Definir
obesidade é, muitas vezes, uma tarefa difícil.
Existem situações em que qualquer um olha para
um indivíduo e afirma que ele é obeso. No entanto,
existem casos onde tal afirmação é extremamente
duvidosa. Nesses casos pode-se lançar mão de exames
mais sofisticados, como abio-impedanciometria e a densidade
corporal para definir melhor a percentagem de tecido adiposo
do indivíduo. Pessoas bonitas, de acordo com o modelo
de beleza aceito por nossa sociedade, ditado principalmente
pelos meios de comunicação, são aquelas
altas e magras. Cleópatra e Mona Lisa, entre outras,
aceitas em sua época como modelos de beleza eram, no
mínimo, cheinhas. Mas, estética à parte,
o grande problema é que a obesidade aumenta o risco para
uma série de patologias, como doenças articulares,
distúrbios lipídicos, hipertensão arterial
e diabetes. Estas por sua vez aumentam os riscos de mortalidade
por doenças cardiovasculares, principalmente. Esses dados
são tão significativos que, em muitos países,
o custo do seguro de vida é maior para pessoas obesas.
Mas o que faz com que algumas pessoas fiquem obesas? Certamente
existe uma interação entre fatores genéticos,
metabólicos, psicológicos e culturais.
Abordar
o tema genética é complicado. Não resta
dúvida de que existem famílias de grandes obesos
e nesses casos fica difícil descartar erro alimentar
coletivo, que é importante, principalmente nos primeiros
anos de vida. Gêmeos criados separadamente e que, muitas
vezes nem sabiam da existência do outro, costumam apresentar
o mesmo padrão de distribuição de gordura.
A distribuição de gordura costuma obedecer a um
padrão familiar, em algumas famílias a gordura
pode se concentrar mais em quadris e membros inferiores, enquanto
em outras pode ter uma distribuição mais difusa.
Estudos em animais demonstram a presença de uma obesidade
genética, como é o caso dos ratos Ob./Ob. Em humanos,
começam a sair os primeiros trabalhos isolando genes
associados à obesidade humana.
A
maioria dos casos de obesidade humana não apresenta alterações
hormonais. No entanto, muitos distúrbios endócrinos,
como por exemplo hipotireoidismo e síndrome de Cushing,
costumam associar-se à obesidade. É sempre importante
pesquisar a sua presença, porque requerem tratamento
específico.
Fatores
psicológicos são de grande importância tanto
na etiologia como no tratamento da obesidade. A hiperalimentação
pode representar um distúrbio da dinâmica familiar.
Pais podem super alimentar seus filhos, como uma compensação
para culpas ou como uma manifestação distorcida
de amor. A hiperfagia (excesso de fome) pode ocorrer como uma
resposta a situações de stress, seja no trabalho
ou no lar. Podendo servir como uma proteção em
situações de difícil interação
social, conflitos sexuais e exposição à
possibilidade de falência em relações interpessoais.
Pessoas magras em geral comem quando sentem fome. Já
as obesas respondem a uma série de estímulos como
horário, odores, etc. Um outro fator que gostaríamos
de destacar é a visão errônea, mas que ainda
prevalece em muitos ambientes, de que obesidade, principalmente
em crianças, é sinal de saúde e prosperidade.
Finalmente,
um distúrbio alimentar mais grave é a bulimia,
que já é uma alteração mais séria
e requer tratamento especializado. Nossa cultura, altamente
consumista, influencia a ingestão excessiva de vários
alimentos supérfluos, como balas, bolachas, salgadinhos,
etc. Em geral agraciamos nossas visitas com jantares quase suntuosos
ou pelo menos um cafezinho com bolo. Clientes de firmas importantes
são levados a tratar de negócios em restaurantes
finos e assim por diante. Todo paciente obeso deve, antes de
iniciar qualquer tratamento sério, passar por um exame
clínico completo, eventualmente complementado por alguns
exames laboratoriais, para que possa assegurar-se de não
ser portador de doenças que se acompanhem de obesidade.
O tratamento da obesidade simples baseia-se no tripé
dieta, exercício físico e estabilidade emocional.
Um
dos grandes problemas de quem faz regime é que as dietas
são extremamente restritas e enjoativas. Após
alguns meses de tratamento, muitos indivíduos ficam desmotivados,
cansados de suas dietas e acabam cedendo às pressões
psicológicas e sociais para que comam mais, colocando
a perder todo o trabalho feito até então. No entanto,
alimentos pobres em calorias também podem ser saborosos.
Existem no mercado vários livros contendo receitas de
baixas calorias, que ajudam a diminuir o sacrifício desse
período de regime. Essas receitas, no entanto, não
são isentas de calorias. Elas têm menos calorias
do que os alimentos que as pessoas da nossa sociedade consomem
no dia a dia e portanto devem ser ingeridas com moderação.
Finalmente,
gostaríamos de tecer alguns comentários sobre
o tratamento medicamentoso da obesidade. Evidentemente, se após
passar por uma consulta, o médico concluir que o paciente
padece de uma obesidade secundária a um distúrbio
hormonal, ele certamente indicará o tratamento adequado
a essa situação.
Por
outro lado, se não for constatado um distúrbio,
pode-se fazer uso de medicamentos anorexígenos, que inibem
o apetite, ou de medicamentos que estimulam o centro da saciedade,
cujo representante mais conhecido é a dexfenfluramina,
que vem sendo muito mencionada na imprensa leiga nos últimos
meses.
Existem
muitas controvérsias sobre o uso desses medicamentos.
Há aqueles que são frontalmente contrários
a seu uso e aqueles que preconizam a sua utilização
pela vida afora, em grandes obesos. Acho que como tudo na vida,
aqui deve imperar o bom senso. Esses medicamentos apresentam
alguns efeitos colaterais que, no entanto, podem não
ser significativos em alguns pacientes que poderiam se beneficiar
muito de seu uso. Sua indicação deve ser avaliada
individualmente frente a cada caso.
Fonte: Saude e Vida On Line
Nenhum comentário:
Postar um comentário