segunda-feira, 15 de agosto de 2011

No exato momento em que esta matéria está sendo redigida, uma mulher é espancada e outra poderá ser morta. A cada 15 segundos essa situação vai se repetir mais e mais, sem que o agressor seja punido, ora por falta de denúncia, ora porque não houve tempo para vencer a burocracia dos papéis, ou a falta de estrutura das redes de apoio. Uma criança, filha ou filho desta mulher, vai estar na rua porque não aguenta mais a agressão vivida em casa, ou porque sofreu abuso sexual pelo padrasto, pai, irmão, vizinho ou parente. O ciclo de violência novamente terá sido sedimentado e alimentado pela apatia da sociedade.


No mesmo dia em que este texto foi escrito, as estatísticas ganharam mais um número. “Mulher morta por ex em cárcere privado solicitou proteção à Justiça”, dizia a manchete. L. R., 28 anos (o nome é preservado porque há suspeita de que sua enteada de 13 anos tenha sido abusada pelo criminoso, e a lei garante a proteção à identidade da adolescente que também foi vítima) ficou sob a mira de um revólver por 16 horas antes de o ex-companheiro atirar nela duas vezes e se matar, na cidade de Guaíba, na Grande Porto Alegre. L.R. havia solicitado medidas protetivas de urgência à polícia, porque estava sendo ameaçada. Segundo informações da polícia, o motivo seria ciúmes. O delegado encarregado explicou: “Não deu tempo”.Não faltam nomes por trás das estatísticas, nem estatísticas de todas as classes sociais. A camareira de Guiné que denunciou, em 14 de maio de 2011, o economista, advogado e político francês Dominique Gastón André Strauss-Kahn, então diretor do Fundo Monetário Internacional, por estupro em um hotel de Nova Iorque sentiu a mesma revolta da família de Sandra Gomide, assassinada há 11 anos pelo jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, ex-diretor de O Estado de S.Paulo, que somente em 24 de maio de 2011 foi preso. O empresário e publicitário gaúcho Carlos Flores Chaves Barcellos, que no dia 23 de maio de 2011 feriu sua exmulher e assassinou, a golpes de faca, o namorado dela, José Augusto de Medeiros Neto, em um prédio de Torres, litoral do Rio Grande do Sul, alegou o mesmo tipo de amor que matou L.R. e supostamente abusou de sua enteada. Leia mais
Conheça os sinais que indicam violência contra a mulher


Pesquisa revela aumento do número de pessoas que sofreu ou diz conhecer quem sofreu agressão de companheiro ou ex

Entre 2006 e 2009 aumentou de 51% para 55% o número de pessoas que declararam conhecer ao menos uma mulher que já sofreu ou sofre agressões de seu parceiro ou ex. O dado é um dos resultados da pesquisa Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil realizada pelo Instituto Avon e pelo Ibope, apresentada no começo deste ano.

O levantamento apontou ainda que a maioria da população acredita que educação e mudança de comportamentos são as melhores formas de combater a violência doméstica. Por isso, a preocupação com o assunto vem crescendo e pesquisados de ambos os sexos - independentemente de terem sido vítimas ou não de agressão ¿ afirmam que a violência contra a mulher dentro de casa é o tema que mais preocupa as brasileiras. Esta preocupação vem crescendo desde 2004, quando 50% pensavam assim, subindo para 55% em 2006 e para 56% em 2009.

No Dia Internacional de Combate à Violência contra as Mulheres, comemorado em 25 de novembro, saiba quais são os principais sinais apresentados por uma mulher que foi ou está sendo vítima de violência, apontadas pela coordenadora da ONG Rede Mulher, Vera Vieira. As características vão além das desculpas de quedas e batidas para explicar sinais físicos evidentes, mas outros comportamentos indicam também violência psicológica.

Comportamento suspeito

1) Demonstração de grande tristeza ou depressão

2) Mulher fica mais fechada e passa a falar menos

3) As conversas sobre o cotidiano também desaparecem, incluindo assuntos que não têm ligação com o relacionamento. "Isso acontece mesmo se a pessoa já fosse mais tímida, pois passa por um processo de introspecção muito grande. Evita chances de se emocionar, então prefere não falar de assunto nenhum e fica ainda mais fechada", disse Vera Vieira.

4) Repentinamente deixa de ter vida social

5) Evita visitas e também a companhia de amigos e parentes

6) Sua aparência torna-se mais desleixada, deixa de arrumar ou de se maquiar

7) As ausências no trabalho tornam-se mais freqüentes

Vera explica que esses comportamentos aparecem desde o primeiro episódio de violência física ou psicológica. "A mulher fica com a autoestima tão baixa que não se sente no direito de falar nada. Por isso vai segurar o problema para si o máximo de tempo que conseguir. Quebrar o silêncio é o mais difícil", disse ela, que aponta que além da violência física, o quadro aparece em casos de violência sexual, psicológica e patrimonial, quando o parceiro deixa de ajudar em casa ou a usar o dinheiro da mulher para assuntos não ligados à família.

As informações da coordenadora da ONG foram aprendidas na prática, durante um casamento em que foi vítima de violência psicológica e física. A decisão de contar a situação foi tomada no dia do batizado de seu filho quando levou um chute na perna depois de pedir para o marido que sua irmã visse o bebê tomando banho. A separação não foi tranqüila e Vera enfrentou ameaças, até de morte.

Segundo a pesquisa Avon/Ibope, entre os que tomam conhecimento sobre casos de violência doméstica, 39%, a maioria mulheres, se propõem a ajudar de alguma forma, enquanto 17% preferiram se omitir. Conversar com a vítima é a forma de contribuição mais usual (23%) entre as mulheres, seguida da orientação de busca de ajuda jurídica/policial (20%).
Mulheres agredidas que continuam com seus parceiros são movidas por amor ou medo


CÁREN NAKASHIMA

As mulheres esperam que o outro mude e usam a desculpa clássica: "Ele é ótimo quando está bem"

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Marina*, 32, arquiteta, é casada com Júlio*, 36, engenheiro, há cinco anos. "Namoramos três anos, antes do casamento. A primeira vez que ele me bateu foi depois de um churrasco, onde bebemos muito. Ele disse que eu estava trocando olhares com o marido de uma prima", conta. Segundo Marina, "foi apenas um tapa” e ela relevou, devido às circunstâncias. Porém aquela não foi a última vez. De acordo com ela, os episódios de violência se repetem com certa frequência. Por que ela não se separa? "Porque temos um filho de dois anos, nos damos muito bem e porque eu o amo. Não tenho dúvidas de que ele é o homem da minha vida", explica.

Histórias como essa engrossam os números da pesquisa realizada no início deste ano pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC. Eles ouviram mais de 2.300 mulheres e 1.100 homens, em 25 estados brasileiros. Ficou constatado que, a cada dois minutos, cinco mulheres são agredidas violentamente no Brasil. A pergunta é: por que muitas sofrem caladas? Segundo Flávio Gikovate, psicoterapeuta, o argumento da maioria é similar ao de Marina: "Apesar de tudo, elas amam os agressores e são governadas pela ideia de que o amor deve tolerar tudo", diz. "É uma relação de custo benefício: o custo é a agressão e o benefício é o amor pelo companheiro. Quando a agressão passa, o custo é esquecido... É constrangedor”, afirma o psiquiatra e psicanalista Luiz Alberto Py.

Embora o amor seja o fator principal que prenda tantas mulheres a seus agressores, há, ainda, o medo. "Tanto de reações mais violentas, em caso de abandono, como de enfrentar a vida sozinha, por não ter meios próprios de sobrevivência, de se afastar quando têm filhos pequenos e a dúvida sobre as atitudes como pai após a separação", afirma Gikovate. Movidas pela esperança, estas mulheres esperam que o outro mude e usam a desculpa clássica: "Ele é ótimo quando está bem".

A mulher agredida pode procurar qualquer delegacia ou buscar uma especializada em atendimento feminino

Relação delicada

Para Ana Cristina Belizia Schlithler, assistente social do Programa de Atendimento e Pesquisa em Violência (Prove), da UNIFESP, as motivações destas mulheres estão diretamente ligadas ao comportamento do agressor. "Eles fazem promessas e mobilizam sentimentos. E muitas vezes necessitam de tratamento, porque agridem por causa do abuso de álcool ou drogas. Elas sabem disso e sentem pena", diz. Além disso, a mulher pode ter dificuldade em sair do papel de vítima que a dinâmica do casal estabeleceu. Questões relativas ao seu funcionamento psíquico também são determinantes, portanto, procurar terapia é fundamental em casos assim.

Embora muita gente pense que ficar com quem agride é uma escolha diretamente ligada à baixa autoestima, isso não é uma regra. "Pode ser, simplesmente, pela esperança de não ter mais que pagar o custo que estava sendo pago [ser agredida], o que não tem, necessariamente, a ver com pouco amor próprio", diz Py. Mesmo assim, as consequências são sérias. Gikovate afirma que, dependendo da violência que sofreram, estas mulheres podem se tornar avessas a novas possibilidades sentimentais por um longo tempo. "Às vezes, elas não querem mais saber de envolvimento amoroso com homem algum, em nenhuma fase posterior da vida."

Sob a tensão de uma ameaça, muita coisa acontece com o corpo: a chamada reação de luta e fuga –parecida com a dos animais em perigo que se preparam para um embate. "Essa reação aumenta certas substâncias no sangue, produzidas pela cortisona, cortisol e adrenalina, que criam a síndrome do estresse –pode aumentar o batimento cardíaco e prepara a pessoa para reagir a machucados", explica Py. Sendo assim, se a mulher não corre, nem luta, há uma consequência terrível para o organismo, como se você acelerasse um carro e freasse repentinamente. "Para isso, a mulher agredida tem duas possíveis respostas: enfrentar ou fugir do perigo. Medo é o sentimento do perigo, que é o contrário do destemor, quando a pessoa não percebe o perigo e, sim, o nega", afirma Py.

* Os nomes foram alterados a pedido da entrevistada
Hoje volto a falar a respeito da violência contra a mulher no Mundo inteiro.

Violência contra a mulher muçulmana


Uma mulher foi presa na Arábia Saudita, só porque dirigiu um carro e postou um vídeo sobre isso no youtube, com 500 000 visualizações, pela “mataw”, a polícia religiosa, que costuma humilhar as mulheres em público. Mesmo assim, em 17 de Junho, algumas repetiram a proeza de Manal al-Sharif, sendo presas, e foi fundada a Comunidade “We are all Manal al-Sharif” no Facebook.

Nesse país, além de não poderem dirigir, as mulheres precisam da autorização de algum homem da família para fazerem as atividades quotidianas, como trabalhar fora e viajar para o exterior. Elas não podem andar sozinhas nas ruas, acessar a net sem a presença de um guardião masculino (“mihrim”), nem subir nos elevadores com os homens

Todavia, hoje, asssiste-se a um verdadeiro “despertar árabe”, em que as mulheres muçulmanas vêm participando dos movimentos na Tunísia, Egito, Líbia, Iêmen, Bahrein e Síria, ao lado dos homens, mesmo os governantes considerando os protestos “haram”, ou seja, pecado punível com cadeia e flagelação.

Essas mulheres são, portanto, um contraponto à submissão em que vivem na Arábia.

Um novo episódio maculou a imagem da mulher muçulmana, desta vez, da Rainha da Jordânia, Rania, chamada de “piranha” por comentarista da TV fechada da Rede Globo, causando reação da comunidade no Brasil.

Fonte: R7