quinta-feira, 16 de junho de 2011

Obesidade

Definir obesidade é, muitas vezes, uma tarefa difícil. Existem situações em que qualquer um olha para um indivíduo e afirma que ele é obeso. No entanto, existem casos onde tal afirmação é extremamente duvidosa. Nesses casos pode-se lançar mão de exames mais sofisticados, como abio-impedanciometria e a densidade corporal para definir melhor a percentagem de tecido adiposo do indivíduo. Pessoas bonitas, de acordo com o modelo de beleza aceito por nossa sociedade, ditado principalmente pelos meios de comunicação, são aquelas altas e magras. Cleópatra e Mona Lisa, entre outras, aceitas em sua época como modelos de beleza eram, no mínimo, cheinhas. Mas, estética à parte, o grande problema é que a obesidade aumenta o risco para uma série de patologias, como doenças articulares, distúrbios lipídicos, hipertensão arterial e diabetes. Estas por sua vez aumentam os riscos de mortalidade por doenças cardiovasculares, principalmente. Esses dados são tão significativos que, em muitos países, o custo do seguro de vida é maior para pessoas obesas. Mas o que faz com que algumas pessoas fiquem obesas? Certamente existe uma interação entre fatores genéticos, metabólicos, psicológicos e culturais.
Abordar o tema genética é complicado. Não resta dúvida de que existem famílias de grandes obesos e nesses casos fica difícil descartar erro alimentar coletivo, que é importante, principalmente nos primeiros anos de vida. Gêmeos criados separadamente e que, muitas vezes nem sabiam da existência do outro, costumam apresentar o mesmo padrão de distribuição de gordura. A distribuição de gordura costuma obedecer a um padrão familiar, em algumas famílias a gordura pode se concentrar mais em quadris e membros inferiores, enquanto em outras pode ter uma distribuição mais difusa. Estudos em animais demonstram a presença de uma obesidade genética, como é o caso dos ratos Ob./Ob. Em humanos, começam a sair os primeiros trabalhos isolando genes associados à obesidade humana.
A maioria dos casos de obesidade humana não apresenta alterações hormonais. No entanto, muitos distúrbios endócrinos, como por exemplo hipotireoidismo e síndrome de Cushing, costumam associar-se à obesidade. É sempre importante pesquisar a sua presença, porque requerem tratamento específico.
Fatores psicológicos são de grande importância tanto na etiologia como no tratamento da obesidade. A hiperalimentação pode representar um distúrbio da dinâmica familiar. Pais podem super alimentar seus filhos, como uma compensação para culpas ou como uma manifestação distorcida de amor. A hiperfagia (excesso de fome) pode ocorrer como uma resposta a situações de stress, seja no trabalho ou no lar. Podendo servir como uma proteção em situações de difícil interação social, conflitos sexuais e exposição à possibilidade de falência em relações interpessoais. Pessoas magras em geral comem quando sentem fome. Já as obesas respondem a uma série de estímulos como horário, odores, etc. Um outro fator que gostaríamos de destacar é a visão errônea, mas que ainda prevalece em muitos ambientes, de que obesidade, principalmente em crianças, é sinal de saúde e prosperidade.
Finalmente, um distúrbio alimentar mais grave é a bulimia, que já é uma alteração mais séria e requer tratamento especializado. Nossa cultura, altamente consumista, influencia a ingestão excessiva de vários alimentos supérfluos, como balas, bolachas, salgadinhos, etc. Em geral agraciamos nossas visitas com jantares quase suntuosos ou pelo menos um cafezinho com bolo. Clientes de firmas importantes são levados a tratar de negócios em restaurantes finos e assim por diante. Todo paciente obeso deve, antes de iniciar qualquer tratamento sério, passar por um exame clínico completo, eventualmente complementado por alguns exames laboratoriais, para que possa assegurar-se de não ser portador de doenças que se acompanhem de obesidade. O tratamento da obesidade simples baseia-se no tripé dieta, exercício físico e estabilidade emocional.
Um dos grandes problemas de quem faz regime é que as dietas são extremamente restritas e enjoativas. Após alguns meses de tratamento, muitos indivíduos ficam desmotivados, cansados de suas dietas e acabam cedendo às pressões psicológicas e sociais para que comam mais, colocando a perder todo o trabalho feito até então. No entanto, alimentos pobres em calorias também podem ser saborosos. Existem no mercado vários livros contendo receitas de baixas calorias, que ajudam a diminuir o sacrifício desse período de regime. Essas receitas, no entanto, não são isentas de calorias. Elas têm menos calorias do que os alimentos que as pessoas da nossa sociedade consomem no dia a dia e portanto devem ser ingeridas com moderação.
Finalmente, gostaríamos de tecer alguns comentários sobre o tratamento medicamentoso da obesidade. Evidentemente, se após passar por uma consulta, o médico concluir que o paciente padece de uma obesidade secundária a um distúrbio hormonal, ele certamente indicará o tratamento adequado a essa situação.
Por outro lado, se não for constatado um distúrbio, pode-se fazer uso de medicamentos anorexígenos, que inibem o apetite, ou de medicamentos que estimulam o centro da saciedade, cujo representante mais conhecido é a dexfenfluramina, que vem sendo muito mencionada na imprensa leiga nos últimos meses.
Existem muitas controvérsias sobre o uso desses medicamentos. Há aqueles que são frontalmente contrários a seu uso e aqueles que preconizam a sua utilização pela vida afora, em grandes obesos. Acho que como tudo na vida, aqui deve imperar o bom senso. Esses medicamentos apresentam alguns efeitos colaterais que, no entanto, podem não ser significativos em alguns pacientes que poderiam se beneficiar muito de seu uso. Sua indicação deve ser avaliada individualmente frente a cada caso.

Fonte: Saude e Vida On Line

Nenhum comentário:

Postar um comentário