quinta-feira, 30 de junho de 2011

Canudos

Guerra de Canudos


Guerra de Canudos
40th infantry batallion canudos 1897.jpg
O 40º Batalhão de Infantaria, da província do Pará, em Canudos, 1897.
Data 7 de novembro de 1896 - 5 de outubro de 1897
Local Interior do sertão baiano
Resultado Vitória das tropas federais e destruição total da cidade de Canudos
Combatentes
Conselheiristas Tropas estaduais e federais
Comandantes
Antônio Conselheiro
João Abade
Pajeú
Joaquim Macambira
Pedrão
Capitão Virgílio Pereira de Almeida
Tenente Manoel da Silva Pires Ferreira
Major Febronio de Brito
Coronel Antônio Moreira César
General Artur Oscar
Forças
25.000 (estimado) 12.000
Baixas
20.000 (estimado) 5.000 (estimado)
A Guerra de Canudos ou Campanha de Canudos, também chamada de Guerra dos Canudos[1], foi o confronto entre o Exército Brasileiro e integrantes de um movimento popular de fundo sócio-religioso liderado por Antônio Conselheiro, que durou de 1896 a 1897, na então comunidade de Canudos, no interior do estado da Bahia, no nordeste do Brasil.
A região, historicamente caracterizada por latifúndios improdutivos, secas cíclicas e desemprego crônico, passava por uma grave crise econômica e social. Milhares de sertanejos e ex-escravos partiram para Canudos, cidadela liderada pelo peregrino Antônio Conselheiro, unidos na crença numa salvação milagrosa que pouparia os humildes habitantes do sertão dos flagelos do clima e da exclusão econômica e social.
Os grandes fazendeiros da região, unindo-se à Igreja, iniciaram um forte grupo de pressão junto à República recém-instaurada, pedindo que fossem tomadas providências contra Antônio Conselheiro e seus seguidores. Criaram-se rumores de que Canudos se armava para atacar cidades vizinhas e partir em direção à capital para depor o governo republicano, reinstalando a Monarquia. Apesar de não haver nenhuma prova para estes rumores, o Exército foi mandado para Canudos.[2] Três expedições militares contra Canudos saíram derrotadas, o que apavorou a opinião pública, que acabou exigindo a destruição do arraial, dando legitimidade ao massacre de até vinte mil sertanejos. Além disso, estima-se que cinco mil militares tenham morrido. A guerra terminou com a destruição total de Canudos, a degola de muitos prisioneiros de guerra, e o incêndio de todas as casas do arraial.

Mapa da localização de Canudos.

Antecedentes

A figura de Antônio Conselheiro

"Apareceu no sertão do Norte um indivíduo, que se diz chamar Antônio Conselheiro e que exerce grande influência no espírito das classes populares. Deixou crescer a barba e os cabelos, veste uma túnica de algodão e alimenta-se tenuemente, sendo quase uma múmia. Acompanhado de duas professas, vive a rezar terços e ladainhas e a pregar e dar conselhos às multidões, que reúne onde lhes permitem os párocos."
Descrição da Folhinha Laemmert, de 1877, reproduzida por Euclides da Cunha em Os sertões, 1902.
Antônio Vicente Mendes Maciel, apelidado de "Antônio Conselheiro", nascido em Quixeramobim (CE) a 13 de março de 1830, de tradicional família que vivia nos sertões entre Quixeramobim e Boa Viagem, fora comerciante, professor e advogado prático nos sertões de Ipu e Sobral. Após a sua esposa tê-lo abandonado em favor de um sargento da força pública, passou a vagar pelos sertões em uma andança de vinte e cinco anos. Chegou a Canudos em 1893, tornando-se líder do arraial e atraindo milhares de pessoas. Acreditava que a República, recém-implantada no país, era a materialização do reino do Anti-Cristo na Terra, uma vez que o governo eleito seria uma profanação da autoridade da Igreja Católica para legitimar os governantes. A cobrança de impostos efetuada de forma violenta, a celebração do casamento civil e a separação entre Igreja e Estado eram provas cabais da proximidade do "fim do mundo".

Caricatura na Revista Ilustrada, retratando Antônio Conselheiro, com um séquito de bufões armados com antigos bacamartes, tentando "barrar" a República.

Arraial de Canudos

Canudos era uma pequena aldeia que surgiu durante o século XVIII nos arredores da Fazenda Canudos, às margens do rio Vaza-Barris. Com a chegada de Antônio Conselheiro em 1893 passou a crescer vertiginosamente, em poucos anos chegando a contar por volta de 25 000 habitantes. Antônio Conselheiro rebatizou o local de Belo Monte, apesar de estar situado num vale, entre colinas.
A imprensa, o clero e os latifundiários da região incomodaram-se com a nova cidade independente e com a constante migração de pessoas e valores para aquele novo local. Aos poucos, construiu-se uma imagem de Antônio Conselheiro como "perigoso monarquista" a serviço de potências estrangeiras, querendo restaurar no país o regime imperial. Difundida através da imprensa, esta imagem manipulada ganhou o apoio da opinião pública do país para justificar a guerra movida contra os habitantes do arraial de Canudos.[2]

Situação social

O governo da República recém-instaurada precisava de dinheiro para materializar seus planos, e só se fazia presente no Sertão pela cobrança de impostos. A escravidão havia acabado poucos anos antes no país, e pelas estradas e sertões, grupos de ex-escravos vagavam, excluídos do acesso à terra e com reduzidas oportunidades de trabalho. Assim como os caboclos sertanejos, essa gente paupérrima agrupou-se em torno do discurso do peregrino Antônio Conselheiro, acreditando que ele poderia libertá-los da situação de extrema pobreza ou garantir-lhes a salvação eterna na outra vida.[3]

Cronologia do conflito


Canudos em 1897. Fotografia de Flávio de Barros, fotógrafo do Exército.

[O estopim e a primeira expedição

  • Outubro de 1896 – Ocorre o episódio que desencadeia a Guerra de Canudos. Antônio Conselheiro havia encomendado uma remessa de madeira, vinda de Juazeiro, para a construção da igreja nova, mas a madeira não foi entregue, apesar de ter sido paga. Surgem então rumores de que os conselheiristas viriam buscar a madeira à força, o que leva as autoridades de Juazeiro a enviar um pedido de assistência ao governo estadual baiano, que manda um destacamento policial de cem praças, sob comando do Tenente Manuel da Silva Pires Ferreira. Após vários dias de espera em Juazeiro, vendo que o rumor era falso, o destacamento policial decide partir em direção à Canudos, em 24 de novembro. Mas a tropa é surpreendida durante a madrugada em Uauá pelos seguidores de Antônio Conselheiro, que estavam sob o comando de Pajeú e João Abade. Após uma luta corpo-a-corpo são contados mais de cento e cinquenta cadáveres de conselheiristas. Do lado do exército morreram oito militares e dois guias. Estas perdas, embora consideradas "insignificantes quanto ao número" nas palavras do comandante, ocasionaram a retirada das tropas.[4]

A segunda expedição

  • Janeiro de 1897 - Enquanto aguardavam uma nova investida do governo, os jagunços fortificavam os acessos ao arraial. Comandada pelo major Febrônio de Brito, depois de atravessar a serra do Cambaio, uma segunda expedição militar contra Canudos foi atacada no dia 18 e repelida com pesadas baixas pelos conselheiristas, que se abasteciam com as armas abandonadas ou tomadas à tropa. Os sertanejos mostravam grande coragem e habilidade militar, enquanto Antônio Conselheiro ocupava-se da esfera civil e religiosa.

Pintura retratando Canudos antes da guerra.

A terceira expedição

  • Março de 1897 - Na capital do país, diante das perdas e a pressão de políticos florianistas que viam em Canudos um perigoso foco monarquista, o governo federal assumiu a repressão, preparando a primeira expedição regular, cujo comando confiou ao coronel Antônio Moreira César, considerado pelos militares um herói do exército brasileiro, e popularmente conhecido como "corta-cabeças" por ter mandado executar mais de cem pessoas a sangue frio na repressão à Revolução Federalista em Santa Catarina. A notícia da chegada de tropas militares à região atraiu para lá grande número de pessoas, que partiam de várias áreas do Nordeste e iam em defesa do "homem Santo". Em 2 de março, depois de ter sofrido pesadas baixas, causadas pela guerra de guerrilhas na travessia das serras, a força, que inicialmente se compunha de 1.300 homens, assaltou o arraial. Moreira César foi morto em combate, tendo o comando sido passado para o coronel Pedro Nunes Batista Ferreira Tamarindo, que também tombou no mesmo dia. Abalada, a expedição foi obrigada a retroceder. Entre os chefes militares sertanejos destacaram-se Pajeú, Pedrão, que depois comandou os conselheiristas na travessia de Cocorobó, Joaquim Macambira e João Abade, braço direito de Antônio Conselheiro, que comandou os jagunços em Uauá.

A quarta expedição

  • Junho de 1897 - O primeiro combate verificou-se em Cocorobó, em 25 de junho, com a coluna Savaget. No dia 27, depois de sofrerem perdas consideráveis, os atacantes chegaram a Canudos. Durante os primeiros meses, as tropas conseguem pouco resultado. Os sertanejos estão bem armados com armas abandonadas pela expedição anterior, e o exército não tem a infra-estrutura necessária para alimentar suas tropas, que passam fome.
  • Agosto de 1897 - O próprio ministro da Guerra, marechal Carlos Machado Bittencourt, seguiu para o sertão baiano e se instalou em Monte Santo, com o intuito de colocar um fim ao caos em que estava o abastecimento das tropas. Monte Santo se torna base das operações.[5]

Mulheres e crianças, seguidoras de Antônio Conselheiro, presas durante os últimos dias da guerra.

Antônio Conselheiro morto, em sua única foto conhecida, tirada por Flávio de Barros no dia 6 de outubro de 1897.
  • Setembro de 1897 - Após várias batalhas, a tropa conseguiu fechar o cerco sobre o arraial. Antônio Conselheiro morreu em 22 de setembro, supostamente em decorrência de uma disenteria. Após receber promessas de que a República lhes garantiria a vida, uma parte da população sobrevivente se rendeu com bandeira branca, enquanto um último reduto resistia na praça central do povoado. Apesar das promessas, todos os homens presos, e também grupos de mulheres e crianças acabaram sendo degolados - uma execução sumária que se apelidou de "gravata vermelha".[6] Com isto, a Guerra de Canudos acabou se constituindo num dos maiores crimes já praticados em território brasileiro.[7]
  • Outubro de 1897 - O arraial resistiu até 5 de outubro de 1897, quando morreram os quatro derradeiros defensores. O cadáver de Antônio Conselheiro foi exumado e sua cabeça decepada a faca. No dia 6, quando o arraial foi arrasado e incendiado, o Exército registrou ter contado 5.200 casebres.[8]

Resultado

O conflito de Canudos mobilizou aproximadamente doze mil soldados oriundos de dezessete estados brasileiros, distribuídos em quatro expedições militares. Em 1897, na quarta incursão, os militares incendiaram o arraial, mataram grande parte da população e degolaram centenas de prisioneiros. Estima-se que morreram ao todo por volta de 25 mil pessoas, culminando com a destruição total da povoação.

Na cultura popular

Literatura

Logo após o final da guerra, foram publicadas uma série de obras escritas por testemunhas oculares - militares, jornalistas e médicos. Entre outros (em ordem cronológica):
  • Canudos, história em versos, 1898, do poeta Manuel Pedro das Dores Bombinho, que participou como militar da Quarta Expedição contra o arraial.[9]
  • Descrição de uma Viagem a Canudos, 1899, de Alvim Martins Horcades, estudante de medicina a serviço do Exército, que descreve suas experiências no campo de batalha e denuncia a degola em massa dos presos - velhos, mulheres e crianças.[6]
  • Libelo republicano, acompanhado de comentários sobre a campanha de Canudos, publicado em 1899 por Wolsey (pseudônimo de César Zama), Bahia: Typ. e Encadernação do “Diário da Bahia”, 1899.
  • O Rei dos Jagunços, 1899, de Manoel Benício, correspondente de guerra do Jornal do Commercio - um livro de semi-ficção sobre os acontecimentos de Canudos e costumes sertanejos.[10]
  • A Guerra de Canudos, 1902, do tenente Henrique Duque-Estrada de Macedo Soares, militar na a última expedição contra Canudos.[11]
  • Os Sertões, 1902, de Euclides da Cunha, que passou três semanas no local do conflito como correspondente do jornal O Estado de São Paulo - um livro no qual procurou vingar os mortos no massacre: "Aquela campanha lembra um refluxo para o passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime. Denunciemo-lo".
Os Sertões de Euclides da Cunha acabou por tornar-se um dos mais importantes marcos da literatura brasileira, e como tal inspirou uma série de obras baseadas no conflito de Canudos, escritas no mundo todo. Os mais conhecidos são A Brazilian Mystic (Um Místico Brasileiro), 1919, do britânico R. B. Cunninghame Graham [12]; Le Mage du Sertão (O Mago do Sertão), 1952, do sociólogo belga Lucien Marchal [13]; Veredicto em Canudos, 1970, do húngaro Sándor Márai; A Primeira Veste, 1975, do escritor geórgio Guram Dochanashvili; e A Guerra do Fim do Mundo, 1980, do escritor peruano Mário Vargas Llosa.[14]

Cinema


Imagem do filme "A Matadeira" de Jorge Furtado, referindo ao canhão Withworth 32 usado na última expedição militar contra Canudos.
Além disso, a guerra inspirou muitos filmes também:
Os Sete Sacramentos de Canudos (Die Sieben Sakramente von Canudos). Filme produzido por Peter Przygodda para a ZDF Alemã, com participação dos diretores brasileiros Joel de Almeida, Jorge Furtado, Otto Guerra, Luís Alberto Pereira, Pola Ribeiro, Ralf Tambke e Sandra Werneck, 1996.[18] 

Fonte: Wikipédia

A Guerra de Canudos

No arraial de Antônio Conselheiro, em 1896, o Brasil atingiu finalmente a idade da razão



Mulheres, crianças e velhos. Os prisioneiros de guerra foram fotografados por Flávio de Barros. A imagem dos sobreviventes retrata a grande epopéia sertaneja que durou um ano e deixou mais de 25 mil mortos
Ao contrário do que se imagina, o momento em que alguém se torna independente não ocorre necessariamente quando a criatura se desliga da custódia de seus pais ou tutores. Desprendido da tutela de pessoas maduras, o jovem pode comprometer a independência recém-adquirida submetendo-se a más influências, vícios deletérios ou ilusões quanto a suas reais posses, sua condição ou seus potenciais. Nesse sentido, a verdadeira autonomia só se consolida com a chegada da idade da razão, assinalada pelo autoconhecimento, pelo senso de responsabilidade e pela capacidade de projetar um futuro com clareza de espírito, fazendo justiça à própria história de vida. A independência é muito mais um fato interno que externo, uma conquista da mente mais que qualquer símbolo concreto, título, data ou distintivo.

Se percorrermos a História do Brasil em busca de um momento que indique o advento dessa idade da razão, paradoxalmente iremos encontrá-lo em meio a uma das mais dramáticas crises de insanidade que se abateu sobre este jovem país. A Guerra de Canudos envolveu num conflito bizarro personagens que se viam como completos estranhos, embora cada qual fosse parte da mesma nação. Foi como um inesperado acesso de esquizofrenia que expunha, fragmentados em diferentes identidades conflitantes, os vários elementos históricos que compõem o corpo da sociedade brasileira. Com a crise vieram o diagnóstico e a proposta de uma terapia para redimir os males que retardavam o amadurecimento do país, configurados no relato épico de Euclides da Cunha, Os Sertões.

As origens do conflito revelavam as dificuldades do Brasil, preso ao padrão de uma economia agrária de modelo colonial, em se adaptar às dinâmicas da modernização no contexto internacional. Em meados do século XIX grandes acontecimentos transformaram o mercado mundial. A industrialização deu seus passos decisivos, com o desenvolvimento de novas fontes energéticas, como a eletricidade e os derivados de petróleo. Esse salto tecnológico se desdobraria em inovações que revolucionaram as comunicações, os meios de transporte e as técnicas de produção. O jogo de pressões resultante da expansão das potências emergentes causou, numa seqüência única, a abolição da escravidão, o declínio do Império e a Proclamação da República no Brasil. Esse reajustamento à nova ordem internacional afetou também a estrutura agrária brasileira, provocando um intenso êxodo rural. Um dos efeitos da desestabilização foi o surpreendente surgimento de Canudos.

A partir dos restos de uma fazenda abandonada em pleno sertão baiano, Canudos brotou e cresceu tão rápido quanto um cogumelo depois da chuva. Gentes vinham de todos os quadrantes do interior nordestino, atraídas pela comunidade que prosperava sob as bênçãos de um líder inspirado. Em menos de uma década o povoado já havia se tornado a terceira maior cidade da Bahia. Alarmados, fazendeiros e autoridades se viam na iminência de perder sua mão-de-obra devido ao êxodo em massa para o novo arraial. Um relatório da polícia alertou o governo federal de que "um indivíduo pregando doutrinas subversivas fazia grande mal ao Estado, distraindo o povo e arrastando-o após si, procurando convencer de que era o Espírito Santo".

Foi destacada uma força policial para suprimir os rebeldes, destroçada antes de chegar. Isso provocou o envio de dois destacamentos do Exército, os quais também foram desbaratados. Decidiu-se então mandar uma expedição militar completa, com artilharia e armamento moderno, que foi uma vez mais debelada. Pânico total! Organizou-se assim uma quarta expedição, composta de duas divisões do Exército e da maior concentração de armas já vista no país. Só desse modo e com imensas perdas a cidade rebelde foi vencida, quando se decidiu verter barris de querosene sobre as casas de taipa, queimando vivos os insurrectos. Os homens presos eram degolados ou estripados à faca, as mulheres e as crianças vendidas pelas tropas. Da cidade pujante e livre restaram só cinzas e fumaça.

Euclides não teve dificuldade em explicar as razões da força dos rebeldes. Ela era toda baseada na completa ignorância das elites a respeito do povo e do território. O Exército brasileiro era treinado por oficiais belgas, com manuais franceses, sobre táticas adequadas para combater nos Países Baixos. Não se tinha sequer um mapa do interior do país. Não se sabia nada sobre a ecologia das caatingas. Os uniformes vermelhos dos oficiais eram alvo fácil para os sertanejos. Os canhões afundavam no solo arenoso. As roupas de lã desidratavam as tropas. Um festival macabro de ignorância.

Canudos se defendeu com as armas que havia tomado às próprias tropas em fuga. A convicção férrea que animava seus combatentes provinha das raízes místicas profundas do catolicismo popular brasileiro. O alerta de Euclides era para que as elites desviassem o foco de seu interesse da Europa, voltando-se para reencontrar seu próprio povo e sua terra. Podemos repetir os erros, mas a lição está aí. O momento de o Brasil se encontrar consigo mesmo havia chegado. 

Fonte: Revista Época 


Canudos, um novo olhar

Descendentes do povoado na história e no cinema

Trazidos como “lembrança viva” da guerra de Canudos por soldados republicanos e distribuídos Brasil afora como presente a famílias, os órfãos de Canudos são um capítulo obscuro da história do Brasil que começa a ser investigado.
O destino de pelo menos um deles já foi rastreado: Ludgero Prestes, trazido por Euclides da Cunha e entregue à família do educador paulista Gabriel Prestes, tornou-se, como o pai adotivo, um educador. Com uma ajuda providencial da internet, a historiadora Vanessa Sattamini Varão Monteiro descobriu, via Google, que Ludgero Prestes foi o primeiro diretor da escola estadual Abílio Manoel, em Bebedouro, São Paulo. A historiadora então apurou que Ludgero teve quatro filhos e morreu aos 43 anos, de câncer. O próximo passo é achar a sua família adotiva para saber mais.
“Ele teve uma trajetória diferente da dos outros órfãos, que possivelmente viravam criados nas casas que os recebiam, numa espécie de nova escravidão. Essas crianças carregavam marcas porque seus pais eram vistos como jagunços, assassinos de soldados”, disse Vanessa, que é professora da PUC-Rio, em debate realizado na Biblioteca Nacional, no Rio, em 22 de novembro. Para ela, o silêncio sobre Canudos pode ser um indício de uma tentativa de se ocultar a história ou de ser criar uma nova história.
Também intrigado com o silêncio estratégico a respeito da violenta guerra de Canudos, que há 110 anos dizimou a população de cerca de 25 mil pessoas no interior da Bahia, o cineasta Paulo Fontenelle foi à cidade com câmera e equipe e lá rodou o documentário “Sobreviventes - Filhos da Guerra de Canudos”, que será lançado em breve. Fontenelle entrevistou descendentes de habitantes que, comandados por Antonio Conselheiro, construíram uma sociedade onde não faltava comida nem trabalho, e vivia independente da República. Orgulhosos do passado de glória do povoado e da resistência de seus familiares, homens e mulheres quase centenários deram a Fontenelle relatos emocionados da vida antes e depois da guerra.
O cineasta criticou que a propaganda que se faz hoje de Canudos não condiz com o que aconteceu de fato. Para ele, nem Conselheiro nem seus seguidores eram “loucos”, como costumam ser retratados. Ele lamenta que não tenha havido um esforço de se resgatar a história de Canudos quando os poucos sobreviventes que conheceram Conselheiro ainda estavam vivos. O que ele e sua equipe conseguiram foi a história contada de pai para filho. Já os filhos dos comandantes não quiseram dar entrevistas.
Vanessa e Fontenelle contaram sobre suas pesquisas no segundo encontro do ciclo Biblioteca Fazendo História, uma parceria da Revista de História da Biblioteca Nacional e da Biblioteca Nacional. Transmitido em tempo real pela Embratel, o evento foi acompanhado em Bebedouro, SP, por professores e alunos da escola que teve o órfão de Canudos como diretor. As perguntas enviadas e feitas pela platéia foram respondidas pelos debatedores. O debate foi mediado pelo editor da Revista, Luciano Figueiredo.
Fonte: História.Com.Br

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Boa Noite!

Falaremos hoje, à respeito do relacionamento entre homens e mulheres, abordaremos assuntos como: a auto-estima feminina,  traição, casamento, separação, teremos depoimentos de mulheres que superaram estes problemas.
Vamos saber como?

Direitos

Ainda hoje faleremos sobre Direito de Família, Consumidor, assuntos que interessam a todas nós mulheres.

Artesanato ou Trabalho Manual?


Não parece ser algo muito fácil fazer uma distinção correta entre o que seja artesanato ou trabalho manual e é muito grande o numero de pessoas que tem duvidas a respeito desse assunto sem nunca terem conseguido ver bem onde se encontra a diferença. Entretanto para esclarecer essa duvida basta ver o que temos na Legislação Brasileira, o Programa de Artesanato Brasileiro onde temos o conceito desatas atividades.

O que é artesanato?

O artesanato nada mais é do que o produto que temos como resultado de um trabalho de predominância manual, sendo que da totalidade das etapas de produção deverão ser 80% ou mais, resultado da transformação de matéria prima e que esta deverá ser feita pelo próprio artesão. Este trabalho assim feito deverá refletir a criatividade e habilidade do artesão, além de que deve possuir características culturais ou outras que possam identificar cada peça como sendo única.
Artesanato
Artesanato

Processo de produção do artesanato

Durante todo o processo de criação o artesão somente poderá se valer da ajuda de instrumentos manuais ou no máximo maquinas tão simples que mesmo com seu auxilio eles não possam dispensar nem a criatividade nem a habilidade pessoal para conseguir elaborar o produto uma vez que estas características serão importantes na qualidade final e no valor agregado de cada peça.
Trabalhos de artesãos
Trabalhos de artesãos

Condições de trabalho

No que se refere às condições de trabalho a legislação também é bastante clara e estipula que toda a atividade para ser considerada artesanal deverá se desenvolver em um ambiente domestico, em postos de trabalho, em centros associados de produção ou ainda em pequenas oficinas sendo que estas serão assim consideradas quando possuírem um número máximo de cinco funcionários. Além disso, é preciso considerar a força motriz, pois caso faça uso desta, ela não pode ser superior aos cinco quilowatts.

O que é trabalho manual?

Como conceito de trabalho manual tem que é o produto obtido como resultado de atividade exclusivamente feita a mão ou então que faça uso de maquinas simples. A grande diferença entre o artesanato e o trabalho manual se encontra no tipo de material que para o trabalho manual não precisa ser matéria prima transformada não precisa ter características culturais especificas e também não exige exclusividade, não necessitando, portanto que seja peça única.
Trabalho Manual
Trabalho Manual

Processo de produção do trabalho manual

A característica principal no processo de produção do trabalho manual é que ela deve ser limitada. Sejam cópias ou não a realidade é que as peças não podem ser produzidas em série.

Condições de trabalho

Aqui temos outra diferença básica entre artesanato e trabalho manual pois este deve ter sua unidade de produção no domicilio de quem produz ou em outro local conveniente, porém não pode contar com a ajuda de pessoas assalariadas.

Fonte: Cultura Mix.com

Como Fazer Velas Artesanais

Fazer velas caseiras  decorativas como distração, ou robbie, mas támbém pode ser fonte de renda para alguns, seja robbie, ou fonte de renda, elas são uma bela opção para presente, ou até mesmo decoração do banheiro, da sala, e até mesmo de quartos e cozinhas, vai do gosto de cada um. Neste artigo, explicaremos como se fazer velas artesanais, então preste atenção, pois vamos começar.
Ingredientes:

- 300g Parafina
- Pavio parafinado
- Vaselina líquida (óleo mineral)
- Corante a base de óleo
- 5 ml Essência para Vela de sua preferência
- Forma para vela
- Termômetro
Mãos a Obra:
Unte a forma com vaselina, espalhe bem, uniformemente
Amarre uma das pontas do pavio, colocando-o por um furo debaixo da forma
Sele o furo com massa de calafetar, se preferir, coloque uma boa fita adesiva
Derreta a parafina, mas nao deixe a temperatura ultrapassar os 120º
Quando a temperatura chegar aos 120º e toda parafina estiver derretida, desligue o fogo
Fique acopanhando com o termômetro até que a parafina diminua a temperatura aos 85º +-
Coloque a essência e o corante, de acordo com a vela que você vai fazer.
Preencha a forma com a parafina já colorida e com a essência, nao encha a forma até a borda, a parafina deve ficar uns 2cm abaixo da forma.
Agora deixe esfriar, e com cuidado solte o pavio e retire a vela da forma
A primeira vez que você fazer, você pode até não acertar, mas tudo vai depender da sua experiência, com o tempo você fará velas maravilhosas

Fonte: criarfazergrátis.com

Livros legais para ler

Ler é algo muito importante em nossas vidas, é por meio de um livro  que navegamos num mundo diferente e deixamos a imaginação falar mais alto. Com o passar do tempo as produções literárias inovaram o estilo e se adequaram a linguagem do homem.
A medida que você lê um bom livro, o seu senso criativo aumenta e também acontece o enriquecimento do vocabulário. Quando chega o momento de produzir um texto, será possível encontrar mais facilidade para organizar as suas idéias.
Para você adquirir o prazer pela leitura, procure descobrir o gênero de livro que mais te agrada e assim será mais fácil encontrar livros que se enquadrem no seu gosto. A seguir você tem uma lista dos livros mais vendidos do momento, pode ser uma boa dica:
1) Crepúsculo (Stephenie Meyer)
2) O caçador de pipas (Khaled Hosseini)
3) O Segredo (Rhonda Byrne)
4) A menina que roubava livros (Markus Zusak)
5) Uma Breve História do Mundo (Geoffrey Blainey)
6) A Lição Final (Randy Pausch)
7) Código Da Vinci (Dan Brown)
8) Investimentos Inteligentes (Gustavo Cerbasi)
9) Nunca desista dos seus sonhos (Algusto Curi)
10) O Guardião de Memórias (Kim Edwards)



Vamos Ler?

Eis aqui alguns dos livros mais lidos atualmente, que nos faz voltar ao tempo, sonha, ou ir para o futuro.

Margareth Thatcher





Margareth Thatcher: a Dama de Ferro
Em pleno clima da Guerra Fria e recém-saídos da crise petrolífera, os países europeus buscavam alternativas para reorganizar-se estruturalmente. A Grã-Bretanha encontrava-se arrasada, as taxas de inflação e desemprego eram as mais elevadas da Europa, além disso, existiam greves nos serviços públicos que afetavam o dia-a-dia da sociedade britânica. Em meio à desordem que a ilha vivia, a solução encontrada foi trazer para o poder Margaret Thatcher. Líder do Partido Conservador, ela surgiu em meio à confusão para colocar ordem no recinto, tendo anunciado em seu plano de governo a redução de impostos, controle e reforma dos sindicatos, apoio à iniciativa privada, rompimento com o estado de bem-estar social e combate ao comunismo. Foi casada por mais de 30 anos com empresário Denis Thatcher, união que resultou nos filhos gêmeos Carol e Mark.
Thatcher foi a primeira mulher a ocupar o cargo de primeiro-ministro da Grã-Bretanha. Após assumir o poder, optou por fazer uma política de convicção e não de consenso. A sua opinião era a única que importava, não importando a opinião de seu partido. O pacote de medidas adotado por Thatcher seria precursor do que na década de 1990, ficou conhecido como neoliberalismo. Tempos depois de assumir o poder, e após dar importância unicamente às suas opiniões, segundo Evaldo Alves (professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas) ela teria sido acusada pelo povo de não dar importância ao sofrimento e às dificuldades dos desempregados. No início nada que foi posto em prática por Margareth Thatcher deu certo, pelo contrário o país mergulhou na pior recessão desde 1930. A crise que o país enfrentou foi tão difícil que em fevereiro de 1981, muitos britânicos não queriam conceder à primeira-ministra sequer os primeiros cinco anos de mandato. Após intervir no conflito das Malvinas (1982), em 1984 ela foi reeleita. Permaneceu no poder de 1979 a 1990, totalizando 11 anos.
Os mandatos de Thatcher foram problemáticos com séries de manifestações contra sua forma de governar. Após se negar a renegociar os direitos dos presos políticos das greves de 1980 e 1981, em 1984 o IRA (Exército Republicano Irlandês) tentou assassiná-la. Com sua reeleição de 1989, o governo já se encontrava em decadência, todas as políticas por ela defendidas estavam ruindo-se. O fim da carreira política da Dama de Ferro veio com o golpe fatal norte-americano, com a vitória de George Bush para presidência, perdendo o apoio externo, já que o novo presidente dos EUA não simpatizava com a então Primeira-Ministra. Sem o apoio do partido e com a imagem desgastada pelos 11 anos de mandato, renunciou em 28 de novembro de 1990.

Fonte: Escola Brasil

Hatshepsut




A primeira faraó da história.
Hatshepsut foi a primeira faraó (mulher) da história, conseguiu esse título após vencer muitos obstáculos. Após a morte de seu pai, o faraó Tutmés I, Hatshepsut casou-se com seu meio-irmão, Tutmés II, com apenas 17 anos de idade. Depois de quatro anos seu marido e irmão faleceu, deixando como herdeiro do trono um filho que teve com uma concubina. Mas como o menino era muito jovem, Hatshepsut assumiu o poder. Governou o Egito sozinha por 22 anos, na época o Estado era um dos mais ricos. Para permanecer no poder fez o uso da descendência de Tutmés I, a princípio não enfrentou objeções, já que Tutmés III (filho de Tutmés II) era muito jovem e não podia reinar.
No começo de seu reinado não exigiu as regalias reservadas aos faraós, que eram governantes e sacerdotes da religião local (considerados seres divinos). Aos poucos foi testando seu poder, para ver até onde iam os limites impostos pela sociedade egípcia às mulheres, pois almejava o posto de faraó. Com o passar do tempo seu poder foi aumentando, até se mostrar como faraó, fazendo o uso de barba postiça e calças. O uso de barba falsa era um costume exclusivo dos faraós, a barba para eles tinha o mesmo significado da coroa para os reis. Hatshepsut promoveu a inovação administrativa e a expansão comercial. Enviou várias expedições para a costa africana, no Mar Vermelho, em busca de ouro, marfim, pele de animais, entre outros.
Com a prosperidade de seu governo, Hatshepsut começou uma obra de embelezamento arquitetônico no Egito. Ergueu diversas edificações em homenagem ao deus Amon-Rá (seu pai espiritual), na região de Beni Hasan (centro do reino) ela construiu um novo templo feito de pedras, denominado Speos Artemidos pelos gregos. Ao mesmo tempo em que fazia as mudanças físicas do Egito, a faraó cuidava da educação de Tutmés III. Ela enviou o menino para o templo de Amon, onde foi educado para se tornar o próximo governante.
Para garantir sua autoridade fazia de tudo para manter o jovem afastado do trono, chegou até a casá-lo com a filha que teve no relacionamento com Tutmés II. Porém, ficou bastante enfraquecida com a morte da princesa. No comando do exército Tutmés reclamou seus direitos, em especial o título de faraó. Mas só conseguiu tal feito após a morte da rainha, em 1482 a. C. A causa da morte não é conhecida, assim como a localização de seus restos mortais.

Fonte: Brasil Escola

CLEÓPATRA




Cleópatra, a rainha que conquistou generais romanos em busca de suas ambições políticas.

No ano de 69 a.C., o rei egípcio Ptolomeu teve a oportunidade de assistir o nascimento de sua filha mais velha, Cleópatra, que viria a ser conhecida como uma das mais famosas e intrigantes rainhas do Egito. Nascida na cidade macedônica de Alexandria, esta rainha herdou as heranças gregas e persas que se instituíram na região nordeste da África pela ação do imperador macedônico Alexandre, o Grande.

Longe de ser apenas uma mulher fútil, poderosa e entregue aos prazeres da vida, Cleópatra ansiava dar fim às dominações estrangeiras que tomavam seu reino. Além disso, era conhecida como hábil debatedora e dominava várias línguas como aramaico, persa, somali, etíope, egípcio e árabe. Segundo o historiador Plutarco, ela não detinha atributos físicos, mas se valia de outros artifícios para alcançar seus objetivos.

Quando chegou ao poder, suas intenções de restabelecer a soberania parecia ser um plano difícil de ser concretizado. Após casar com seu irmão Ptolomeu XII para chegar ao trono, observou que as tropas do opulento e vitorioso exército romano estavam próximas demais da cidade de Alexandria. Ao mesmo tempo, sua posição real era decorativa em face dos poderes atribuídos aos burocratas que controlavam o Estado.

Estes ministros percebiam as ambiciosas pretensões políticas de Cleópatra e, não por acaso, obrigaram-na a fugir de Alexandria e pedir auxílio militar das tribos do deserto. Nessa mesma época, o general romano Pompeu, ao qual Cleópatra já havia prestado apoio, pediu abrigo a suas tropas derrotadas na Farsália. O pedido gerou um grande dilema para os dirigentes do governo.

Por um lado, entendiam que o apoio a Pompeu poderia significar a invasão das tropas de Júlio César, outro general romano que ambicionava ser ditador. Em contrapartida, a recusa também poderia causar a fúria de Pompeu, que passaria a ver os egípcios como um bando de mancomunados com seu maior inimigo político. Por fim, tentando se safar desta situação ambígua, os egípcios decidiram tramar o assassinato de Pompeu.

Após matarem o general romano, as tropas de César se dirigiram até Alexandria para tomar conhecimento do comportamento egípcio em frente a suas tropas. Ptolomeu, o rei, receava sob as pretensões dominadoras do general romano e decidiu não ir ao seu encontro. Em contrapartida, Cleópatra arquitetou um plano em que conseguiria encontrar Júlio César sozinho e vulnerável à sedução da rainha.

Para conseguir tal feito, se sujeitou a ficar enrolada em um tapete que seria entregue como presente a Júlio César. A ousadia conquistou César, que, em resposta, lutou ao seu lado contra os revoltosos contrários ao governo da rainha no Egito. A empreitada quase fracassou, mas com o apoio de Mitríades de Pérgamo, conseguiram abater as ambiciosas tropas egípcias que, no fundo, também disputavam o poder entre si.

A aliança entre César e Cleópatra a transformou em senhora do Egito. Contudo, não satisfeita com o objetivo alcançado, resolveu apoiar César em novas conquistas que pudessem transformá-lo em um conquistador de muitas fronteiras. Contudo, o general romano sabia que qualquer ambição de poder absoluto poderia acender a fúria do Senado Romano, que não permitiria a dissolução da República.

Por isso, ele teve de se contentar com uma breve temporada em que desfrutou da companhia de sua audaciosa amante. Depois disso, forçado a sinalizar sua devoção às instituições romanas, partiu com o seu exército para a região de Ponto, onde abafou a revolta de Farnaces. Nesse meio tempo, a rainha Cleópatra ficou grávida e deu à luz a Cesarião, nome que simplesmente atestava a paternidade de seu filho.

Depois que retornou para Roma, César nunca mais colocou os seus pés no Egito. Contudo, em mais uma ação de extrema audácia, a rainha Cleópatra resolveu ir até Roma e visitar o seu amante e parceiro político. Para os romanos mais conservadores, a presença daquela estrangeira era uma ameaça às tradições. Afinal, quais garantias poderiam dizer que César não a transformaria em rainha de Roma?

Por fim, antes que tal ameaça se tornasse real, Júlio César foi assassinado por um grupo de republicanos que temiam as pretensões hegemônicas do ditador. Temendo a reação dos romanos com a sua presença, Cleópatra logo retornou para Alexandria e, após se livrar do irmão, colocou o seu filho no poder. Enquanto os romanos decidiam quem assumiria o poder, ela resolveu ficar afastada das questões políticas e militares.

Após as lutas sucessórias, dois generais assumiram o poder político do Império: Otávio, que se preocupava em buscar apoio do Senado e tinha um comportamento frio e ambicioso; e Marco Antônio, que ficara e parecia ser uma figura mais receptível aos engodos da rainha. Ao contrário da primeira vez, Cleópatra esperou que o seu mais novo alvo político chamasse pela sua presença. Não demorou muito, Marco Antonio, que estava na Sicília, chamou a senhora do Egito pra discutir o poder na Ásia.

Organizando uma comitiva suntuosa e adornada com vários elementos que faziam menção à mitologia grega, Cleópatra não teve grandes dificuldades para conquistar o general. Entre 41 e 31, Marco Antonio dizimou os inimigos políticos de Cleópatra, abandonou a esposa (que era irmã de Otávio) e passou boa parte desse tempo realizando conquistas militares que atendiam o interesse de sua amada egípcia.

A união entre Marco e Cleópatra deu origem a três filhos e somente colocava em dúvida o compromisso que o general romano teria com sua pátria original. Como se não bastasse toda a situação, os filhos do casal foram transformados em reis da Armênia, da Síria e da Ásia Menor. Dessa forma, o cenário político de Roma estava divido entre dois senhores: um comprometido com o Ocidente (Otávio) e o outro maravilhado com o Oriente (Marco Antonio).

Prevendo uma possível reviravolta, Otávio começou a realizar ataques sistemáticos contra o comportamento de Marco Antonio e resolveu colocar Cleópatra como uma séria ameaça para os romanos. Marco Antonio, que não resolveu abrir mão de sua aventura amorosa, decidiu combater as tropas do general Otávio. Sem obter o sucesso almejado, ainda tentou se aliar com as tropas de Cleópatra para resistir à sua iminente derrota.

Sitiados e abatidos na cidade de Alexandria, o general e a rainha decidiram acabar com suas próprias vidas. Não satisfeito, Otavio aniquilou completamente a linha sucessória dos herdeiros de Cleópatra bem como transformou o Egito em uma mera província subordinada aos representantes do poder romano. Com isso, o sinal de lealdade representado pela vitória militar transformou Otávio no primeiro imperador romano. 

Fonte: Brasil Escola

BIOGRAFIAS: AS GRANDES MULHERES DA HISTÓRIA



Anita Garibaldi quebrou os padrões de sua época ao se envolver na luta revolucionária.
Nascida na cidade catarinense de Laguna (SC), Ana Maria de Jesus Ribeiro da Silva teve uma origem familiar humilde combinada com uma boa educação. Seguindo os padrões da época, casou-se bastante jovem, aos 15 anos, com Manuel Duarte de Aguiar. No ano de 1837, já com o desenvolvimento da Revolução Farroupilha, ela teve a oportunidade e conhecer Giuseppe Garibaldi, um dos principais líderes do movimento que conquistara sua cidade natal.

Logo se mostrando apaixonada por Giuseppe, Ana Maria resolveu abandonar o seu infeliz matrimônio para que ao lado do revolucionário italiano marcasse a História com o nome de Anita Garibaldi. No tempo em que Laguna se transformou em sede do governo da República Juliana, que tomou Santa Catariana, Anita aprendeu a manusear espadas e armas de fogo. Em pouco tempo, a paixão pelo companheiro e os riscos da guerra se tornaram situações comuns à sua peculiar rotina.

Durante a Batalha de Curitibanos, Anita foi capturada pelas tropas que representavam o Império Brasileiro. Presa e grávida do seu primeiro filho, ela foi enganosamente informada que Garibaldi havia falecido nos campos de batalha. Inconformada e duvidosa sobre a informação, ela pediu aos oficias que a deixem procurar o marido entre os corpos. Nesse instante, desconfiando do que lhe fora dito, ela saltou em um cavalo e fugiu dos oficiais que a vigiavam.

Após atravessar um rio e passar alguns dias sem alimento, ela buscou refúgio entre alguns revolucionários. Poucos dias depois, Anita e Giuseppe se encontraram na cidade de Vacaria. Já em 1841, o casal seguiu para a cidade de Montevidéu, para apoiar outra revolta contra o ditador uruguaio Fructuoso Rivera. Após a participação nos conflitos, Anita foi enviada para a Itália, em 1847, para realizar os preparativos que receberiam o marido e uma tropa de mil homens que participariam das guerras de unificação da Itália.

Nesse novo conflito, o casal chegou até acidade de Roma, que havia sido posta como a capital da nova República Romana. Apesar da conquista, tiveram que enfrentar a opulência das forças franco-austríacas, e bateram em retirada nas ofensivas que marcaram a Batalha de Gianicolo. Acompanhados por, aproximadamente, quatro mil soldados, o casal de revolucionários ainda teve de suportar a pressão de outros exércitos contrários ao processo de unificação.

Quando atingiram a cidade de San Marino, a embaixada norte-americana ofereceu um salvo conduto que poderia tirar o casal daquela penosa situação de risco. Não aceitando o convite, por temer a desarticulação do processo de unificação, Anita e Giuseppe continuaram a sua fuga. A essa altura, esgotada pela quinta gravidez, a valente revolucionária ficou abatida ao enfrentar uma grave crise de febre tifoide. Não resistindo, Anita faleceu nas proximidades de Ravenna, em 4 de agosto de 1849.

Ferozmente perseguido pelos soldados austríacos, Garibaldi não teve sequer a oportunidade de acompanhar os cortejos fúnebres da esposa. Partindo para o exílio, o revolucionário italiano ficou dez anos fora da Itália. Somente em 1932, o corpo de Anita Garibaldi foi definitivamente transferido para a colina de Janiculo, localizada na porção ocidental da cidade de Roma.

Fonte: Brasil Escola

A CONDIÇÃO DA MULHER NO ISLAM

1. INTRODUÇÃO


Tudo que é o outro, que não faz parte da nossa realidade mais imediata, tende a nos assustar e a ser objeto de nossa rejeição. Raríssimas vezes nos detemos nas questões que nos escapam e, por isso mesmo, fazemos julgamentos apressados, superficiais, e incorporamos conceitos sempre carregados de preconceitos, porque fundamentados na ignorância dos fatos.
Nos dias atuais, onde tantas questões polêmicas nos são colocadas diariamente, onde mal temos tempo de digerir o noticiário, tal a rapidez com que as coisas acontecem no mundo, vamos estabelecendo nossos julgamentos e entendimentos em bases que carecem de uma análise mais profunda.
Assim é com relação ao Islam, tão incompreendido, tão desconhecido. Assim é a questão da mulher no Islam, onde preconceitos e falsas informações estão disseminados de tal forma que ocupam o imaginário dos não muçulmanos, estereotipando essas mulheres, transformando-as em personagens que nunca correspondem à realidade. Tomamos para nós alguns conceitos, que passam a ser verdade, a nossa verdade, que sequer é nossa, e engrossamos o rol desta vasta legião de meros repetidores de falsas verdades, aliás, uma característica do nosso tempo. O Islam é fanatismo. O Islam é terrorismo. O Islam é atraso. O Islam oprime e submete a mulher.
Mas, o que é o Islam? Como o Islam trata realmente a questão dos sexos? Qual é o papel da mulher muçulmana numa sociedade islâmica?
Para se falar sobre a mulher no Islam, como ela é vista, qual a sua função, qual o seu papel, quais os seus direitos e deveres, torna-se necessário comparar este mesmo papel com outras culturas, outras religiões, quais os seus direitos e deveres, quais as suas conquistas, enfim, devemos considerar todos os aspectos, sejam sociais, politícos, econômicos, éticos ou morais e não, simplesmente, nos determos em aspectos culturais isolados.
Por isso, nada melhor do que enfocar a condição da mulher no Islam, levando em conta essa mesma condição no Ocidente, e, mais especificamente no Brasil, de tradições, cultura e religião tão diferentes do Oriente. No que a muçulmana é diferente da mulher ocidental? Que valores éticos, morais, sociais e religiosos regem essas duas mulheres? Que padrões comportamentais fazem essas duas mulheres tão diferentes?
Há 1400 anos, o Islam afirmou que a mulher é um ser humano, que tem uma alma da mesma natureza que a do homem, e que ambos, homens e mulheres, gozam dos mesmos direitos. No Islam, a mulher é um ser responsável e não pode ser desrespeitada ou discriminada em razão de seu sexo. No ocidente, apesar dos avanços conseguidos pelos movimentos feministas, as conquistas alcançadas não representam sequer a terça parte do que o Islam já havia garantido. Sabemos que a mulher ainda é discriminada, o maior contingente de analfabetos está na população feminina, ela é vítima da violência, que começa em casa, recebe um salário menor para o exercício de funções que ela executa em igualdade de condições com o homem, etc.
Em 1995, portanto há três anos atrás, na Quarta Conferência Mundial da Mulher, ocorrida em Pequim, os governos participantes reconheceram a péssima condição feminina e firmaram uma Declaração, onde entre outros tópicos, afirmavam o seguinte:
"Nós, os governos que participamos da Quarta Conferência Mundial da Mulher (…) estamos convencidos de que: (…) Os direitos da mulher são direitos humanos; (…) A igualdade de direitos, de oportunidades e de acesso aos recursos, à distribuição equitativa entre homens e mulheres das responsabilidades relativas à família … são indispensáveis ao seu bem-estar e ao de sua família, assim como para a consolidação da democracia. (…) A paz global, nacional e regional só pode ser alcançada com o progresso das mulheres, que são uma força fundamental de liderança, resolução de conflitos e promoção de uma paz duradoura em todos os níveis."
A diferença básica entre esses dois mundos, o oriental e o ocidental, é que o Islam, conforme revelado ao Profeta Mohammad, está pronto, bastando ser seguido por todos. O Islam dignifica o ser humano, garante direitos. Sua mensagem, ainda que dirigida inicialmente aos árabes, é universal e se aplica a todos os homens e mulheres, em qualquer lugar e em qualquer tempo. As origens do Islam são as mesmas que as das religiões anteriores e Mohammad foi o último profeta de Deus.
Deus esclarece no Alcorão que, ao longo de toda a história da humanidade, cada povo teve o seu mensageiro, em sua própria língua, em linguagem compatível com a compreensão do ser humano, anunciando a unicidade de Deus, confirmando o Dia do Juízo Final e determinando a subordinação ao que foi legislado por Ele.
Prescreveu-vos a mesma religião que tinha instituído para Noé, a qual te revelamos, a qual recomendamos a Abraão, a Moisés e Jesus (dizendo-lhes): Observai a religião e não discrepeis acerca disso.(cap. 14:5)
A crença nos profetas e nos livros são artigos de fé para o muçulmano. Depois de Mohammad não haverá mais nenhum profeta e nem revelação alguma será feita.
Hoje, aperfeiçoei a religião para vós; agraciei-vos generosamente e aponto o Islam por religião. (Cap. 5:3)

2. OS PRIMÓRDIOS DO ISLAM

Para entendermos o Islam e o conceito islâmico de vida, é preciso, em primeiro lugar, recuarmos na História em alguns séculos e buscarmos nas suas origens todo um código de vida que permanece até os nossos dias. Ainda que inicialmente a mensagem tenha sido revelada na península arábica, sua linguagem é universal. Antes de mais nada, para nós muçulmanos, Islam é submissão, submissão à vontade de Deus e o Alcorão é a palavra de Deus, conforme revelada ao Profeta Mohammad há 1.400 anos atrás.
O Islam surgiu na Península Arábica no início do século VII, com as primeiras revelações de Deus ao Profeta Mohammad, por intermédio do anjo Gabriel:
"Lê, em nome do teu Senhor, que te criou; criou o homem de um coágulo; lê, que o teu Senhor é Generosíssimo, que ensinou através do cálamo. Ensinou ao homem o que este não sabia." (Cap. 96:1-5)
Durante 13 anos as revelações foram sendo transmitidas e organizadas até serem sistematizadas sob a forma de um livro, de acordo com a orientação do Profeta Mohammad, que determinou a ordem dos capítulos e versículos. Este livro é o Alcorão, o Livro Sagrado do muçulmano. O Alcorão, na verdade, é um conjunto de advertências, sugestões, injunções e princípios religiosos, morais, éticos e jurídicos que regem a vida de todo os muçulmanos.
Os árabes estavam organizados da mesma forma por toda a península. Não havia grandes cidades e eles viviam em pequenos grupos, unidos por laços familiares. Sociedade caracterizadamente patriarcal, as famílias estavam organizadas em clãs e os clãs formavam tribos. Portanto, todo árabe era membro de uma família, que pertencia a um clã, que, por sua vez, formava uma tribo. O deserto da Arábia, extremamente árido e pobre, não propiciava muito o que comer, a vida era incerta e perigosa e, no geral, eles eram de temperamento esquentado. A qualquer tempo, um clã podia ser invadido por seus vizinhos. Emboras esses ataques repentinos rendessem alguns ganhos, eles eram motivados muito mais pelo espírito de aventura. Se um membro de um clã ou de uma tribo fosse morto numa luta aberta ou numa emboscada, isto podia render o envolvimento de todo o clã por anos a fio.
Distantes dos grandes centros culturais da época (Pérsia e Bizâncio), os árabes desenvolveram sua própria cultura, baseados nos costumes de seus ancestrais. Provavelmente a vida no deserto devia ser monótona e, para compensar esta falta de encanto, eles se dedicavam às guerras entre as tribos. Normalmente, as guerras não tinham por objetivo inflingir uma grande derrota ao inimigo, mas, sim a glória e a honra de terem superado seus rivais em coragem e resistência.
A poesia era outro orgulho entre os árabes e, através dela enalteciam a guerra, exaltavam a força e a virilidade masculinas, louvavam a generosidade e a hospitalidade e, algumas vezes, falava de amor e romance. A mulher árabe dos tempos pré-islâmicos usufria de uma relativa liberdade. A título de exemplo, para ilustrar a posição ocupada pela mulher nos tempos pré-islâmicos, vale lembrar que Khadija, primeira esposa de Mohaammad, uma rica viúva e independente, que administrava seus próprios negócios, foi quem fez o pedido de casamento ao Profeta.
Khadija foi a primeira pessoa, do círculo mais próximo do Profeta, a acreditar que as revelações eram divinas e foi a primeira a se converter ao Islam. Até morrer, esteve sempre ao lado de Mohammad, suportou ao seu lado toda a sorte de incompreensões e perseguições de que foram vítimas os primeiros muçulmanos, passou necessidades físicas durante o embargo imposto pelos cidadãos de Meca. Khadija foi a companheira de quem o Profeta jamais se esqueceu enquanto viveu.
Apesar da relativa liberdade de que a mulher desfrutava, esse mundo árabe pré-revelação era patriarcal, moldado pelo homem, e a mulher não passava de uma vítima constante da dor, do sofrimento, da solidão, da humilhação e da exploração física, emocional e sexual. Os árabes de antes da revelação também não escaparam do costume de considerar a filha mulher um peso doloroso, uma fonte potencial de vergonha para o pai, sendo hábito, antes do advento do Islam, a prática cruel do infanticídio feminino.
Existia o costume de se enterrar viva a menina, por medo da vergonha ou da pobreza.
Quando a filha, sepultada viva, for interrogada: Por que delito foste assassinada? (Cap. 81:8-9)
O Alcorão descreve esta prática, a fim de mostrar o seu horror e registrar o absurdo do costume. Sua condenação cabe perfeitamente com a meta divina declarada do Islam de destruir a ignorância e estabelecer novas regras e preceitos morais, sociais e éticos. No Capítulo 16 "A Abelha", lemos:
Quando a algum deles é anunciado o nascimento de uma filha, o seu semblante se entristece e fica angustiado. Oculta-se do seu povo, pela má notícia que lhe foi anunciada: deixá-la-á viver, envergonhado, ou a enterrará viva? Que péssimo é o que julgam! (16:58-9)
Além de condenar vigorosamente tal prática, o Alcorão não faz distinção entre meninos e meninas.
E no Capítulo 17, "A Viagem Noturna", lemos:
Não mateis vossos filhos por temor à necessidade, pois Nós os sustentaremos, bem como a vós. (17:31)
A ordem social do período pré-revelação, portanto, jamais ajudou a mulher a ter uma condição respeitável e digna.
Foi somente com o advento do Islam, que a mulher passou a desfrutar de uma posição dignificada, sem qualquer traço de paternalismo ou exploração, um ser responsável, a quem são exigidos deveres, mas a quem também são assegurados direitos, em igualdade de condições com o homem. Homens e mulheres são criaturas de Deus, e o melhor entre eles é o mais justo, o mais piedoso, independentemente de sexo, raça, cor, posição social etc.. As pessoas se diferenciam no Islam pela fé, pela consciência de Deus e pela conduta reta. Assim, estabelece Deus no Alcorão:
Ó humanos, em verdade, Nós vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em povos e tribos, para reconhecerdes uns aos outros. Sabei que o mais honrado dentre vós, ante Deus, é o mais temente. Sabei que Deus é Sapientíssimo e está bem inteirado. (Cap. 49:13)
Também, disse Deus:
Jamais desmerecerei a obra de qualquer um de vós, seja homem ou mulher, porque procedeis uns dos outros… (Cap. 3:195)
O novo modo de vida implantado a partir do Alcorão, assegurou uma posição dignificada tanto para os homens como para as mulheres. As mulheres passaram a ser respeitadas e honradas. A "maldição" do sexo feminino, como herdeiro do "legado de Eva", portanto, a responsável por todas as desgraças desta vida, deixou de ter sentido. Homens e mulheres são iguais.
Nada no conjunto social da Arábia daquele tempo, ou em qualquer outra cultura ou civilização, evidenciou uma tal elevação na posição da mulher. Não foi nenhuma consideração social ou econômica que a tornou necessária ou desejável. Foi antes uma mudança deliberada, feita pelo Islam, por razões que são completamente diferentes daquelas deste mundo e daquelas da sociedade humana em particular. O que a mulher ocidental levou mais de 12 séculos para conseguir, enfrentando as mais duras resistências, o Islam já havia outorgado voluntariamente, tomando a iniciativa, sem submissão a necessidades sócio-econômicas, mas dentro do critério de justiça e verdade, características básicas do Islam.
Se imaginarmos que no século VII, a Europa vivendo em plena Idade Média, que a História qualifica como a "noite dos 1000 anos", sob o império do pensamento judaico-cristão, onde as mais severas restrições eram impostas às mulheres, onde a mulher era vista como a herdeira do mal, impura, na pequena península arábica surge o Alcorão, assegurando à mulher, primeiro o direito à vida, depois o direito de opinião e expressão, à educação, ao conhecimento, ao testemunho, ao divórcio, à propriedade, à herança, temos que concordar que isso significou uma revolução absoluta nos costumes, tradições e valores que perduravam naquela época e que perduram até os dias de hoje.

3. DIREITOS ASSEGURADOS PELO ISLAM Á MULHER

3.1 - Individualidade
No Islam, a mulher não é produto do diabo ou a semente do mal. No Islam, o homem não ocupa o lugar de senhor absoluto da mulher, que, sem outra alternativa, tem que se render ao seu domínio. No Islam só nos submetemos a Deus e só a Ele nos rendemos e prestamos contas. No Islam, ao contrário de outras crenças e sistemas religiosos, a mulher tem alma e é dotada de qualidades espirituais. O Islam não considera Eva a única responsável pelo pecado original de toda a humanidade e, por consequência, pelo sacrifício na cruz do filho de Deus para redimir a humanidade do pecado original. O Alcorão esclarece que tanto Adão como Eva erraram, ambos foram tentados, ambos pecaram e ambos foram perdoados por Deus após o manifesto arrependimento.
A mulher é reconhecida no Islam como a parceira completa do homem e igual a ele na procriação da humanidade. Ele é o pai e ela é a mãe e ambos são essenciais para vida. O papel da mulher não é menos vital do que o do homem. Nesta parceria as partes são iguais em cada aspecto, têm direitos e responsabilidades iguais e são dotadas das mesmas qualidades, seja homem ou mulher.
No Islam, a mulher se iguala ao homem ao ser responsável por seus atos. Ela possui uma personalidade independente, dotada de qualidades humanas e digna de aspirações espirituais. Sua natureza humana não é nem inferior nem superior à do homem. Homens e mulheres têm as mesmas obrigações e responsabilidades sociais, morais e religiosas e devem enfrentar a consequência de seus atos.
Aqueles que praticarem o bem, sejam homens ou mulheres, e forem fiéis, entrarão no Paraíso e não serão defraudados, no mínimo que seja. (Cap. 4:124)
No Islam, a mulher é independente economicamente, uma vez que ela pode ser proprietária, com direito a administrar seus bens e ninguém, pai, marido ou irmão, tem ingerência no trato de questões financeiras.

3.2 - Educação e instrução
Ela se iguala ao homem na busca pelo conhecimento e educação. Quando o Islam conclama os muçulmanos para a busca do conhecimento, ele não faz distinção entre os sexos. A educação não é somente um direito, mas uma responsabilidade de todos os homens e mulheres. Mohammad, há 14 séculos atrás, foi muito claro ao afirmar que a busca do conhecimento é uma obrigação para todo o muçulmano, seja homem ou mulher.
Durante muito tempo foi negado à mulher o direito de expor suas opiniões. Em Coríntios I 14:34/35, São Paulo diz: "Como em todas as congregações de santos, as mulheres devem permanecer caladas nas igrejas. Não é permitido a elas falar e devem ser submissas, como a lei diz. Se elas quiserem perguntar sobre alguma coisa que perguntem a seus maridos em casa, porque é vergonhoso para uma mulher falar nas igrejas." Em Timóteo I 2:11-14, ele escreveu: "Eu não permito a uma mulher ensinar ou ter autoridade sobre um homem; ela deve ser calada, porque Adão foi feito primeiro, e depois Eva. E Adão não foi o que perdeu, foi a mulher que perdeu e se tornou pecadora".
O Islam entende que uma mulher não pode se instruir se não lhe é permitido falar. O Islam entende que uma mulher não pode crescer intelectualmente se ela é obrigada a um estado de completa submissão. O Islam entende que uma mulher não tem vida própria se sua única fonte de informação é o marido em casa.

3.3 - Liberdade de expressão
Por isso, no Islam ela tem direito à liberdade de expressão, tanto quanto o homem. Suas opiniões são levadas em consideração e não podem ser desrespeitadas sob a alegação de serem provenientes de uma mulher. Há diversos relatos a respeito da participação efetiva das mulheres, não só expressando sua opinião como também questionando e participando de discussões sérias com o Profeta. A propósito, o Alcorão tem a seguinte passagem:
Em verdade, Deus escutou a declaração daquela que discutia contigo, acerca do marido, e se queixava em oração a Deus. Deus ouviu vossa palestra, porque Ele é Oniouvinte.
Aqueles, dentre vós, que repudiam as suas mulheres através do zihar, saibam que elas não são suas mães. Estas são as que os geraram; certamente, com tal juramento, eles proferiram algo iníquo e falso; porém, Deus é Absolvedor, Indulgentíssimo. (Cap. 58:1-2)
Este relato se refere Khawlah, esposa de Auss Ibn Assámet, que havia se divorciado dela, seguindo um costume idólatra, apesar de ele ser muçulmano. O expediente era conhecido como zihar e consistia em dizer para a esposa que a partir daquele momento ela era considerada sua mãe. Isto liberava o marido de qualquer responsabilidade conjugal sem dar, no entanto, liberdade para ela abandonar o lar ou contrair novo matrimônio. Tendo ouvido estas palavras de seu marido, a mulher foi ter com o Profeta, na esperança de que ele resolvesse o seu caso. O Profeta era de opinião que ela deveria ser paciente, desde que parecesse que não havia outro caminho. No entanto, ela continuou questionando Mohammad quando veio a revelação que constitui os versículos acima. Portanto, como vemos, a mulher no Islam tem o direito de argumentar, mesmo que seja com o Profeta do Islam. Ninguém tem o direito de instruí-la a se calar.
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Em primeiro lugar, deve ser esclarecido que o Islam entende que o papel da mulher na sociedade como mãe e esposa, é o mais sagrado de todos. Nenhuma babá ou empregada pode substituir a mãe no seu papel de educadora de uma criança.
A regra geral na vida política e social é a participação e a colaboração de homens e mulheres nas questões públicas. O Islam não exige, como algumas pessoas pensam, que a mulher fique confinada em sua casa até a morte. Em toda a história do Islam há relatos suficientes que comprovam a participação da muçulmana nas questões públicas, nas funções administrativas, na erudição e ensinamentos e mesmo nos campos de batalha, ao lado do Profeta.. Não há no Alcorão, ou nas sunas do Profeta, qualquer texto que impeça a mulher de exercer qualquer posição de liderança, exceto na condução da prece, por motivos óbvios que serão vistos mais adiante, e na liderança do estado. Um chefe de estado não é apenas decorativo. Ele exerce funções inerentes ao cargo, viaja, negocia com outras autoridades, participa de encontros confidenciais com tais autoridades. São atividades, muitas das vezes, não são condizentes com as diretrizes traçadas pelo Islam para a interação entre os sexos.
Registros históricos comprovam que as mulheres participavam da vida pública em igualdade de condições com os muçulmanos, principalmente em tempos de emergência. Elas combatiam nas guerras, cuidavam dos feridos, preparavam suprimentos, ajudavam os guerreiros, consultavam diretamente o Profeta a respeito de assuntos pessoais e até íntimos, etc. Jamais houve qualquer barreira que impedisse a integração da mulher na sociedade islâmica. Jamais foram consideradas criaturas desprovidas de alma ou de qualquer mérito. O aconselhamento, o ensinamento religioso, a educação espiritual são atividades exercidas pelas mulheres desde os primórdios do Islam.
3.5 - Direito de contratar
O Islam garante à mulher direitos iguais para contratar, para assumir empreendimentos, para ter ganhos e posses independentemente. Somente no século passado a Europa reconheceu o direito da mulher de contrair obrigações. No Islam, vida, propriedade, honra são tão sagrados para ela quanto para o homem. Se ela cometer qualquer falta sua pena não é maior ou menor do que para o homem, em casos semelhantes, estabelecida pela shariah islâmica. Conta a tradição que certa vez alguém veio ter com o Profeta solicitando a sua intercessão para a filha de uma autoridade que havia sido apanhada praticando roubo. O Profeta então respondeu que ainda que fosse Fátima, sua filha muito amada, que estivesse naquela situação, ele não poderia impedir que a lei fosse aplicada. No Islam, a lei é igual para todos e não exime ninguém em razão de sua posição social.
Estes direitos não estão estabelecidos de uma forma apenas retórica. O Islam tomou medidas para salvaguardá-los e colocá-los em prática como artigos de fé. O Islam não tolera o preconceito contra a mulher ou a discriminação entre os sexos. O Islam reprova todo aquele que considera a mulher inferior ao homem.
3.6 - Direito à Herança
Além do reconhecimento da mulher como um ser independente, considerada como essencial para a sobrevivência da humanidade, o Islam deu à mulher o direito à herança. Antes do Islam, ela não só era privada desta participação como era considerada propriedade do homem.
Seja ela esposa ou mãe, irmã ou filha, a mulher tem participação na herança, e esta participação depende do seu grau de relação com o morto e o número de herdeiros. Esta quota é dela e ninguém tem poder para negar-lhe esta participação, ainda que o morto quisesse deserdá-la. Qualquer um pode, legalmente, dispor de 1/3 dos seus bens, não afetando, assim, o direito de herdeiros, sejam homens ou mulheres. Em alguns casos, o homem recebe 2 quotas na herança ao passo que a mulher fica com uma. Isto não é sinal de preferência ou supremacia do homem sobre a mulher. Eis algumas razões que justificam a medida:
. No Islam o homem assume as responsabilidades financeiras da completa manutenção de sua esposa e família. É sua obrigação perante a lei assumir todos os encargos financeiros e manter seus dependentes adequadamente. Isto significa que ele herda mais, mas ele é responsável financeiramente por outras mulheres: filhas, esposas, mãe e irmãs.
. A mulher no Islam está protegida e segura do ponto de vista material. Se ela é esposa, o marido é o provedor. Se ela é mãe, cabe ao filho o encargo. Se ela é filha, o pai se reponsabiliza por sua manutenção, se ela é irmã, o irmão, e assim por diante. Quando ela é sozinha, não tem ninguém, é evidente que não tem herança a ser recebida e ela passa a ser responsabilidade da sociedade como um todo, cabendo, portanto, ao Estado, prover sua mantença através de ajuda, arrumando trabalho para que ela ganhe seu próprio sustento.
3.7 - Privilégios
A mulher no Islam usufrui de certos privilégios. Durante o período menstrual ela está isenta das preces e do jejum. Ela está isenta, também, de todas as responsabilidades financeiras. Ela não precisa trabalhar ou dividir com o marido as despesas domésticas. Todos os bens de família que ela leva para o casamento são seus e o marido não tem qualquer direito sobre aqueles pertences. Cabe notar que somente no século passado a Europa reconheceu o direito de propriedade à mulher casada, em igualdades de condições com as solteiras, viúvas e divorciadas, com a Lei da Propriedade da Mulher Casada, de 1879. Nenhuma mulher casada é obrigada a gastar um tostão de seus bens para manter a casa. Em geral, a muçulmana tem garantido o sustento em todas as fases de sua vida, seja como filha, esposa, mãe ou irmã. Como filha e irmã ela tem garantido o sustento pelo pai ou irmão respectivamente. Ela também é livre para trabalhar, se assim o quiser, e participar com o seu trabalho das responsabilidades familiares. Não ohá no Alcorão ou na Suna qualquer texto explícito que categoricamente proíba a muçulmana de procurar um emprego lícito. Inclusive, algumas podem ser forçadas a buscar emprego a fim de sobreviverem, principalmente em países onde inexistam medidas que assegurem a estabilidade financeira das viúvas ou divorciadas.

4. DIVÓRCIO

O Islam garantiu aos casais o direito ao divórcio. Aqui cabem algumas explicações a respeito do assunto, uma vez que também o divórcio é objeto de falsas interpretações. Não é verdade que a qualquer tempo basta um marido dizer à sua esposa "Eu quero o divórcio" e pronto, ele está divorciado, largando a mulher (e provavelmente os filhos) à própria sorte, em menos de 1 minuto. O sistema de divórcio no Islam é o mais justo que existe. Se o casal decide se separar, o marido pede o divórcio dizendo "Eu quero o divórcio". A partir de então, começa um tempo de espera que dura 3 períodos menstruais para que seja certificado que a mulher não está grávida. Este períodoo permite ao casal ter um tempo para pensar sobre o que estão fazendo e se é isso mesmo que eles querem. Durante este período, o marido é obrigado a alimentar, vestir e abrigar a esposa. Não há ninguém, nem mesmo advogado, envolvido nesta questão. Findo os três meses, e comprovado que a mulher não está grávida, o divórcio se consuma. Se, por um acaso, a mulher estiver grávida, o marido é obrigado a prover a ex-esposa do necessário até o período do desmame, normalmente 2 anos.
Como podemos observar, não há como comparar as diferentes abordagens, uma vez que o comum no ocidente, pelo menos no Brasil, é a mulher sair sempre lesada de uma separação, sem garantia de direitos mínimos para a sua sobrevivência. Pior, até bem pouco tempo atrás, ela entrava nessa sociedade conjugal com seus próprios bens, que acabava perdendo pelo instituito da comunhão universal de bens, no caso de separação. Somente em 1977, com a lei do divórcio é que a dissolução do casamento favoreceu um pouco mais a mulher, com a introdução do regime da comunhão parcial de bens. Mas, ainda assim, prevalece o conceito de que a obrigação alimentar devida pelo ex-marido fica diretamente relacionada à "conduta moral" da esposa, o que no Brasil, como bem sabemos, quer dizer, essa mulher não pode se casar de novo.
Por outro lado, só a partir de 1962, com a Lei 4.121, conhecida como o Estatuto da Mulher Casada, é que a mulher brasileira alcançou sua capacidade jurídica plena. Até então, ela era considerada relativamente incapaz, do ponto de vista jurídico.
O casamento no Islam é uma bênção santificada, que não deve ser quebrado, exceto por razões relevantes. Os casais são instruídos a procurar salvar a instituição do casamento, por todos os meios possíveis. O divórcio não é comum, a não ser que não haja outra solução. Em outras palavras, o Islam reconhece o divórcio mas não o encoraja. O Islam dá à mulher muçulmana o direito de pedir o divórcio pois reconhece que ela não pode ser refém de um mau marido. Finalmente, é bom lembrar que o divórcio só muito mais tarde foi introduzido na Europa e, no Brasil, há apenas muito pouco tempo, através da Lei nº 65l5, de 26.12.77, do Sen. Nelson Carneiro.

5. O SEXO

Outra questão polêmica com relação ao Islam é a que se refere ao sexo. O Islam não nega, em hipótese alguma, a sexualidade do ser humano, antes pelo contrário. O Islam não advoga a supressão do anseio sexual através do celibato ou do monasticismo. O homem é dotado por seu Criador de impulsos que o impelem às várias atividades que garantem a sua sobrevivência. O principal objetivo do sexo é a própria espécie. O Islam reconhece que o ser humano é tomado por emoções inexplicáveis que o atraem irresistivelmente para o sexo oposto e, por isso mesmo, normatiza as relações entre homens e mulheres. O Islam reconhece a importância do instinto sexual, mas só admite a sua realização através do casamento lícito, proibindo rigorosamente o sexo fora do casamento e tudo aquilo que possa conduzir à sua prática de modo ilícito.
Há uma tradição do Profeta onde ele menciona que a relação sexual entre um casal é recompensada por Deus. Os companheiros ficaram espantados: como era possível ter os desejos e prazeres completamente satisfeitos e, ainda assim, obter recompensa divina? O Profeta, então, respondeu que da mesma forma que uma relação extraconjugal era punida.
O Islam se baseia na crença na revelação divina. A sua lei e a sua moral estão baseadas nos mandamentos divinos. Dentro desse contexto, homens e mulheres devem obedecer a certas regras de comportamento e disciplina, a fim de evitar que o ilícito seja praticado. O Islam tem imposto, recomendado e encorajado certos hábitos com o fim de reduzir as oportunidades para a prática do ilícito. Além disso, toma as precauções necessárias e possíveis, no tocante a sanções materiais, tais como, proibição da promiscuidade, dos encontros reservados entre pessoas do sexo oposto sem a presença de terceiros, etc.
O fato de a mulher ficar atrás do homem durante as orações não indica que ela seja inferior ao homem. Faz parte da disciplina da oração o muçulmano se colocar em fila, ombro a ombro com o seu irmão. As preces islâmicas envolvem atos, movimentos, posturas de prostração, genuflexões que ocasionam contatos corporais e toque involuntário na pessoa que está ao lado, diminuindo a concentração daquele que está em prece. Além do mais, seria inapropriado e desconfortável para uma mulher ficar em tal posição, prostra-se, inclinar-se e colocar a testa no chão, tendo atrás de si uma fileira de homens. Assim, para evitar qualquer embaraço de ambas as partes, o Islam ordenou a organização de filas, homens na frente, e mulheres atrás.
O que deve ser ressaltado é que as proibições são dirigidas a ambos os sexos. O que o Islam proíbe para a mulher, também o faz para o homem. A modéstia é recomendada tanto para homens como para mulheres. A castidade até a realização do casamento é imperativo para homens e mulheres, igualmente. O adultério é proibido tanto para homens como para as mulheres.
Em suma, a forma como Islam encara o sexo é uma linha muito estreita entre dois extremos. O primeiro é desqualificá-lo ao ponto de sua total abstenção, através do celibato ou monasticismo, negando a própria natureza humana, e o segundo é achar que é muito natural fazer sexo com quem quer que seja, em qualquer lugar, sempre que se quiser. Enquanto no ocidente a sensualidade, o amor entre um homem e uma mulher, atributos humanos concedidos por Deus, são reduzidos à sua condição mais baixa e se transformam em libertinagem, pornografia, o Islam não aceita, em hipótese nenhuma, a superexposição do sexo, o sexo pelo sexo, com qualquer um, em qualquer lugar.

6. HIJAB

Finalmente, cabem algumas palavras sobre um dos pontos que mais suscita controvérsias, qual seja o uso do hijab. Por que a mulher deve cobrir a cabeça? Em tese, a resposta é simples: as mulheres devem cobrir a cabeça porque assim Deus o determinou. (Cap. 33:59) Os parâmetros para a modéstia adequada tanto para homens como para mulheres (roupa e comportamento) são baseados nas fontes revelatórias (Alcorão e a Suna autêntica) e, como tal, devem ser respeitados por homens e mulheres crentes por ser de orientação divina com objetivos legítimos.
Alguns muçulmanos acabam por assimilar culturas não islâmicas e adotam seus modos de vestir, de se comportar e acabam influenciando e abalando a integridade das famílias islâmicas. Por outro lado, algumas culturas muçulmanas acreditam que as restrições impróprias e excessivas impostas às mulheres, às vezes até reclusão, são o ideal. Ambos extremos conflitam com os ensinamentos normativos do Islam. A proximidade excessiva ou a reclusão total das mulheres não são condutas adotadas durante o período profético. As mulheres da época do Profeta participavam com os homens em atos de adoração tais como preces e peregrinação, nas praças públicas, na discussão de assuntos públicos (vida política) e nos campos de batalha, quando necessário.
O Islam não fixou padrões tais como estilo, cor, etc., que as muçulmanas devem vestir. No entanto, há alguns requisitos que devem ser atendidos. A roupa deve ser folgada, o tecido deve ser de uma espessura que impeça que a forma do corpo seja percebida. A roupa deve ser simples, nem excessivamente extravagante, para angariar a admiração das pessoas, nem andrajosa, desleixada ou suja. Mas, há outras razões que incluem a exigência da modéstia, como, por exemplo, o fato de que a mulher deve ser percebida por suas qualidades intrínsecas, capacidade e inteligência. Na verdade, o hijab não é apenas uma roupa ou um modo de vestir, mas sim todo um comportamento, uma forma de falar e de aparecer em público, que identifica aquela mulher como sendo muçulmana.

7. CONCLUSÃO

A condição da mulher no Islam é algo ímpar, novo, sem qualquer semelhança com qualquer outro sistema. Se olharmos para as nações democráticas do ocidente, vamos perceber que a mulher não desfruta dessa posição. Ela é mais subjugada a padrões e regras de comportamento do que se supõe que a mulher muçulmana o seja. Ela é o reflexo do poder masculino, onipresente na sociedade ocidental cristã, que tem por objetivo delimitar o papel das mulheres, normatizar seus corpos e almas, esvaziá-las de qualquer saber ou poder ameaçador. A mídia exerce hoje o monopólio, antes exercido pela Igreja, na construção (desconstrução) dessa mulher, impondo valores, regulamentando o cotidiano das pessoas, determinando o uso do corpo de uma perspectiva escatológica. No ocidente, a mulher é compelida a perseguir noções abstratas de beleza , e, muitas das vezes, não percebe que está sendo manipulada pelas companhias de cosméticos, indústrias de roupas e remédios. É um produto tão descartável quanto qualquer mercadoria de supermercado. O rótulo (a aparência) da mulher ocidental tem que obedecer a regras impostas de cima e ingenuamente ela supõe que é livre para escolher a sua roupa, o seu sapato, a cor do seu cabelo.
A mulher ocidental, desde criança, é ensinada que o seu valor é proporcional à sua beleza, aos seus atrativos. Só consegue um lugar ao sol aquela que se veste assim, que fala assado, que vai ao lugar tal. No Brasil, por exemplo, só consegue emprego quem tem "boa aparência". A mulher, desde cedo é empurrada para um mercado de trabalho selvagem, deslealmente competitivo, tendo de se submeter a toda sorte de humilhações para conseguir o seu sustento.
Foi através de muita luta que a mulher ocidental alcançou esse esboço de liberdade. Foram séculos de uma árdua luta para a mulher conquistar o direito de aprender, de trabalhar, de ganhar o seu próprio sustento, de ter a sua própria identidade, de ter personalidade e capacidade jurídica. Esta mulher pagou um alto preço para provar sua condição de ser humano, provido de alma. A posição que a mulher ocidental de nossos dias desfruta foi conquistada pela força e não por um processo de mútuo entendimento. Ela abriu o seu caminho à força, a custa de muitos sacrifícios, abrindo mão de sonhos e ideais. Muitas vezes as circunstâncias a empurraram para um campo de batalha até então desconhecido. E apesar disso tudo, de toda essa guerra, de tão pesados sacrifícios e lutas dolorosas, ela ainda não conquistou o que o Islam estabeleceu para a mulher muçulmana por decreto divino.
De tudo o que foi dito, podemos inferir que a condição das mulheres nas sociedades islâmicas atuais é a ideal? É compatível com o que estabelece o Islam? Não, é claro que não. Mas, rotular a condição da mulher no mundo muçulmano de hoje como "islâmica" está tão longe da verdade quanto imaginar que a condição da mulher ocidental é de total liberdade para usufruir direitos. Sabemos que em muitas partes do mundo muçulmano ainda proliferam as condições opressivas e injustas. Os erros de alguns muçulmanos na condução dos destinos de suas respectivas sociedades apenas provam que o ser humano tem suas limitações. É absurdo tomar como regra geral islâmica o que não passa de interpretações pessoais, contaminadas por todo um contexto sócio-cultural. Os muçulmanos não podem ser julgados com base nas ações de uns poucos e nem esses poucos são amostras significativas do verdadeiro significado do Islam.
O que precisa ficar claro é que não é o Alcorão que necessita ser reexaminado, ou a Suna, e sim a prática humana, que muitas vezes reflete aspectos culturais tão enraizados que distorcem o que foi decretado por Deus. É preciso confrontar o passado e rejeitar práticas e costumes que se contraponham aos preceitos do Islam. Assim, por exemplo, a condição da mulher no Afganistão, que está condenada a ficar reclusa dentro de casa, não reflete os ensinamentos do Alcorão nem tão pouco o exemplo de milhares de muçulmanas, que através da História, tiveram participação efetiva em suas respectivas comunidades. A mulher na Arábia Saudita está proibida de dirigir? Sim, está, mas esta é uma lei saudita, humana, que não vigora no Irã, por exemplo.
O que devemos compreender é que existe uma imensa diferença entre a crença propriamente dita, conforme revelada no Alcorão, e a prática de algumas sociedades supostamente islâmicas. Tais práticas atendem muito mais a aspectos culturais específicos, a interesses particulares, e não representam necessariamente o Islam e nem podem servir de base para se denegrir o verdadeiro sentido do Islam. O Islam ainda tem muito a oferecer à mulher de hoje, em termos de respeito, dignidade, reconhecimento. Basta que ela tenha consciência disso e lute para implantar os ensinamentos islâmicos. Para isso, ela tem todos os os instrumentos à sua disposição.

Fonte: Sociedade Beneficente Mulçumana