terça-feira, 5 de julho de 2011

A origem do chá e sua história

05/07/2011

História do Chá

A árvore do chá é nativa das florestas na base da Cordilheira do Himalaia. A combinação do clima tropical nessas terras baixas com as monções, as chuvas mais intensas do mundo, dá origem a uma das áreas mais ricas em plantas no planeta.
Entre 60 mil e 100 mil anos atrás, o Homo sapiens se espalhou pelo Himalaia. Foram os primeiros humanos a mascar as folhas de chá e descobrir suas propriedades benéficas, estimulantes para o corpo e a mente. É possível que tenham observado e reproduzido o comportamento dos macacos: acredita-se que esses animais mascavam folhas de Camellia sinensis.
Mascar folhas de chá trazia bem-estar ao organismo quando era preciso fazer trabalhos pesados, subir montanhas e realizar grandes caminhadas pela floresta, e ainda hoje o hábito de mastigar folhas de chá para aliviar o cansaço e a fome é mantido na região do Turquestão, na Ásia Central.
O chá que conhecemos é consumido como uma infusão de suas folhas em água quente, mas nem sempre foi assim. As primeiras notícias que se tem do consumo de chá entre os habitantes das florestas de algumas regiões do Sião (atual Tailândia), de Burma (hoje Myanmar), da Índia e do sudoeste da China é como alimento ―  comia-se o chá em vez de bebê-lo. Até hoje isso é comum em Myanmar, no norte da Tailândia e na província de Yunnan, na China, locais em que chá selvagem é mascado depois de ser cozido no vapor e fermentado.
Os Shan, do norte da Tailândia, cozinhavam ou ferviam essas mesmas folhas de chá selvagem e depois as moldavam na forma de bolas, que seriam comidas com sal, óleo, alho, gordura de porco e peixe seco. Em regiões de grande altitude, o chá era ainda consumido na forma de sopa grossa com manteiga de iaque, açúcar ou outros ingredientes.
Há milhares de anos, várias das tribos originárias da região do Himalaia começaram a comercializar essas folhas com os habitantes de outras áreas, entre elas a China. Talvez por acaso uma folha de chá tenha caído em água fervente, e então se percebeu que ele poderia ser consumido também como infusão. Desde então o chá passou a ser considerado uma bebida, e assim foi difundido da China para o Tibete e a Mongólia, e a toda parte da Ásia Central
Os primeiros a adotar o consumo do chá foram os monges dos monastérios budistas e taoístas. Eles descobriram que o chá melhorava a concentração mental e espantava o sono. O problema é que as folhas de chá cresciam em grandes árvores na floresta, o que dificultava sua colheita. A solução dos monges foi modificar a planta com a já praticada técnica do bonsai, transformando-a em um arbusto pequeno, de fácil acesso.
O chá também era usado para fins medicinais: contra a fadiga, para aumentar a força de vontade, além de curar doenças dos olhos. Na forma de pasta, era aplicada sobre o corpo para aliviar dores reumáticas. Os taoístas até mesmo proclamavam que o chá era um ingrediente importante para o tão almejado elixir da imortalidade.
Durante a dinastia Tang (620-907), o chá se espalhou pela maior parte das províncias chinesas. Sua popularidade aumentou no século VII com a publicação do primeiro tratado sobre a bebida. Esse livro se tornou uma bíblia para os produtores e consumidores de chá.
Em 1578 surgiu o livro do então farmacologista chinês Li-Shi-Chen, no qual afirmava que o chá melhorava a digestão e neutralizava toxinas no sistema digestivo, curava disenteria, doenças do pulmão, baixava a febre e tratava a epilepsia. Outro dos efeitos benéficos do chá − ao ser consumido como infusão em água fervida, evitava doenças associadas à água quando ela não era potável.
Com o tempo, a China se tornou grande exportadora de chá para as regiões vizinhas, da Sibéria às regiões islâmicas do Oriente Médio. Por volta do século XII, ao lado da seda, tijolos de chá se tornaram desejadas moedas de troca na Ásia Central. No século XV, a bebida já havia influenciado profundamente os hábitos de grande parte da população em todo o mundo.
Mas em nenhum outro lugar a influência foi maior que no Japão, moldando sua cultura e economia. O chá foi introduzido no país por volta do ano de 593. Como na China, a planta era cultivada em monastérios como erva medicinal e consumida pelos monges para que se mantivessem alertas durante a meditação. Sua influência nessa época estava restrita apenas aos monastérios e à corte. Por ter se curado de uma doença do estômago depois de adotar o hábito de beber chá, o xógum Sanetomo (1203-1219) tornou-se devoto da bebida e ajudou a difundi-la por todo o Japão. Foi criada uma cerimônia para servi-lo – ao ser preparado na sua mais pura e poderosa forma, maior o efeito da bebida. A planta, o mais fresca possível, era moída até se tornar pó e em seguida consumida em um ritual que ainda hoje é reverenciado no país.
No período Muromachi (de 1336 em diante), todas as classes sociais japonesas passaram a consumir o chá. Casas de chá e quiosques apareceram nas ruas e em estradas japonesas.
O chá chegou à Europa no século XVII, importado por um comerciante holandês. Missionários, diplomatas e outros viajantes que visitaram a China descreveram a maravilhosa planta chinesa, que parecia curar tantas doenças.
Na Inglaterra, já se tomava chá por volta de 1657. Nessa época, seu consumo era restrito − seu preço elevado o tornava item de luxo . O preço do chá baixou de 1730 em diante, quando foi criada uma rota direta de navios entre a China e a Inglaterra. Por volta de 1784, ricos e pobres da Inglaterra bebiam chá pelo menos 2 vezes ao dia.
O sucesso do chá pode ser atribuído também à maneira como era servido na Inglaterra. As pessoas se reuniam para tomar chá, preparado à vista de todos, em uma adaptação do ritual assistido no Japão . Como era uma boa oportunidade para a socialização, foi criada “a hora do chá” para os trabalhadores de fábricas, escritórios, minas e em todos os demais lugares de trabalho e de lazer, como também nas residências dos ingleses.
O chá ajudou também a criar a propaganda de produtos − primeira propaganda para um bem de consumo, foi feita em um jornal inglês em 1658. O chá se tornou a bebida favorita na Inglaterra, e sem dúvida essa foi uma das grandes revoluções no consumo de bebidas e na história do chá.
No Brasil, as primeiras mudas foram trazidas pela família imperial no século XIX. Nessa época, sua finalidade era apenas ornamental. Na primeira metade do século XX, imigrantes japoneses iniciaram o cultivo comercial da espécie trazida pela família imperial no interior de São Paulo, mas as plantas eram inadequadas à produção. Em uma viagem ao Ceilão (atual Sri Lanka), o imigrante Torazo Okamoto e sua mulher trouxeram as primeiras sementes que dariam origem à produção brasileira. Para driblar a proibição de retirar sementes da planta do país, Okamoto as escondeu no interior de alguns pães. Hoje, o Brasil não só produz, como também exporta chá.
Fonte: Talchá

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