quinta-feira, 16 de junho de 2011

28/05/2011 - Fim da impunidade, por Rosiska Darcy de Oliveira (Globo)


 Pimenta Neves ficou onze anos em liberdade até ser condenado pelo assassinato da jornalista Sandra Gomide. Dominique Strauss-Kahn conseguiu sair da cadeia depois de pagar um milhão de dólares de fiança e mais cinco milhões de garantia contra a possível fuga da prisão domiciliar. Para a escritora Rosiska Darcy de Oliveira, os dois são exemplos para desmoralizar qualquer sistema judiciário.
"Quando do crime de Pimenta Neves, como agora no caso DSK, os refletores iluminaram a tragédia do homem todo-poderoso que põe a vida a perder. No episódio brasileiro, Sandra Gomide, que perdeu a vida com duas balas nas costas, ficou fora de foco. Já a Promotoria de Nova York descreveu em detalhes, apoiada em indícios e testemunhos, uma africana apavorada, trêmula, escondida atrás de um armário, vomitando e balbuciando que tinha sido violada pelo cliente da suíte 2806, que ela não sabia sequer quem era."

"A arrogância do poder tem o poder de cegar. Pimenta e DSK têm em comum a cegueira que não lhes permite entender que os tempos são outros, que já não se viola e mata uma mulher impunemente. Nem um nem outro são desinformados. Um dirigiu o mais tradicional jornal de São Paulo. O outro se preparava para lançar sua candidatura à Presidência da França pelo Partido Socialista que, há mais de quarenta anos, se bate pela dignidade das francesas."
"Amarrar um frango antes de colocá-lo no forno para assar"
"Comentando o caso Strauss-Kahn, o ex-ministro da cultura Jacques Lang deu de ombros: “Afinal, não morreu ninguém.” Jean-François Kahn, ex-diretor da revista de esquerda “Marianne”, alegou que não se tratava de um caso de estupro, mas de um “simples troussage de domestique”. Quem leu Emile Zola conhece a expressão que, no sentido literal, quer dizer amarrar um frango antes de colocá-lo no forno para assar. No sentido figurado, é o que ainda hoje pode acontecer, mundo afora, com domésticas ou camareiras."
"Os valores mudaram dos tempos de Zola até hoje. Não há mais lugar para a cumplicidade, ainda que surda ou irônica, com a brutalidade. A desqualificação das mulheres como coisas, no entanto, conservou-se intacta no espírito de certos homens. Pior para eles."
"Para além das tragédias pessoais, outra lição: a Justiça que nada tem de cega e está longe de ser igual para todos reflete como um espelho os precários equilíbrios da sociedade mas, na sua desequilibrada balança, o poder das mulheres está pesando cada vez mais."
 
Fonte: Agência  Patricia Galvão

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