus esfoos culminassem em um gesto final. Ele cedeu à sua “indulgência” e comeu uma tigela de arroz e sentou embaixo de uma figueira (também chamada de árvore Boddhi) para meditar até quando ele finalmente atingisse a iluminação ou morresse tentando. Apesar de tantas angústias e tentações, ao nascer do dia seguinte, ele tinha finalmente alcançado a iluminação à qual tanto almejava. Por isso ele ficou conhecido como ‘ser iluminado ou ‘Buda’. Ele entou pegou tudo que tinha aprendido e começou a ensinar seus monges companheiros, com os quais já tinha alcançado grande influência. Cinco de seus companheiros se tornaram os primeiros de seus discípulos.

O que Guatama descobriu? Iluminação encontra-se no "meio do caminho", não com indulgências luxuosas nem com auto-mortificação. Além disso, ele descobriu o que ficou conhecido como as ‘Quatro Verdades Nobres’ – (1) viver é sofrer (Dukha), (2) sofrimento é causado pelo desejo (Tanha, ou “apego”), (3) uma pessoa pode eliminar sofrimento ao eliminar todos os apegos e desejos, e (4) isso é alcançado ao seguir-se o caminho das oito vias nobres. Esse caminho consiste de obter o entendimento correto, o pensamento correto, a palavra correta, a ação correta, o modo correto de existência (ser um monge), o esfoo correto (direcionar as energias corretamente), a atenção correta (meditação) e a concentração correta (foco). Os ensinamentos de Buda foram colecionados no Tripitaka, ou “três cestos de flores”. [Win Corduan, Neighboring Faiths (IVP, 1998): 220-224].

Além desses ensinamentos bastante distintos, encontramos ensinamentos comuns ao Hinduísmo, tais como a Reencarnação, Maya, e uma tendência de compreender a realidade como sendo Panteísta em sua natureza. O Budismo também pode ser difícil de se caracterizar quanto à sua opinião de Deus. Alguns ramos do Budismo podem ser legitimamente chamados de ateístas, enquanto outros podem ser chamados de panteístas, e outros podem até ser chamados de teístas, tais como o budismo da Terra Purra. O budismo clássico, no entanto, tende a ser silencioso sobre a realidade de um ser superior e é, portanto, considerado ateísta.

Hoje em dia o budismo é bastante diversificado. Pode ser dividido em aproximadamente duas categorias: Theravada (pequeno veículo) e Mahayana (grande veículo). Theravada é a forma monástica que reserva a grande iluminação e nirvana aos monges, enquanto o budismo Mahayana estende esse objetivo de alcançar a iluminação aos leigos também, quer dizer, os que não o monges. Sob essas duas categorias, podemos encontrar vários ramos de budismo, tais como Tendai, Vajrayana, Nichiren, Terra Santa, Zen, Ryobu, entre outros. Portanto, é importante que aqueles que não pertencem ao budismo e que estão tentando compreender essa religião o presumam conhecer todos os detalhes de uma certa divisão do budismo quando tudo que estudaram foi apenas o Budismo histórico clássico. (Corduan, 230).

É importante estar ciente de que o Buda nunca se considerou um deus ou um ser divino de qualquer forma. Ao contrário, ele se considerava uma pessoa que “mostrava o caminho” para outras pessoas. Apenas depois de sua morte ele foi exaltado a uma figura divina por alguns de seus seguidores, mas nem todos os seus seguidores o enxergaram assim. Com o Cristianismo, no entanto, a Bíblia deixa bem claro que Jesus era o Filho de Deus (Mateus 3:17 “E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”) e que Ele e o Pai são um (João 10:30 “Eu e o Pai somos um”). Uma pessoa não pode considerar-se um Cristão verdadeiro sem professar fé em Jesus Cristo como Deus.

Jesus ensinou que Ele é o Caminho, e não apenas um que mostrava o caminho, assim com João 14:6 confirma: “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. Quando Guatama morreu, o budismo tinha se tornado de grande influência na Índia; trezentos anos depois de sua morte, o Budismo tinha se espalhado tanto, que tinha rodeado por grande parte da Ásia. As escrituras e dizeres atribuídos a Buda foram escritos mais ou menos quatrocentos anos depois de sua morte. Esse atraso no período entre sua morte e a escrita ou comentário que continha sua mensagem abre as portas a vários desafios que estudiosos podem argumentar sobre a autenticidade e confiabilidade das escrituras budistas.

Buda viveu e morreu bem antes do tempo de Jesus. Suas viagens nunca o levaram a mais de duzentos quilômetros de distância de sua casa. Aparenta ser o caso que Buda não conhecia a Bíblia e sua mensagem. Ele, na verdade, nunca falou sobre Deus, ou Jesus; consequentemente, Budistas geralmente não mencionam Deus como os Cristãos o fazem. Em sua forma clássica, o Budismo o menciona nenhum Deus pessoal ou Ser Divino.

O pecado é compreendido como ignorância. E onde é entendido como alguma forma de “erro moral”, o contexto no qual “bem” e “mal” são compreendidos é amoral. O Carma é compreendido como sendo o equilíbrio da natureza e não é reforçado de uma forma pessoal. A natureza não é moral, portanto, o Carma não é um código moral, e o pecado o é, no fim das contas, moral. Por isso podemos dizer, de acordo com o pensamento budista, que nosso erro, no final das contas, não é moral já que é apenas um engano impessoal e não uma violação interpessoal. A consequência que surge desse tipo de compreensão é devastadora. Para o budista, o pecado é mais um engano do que uma transgressão contra a natureza do Deus onipotente. Esse entendimento do pecado o concorda com a consciência moral inata de que os homens são condenados por causa de seu pecado diante de um Deus Santo (Rom. 1-2).

A crença de que o pecado é um erro impessoal que pode ser consertado o vai de acordo com a doutrina da depravidade, a qual é uma básica doutrina do Cristianismo. A Bíblia nos diz que o pecado do homem é um problema de consequências eternas e infinitas. As opiniões budistas sobre o pecado nem se comparam. De acordo com o budismo, não existe a necessidade de um Salvador para resgatar as pessoas de seus pecados condenadores. Para o Cristão, Jesus é a única forma de resgate da punição eterna de seus pecados pessoais e imputados. Para o budista, existe apenas uma forma de vida ética e apelos através de meditações a seres exaltados com a esperança de talvez alcançar iluminação ou Nirvana. Mas provavelmente certa pessoa terá que passar por várias reencarnações para pagar pela grande acumulação de débito relacionado ao carma. Para os verdadeiros seguidores do Budismo, essa religião é uma filosofia de moralidade e ética, encapsulada em uma vida de renúncia do próprio ego. Uma pessoa pode apelar a inúmeros Boddhisatvas ("Budas em formação") ou Budas (Gautama é visto mais tarde como um de muitos budas) (Ibid., 229). No fim das contas, a realidade é impessoal e não-relacional; portanto, não é amoroso. Deus não é visto como ilusório, mas ao dissolver o pecado a um erro o moral e ao rejeitar toda realidade material como maya ("ilusão"), até mesmo nós “nos” perdemos. A personalidade em si se torna uma ilusão.

Quando perguntado como o mundo começou, quem/o que criou o universo, o Buda mantém-se em silêncio, pois no budismo o há início nem fim. Existe, ao invés, um círculo sem fim de nascimento e morte. Alguém teria que se perguntar que tipo de Ser nos criou para morrer, passar por tanto sofrimento e dor, para então morrer, vez e vez de novo? Pode causar alguém a contemplar, mas qual o propósito, porque se incomodar? Os Cristãos sabem que Deus enviou o Seu filho para morrer por nós, apenas uma vez, para que não tenhamos que sofrer por toda a eternidade. Ele enviou Seu Filho para nos dar conhecimento do fato de que não estamos sozinhos e de que somos amados. Os Cristãos sabem que há mais para essa vida do que apenas sofrimento e morte. 2 Timóteo 1:10 nos diz: “E que é manifesta agora pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte, e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho”.

O Budismo ensina que Nirvana é o estado mais elevado de existir, um estado de existir puro. Ensina também que esse estado é alcançado através de meios relativo ao indivíduo. O Nirvana desafia a explicação racional e norma lógica e, portanto, não pode ser ensinado, apenas percebido. Jesus, ao contrário, foi bem específico. Ele nos ensinou que nossos corpos físicos morrem, mas que nossas almas ascendem para ficarem com Ele no céu. Marcos 12:25 diz: “Porquanto, quando ressuscitarem dentre os mortos, nem casarão, nem se darão em casamento, mas serão como os anjos que estão nos céus”. Para o Budista, não existe um Pai misericordioso no céu que enviou o Seu Filho para morrer por nossas almas, por nossa salvação, para providenciar o caminho para que possamos alcançar Sua glória. Buda ensinou que as pessoas não têm almas individuais, pois o ser individual (ou ego) é apenas uma ilusão.
Fonte: Got Question?Org

A escolha deste tema tem como base alguns paralelismos que consegui estabelecer com a doutrina Cristã:
O seu fundador, que atravessou um período de isolamento total pode ser comparado ao episódio dos quarenta dias e quarenta noites passadas no deserto, que deram origem ao tempo da Quaresma.
Assim como o Cristianismo sofreu várias metaforizações (como o catolicismo, o luteranismo, o calvinismo e a igreja ortodoxa, entre outras) também o budismo sofreu ramificações ao longo dos tempos.
Outra razão para a escolha deste tema é o facto de ser a religião não-cristã que eu menos conheço, talvez pelo facto de ser a menos divulgada ou de ter um papel muito pouco reconhecido pela sociedade ocidental, sendo por vezes vista como uma seita, ou religião menor.
O termo “Buda” significa “o iluminado”; aquele que se desperta a ele próprio e que proporciona o despertar dos outros. O Budismo também se assume como uma doutrina moral, considerando a bondade e a compaixão qualidades essenciais à Iluminação. A primeira qualidade leva à paz, a segunda combate a miséria.
Como é sabido, Buda pregava a igualdade de todas as castas ante a religião, pregava a transmigração, a caridade, a renúncia a todas as paixões, o aniquilamento de todos os desejos para se poder chegar a tranquilidade absoluta – o nirvana.
 
 1: Budismo na Ásia
A história do budismo desenvolve-se desde século VI a.C, começando com o nascimento de Siddharta Ghautama. Durante este período, esta religião evoluiu à medida que encontrou diferentes países e culturas, acrescentando ao fundo indiano inicial elementos culturais oriundos da cultura helénica, bem como da Ásia Central, do Sudeste asiático e Extremo Oriente. No processo o budismo alcançou uma expansão territorial considerável ao ponto de influenciar de uma forma ou de outra quase todo o continente asiático. A história do budismo caracteriza-se também pelo desenvolvimento de vários movimentos e cismas, entre os quais se encontram as tradições Theravada, Mahayana e Vajrayana.
O fundador do Budismo neste mundo foi Siddharta Ghautama ou Buda, que viveu e ensinou no norte da Índia há cerca de 2.500 anos (entre 563-83 a.C.). Desde então, milhões de pessoas ao redor do mundo têm seguido o puro caminho espiritual que ele revelou.
 
 2: Nascimento do Buddha
Na crença budista, a existência terrestre de Siddharta foi a última etapa de uma série de sucessivos renascimentos, isto é, a vida deste representa o fim do caminho em direcção à libertação  do samsara.
Siddharta nasceu numa pequena localidade no sul do que é actualmente o Nepal. Era príncipe, filho de um soberano do clã dos Sâkya, da família Ghautama, cresceu sem preocupações, num ambiente confortavel, devido ao isolamento a que foi sujeito pelo pai. Longe das dores do mundo, apesar da experiência da morte de sua mãe, Siddharta casou-se e terá tido um filho.
Mas o destino reservou-lhe outro caminho. Ao sair de um dos seus palácios, Siddharta teve a experiência que mudou a sua vida. Nessa ocasião Siddharta teve quatro encontros: um com um velho homem abandonado, depois um doente e mais adiante uma celebração fúnebre, finalmente um eremita que abandonara tudo para procurar a libertação.
Com 29 anos partiu, abandonando o palácio e família, à procura da Iluminação.
Durante 6 anos Siddharta teve uma vida errante, encontrando vários mestres, praticando os seus ensinamentos e ultrapassando-os. Tornando-se ele próprio um mestre, atraindo a si cinco seguidores fiéis.
Mas esse caminho revelou-se rapidamente insuficiente. Siddharta entrega-se a um isolamento total, abstendo-se de alimentos e, através da prática do Ioga, suspende as suas funções vitais.
Diz a lenda que, um dia, ouviu um barqueiro que passava no rio, que ensinava música ao seu discípulo e que lhe dizia que: as cordas de um instrumento, se muito frouxas, não emitiam um som adequado, e se muito esticadas, elas arrebentavam.
Siddharta compreende que as austeridades físicas não eram o caminho para se alcançar a libertação e que se enganara no caminho e as penosas memórias  resultantes do isolamento tornaram-se advertências para os futuros que quisessem seguir o mesmo caminho. Siddharta considerou então que a privação excessiva debilitara seu organismo e o impossibilitara de meditar como deveria afastando-o cada vez mais de seu verdadeiro objectivo, pelo qual havia renunciado à vida mundana. Então suspendeu-o, os cinco companheiros viram nisto um sinal de fraqueza e abandonaram-no.
 
 3: Estado de meditação (zazen)
liberto de uma experiência inconsistente, Siddharta recuperou as forças e meditou sobre a existência humana, Sentando em posição meditativa (conhecida hoje como zazen). No fim dessa noite, Siddharta atingiu a realização da Iluminação perfeita e completa, adquirindo a recordação de todas as suas anteriores vidas e principalmente a compreensão das causas e condições que determinam a existência de cada um. Consequentemente, adquire a compreensão dos meios que permitiram pôr fim ao ciclo de sucessivos renascimentos e atingir a libertação perfeita. Siddharta soube então que já não renasceria. O seu karma estava extinto. A vontade de partilhar a sua experiência com os outros, conduzindo-os na mesma via, tornou-o num Buda.
A base dos ensinamentos de Siddharta prendia-se com a ideia dos renascimentos cíclicos que os seres tinham de atravessar antes de se libertarem e atingirem o Nirvana.
 O ciclo de renascimentos sucessivos (Samsara) está directamente ligado à lei do karma, o que pressupõe a existência de um efeito causal das acções. O renascimento é uma continuidade de acções e reacções porque os karma fornecem a energia para renascer uma e outra vez. Ou seja, quando um ser renasce traz com ele uma herança kármica que é o resultado de acções praticadas nas suas anteriores vidas.
Com esta doutrina, o Budismo primitivo negou duas teorias religiosas da época:
· Teoria da criação: que atribui a responsabilidade da felicidade ou infelicidade do indivíduo, a Bhrama.
· Teoria do acaso: segundo a qual a felicidade ou infelicidade do indivíduo não têm causas específicas.   
A teoria dos karma explica a diversidade de vidas dos seres vivos. Quem praticou boas acções em anteriores existências, irá ter uma vida melhor do que quem praticou más acções. Ou seja, bons karma dão bons frutos.
Diz a lenda que Siddhartha permaneceu assim por vários dias, sob a sombra de uma figueira, nas margens do rio. Então, uma luz começa a brilhar no meio da sua testa. Mara, o Grande Tentador, estremeceu: ele sabia que seu poder para deturpar a humanidade estava ameaçado.
Durante a noite, muitas distracções surgiram para Sakyamuni:
· sede,
· luxúria,
· descontentamento
· distracções de prazer.
E ao longo de sua concentração meditativa, ele foi tomado por visões de exércitos de demónios atacando-o. Mas, por causa de sua meditação indestrutível, ele pôde converter a negatividade em harmonia e pureza, e as flechas lançadas contra ele se transformaram em flores.
Algumas filhas de Mara apareceram, como belíssimas mulheres, para distraí-lo e seduzi-lo (luxúria).
Outras assumiram formas de animais ferozes (medo).
Mas os seus rosnados, ameaças e qualquer outra tentativa foram em vão para tirar Siddharta de sua meditação. Sentado num estado de total absorção, alcançou todos os graus de realização, adquirindo o conhecimento de todo o seu ciclo de mortes e renascimentos. Finalmente, Mara tentou tirá-lo de sua meditação pelo ataque ao ego.
Rugiu: "Quem pensas que és? Com que direito procuras pela Suprema Iluminação? Quem é tua testemunha?" Siddharta Gautama silenciosamente estendeu a mão direita para tocar a terra, que estremeceu e gritou de suas entranhas "Eu sou tua testemunha".
 
4: Imagem de Buda a pregar o seu primeiro sermão
Buda reuniu-se com os cinco companheiros em Benares e comunicou-lhes os conhecimentos que se tornaram na base do ensino do budismo.
Até à idade de 80 anos, Buda transmitirá os seus conhecimentos aos homens, percorrendo toda a Índia.
Inicialmente, Buda baseou a sua análise da condição humana em três leis fundamentais - As Três Marcas da Existência.
A primeira lei é o ponto de partida para todo o sistema religioso budista - a “impermanência” (anitya), que nos revela que no mundo material nada permanece, tudo está em movimento. As coisas podem dar a impressão de o serem, contudo isso não passa de uma ilusão.
A segunda lei é a insatisfação (duhkha), ou seja, a dor, que é consequência da primeira. Para o pensamento budista, tudo o que não fosse permanente gerava insatisfação.
A terceira marca é a ideia de inexistência de alma (anatman). Segundo o budismo, os seres humanos não têm alma (atman) permanente. Para este, o ser humano era um ser desigual, constituído por uma nuvem de componentes físicos e mentais em permanente mudança. Falar de um “núcleo” eterno do ser humano que persistisse depois da morte seria completamente falso. Alguns elementos característicos  do ser humano poderiam passar de uma vida para outra, contudo a personalidade em si não o poderia fazer.
Mais tarde, Buda passou desta ideia pessimista da condição humana para a sugestão da existência de uma via de saída de um impasse: As Quatro Nobres Verdades.
A primeira considerava a vida na sua essência, insatisfatória.
A segunda corresponde à ideia de que essa insatisfação deriva das ânsias (trsna), ou seja desejos, que assolavam o ser humano e da sua ignorância (avidya).
A terceira era que este não tinha de ser o destino de todos os homens e que haveria forma de fugir à escravatura deste mundo insatisfatório.
A quarta nobre verdade determinava o caminho de fuga à escravidão do mundo, ou seja, as Oito Vias Sagradas.
1. parecer recto, adequado, correcto
2. intenção recta
3. discurso recto
4. acções rectas
5. existência recta
6. esforço recto
7. espírito recto
8. concentração recta
Destas oito vias, poder-se-á considerar as duas últimas como as de maior cariz religioso. O espírito recto corresponde a um exercício espiritual especificamente budista enquanto a concentração recta refere-se à meditação recta. É através da meditação que se pode chegar à verdadeira compreensão da natureza da realidade e obter a libertação dos ciclos intermináveis de samsara.
'Handa dani bhikkhave amantayami vo vaya dhamma sankhara appamadena Sampadetha'
"Ó, monges! Estas são minhas últimas palavras. Tudo o que foi criado está sujeito à decadência e à morte. Nada é permanente. Trabalhem muito pela própria salvação com atenção plena, esforço e disciplina".
Após o funeral de Buda, ao colocar-se a questão da sua sucessão, surgem dois dos seus discípulos: Mahakasyapa e Ananda. Tendo o primeiro achado que o outro (por ter passado a vida ao lado de Buda e não ter tido tempo de estudar as técnicas de meditação necessárias) não atingira o nirvana, isto é, não se tinha tornado um arhat e, por isso, não o convocou para o concílio de arhats de Rajagrha. 
Assim como Sócrates e Jesus, Siddharta não deixou nada escrito, tendo os seus discípulos reunido 100 anos após sua morte para escrever o que haviam ouvido de seus mestres, e fizeram assim o Tripitaka, que é a "bíblia" da escola Theraveda de ensino budista.
 
 5: Transmissão da doutrina budista
O tripitaka, metaforicamente “os três cestos de flores”, é o conjunto da doutrina budista. Cada um dos cestos refere-se a uma parte do pensamento e prática do Budismo.
1. O primeiro cesto é o cesto dos Sutra, que agrupa os ensinamentos do próprio Buda, através de uma série de conversas e sermões colectados por um dos seus mais próximos discípulos – Ananda.
2.  O segundo cesto é o cesto do Vinaya, onde estão reunidas as regras disciplinares a que estavam obrigados a seguir todos os que fazem parte da comunidade monástica, a Sangha. O núcleo dos dois primeiros cestos é contemporâneo do próprio Buda.
3. O terceiro cesto é o cesto dos Abhidharma, ou textos filosóficos que têm com foco a transmissão do Budismo. Na verdade, pretende ser um esclarecimento sobre certas passagens dos cestos anteriores assim como interpretar as escrituras mais antigas.
 
 6: Escola budista
O Budismo proporcionou, desde cedo, variadas interpretações. Por volta de 380 a. C. reuniu-se o Segundo Concílio Budista, em Vaisali.
A razão fundamental deste concílio foi uma disputa sobre as interpretações das escrituras budistas. Um grupo de Mahasanghikas (monges novos) estava aberto a uma interpretação mais liberal das regras monásticas e à crença em que um ahrant, alguém que obtivesse a Iluminação nesta vida, podia continuar sujeito às incertezas e fragilidades humanas.  Os oponentes, Sthaviras, ou "anciãos", que constituíam a Sangha, eram muito mais rigorosos na interpretação da tradição recebida.
Incapazes de ultrapassarem as divergências, os dois grupos evoluíram separadamente. Dessa forma, cerca de um século depois da morte do fundador, o Budismo começou a separar-se em grupos diferentes: a escola Theravada, continuadores dos Sthaviras, ou seja, dos que espalhavam o ensinamento original e a escola Mahayana, que realçava a superioridade dos sutras sobre as outras duas divisões das escrituras.
Após os encontros entre o budismo e o Ocidente representados na arte greco-budista, um conjunto de informações e lendas sobre o budismo chegaram ao Ocidente de maneira esporádica. Durante o século VIII as histórias Jataka budistas foram traduzidas para o siríaco e o árabe como Kaligag e Damnag. Uma biografia do Buda foi traduzida para o grego por João de Damasco, acreditando-se que tenha circulado entre os cristãos como a história de Josafat e Baarlam. No século XIV, Josafat seria declarado santo pela Igreja Católica Romana.
O próximo contacto directo entre o budismo e o Ocidente aconteceu na Idade Média quando o monge franciscano Guillaume de Rubrouck foi enviado como embaixador à corte mongol de Mongke pelo rei Luís IX de França. O encontro aconteceu em Cailac (actualmente no Kazaquistão), tendo o monge julgado que os budistas seriam cristãos perdidos.
O budismo começou a despertar um interesse no público ocidental no século XX, após o fracasso de projectos políticos como o marxismo. Nos anos setenta um interesse pela realização pessoal substituiu a importância dos projectos políticos que visavam mudar a sociedade. Neste contexto o budismo tem experimentado uma forte poder de atracção devido, entre outros factores, à falta de deidade e a uma certa centralidade da experiência individual.
Quando se iniciou a introdução do Budismo na China este sofreu algumas perseguições.
O Budismo chegou à China através dos comerciantes, por volta do início da era cristã.
O Budismo "aproveitou" a desintegração do sistema político e social chinês para se desenvolver. A tradução das escrituras para o chinês, foi feita em meados do século II d. C.
O Budismo floresceu durante cerca de quatro séculos, tendo tido o seu apogeu durante a dinastia Tang. Os dirigentes chineses apoiaram convictamente a religião, fomentando uma imensa actividade filosófica.  Quatro escolas adquiriam características únicas: Tien Tai, Hua Yen, Chan (Zen) e Terra Pura. Estas escolas concordavam com os preceitos básicos do Budismo, tal como tinham sido transmitidos por Buda, mas a sua compreensão era determinada pela filosofia existente na própria China. Destas quatro escolas, poderemos afirmar que a escola Chan (Zen) e a escola Terra Pura souberam  manter-se firmes nos tempos que se seguiram.
No século IX, o Budismo entra num período de decadência, por várias razões, dentro das quais não poderemos esquecer o facto dos governantes que se seguiram à dinastia Tang, considerarem-se descendentes de Lao Tzé, o fundador do Tauismo. Por outro lado, a Sangha estava corrompida por razões similares àquelas que deram origem ao cisma do ocidente, em relação à Igreja Cristã.   
O Budismo continuou a ter seguidores, especialmente nas zonas rurais, mas adquiriu um carácter mágico, longe dos ensinamentos originais de Buda.
Apesar destas dificuldades com que o Budismo se deparou na China, um grupo de monges destaca-se ao longo da sua História. De realçar o monge Tai Hsu (1890-1947) que funda escolas e promove o estudo de outras línguas budistas que não o chinês, além de ter advogado a ideia de uma federação mundial de budistas. Esta ideia poderia ter sido concretizada se a China não tivesse caído em poder dos comunistas.
O governo comunista manda, em 1951, confiscar a maior parte das terras que pertencia à Sangha e reduziram-na ao estado laico. Em 1953, foi constituída a Associação Budista Chinesa, com o objectivo de controlar a comunidade budista. No período da Revolução Cultural assistiu-se a mais perseguições, mas apesar disso o Budismo ainda persiste na China e mostra sinais de renascimento junto da população jovem e citadina. 
O Budismo terá sido introduzido no Japão e na Coreia na mesma altura que no gigante chinês, no entanto o seu desenvolvimento adquiriu contornos especiais.
Inicialmente vista com desconfiança, por ser uma religião estrangeira, o Budismo tornar-se-á num órgão institucional do Estado Japonês.
O imperador e a corte interessavam-se, a princípio,  pelo carácter mágico e algo supersticioso dos rituais budistas. Só nos finais do século VIII, o Budismo começa a ser visto como tal e não como magia.
Durante os séculos XI, XII e XIII, o povo nipónico começa a ser atraído para a forma religiosa Terra Pura. No século XIII, outras alterações dar-se-iam no Japão, pela mão do reformador Nichiren (1222-82) que iniciou a pregação de uma forma ultra nacionalista de Budismo, referindo que o Japão se tornara a verdadeira pátria espiritual da Religião. Com os sucessivos conflitos intra muros, as classes dirigentes japonesas acabaram por aceitar os princípios do Budismo Zen. A pouco e pouco o Budismo foi-se associando no Japão às ideias de patriotismo e o Budismo no Japão teve de enfrentar dificuldades durante o período Meiji, no século XIX. Na verdade, a partir da Restauração Meiji, o Budismo foi ignorado a favor do Xintoísmo, apoiado pelo Estado, pois glorificava o imperador. Foi durante esse período que o celibato foi proibido. É por essa razão que ainda hoje o Japão é um dos poucos países a permitir o casamento dos clérigos.  Foi ainda durante a Restauração Meiji, que se fizeram sentir muitas inovações de carácter ocidental no Budismo japonês, influências das comunidades missionárias protestantes.
Com a realização deste trabalho concluo que a religião budista não é apenas um conjunto de rituais supersticiosos, mas sim uma religião sólida com “bíblia”, escolas de transmissão de conhecimento e que se encontra difundida por todo o mundo com uma maior incidência no continente asiático.
Fico também a saber um pouco mais sobre a vida e obra do fundador desta religião, Siddharta Ghautama, que tal como Sócrates e Jesus Cristo, não deixou nada escrito, deixando pois essa tarefa aos seus apóstolos, nos séculos que se seguiriam.

Editado: Elizabeth 

Budismo



A grande estátua do Buda Amitaba, em Kamakura, Japão.
Budismo (páli/sânscrito: बौद्ध धर्म Buddha Dharma) é uma religião[1] e filosofia[1][2] não-teísta[1], abrangendo uma variedade de tradições, crenças e práticas, baseadas nos ensinamentos atribuídos a Siddhartha Gautama, mais conhecido como Buda (páli/sânscrito: "O Iluminado"). Buda viveu e desenvolveu seus ensinamentos no nordeste do subcontinente indiano, entre os séculos VI e IV a. C.[3].
Ele é reconhecido pelos adeptos como um mestre iluminado que compartilhou suas ideias para ajudar os seres sencientes a alcançar o fim do sofrimento (ou Dukkha), alcançando o Nirvana (páli: Nibbana) e escapando do que é visto como um ciclo de sofrimento do renascimento.[4]
O budismo pode ser dividido em dois grandes ramos: Theravada ("Doutrina dos Anciões") e Mahayana ("O Grande Veículo"). A tradição Theravada, que descende da escola Vibhajyavada do tronco Sthaviravada, é o mais antigo ramo do budismo. É bastante difundido nas regiões do Sri Lanka e sudeste da Ásia, já a segunda, Mahayana, é encontrada em toda a Ásia Oriental e inclui, dentro de si, as tradições e escolas Terra Pura, Zen, Budismo de Nitiren, Budismo Tibetano, Tendai e Shingon. Em algumas classificações, a Vajrayana aparece como subcategoria de Mahayana, entretanto é reconhecida como um terceiro ramo.
Mesmo o budismo sendo uma prática muito popular na Ásia, os dois ramos são encontrados em todo o mundo. Várias fontes colocam o número de budistas no mundo entre 230 milhões e 500 milhões, tornando-o a quinta maior religião do mundo[5][6].
As escolas budistas variam sobre a natureza exata do caminho da libertação, a importância e canonicidade de vários ensinamentos e, especialmente, suas práticas[7][8]. Entretanto, as bases das tradições e práticas são as Três Joias: O Buda (como seu mestre), o Dharma (os ensinamentos) e a Sangha (a comunidade budista)[9]. Encontrar refúgio espiritual nas Três Joias ou Três Tesouros é, em geral, o que distingue um budista de um não-budista.[10] Outras práticas podem incluir a renúncia convencional de vida secular para se tornar um monge (sânsc.; pāli: Bhikkhu) ou monja (sânsc.; pāli: Bhikkhuni).

A vida de Buda


Gautama com seus cinco companheiros, que mais tarde compuseram a primeira Sangha. Pintura da parede de um templo em Laos.
De acordo com a narrativa convencional, o Buda nasceu em Lumbini, hoje patrimônio mundial da UNESCO, por volta do ano 536 a. C., e cresceu em Kapilavastu, ambos localizados onde hoje está a região do Nepal[11][12]. Logo após o nascimento de Siddhartha, um astrólogo visitou o pai do jovem príncipe, Suddhodana, e profetizou que Siddhartha iria se tornar um grande rei e que renunciaria ao mundo material para se tornar um homem santo, se ele, por ventura, visse a vida fora das paredes do palácio.
O rei Suddhodana estava determinado a ver o seu filho se tornar um rei, impedindo assim que ele saísse do palácio. Mas, aos 29 anos, apesar dos esforços de seu pai, Siddhartha se aventurou por além do palácio diversas vezes. Em uma série de encontros (em locais conhecidos pela cultura budista como "quatro pontos"[13]), ele soube do sofrimento das pessoas comuns, encontrando um homem velho, um outro doente, um cadáver e, finalmente, um ascético sadhu, aparentemente contente e em paz com o mundo. Essas experiências levaram Gautama, eventualmente, a abandonar a vida real e ir em busca de uma vida espiritual.
Siddhartha Gautama fez uma primeira tentativa, experimentando a ascética e quase morreu de fome ao longo do processo. Mas, depois de aceitar leite e arroz de uma menina da vila, ele mudou sua abordagem. Concluiu que as práticas ascéticas extremas, como o jejum prolongado, respiração sem pressa e a exposição à dor trouxeram poucos benefícios, espiritualmente falando. Deduziu então que as práticas eram prejudiciais aos praticantes[14]. Ele abandonou o ascetismo, concentrando-se na meditação anapanasati, através da qual descobriu o que hoje os budistas chamam de caminho do meio: um caminho que não passa pela luxúria e pelos prazeres sensuais, mas que também não passa pelas práticas de mortificação do corpo[15].
Quando tinha 35 anos de idade, Siddhartha sentou em baixo de uma árvore do tipo sacred fig, hoje conhecida como árvore de Bodhi[15], localizada no Bodh Gaya, na Índia, e prometeu não sair dali até conseguir atingir a 'iluminação'[16][17][18].
A lenda diz que Siddhartha conheceu a dúvida sobre o sucesso de seus objetivos ao ser confrontado por um demônio chamado Mara, que simboliza o mundo das aparências e muitas vezes é representado por uma cobra naja. Ainda segundo a lenda, Mara teria oferecido o nirvana à Sidarta, contudo ele percebeu que isso o levaria a se distanciar do mundo e o impediria de transmitir seus ensinamentos adiante. Assim, por volta dos 40 anos, Sidarta se transformou no Buda, o iluminado, atraindo um grupo de seguidores, e instituiu uma ordem monástica. Agora, passaria seus dias ensinando o darma, viajando por toda a parte nordeste do subcontinente indiano. Ele sempre enfatizou que não era um deus e que a capacidade de se tornar um buda pertencia ao ser humano. Faleceu aos 80 anos de idade, em 483 a. C., em Kusinagar, na Índia.
Os estudiosos se contradizem em relação às afirmações sobre a história e os fatos da vida de Buda. A maioria aceita que ele viveu, ensinou e fundou uma ordem monástica, mas não aceita de forma consistente os detalhes de sua biografia. Segundo o escritor Michael Carrithers, em seu livro O Buda, o esboço de uma vida tem que ser verdadeiro: o nascimento, a maturidade, a renúncia, a busca, o despertar e a libertação, o ensino e a morte[19].
Ao escrever uma biografia sobre Buda, Karen Armstrong, disse: "É obviamente difícil, portanto, escrever uma biografia de Buda, atendendo aos critérios modernos, porque temos muito pouca informação que pode ser considerada 'histórica'... mas podemos estar razoavelmente confiantes, pois Siddhartta Gautama realmente existiu e os seus discípulos preservam a sua memória, sua vida e seus ensinamentos"[20].

Conceitos budistas

A vida e o mundo

Carma: lei de causa e efeito


Tradicional thangka do budismo tibetano alusivo à "Roda da Vida", com seus seis reinos.
Carma (do sânscrito कर्म, transl. karmam, e em pali, kamma, "ação") no budismo é a força de samsara sobre alguém. Boas ações (páli: kusala), e/ou ações ruins (páli: akisala) geram "sementes" na mente[21], que virão a aflorar nesta vida ou em um renascimento subsequente[22]. Com o objetivo de cultivar as ações positivas, o sila é um conceito importante do budismo, geralmente, traduzido como "virtude", "boa conduta", "moral" e "preceito".
No budismo, o carma se refere especificamente a essas ações (do corpo, fala e mente) que brotam da intenção mental (páli:cetana)[23] e que geram consequências (frutos) e/ou resultados (vipaka). Cada vez que uma pessoa age, há alguma qualidade de intenção em sua mente e essa intenção muitas vezes não é demonstrada pelo seu exterior, mas está em seu interior e este determinará os efeitos dela decorrentes.
No budismo Teravada, não pode haver salvação divina ou perdão de um carma, uma vez que é um processo puramente impessoal que faz parte do Universo. Outras escolas, como a Maaiana, porém, têm opiniões diferentes. Por exemplo, os textos dos sutras (como o Sutra do Lótus, Sutra de Angulimala e Sutra do Nirvana) afirmam que, recitando ou simplesmente ouvindo seus textos, as pessoas podem expurgar grandes carmas negativos. Da mesma forma, outras escolas, Vajrayana por exemplo, incentivam a prática dos mantras como meio de cortar um carma negativo[24].

[editar] Renascimento

Renascimento se refere a um processo pelo qual os seres passam por uma sucessão de vidas como uma das muitas formas possíveis de senciência. Entretanto, o budismo, natural da Índia, rejeita conceitos de "autoestima" permanente ou "mente imutável", eterna, como é chamada no cristianismo e até mesmo no hinduísmo, pois, no budismo, existe a doutrina do anatta, sobre a inexistência de um "eu" permanente e imutável.
De acordo com o budismo, o renascimento em existências subsequentes deve antes ser entendido como uma continuação dinâmica, um constante processo de mudança - "originação dependente" (sânscrito: pratītya-samutpāda) - determinado pelas leis de causa e efeito (carma), em vez da noção de um ser encarnado ou transmigrado de uma existência para outra.
Cada renascimento ocorre dentro de um dos seis reinos, de acordo com os nossos reinos de desejos, podendo variar de acordo com as escolas[25][26][27]:
  1. seres dos infernos: aqueles que vivem em um dos muitos infernos;
  2. preta: o reino de seres que padecem de necessidades sem alívio, sofrimento, remorsos, fome, sede, nudez, miséria, sintomas de doenças, entre outros;[27]
  3. animais: um espaço de divisão com os humanos, mas considerado como outra vida;
  4. deva: comparado ao paraíso;[27]
  5. semideuses: variavelmente traduzido como "divindades humildes", demônios, titãs e antideuses; não é reconhecido pelas escolas Teravada e Maaiana;
  6. seres humanos: um dos reinos de renascimento, em que é possível atingir o nirvana.
O renascimento em alguns dos céus mais altos, conhecido como o mundo de Śuddhāvāsa (moradas puras), pode ser alcançado apenas por budistas profissionais qualificados, conhecidos como não-regressistas (sânscrito: anāgāmis). Já o renascimento no reino sem forma (sânscrito: arupa-dhatu) pode ser alcançando apenas por aqueles que podem meditar sobre o arupajhanas, o maior objeto de meditação.
De acordo com o budismo praticado no leste asiático e o budismo tibetano, há um estado intermediário (o bardo) entre uma vida e a próxima. A posição Teravada ortodoxa rejeita esse conceito, no entanto existem passagens no Samyutta Nikaya do Cânone Páli (coleção de textos em que a tradição Teravada é baseada) que parecem dar apoio à ideia de que o Buda ensinou que existe um estado intermediário entre esta vida e a próxima.

O ciclo de samsara

Samsara é o ciclo das existências nas quais reinam o sofrimento e a frustração engendrados pela ignorância e pelos conflitos emocionais que dela resultam[28]. O samsara compreende os três mundos superiores (deva, semideuses e seres humanos) e os três inferiores (seres dos infernos, preta e animais), julgados não por um valor, mas em função da intensidade de sofrimento[29].
Os budistas acreditam, em sua maioria, no samsara. Este, por sua vez, é regido pelas leis do carma: a boa conduta produzirá bom carma e a má alma produzirá carma maléfico. Assim como os hindus, os budistas interpretam o samsara não-esclarecido como um estado de sofrimento. Só nos libertaremos do samsara se atingirmos o estado total de aceitação, visto que nós sofremos por desejar coisas passageiras, e alcançarmos o nirvana ou a salvação[30].

Sofrimento: causas e soluções

As Quatro Nobres Verdades

De acordo com o Cânone Páli, As Quatro Nobres Verdades foram os primeiros ensinamentos deixados pelo Buda depois de atingir o nirvana[31]. Algumas vezes, são consideradas como a essência dos ensinamos do Buda e são apresentadas na forma de um diagnóstico médico[32]:
  1. a vida como a conhecemos é finalmente levada ao sofrimento e/ou mal-estar (dukkha), de uma forma ou outra;
  2. o sofrimento é causado pelo desejo. Isso é, muitas vezes, expressado como um engano agarrado a um certo sentimento de existência, a individualidade, ou para coisas ou fenômenos que consideramos causadores da felicidade e infelicidade. O desejo também tem seu aspecto negativo;
  3. o sofrimento acaba quando termina o desejo. Isso é conseguido através da eliminação da ilusão, assim alcançamos um estado de libertação do iluminado (bodhi);
  4. esse estado é conquistado através dos caminhos ensinados pelo Buda.
Esse método é descrito por alguns acadêmicos ocidentais e ensinado como uma introdução ao budismo por alguns professores contemporâneos do Maaiana, como por exemplo o Dalai Lama[33].
De acordo com outras interpretações de mestres budistas e eruditos, e recentemente reconhecidas por alguns estudiosos ocidentais não-budistas, as "verdades" não representam meras declarações e/ou indicações, entretanto estas podem ser agrupadas em dois grupos [34]:
  1. o sofrimento e as causas do sofrimento;
  2. a cessação do sofrimento e os caminhos para a libertação.
Assim, a Enciclopédia Macmillan de Budismo simplifica As Quatro Nobres Verdades, deixando-as da seguinte maneira:
  1. "A Verdade Nobre Que Está Sofrendo";
  2. "A Verdade Nobre Que É O Surgimento do Sofrimento";
  3. "A Verdade Nobre Que É O Fim do Sofrimento";
  4. "A Verdade Nobre Que Produz o Fim do Caminho de Sofrimento".
A compreensão tradicional do Teravada sobre As Quatro Nobres Verdades é que estas são um ensino avançado para aqueles que estão "prontos"[35]. A posição Maaiana é que eles são ensinamentos prejudiciais para as pessoas que ainda não estão prontas para ensinar[23]. No Extremo Oriente, os ensinamentos são pouco conhecidos

O Nobre Caminho Óctuplo


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O Nobre Caminho Óctuplo - A Quarta Nobre Verdade do Buda - é o caminho para a o fim do sofrimento (dukkha). Tem oito seções, cada uma começando com a palavra samyak (que em sânscrito significa "corretamente" e "devidamente"), e são apresentadas em três grupos:
  • prajna: é a sabedoria que purifica a mente, permitindo-lhe atingir uma visão espiritual da natureza de todas as coisas. Engloba:
  1. dṛṣṭi (ditthi): ver a realidade como ela é, não apenas como parece ser;
  2. saṃkalpa (sankappa): a intenção de renúncia, de liberdade e inocuidade.
  • sila: é a ética ou moral, a abstenção de atos nocivos. Engloba:
  1. vāc vāc (vāca): falando de uma maneira verdadeira e não-ofensiva;
  2. karman (kammanta): agir de uma maneira não-prejudicial;
  3. ājīvana (ājīva): o meio de vida deve seguir os preceitos citados anteriormente[37].
  • samadhi: é a disciplina mental necessária para desenvolver o domínio sobre a própria mente. Isso é feito através de práticas, engloba:
  1. vyāyāma vyāyāma (vāyāma): fazer um esforço para melhorar;
  2. smṛti (sati): ver as coisas como elas estão com a consciência clara da realidade presente dentro de si mesmo, sem desejo ou aversão;
  3. samādhi (samādhi): meditar ou concentrar-se de maneira correta.
A prática do Caminho Óctuplo é compreendida de duas maneiras: desenvolvimento simultâneo dos oito itens paralelamente, ou como uma série progressiva pela qual o praticante se move, ao conquistar um estágio. Contudo, os quatro nikāyas principais e o Caminho Óctuplo, geralmente, não são ensinados para leigos e são pouco conhecidos no Extremo Oriente[36].

Caminho do Meio

Um importante princípio orientador da prática budista é o Caminho do Meio, que se diz ter sido descoberto pelo Buda, antes de sua iluminação. O Caminho do Meio tem várias definições:
  1. a prática de não-extremismo: um caminho de moderação e distância entre a autoindulgência e a morte;
  2. o meio-termo entre determinadas visões metafísicas;
  3. uma explicação do nirvana (perfeita iluminação), um estado no qual fica claro que todas as dualidades aparentes no mundo são ilusórias;
  4. outros termos para o sunyata, a última natureza de todos os fenômenos (na escola Maaiana).

A forma como as coisas são


Debate entre monges do Sera Monastery, no Tibet.
Estudiosos budistas têm produzido uma quantidade notável de teorias intelectuais, filosóficas e conceitos de visão do mundo (por exemplo: filosofia budista, abhidharma e a realidade no budismo. Algumas escolas do budismo desencorajam estudos doutrinários, algumas os consideram como essenciais, pelo menos para algumas pessoas em algumas fases do budismo.
Nos primeiros ensinamentos budistas, de certa forma, compartilhado por todas as escolas existentes, o conceito de libertação (nirvana) está intimamente ligado com a correta compreensão de como a mente lida com o estresse. Ao termos conhecimento sobre o apego, um sentimento de desapego é gerado e se é liberado do sofrimento (dukkha) e do ciclo de renascimento (samsara). Para esse efeito, o Buda recomendou ver as coisas através das três marcas da existência.

Impermanência, sofrimento e não-eu

Anicca é uma das três marcas da existência. O termo exprime o conceito budista de que todas as coisas são compostas ou fenômenos condicionados, sendo estes, inconstantes, instáveis e impermanentes. Tudo o que podemos experimentar através dos nossos sentidos é composto de peças e sua existência depende de condições externas. Tudo está em fluxo constante e, assim, as condições e coisas em si estão mudando constantemente. As coisas estão vindo constantemente a ser e deixar de ser. Como nada dura, não há nenhuma natureza inerente ou fixada em qualquer objeto ou experiência.
Segundo a doutrina da impermanência, a vida humana incorpora esse fluxo no processo de envelhecimento, no ciclo de renascimento e em qualquer existência de perda. A doutrina afirma ainda que, pelo fato de as coisas serem impermanentes, o apego a elas é inútil e leva ao sofrimento (dukkha).
Dukkha ou sofrimento (pāli दुक्ख; sanskrit दुःख duḥkha) é um dos conceitos centrais do budismo. A palavra pode ser traduzida de diversas maneiras, incluindo sofrimento, dor, insatisfação, tristeza, angústia, ansiedade, desconforto, estresse, infelicidade e frustração, por exemplo. Apesar disso, dukkha é traduzido, muitas vezes, como "sofrimento", o seu significado filosófico é mais semelhante a "inquietação", como na condição de ser perturbado[38]. Devido a isso, algumas literaturas preferem não traduzir o verbete, como é o caso do inglês, com o objetivo de englobar em uma palavra todos os significados[39][40][41].
Anatta, ou anatman, refere-se à noção da inexistência de um "eu". Após uma análise cuidadosa, verifica-se que nenhum fenômeno é realmente "eu" ou "meu", estes conceitos são, na realidade, construídos pela mente. O nikayas, no anatta, não é entendido como uma afirmação metafísica, mas como uma aproximação para ganhar sofrimento. O Buda rejeitou ambos os conceitos, afirmando que eles nos ligam ao sofrimento.

Originação dependente

A doutrina do pratītyasamutpāda é uma parte importante da metafísica budista. Ela afirma que os fenômenos surgem juntos em uma teia interdependente de causa e efeito. É variavelmente traduzida como "orientação dependente", "gênese condicionada", "co-dependente decorrentes" ou "emergência".
O conceito mais conhecido e aplicado do pratītyasamutpāda é o regime dos Doze Nidānas (do páli: nidāna, que significa "provocar", "fundação", "fonte" e "origem"), que explicam a continuação do ciclo de sofrimento e renascimento em detalhe. Os Doze Nidānas descreve uma relação entre as características subsequentes, cada uma dando origem ao nível seguinte:
  1. Avidyā: ignorância (especificamente espiritual)
  2. Saṃskāras: formações
  3. Vijñāna: consciência
  4. Nāmarūpa: nome e forma (refere-se à mente e ao corpo)
  5. Ṣaḍāyatana: suas bases do sentidos (olhos, nariz, ouvidos, língua, corpo e mente)
  6. Sparśa: contato (traduzido, também, como "impressão" ou "estimulo" por um objeto)
  7. Vedanā: sensação, traduzida como algo "desagradável", "agradável" ou neutro
  8. Tṛṣṇā: sede, mas, no budismo, refere-se ao desejo
  9. Upādāna: apego ou apreensão
  10. Bhava: ser (existência) ou se tornar (no Teravada possui dois significados: o carma, que produz uma nova existência, e a existência em si)
  11. Jāti: nascimento (entendido como ponto de partida)
  12. Jarāmaraṇa: velhice e morte, também traduzida, através do śokaparidevaduḥkhadaurmanasyopāyāsa, como tristeza, lamentação, dor e miséria.

O budismo Maaiana foi fundado baseado nas teorias de Nagarjuna, provavelmente o estudioso mais influente dentro das tradições da escola budista. A principal contribuição do filósofo budista foi a exposição sistemática do conceito de sunyata, ou "vazio", comprovada amplamente nos sutras, como Prajnaparamita, importantíssimos na época.
O conceito de "vazio" reúne as outras principais doutrinas budistas, particularmente a anatta e a pratītyasamutpāda (orientação dependente), para refutar a metafísica da Sarvastivada e Sautrāntika (não extintas da escola Maaiana). Para Nagarjuna, não são apenas os seres sencientes que estão vazios de atman; todos os fenômenos (dharmas) são, sem qualquer svabhava (literalmente "própria natureza" ou "autonatureza") e, portanto, sem qualquer essência fundamental, pois eles são vazios de ser independentes, assim, as teorias heterodoxas de Svabhava, circuladas na época, foram desmentidas com base nas demais doutrinas budistas.
Os pensamentos de Nagarjuna são conhecidos como Madhyamaka. Alguns dos escritos atribuídos a Nagarjuna fazem referências explícitas aos textos de Maaiana, mas sua filosofia foi argumentada dentro dos "parênteses" estabelecidos pela ágama. Ele pode ter chegado à sua posição a partir de um desejo de alcançar uma exegese coerente da doutrina do Buda, tal como o Canon. Aos olhos de Naharjuna, o Buda não era apenas um precursor, mas o próprio fundador do sistema Madhyamaka[43].
Os ensinamentos sarvastivada, que foram criticados por Nagarjuna, foram reescritos por estudiosos como Vasubandhu e Asanga e foram, posteriormente, adaptados para a prática do Yoga (sânscrito: Yogacara). Enquanto a escola Madhyamaka declarou que afirmar a existência ou a inexistência de qualquer coisa, em última análise, era inadequado, contudo, alguns expoentes da Yogacara afirmaram que a mente, e só a mente, é real (doutrina conhecida como consciência). Entretanto, nem todos dentro do Yogacara consideram essa afirmação; Vasubandhu e Asanga, em particular, são um exemplo[44].
Além do vazio, a escola Maaiana, muitas vezes, dá ênfase nas noções de discernimento espiritual pleno (prajnaparamita) e na natureza búdica (tathagatagarbha, que significa "embrião budista"). De acordo com o sutras de tathagatagarbha, o Buda revelou a realidade da imortal natureza budista, que se diz ser inerente a todos os seres vivos e permite que todos eles, eventualmente, atinjam a iluminação completa, ou seja, tornando-se Budas.

Especulações contra a existência direta na epistemologia budista

A distinção entre o budismo e outras escolas filosóficas indianas é uma questão da justificação da epistemologia. Apesar de todas as escolas de lógica indiana reconhecerem vários conjuntos das justificativas válidas para o conhecimento (pramana), o budismo, por sua vez, reconhece um conjunto menor do que os outros. Todos aceitam a percepção e a inferência, por exemplo, mas, algumas escolas budistas não.
De acordo com as escrituras, durante a sua vida, o Buda permaneceu em silêncio quando questionado sobre as várias questões metafísicas. São perguntas como: se o universo é eterno ou não (ou se é finito ou infinito), se há unidade ou separação do corpo e do atman, a inexistência completa de uma pessoa depois do nirvana, entre outros. Uma explicação para esse silêncio é que tais questões atrapalham a atividade prática para o bodhi[nb 1] e trazem o perigo de substituir a experiência de libertação através da compreensão conceitual da doutrina ou pela fé religiosa.

Escolas

A sangha original, após a realização de um concílio no século IV a.C, dividiu-se em duas escolas de pensamento: Mahasanghika e Sthaviravada. Desses dois troncos, a única escola remanescente é a Theravada. Os três veículos principais são: Escolas Antigas, Escolas Mahayana e Escolas Vajrayana.

Nirvana

  1. É a meta do budismo.
  2. É o apagar do fogo das paixões e a extinção do ego.
  3. É não necessitar mais reencarnar.
  4. É o que todo budista procura por toda vida, a paz absoluta.
  5. É o que faz do homem comum um Buda.
  6. É a iluminação.
  7. É a extrema paz.

Origens


A estátua do Tian Tan Buda, monastério Po Lin na ilha de Lantau, Hong Kong.
O budismo formou-se no nordeste da Índia, entre o século VI a.C. e o século IV a.C.. Este período corresponde a uma fase de alterações sociais, políticas e econômicas nessa região do mundo. A antiga religiosidade bramânica, centrada no sacrifício de animais, era questionada por vários grupos religiosos, que geralmente orbitavam em torno de um mestre.
Um desses mestres religiosos, como visto acima com mais detalhes, foi Siddhartha Gautama, o Buda, cuja vida a maioria dos acadêmicos ocidentais e indianos situa entre 563 a.C. e 483 a.C., embora os acadêmicos japoneses considerem mais provável as datas 448 a.C. a 368 a.C.. Siddhartha nasceu na povoação de Kapilavastu, que se julga ser a aldeia indiana de Piprahwa, situada perto da fronteira indo-nepalesa. Pertencia à casta guerreira (ksatriya).
Várias lendas posteriores afirmam que Siddhartha viveu no luxo, tendo o seu pai se esforçado por evitar que o seu filho entrasse em contato com os aspectos desagradáveis da vida. Por volta dos 29 anos, o jovem Siddhartha decidiu abandonar a sua vida, renunciando a todos os bens materiais e adotando a vida de um renunciante. Praticou o ioga (numa forma que não é a mesma que é hoje seguida nos países ocidentais) e seguiu práticas ascéticas extremas, mas acabou por abandoná-las, vendo que não conseguia obter nada delas. Segundo a tradição, ao fim de uma meditação sentado debaixo de uma figueira, descobriu a solução para a libertação do ciclo das existências e das mortes que o atormentava.
Pouco depois, decidiu retomar a sua vida errante. Chegou a um bosque perto de Benares, onde pronunciou um discurso religioso diante de cinco jovens, que convencidos pelos seus ensinamentos, se tornaram os seus primeiros discípulos e com quem formou a primeira comunidade monástica (sangha). O Buda dedicou, então, o resto da sua vida (talvez trinta ou cinquenta anos) a pregar a sua doutrina através de um método oral, não tendo deixado quaisquer escritos.

Cosmologia

A cosmologia budista considera que o Universo é composto por vários sistemas mundiais, sendo que cada um desses possui um ciclo de nascimento, desenvolvimento e declínio que dura bilhões de anos. Num sistema mundial existem seis reinos, que por sua vez incluem vários níveis, num total de trinta e um.
O reino dos infernos situa-se na parte inferior. A concepção do inferno budista é diferente da concepção cristã, na medida em que o inferno não é um lugar de permanência eterna nem o renascimento nesse local é o resultado de um castigo divino; os seres que habitam no inferno libertam-se dele assim que o mau karma que os conduziu ali se esgota. Por outro lado, o budismo considera que existem não apenas infernos quentes, mas também infernos frios.
Acima do reino dos infernos pelo lado esquerdo, encontra-se o reino animal, o único dos vários reinos perceptível aos humanos e onde vivem as várias espécies. Acima do reino dos infernos pelo lado direito, encontra-se o mundo dos espíritos ávidos ou fantasmas (preta). Os seres que nele vivem sentem constantemente sede ou fome, sem nunca terem essas necessidades saciadas. A arte budista representa os habitantes desse reino como tendo um estômago do tamanho de uma montanha e uma boca minúscula.
O reino seguinte é o dos Asura (termo traduzido como "Titãs" ou dos antideuses). Os seus habitantes ali nasceram em resultado de acções positivas realizadas com um sentimento de inveja e competição e vivem em guerra constante com os deuses.
O quinto reino é o dos seres humanos. É considerado como um reino de nascimento desejável, mas ao mesmo tempo difícil. A vida enquanto humano é vista como uma via intermédia nessa cosmologia, sendo caracterizada pela alternância das alegrias e dos sofrimentos, o que de acordo com a perspectiva budista favorece a tomada de consciência sobre a condição samsárica.
O último reino é o dos deuses (deva) e é composto por vários níveis ou residências. Nos níveis mais próximos do reino humano, vivem seres que, devido à prática de boas acções, levam uma acção harmoniosa. Os níveis situados entre o vigésimo terceiro e o vigésimo sétimo são denominados como "Residências Puras", sendo habitadas por seres que se encontram perto de atingir a iluminação e não voltarão a renascer como humanos.

Escrituras


Edição do Cânone Pali.
Buda não deixou nada escrito. De acordo com a tradição budista, ainda no próprio ano em que o Buda faleceu teria sido realizado um concílio na cidade de Rajaghra, onde discípulos do Buda recitaram os ensinamentos perante uma assembleia de monges que os transmitiram de forma oral aos seus discípulos. Porém, a historicidade desse concílio é alvo de debate: para alguns esse relato não passa de uma forma de legitimação posterior da autenticidade das escrituras.
Por volta do século I d.C., os ensinamentos do Buda começaram a ser escritos. Um dos primeiros lugares onde se escreveram esses ensinamentos foi no Sri Lanka, onde se constituiu o denominado Cânone Pali. O Cânone Pali é considerado pela tradição Theravada como contendo os textos que se aproximam mais dos ensinamentos do Buda. Não existem, contudo, no budismo um livro sagrado como a Bíblia ou o Alcorão, que seja igual para todos os crentes; para além do Cânone Pali, existem outros cânones budistas, como o chinês e o tibetano.
O cânone budista divide-se em três grupos de textos, denominado "Triplo Cesto de Flores" (tipitaka em pali e tripitaka em sânscrito):
  1. Sutra Pitaka: agrupa os discursos do Buda tais como teriam sido recitados por Ananda no primeiro concílio. Divide-se por sua vez em vários subgrupos;
  2. Vinaya Pitaka: reúne o conjunto de regras que os monges budistas devem seguir e cuja transgressão é alvo de uma penitência. Contém textos que mostram como surgiu determinada regra monástica e fórmulas rituais usadas, por exemplo, na ordenação. Estas regras teriam sido relatadas no primeiro concílio por Upali;
  3. Abhidharma Pitaka: trata do aspecto filosófico e psicológico contido nos ensinamentos do Buda, incluindo listas de termos técnicos.
Quando se verificou a ascensão do budismo Mahayana, essa tradição alegou que o Buda ensinou outras doutrinas que permaneceram ocultas até que o mundo estivesse pronto para recebê-las; dessa forma a tradição Mahayana inclui outros textos que não se encontram no Theravada.

Difusão do budismo

Índia


Estátua de Buda no Templo Mahabodhi, em Bodh Gaya, Índia.
A partir do seu local de nascimento no nordeste indiano, o budismo espalhou-se para outras partes do norte e para o centro da Índia. Durante o reinado do imperador mauria Asoka, que se converteu ao budismo e que governou uma área semelhante à da Índia contemporânea (com excepção do sul), essa religião consolidou-se. Após ter conquistado a região de Kalinga pela força, Asoka decidiu que a partir de então governaria com base nos preceitos budistas. O imperador ordenou a construção de hospedarias para os viajantes e que fosse proporcionado tratamento médico não só aos humanos, mas também aos animais. O rei aboliu também a tortura e provavelmente a pena de morte. A caça, desporto tradicional dos reis, foi substituída pela peregrinação a locais budistas. Apesar de ter favorecido o budismo, Asoka revelou-se também tolerante para com o hinduísmo e o jainismo.
Asoka pretendeu também divulgar o budismo pelo mundo, como revelam os seus éditos. Segundo estes, foram enviados emissários com destino à Síria, Egipto e Macedónia (embora não se saiba se chegaram aos seus destinos) e para o oriente, para um terra de nome Suvarnabhumi (Terra do Ouro) que não se conseguiu identificar com segurança.
O império mauria chegou ao fim em finais do século II a.C.. A Índia foi então dominada pelas dinastia locais dos Sunga (c.185-173 a.C.) e dos Kanva (c.73-25 a.C.), que perseguiram o budismo, embora este conseguisse prevalecer. Perto do início da era actual, o noroeste da Índia foi invadido pelos citas, que formariam a dinastia dos Kuchans. Um dos mais importantes reis desta dinastia, Kanishka (c. 127-147), foi um grande proselitista do budismo.
Durante a era da dinastia Gupta (320-540), os monarcas favorecem o budismo, mas também o hinduísmo. Em meados do século VI, os Hunos Brancos, oriundos da Ásia Central, invadem o noroeste da Índia, provocando a destruição de inúmeros mosteiros budistas. A partir de 750, a dinastia Pala governou no nordeste da Índia até ao século XII, apoiando os grandes centros monásticos budistas, entre os quais o de Nalanda. Contudo, a partir do século XII, o budismo entra num declínio definitivo devido a vários factores. Entre estes, encontravam-se o revivalismo hindu, que se manifestou com figuras como Adi Shankara e pelas invasões dos muçulmanos dos séculos XII e XIII.
Embora o budismo tenha passado por uma verdadeira renovação a partir de 1959, ano em que o Dalai Lama escolhe o exílio, ele parece quase ausente da Índia, a ponto de termos, muitas vezes, de seguir turistas estrangeiros para localizar os lugares santos de antigamente. Nesse percurso, ao longo dos séculos, o budismo suscitou desvios, heresias, seitas.[47]

Sri Lanka e Sudeste da Ásia


Wat Mahathat, Sukhothai, Tailândia.
A tradição cingalesa atribui a introdução do budismo no Sri Lanka ao monge Mahinda, filho de Asoka, que teria chegado à ilha em meados do século III a.C., acompanhado por outros missionários. Esse grupo teria convertido ao budismo o rei Devanampiya Tissa e grande parte da nobreza local. O rei ordenou a construção do Mahavihara ("Grande Mosteiro" em pali) na então capital do Sri Lanka, Anuradhapura. O Mahavihara foi o grande centro do budismo Theravada na ilha nos séculos seguintes.
Foi no Sri Lanka que, por volta do ano 80 a.C., se redigiu o Cânone Pali, a colectânea mais antiga de textos que reflectem os ensinamentos do Buda. No século V d.C., chegou à ilha o monge Buddhaghosa que foi responsável por coligir e editar os primeiros comentários feitos ao Cânone, traduzindo-os para o pali.
Na Tailândia, o budismo lançou raízes no século VII nos reinos de Dvaravati (no sul, na região da actual Banguecoque) e de Haripunjaya (no norte, na região de Lamphun), ambos reinos da etnia Mon. No século XII, o povo Tai, que chegou ao território vindo do sudoeste da China, adoptou o budismo Theravada como a sua religião.
A presença do budismo na Península Malaia está atestada desde o século IV d.C., assim como nas ilhas de Java e Sumatra. Nessas regiões, verificou-se um sincretismo entre o budismo Mahayana e o xivaísmo, que está ainda hoje presente em locais como a ilha de Bali. Entre o século VII e o século IX, a dinastia budista dos Xailendra governou partes da Indonésia e a Península Malaia, tendo sido responsável pela construção do Borobodur, uma enorme stupa que é o maior monumento existente no hemisfério sul. O Islão chegou à Indonésia no século XIV, trazido pelos mercadores, acabando por substituir o budismo como religião dominante. Actualmente o budismo é principalmente praticado pela comunidade chinesa da região.

China


Pintura nas grutas de Bezeklik, oeste da China, retratando monges budistas.
A tradição atribui a introdução do budismo na China ao imperador Ming de Han (25-220 d.C.), o segundo imperador da dinastia Han do leste. Este imperador teve um sonho no qual viu um ser voador dourado, interpretado por seus conselheiros como uma visão do Buda. O imperador enviou emissários à outros países, a oeste da China, para obter informações sobre a doutrina de Buda.
Escrituas budistas teriam sido trazidas à China, nas costas de cavalos brancos, por Dharmarakṣa e Kaśyapa Mātaṅga, dois grandes monges indianos. Então o imperador ordenou a construção do primeiro templo budista da China, o monastério Baima, na atual cidade de Luoyang, província de Henan. Os monges levaram para a China 42 sutras, contendo 600.000 palavras em sânscrito.
Independentemente da tradição, o budismo só se espalhou na China nos séculos V e VI com o apoio da dinastia Wei e Tang. Durante este período estabelecem-se na China escolas budistas de origem indiana ao mesmo tempo em que se desenvolvem escolas próprias chinesas.

Coreia e Japão


Kanji japonês para "Zen".
O budismo entrou na Coreia no século IV. Nesta altura, a Coreia não era um território unificado, encontrando-se dividida em três reinos rivais: o reino de Koguryo no norte, o reino de Paekche no sudoeste e o reino de Silla no sudeste. Estes três reinos reconheceriam o budismo como religião oficial, tendo sido o primeiro a fazê-lo Paekche (384), seguindo-se o Koguryo (392) e Silla (528). Em 668, o reino de Silla unificou a Coreia sob o seu poder e o budismo conheceu uma era de desenvolvimento. Foi nesse período que viveu o monge Wonhyo Daisa (617-686), que tentou promover um budismo do qual fizessem parte elementos de todas as seitas. No século VIII, foi difundido na Coreia o budismo da escola chinesa Chan, denominado son (ou seon)em coreano e que se tornou a escola dominante. O budismo continuou a florescer durante a era Koryo (935-1392), até que a dinastia Li (1392-1910) favoreceu o confucionismo.
A partir da Coreia e da China, o Budismo foi introduzido no Japão em meados do século VI. Em 593, o príncipe Shotoku declarou-o como religião do Estado, mas o budismo foi até à Idade Média um movimento ligado à corte e à aristocracia sem larga adesão popular (os missionários coreanos tinham apresentado à corte japonesa o budismo como elemento de protecção nacional). Durante a era Nara (710-794)-Héian (794-1185), várias seitas de expressão chinesa começaram a implantar-se no Japão. São deste último período a escola Shingon e Tendai (Tien Tai). Durante a era Kamakura (1185-1333), o budismo populariza-se finalmente com as escolas Terra Pura, Nichiren e Zen (Chan)nas suas principais vertentes chinesas das escolas Rinzai (Linji) e Soto (Caodong).

Tibete


Deus lamaísta da fortuna.
No Tibete, o budismo propagou-se em dois momentos diferentes. O rei Srong-brtsan-sgam-po (Songtsen Gampo, c.627-c.650), influenciado pelas suas duas esposas budistas, decidiu mandar chamar ao Tibete monges indianos para ali difundirem a religião. Durante o reinado de Khri-srong-lde-btsan (Trisong Deutsen), construiu-se o primeiro mosteiro budista tibetano e em 747 chegou ao território o notável iogue indiano Padmasambhava, que organizou o budismo tibetano e fundou a escola hoje conhecida como Nyingma (ou "escola da tradição antiga", em relação às posteriores escolas estabelecidas por outros professores). Contudo, uma reacção hostil da religião indígena, o Bon, levaria ao declínio do budismo nos dois séculos seguintes.
O budismo seria reintroduzido no Tibete a partir do século XI, com a ajuda do monge indiano Atisa, que chegou ao território em 1042. Com o passar do tempo, formaram-se quatro escolas: Sakyapa, Kagyupa, Nyingmapa e Gelugpa. Em 1578, membros desta última escola converteram o mongol Altan Khan à sua doutrina. Alta Khan criou o título de Dalai Lama, que concedeu ao líder da escola Gelugpa. Em 1641, com ajuda dos mongóis, o quinto Dalai Lama derrotou o último príncipe tibetano e tornou-se o líder temporal do Tibete. Os seguintes dalai lamas foram na prática os governantes do Tibete até à invasão chinesa. O quinto dalai lama criou o cargo de Panchen-lama, que reside no mosteiro de T-shi-lhum-po e que foi visto como uma encarnação do Amitabha.
Fonte: Wikipédia

A função desta página não é fazer com haja nenhum tipo de discussão, pois, religião é um tema polêmico.
Mas, sim, através de uma série de textos, os quais pesquiso, adquirirmos mais conhecimentos, sobre outras religiões.
Espero que as minha amigas e amigos gostem, todos os dias teremos um texto diferente.
Até mais.

29/06/2011

Hoje vamos conhecer um pouco o que é o Camdomblé.

TUDO SOBRE... CANDOMBLÉ...

Vários cultos até hoje praticados no Brasil começaram na África, muito antes do nascimento de Cristo; após o século X predominavam basicamente três religiões: cristianismo, islamismo e religiões tribais ou primais.
Na realidade, os cultos afro-brasileiros vêm da prática religiosa das tribos. Por isso, cada uma tem a sua forma peculiar de chamar o nome de Deus, promover seus cultos, estruturar sua organização, celebrar seus rituais, contar sua história e expressar as suas concepções através dos símbolos, a isso chamamos de nações.
Os cultos afros inicialmente eram ritos de preservação cultural dos grupos étnicos.
No Brasil eles associam-se à vinda de escravos negros trazidos de lugares como Nigéria, Benin e Togo. E também estão profundamente ligados à preservação da cultura, da arte e da religião dos negros.
Em diferentes momentos da história, aos poucos, as religiões afro-brasileiras foram se formando nas mais diversas regiões e estados. É justamente por isso que elas adotam diferentes formas e rituais, diferentes versões de cultos, conforme a nação ou região que a originou.
O Candomblé é uma religião musical e culturalmente rica, pois sua dança tem papel muito importante nos rituais. É através da dança que o povo de santo cultua e homenageia seus Orixás.
Diferente do que muitos pensam, o Candomblé é uma religião fundamentada e estruturada, e principalmente monoteísta, o povo de santo crê em um ser superior, criador do céu e da terra, Olorum, o senhor do sopro vital.
O Candomblé é o culto afro que mais preserva as origens africanas em sua integridade, procurando evitar o sincretismo religioso.
Nações do Candomblé:
Gegimarri
Keto
Angola
Ijexá
Efon
Xambá
Nagô
Jêje
Cada uma destas nações vai puxando outras.
A estrutura administrativa do Candomblé é totalmente descentralizada. Cada local tem a sua própria estrutura baseada na função que cada membro exerce no barracão, (casa onde se desenvolvem os rituais) são sacerdotes, pais e mães de santo, iniciados, etc.
Num barracão de Candomblé as tarefas são muito bem definidas, bem como os cargos que são dados pelo pai ou mãe de santo ou diretamente pelo orixá no jogo de búzios. Os participantes iniciados são distribuídos hierarquicamente pelo seu conhecimento, rituais ao qual se submeteu e tempo que freqüenta a casa, ainda respeitando sua condição de possessão pelo orixá (em rituais) ou não, o caso dos
O povo de santo possui um sistema nacional e regional muito bem organizado, que promove a inter-relação dos terreiros. Este sistema compreende uma adaptação pelos escravos da sociedade brasileira no Império.
Entidades
União Umbandista dos Cultos Afro-brasileiros – Entidade coordenadora que organiza, registra os terreiros de Umbanda e Candomblé no Rio de Janeiro. Além disso, presta serviços de assistência social aos associados. Sua sede fica no bairro de Madureira, Zona Norte, à rua Dagmar da Fonseca, 37/grupo 205.
Federação de Umbanda e Candomblé - São Paulo (Capital) - fornece orientação jurídica para os templos religiosos e assessora registrando atas, estatutos sociais e abrindo oficialmente os terreiros.
Oferece também orientação espiritual.
A sede da Federação de Umbanda e Candomblé é na Praça General Costa Barreto, 111 - bairro do Tatuapé, Capital Paulista. Telefone 0xx-21-6673741
Fundamentação Doutrinária
Candomblé é uma palavra africana que significa dança. Propriamente, é uma dança religiosa na qual se reza para os orixás.
Esta dança é uma invocação feita em roda e praticada por mulheres chamadas de sambas, daí o nome tão comum em nosso Brasil a roda de samba.
Todos os seguidores das religiões afro-brasileiras têm seu orixá. Acreditam que todos os seres humanos nascem da Natureza, em um determinado dia, lugar e hora sob o comando de um orixá que será seu protetor por toda a vida.
No Candomblé, o orixá é uma força da criação divina, manifestação de Olorum, o criador de tudo (Deus).
Orixá é energia, é força, é a própria natureza em suas variações, nuances de beleza e devastação, assim é correto dizer que o candomblé é uma dança ritual que culta a natureza em suas mais diversas formas.
Os Orixás

Exu:
Mensageiro, guardião, guerreiro.
Senhor dos caminhos, da comunicação, da inteligência, do bom humor e da sexualidade.
Exu está presente em todos os lugares e mantém contato com todos os orixás e ancestrais. Sua personalidade assemelha-se ao perfil humano. É amante dos prazeres da vida, das cores e odores.
Ferramenta: objeto fálico de madeira – (apaogó)
Comida: farofa de dendê com muita bebida, de preferência aguardente (padê); acarajé; xinxim; (acassé) com azeite de dendê.
Cor da roupa: vermelho e preto. Usa colar com contas vermelhas e pretas.
Animal: bode
Animais de sacrifício: boi, cabra, galo, galinha sempre de cor preta.
Vestes para o ritual: capas majestosas em vermelho e preto.
Local de culto: encruzilhadas – para simbolizar os vários lados de cada caminho.
Dia consagrado: segunda feira (mas pode atuar se solicitado em outros dias).
Ogum:
Deus da guerra, da metalurgia, da tecnologia.
Orixá inventor, grande explorador de caminhos e general dos demais orixás.
Ogum é o filho primogênito da família dos Orixás Caçadores, foi encarregado por Olorum (criador do Universo) para abrir o caminho para todos os orixás e é o guerreiro que nunca é vencido. É Ogum quem abre todos os caminhos da vida. Seu perfil é valente, sério e justo. Sua morada é na floresta.
Elemento: terra
Metal: ferro
Cor: verde e azul (simbolizando a mata e o céu)
Ferramenta: Espada
Comida: milho amarelo cozido, com coco – (axoxó)
Animal: Cachorro
Local de culto: Estradas, principalmente em
estradas de ferro.
Animais de sacrifício: Bode, galo de cor avermelhada.
Vestes: saiotes de cor azul marinho e branco, capacetes de pano bordados com penacho das mesmas cores e uma corrente pendente do penacho.
Dia consagrado: Terça feira.
Oxóssi:
Deus da fauna, da caça, da fartura.
Senhor da Ecologia e patrono dos animais, rei das florestas.
É esposo de Oxum, pai de Logum Edé e pai adotivo de Oiá Iansã. Oxossi é o irmão mais novo de Ogum, e responsável por toda a comida que chega até a nossa mesa. Seu nome significa: “caçador de uma só flecha”.
Devido à popularidade de seu culto, é patrono em muitos terreiros da Bahia.
Elemento: terra
Ferramenta: arco e flecha.
Comida: milho amarelo cozido com coco; feijão fradinho torrado.
Animal: Cavalo.
Cor: Azul turquesa.
Animais de sacrifício: boi, bode, porco, galo mariscado (carijó) galinha d’angola.
Vestes: deve predominar o verde, saiotes de plumas, penacho e capacetes verdes. Nas mãos arcos e flechas podem acrescentar troféus de caça.
Dia: quinta-feira.
Ossaim:
Deus das folhas e vegetação.
Olorum deu aos orixás suas folhas, fundamental para qualquer ritual, mas deu a Ossaim o segredo de todas elas. Ossaim é portanto o senhor das folhas, do verde da vegetação o orixá que conhece o encantamento que permite às folhas liberar seu Axé.
Animais de sacrifício: bode e galo desde que não sejam pretos.
Vestes: cor verde claro, o cetro é um galho de árvore, geralmente de café com seus frutos.
Dia: quinta-feira.
Local: a mata, a floresta.
Oxumarê:
Deus do arco-íris.
Filho da cobra Dã que envolve toda a terra, metade do tempo é masculino outra metade é feminio (meta-meta) está ligado as artes e a beleza desta, também as riquezas da terra.
Animais de sacrifício: carneiro, cágado, galo avermelhado.
Vestes: bem coloridas, verdes e amarelos predominam, um torso colorido na cabeça com uma trança descendo pelas costas, até o chão. Por cima do torso uma coroa com imagem de uma cobra.
Dias: terça-feira e sábado.
Xapanã - Omulú - Obaluaiê
Tem duas formas:
Obaluaiê e Omulu.
Obaluaiê é o Xapanã jovem, das pragas e doenças, da cura. Esta ligado às epidemias e suas curas, representa as impurezas que devem ser expelidas, as fístulas; é o orixá da renovação, é severo e exigente de respeito.
Animais de sacrifício: porco, bode, galo, galinha d’angola nas cores preta e branca.
Comida: pipoca estourada na areia.
Vestes: feitas nas cores das guias, pretas e brancas, recobertas de palha- da- costa, que tapa o rosto e todo corpo.
Dia: segunda-feira.
Omolu é o Xapanã velho, médico dos pobres.
Animais de sacrifício: bode, cabra, galo, galinha d’angola nas cores branca e preta.
Vestes: as mesmas de Xapanã Abaluaê tendo um cetro chamado xaxará.
Xangô: Deus da justiça e do trovão.
Patrono da política, diplomacia, sedução e articulação. Senhor da vida, é o grande Rei dentre os orixás. Iansã, Obá e Oxum são suas esposas. Xangô controla o fogo, porém seu poder só tem efeito se praticado junto com Iansã, de quem Xangô não pode se separar.
Elemento: fogo
Metal: cobre
Comida: guisado de quiabo picado, temperado com dendê, camarão seco, cebola e pimenta.
Cor: vermelha e branca.
Animal: Leopardo
Local de culto: pedreiras
Animais de sacrifício: galo, boi, bode, carneiro todos avermelhados.
Vestes para o ritual: vermelhas e brancas, na cabeça coroa de latão ou cobre, na mão um cetro de latão em forma de machado.
Dia: quarta-feira.
Iansã:
dona dos espíritos dos mortos e dos relâmpagos.
Senhora da alegria e protetora das mulheres, dos ventos e tempestades ganhou de Olorum o poder de controlar os mortos (Eguns).
Seu nome significa “rápida, ligeira”. Filha adotiva de Oxossi, casou-se com Ogum e Xangô.
Junto com Xangô, ela controla o poder do fogo.
Elemento: ar - vento.
Metal: cobre
Comida: acarajé
Ferramenta: espada e uma espécie de cedro feito com rabo de boi.
Animal: búfalo e borboleta.
Local de culto: montanhas e lugares altos.
Cor: vermelho.
Animais de sacrifício: cabra que não seja preta e galinha avermelhada.
Vestes: são coloridas predominando a cor coral, usam muitos colares e enfeites, e na cabeça uma coroa bordada com imbé, franja de pérolas que caem sobre a face.
Dia: quarta-feira.
Oxum:
Deusa das águas, do poder da mulher e do trabalho doméstico.
Oxum: Deusa do amor e da fertilidade, das águas doces e do ouro.
Olorum, criador do Universo, enviou seus orixás até a terra. No entanto, ele esqueceu de enviar Oxum. A terra se tornou seca, sem água e sem vida. Percebendo o engano, Oxum foi enviada à terra para trazer beleza e fertilidade.
Oxum casou-se com Oxóssi e logo em seguida com Xangô. Mãe de Iansã e Logum Edé. Vaidosa e bela, Deusa do ouro, ela adora braceletes, coroas e espelhos.
Metal: ouro
Comida: feijão fradinho com camarão seco, cebola e dendê.
Ferramenta: leque com espelhos (abebé)
Animal: pássaro
Local de culto: águas doce.
Animais de sacrifício: boi, cabra, galinha amarela.
Vestes: Amarelas com enfeites coloridos de azul, branco e rosa.
Dia: sábado.
Yemanjá:
Senhora dos Mares.
Yemanjá: É a Grande Mãe dos Orixás, a deusa da maternidade, das grandes águas, mares e oceanos. A palavra “Yemanjá” quer dizer “Grande Mãe cujos filhos são peixes”.
Aprecia pratos preparados com milho branco, azeite de dendê, cebola e camarão seco. Iemanjá é uma mulher sensual que encanta os navegantes.
Elemento: água
Metal: prata
Animais de sacrifício: cabra, ovelha. Pata de galinha toda branca.
Vestes: cor branca prateada, podendo ser adornada com azul claro ou rosa. Na cabeça uma coroa de cor branca.
Oferendas: flores, perfumes, jóias, bonecas, sabonetes, sendo que em todos os presentes oferecidos devem predominar cores claras, como a água.
Ferramenta: alforje de prata e o Bebé – leque prateado com pedras azuis, verdes e brancas transparentes.
Dia: sábado.
Animal: peixe
Nanã (Nanã Baruquê)
Orixá da lama e do fundo das águas.
É a mãe dos mortos, controla o portal entre Aye e Orum é a representação da lama, da chuva fina que forma o lodo. É o poder controlador das mulheres idosas que castiga para educar, é grave e severa não tolerando descasos e esquecimentos.
Promove a purificação da atmosfera e a limpeza.
Animais de sacrifício: cabras, galinhas e patas brancas.
Vestes: Roupas brancas com aplicações em roxo claro.
Cor: lilás.
Dias: domingo e terça-feira.
Sincretismo: Santa Ana.
Oxalá
É o Senhor da Sabedoria de dois mundos: Orum (o céu) e Ayê (terra).
Manifestação cósmica do céu, da terra, da luz, da paz e do amor. Foi incumbido por Olorum, criador do Universo, para criar todos os seres da Terra.
É esposo de Nana (a Anciã). Usa um cajado para separar os dois mundos. Seu cajado era feito da madeira da árvore dos orixás, (os irocos), uma árvore mística que ligava a terra ao céu através das suas raízes e galhos. Nos dias de hoje esse cajado é feito de prata. O mundo é dividido em duas partes: Oxalá é o princípio masculino da criação e Ododua o princípio feminino. Ambos se completam e não vivem separados.
Oxalá se apresenta de duas maneiras:
Como ancião – Abauxorô
Como guerreiro – Oxoriã
Tem duas formas de manifestação. Oxaguiã e Obatalá.
Oxaguiã: (nascer do sol) Deus da sobrevivência da criação, da cultura material.
Obatalá ou Oxalufã: (pôr do sol) Deus da criação e da humanidade.É o pai de todos os orixás.
Senhor do ar, do branco, da fala, símbolo da paz.
Chamado por muitos o Velhão.
Metal: prata
Animal: caramujo
Comida: massa de milho cozido colocado numa casca de banana, canjica branca com azeite doce.
Símbolo de proteção: grande pano branco.
Animais de sacrifício: boi pequeno, novilho, bode, cabra, carneiro, galinha e pombo sempre de cor branca. O pombo nunca deve ser sacrificado, é simplesmente oferecido e posto em liberdade, todos os animais devem ser brancos ou claro e sempre fêmea, com exceção do pombo que em alguns casos pode ser o casal.
Vestes: brancas com braceletes desenhados com búzios e opaxorô prateados tendo na sua extremidade superior uma esfera encimada por uma pomba de asas abertas.
Dia: sexta-feira.
Erê ou Ibêji:
Mediador entre Iaô e Babalaô.
Ao Erê não existe dia especialmente consagrado, pois atua às vezes antes da vinda dos orixás (transmite ordens recebidas dos orixás, vibrações).
É o Deus das guloseimas.
Nas manifestações de Erê, o Iaô sob a sua vibração se comporta como criança.
Ifá:
Protetor do jogo de búzios, das artes divinatórias, de cola de dendê.
Este orixá jamais se incorpora, mas atua de outras maneiras.
Dia consagrado: domingo.
Danças e ritmos
Durante os cultos, no Candomblé, predominam sempre, ritmos empolgantes e sons de instrumentos de percussão, num compasso bem marcado.
Por causa de seu rito, o candomblé se tornou conhecido como uma dança religiosa, de origem africana, na qual os iniciados reverenciam seus orixás. Esta dança é praticada principalmente por pessoas do sexo feminino, chamadas sambas.
Em seus ritos, a palavra orixá tem o peso de designar as forças cósmicas e vivas da Natureza, numa tradição que remonta aos homens primitivos.
Cerimônias
São várias as cerimônias no Candomblé. Quando um orixá está sendo homenageado, com os atabaques batendo e os iniciados e participantes cantando e dançando, pode acontecer que um dos presentes não iniciado receba a vibração do orixá que se homenageia. Com essa vibração, o participante entra em estado de inconsciência, em transe, caindo ao solo, num fenômeno chamado internamente de “bolar para o santo” ou “virar no santo”, se já for um iniciado. A pessoa em transe é levada para o roncó, onde ficará aguardando as determinações do babalaô, que mais tarde confirma o orixá manifestado, através da consulta ao Ifá (jogo dos Búzios). Depois disso ele realiza a cerimônia de feitura do orixá na cabeça.
Jogo dos Búzios
É uma das formas de se consultar o orixá Ifá, o orixá da adivinhação.















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